Memórias da Turma Sesquicentenário da Independência

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MEMÓRIAS DA TURMA

Edição Comemorativa • Porto Alegre, RS • 2022

CANÇÃO DO CMPA

Somos espadas de um povo altaneiro, Somos escudos de grande nação, Em nossos passos marcham guerreiros Avança a glória num pendão. Na nossa escola forja-se a grandeza, Temos no peito amor juvenil, Em nossas cores toda a natureza, Nós somos filhos do Brasil.

Salve o Brasil, CMPA ! Salve o Brasil, CMPA ! No valor de nossos avós, Salve o Brasil. CMPA ! Salve o Brasil, CMPA ! na bravura dos seus heróis.

Aponte a câmera de seu celular para o QR-Code acima e ouça a versão original em MP3 da Canção do CMPA. Se preferir, acesse diretamente clicando no botão abaixo.

Serenidade para aceitar o imutável, Coragem para mudar o possível, Sabedoria para conhecer a diferença.

Mensagem do Coronel Plácido na Abertura do Ano Letivo de 1966

“...apenas conquistaram o direito de tomar par te na grande batalha pelo saber, porque aqui não há distinção de nome, credo, côr ou origem”.

Meus caros alunos!

Iniciamos, hoje, nossas atividades relativas ao ano escolar de 1966.

Estão alegres nossos corações, chocam-se em nossos espíritos mil e um sentimentos por vê-los reunidos novamente, para unidos e confiantes conti nuarmos trilhando esse caminho que vos conduzirá aos píncaros da glória, para felicidade vossa e de vos sos pais, que almejam ver concretizados vossos so nhos de jovens, alicerçados nos sagrados princípios do patriotismo.

Esperamos que as merecidas férias vos tenham proporcionado um sadio repouso, que vossas fôrças estejam retemperadas, a vontade de vencer seja re dobrada e que vossos pensamentos estejam voltados para o provir.

Durante vossa ausência realizamos um trabalho consciente e intenso, procurando sanar fa lhas e aprimorar o que julgamos certo, a fim de oferecer-vos um ambiente de entendimento, de concórdia, uma mão afetiva, estudo, compenetração de responsabilidade e um entusiasmo contagiante.

Rearticulamos o ensino de acordo com a nova orientação e planejamos minuciosamente a atividade diária do nôvo ano letivo, dentro do bom senso e nossas possibilidades.

Cada detalhe do ensino, da disciplina e da administração foram cuidadosamente examinados e encaixados dentro de um todo harmônico e consciente, procurando dar-vos momentos de alegria e bem estar.

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Cel. Plácido de Castro Comandante do Colégio Militar de Porto Alegre

Para vós, meus caros alunos, estarão voltadas as nossas atenções e esforços no sentido de que haja progresso nos estudos, no fortalecimento da disciplina consciente, no desenvolvimento físico e na formação de vosso caráter porque brevemente sereis a expressão do provir.

Aos novos alunos, que hoje recebemos com imensa alegria, apresentamos os nossos cumpri mentos pela brilhante vitória alcançada no concurso de admissão.

Queremos lembrar que apenas conquistaram o direito de tomar parte na grande batalha pelo saber, porque aqui não há distinção de nome, credo, côr ou origem.

Os louros obtidos são realmente significativos, mas ainda pequenos diante do que terão de conquistar.

Lembro, ainda, que acabaram de ingressar num colégio diferente dos demais, dada a sua ca racterística militar.

Terão a obrigação de proceder dignamente, para manter bem alto o nome que o Estabele cimento desfruta, pois o seu conceito e a sua tradição são patrimônios que orgulham vossos superiores e camaradas.

Ao ingressarem nessa Cidadela da fé e da disciplina, todos vós tereis o dever de perpetuar o legado de caráter, fibra e educação cívica de nossos heróis e antepassados, de honrar a farda, compreender e respeitar os superiores e camaradas.

Aos professores, nossa satisfação de vê-los dispostos e unidos para continuar a mais nobre e a mais sagrada missão do homem: “A DE EDUCAR”!

Por isso, nos sentimos honrados em poder, no cumprimento do dever, apoiar o ensino com maior prioridade, não esquecendo que pelo exemplo educamos, e educar não é apenas “ENSINAR”, é, isto sim, “AJUDAR O ALUNO A APRENDER”.

Meus caros alunos, sêde felizes durante o ano letivo que, nesta data, iniciamos.

1º/03/1966.

JOSÉ PLÁCIDO DE CASTRO NOGUEIRA

Cel. Comandante do CMPA

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EDITORIAL

GUARDAR A HISTÓRIA É COMEMORAR

O PASSADO E ACREDITAR NO FUTURO.

Oregistro histórico é o tônico da memória e ele tem de retratar a verdade, colhida de documentos da época e de relatos de quem viveu e/ou testemunhou os fatos narrados.

Com esse pensamento, empreitamos o pro jeto que, hoje realidade, buscou narrar a passa gem de um grupo de garotos, iniciada em mar ço de 1966 até dezembro de 1972, pelo Colégio Militar de Porto Alegre e também para homena gear esta instituição que ajudou na nossa forja como homens e cidadãos.

O grupo inicial era formado por meninos de todos os cantos do Brasil. Para a maioria deles, uma vitória, o início de um sonho; para alguns outros, mais uma etapa na vida e, para raros ca sos, a derradeira tentativa dos pais de “não tens mais jeito, vais para o Colégio Militar”.

Ao ingressarem pelo Pórtico Monumental do CMPA, sob os aplausos dos familiares, mar chando inseguros e encabulados, com os olhos assustados, mal sabiam que aqueles eram os primeiros passos de grandes aprendizados, en saios de camaradagem e formação de amizades que transpassariam os obstáculos do tempo e das distâncias.

Muitos se agregaram, assim como muitos outros partiram para novos desafios. Esta mes cla dos que estavam com os que chegaram e

a saudade dos que deixaram o grupo formou a Turma do Sesquicentenário da Independência do Colégio Militar de Porto Alegre que agora comemora 50 anos da sua formatura naquele educandário.

Para que esta publicação fosse possível, mui tas foram as colaborações, as esferas oficiais que permitiram e facilitaram as pesquisas, aqueles que ajudaram no financiamento do projeto e, o mais importante, os membros da Turma que narraram suas experiências e ou que confirma ram as narrativas, que forneceram fotografias, que estimularam o trabalho e torceram pelo re sultado final (foram muitos).

Os conteúdos publicados foram divididos em duas grandes fases: a primeira, que marca o período escolar (1966-1972) e a segunda, que contextualiza a amizade formada, fonte maior da comemoração.

Todos os dados publicados são resultados de trabalho de pesquisa nos arquivos do CMPA e narrativa dos agentes com a devida e necessá ria verificação pelas testemunhas dos fatos.

Muito ficou fora da publicação e poderá ser utilizado na Revista do Centenário. Até lá! O Grupo Editorial

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OS MENINOS CALOUROS DE 1966

O ano de 1966 foi repleto de acontecimen tos importantes no mundo todo, mas nenhum deles teve maior relevância aos estudantes que se inscreveram para realizar as provas de ingres so a uma das escolas mais tradicionais e fortes do Rio Grande do Sul, o Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA).

Os meninos sabiam o quanto era difícil con seguir uma vaga, pela alta exigência do concur so, executado em fevereiro daquele ano, por filhos de civis, e, em dezembro de 1965, por filhos de militares. A disputa era acirrada e o número de aprovados foi baixo, fato noticiado nos jornais.

No começo de março, 109 meninos inicia ram sua jornada. Entre assustados, confiantes, tímidos ou curiosos, todos vestiram seus novos uniformes e embrenharam-se nos corredores ainda desconhecidos do chamado Casarão da Várzea, onde aprenderam rapidamente o que significava ser um “baleiro”, mas também sou beram o real sentido das palavras responsa bilidade, hierarquia, lealdade, conhecimento, companheirismo e amizade.

OS FATOS

Em 1º de março, data do ingresso, o Jornal Correio do Povo exibia sua manchete com des taque: “Castelo Branco anuncia o novo mínimo e a reformulação da estabilidade”.

Na mesma capa, o jornal anunciava um aci dente aéreo que resultou na morte de dois as tronautas norte-americanos.

Em 13 de setembro de 1966, era criado o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço, ano também da formação do Instituto Nacional de Previdência Social (INPS).

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Porto Alegre era uma metrópole em ascen são. Com 641.173 habitantes, (Censo IBGE de 1960) a capital era considerada uma das mais belas cidades brasileiras.

O Cinejornal Informativo número 127, do Arquivo Nacional (Agência Nacional), mostrava a importância social e econômica de Porto Ale gre, com imagens da época.

Na área do esporte, o Campeonato Gaúcho de Futebol foi vencido pelo Grêmio. Em 21 de fevereiro de 1966, o ídolo Pelé, Edson Arantes do Nascimento, casava com Rosimeri dos Reis Choibi.

De 11 a 30 de julho deste mesmo ano, era realizada a 8ª Copa do Mundo na Inglaterra, que teve o país sede como campeão. O Brasil não passou da fase de grupos.

Na televisão, os seriados hipnotizavam jo vens e crianças, como Viagem ao Fundo do Mar, A Feiticeira, Batman e Robin, Jeannie é um Gênio, Jornada nas Estrelas, O Túnel do Tempo, Perdidos no Espaço, Tarzan e Thunderbird, entre outros.

Se preferir, acesse diretamente clicando no botão abaixo.

| OS BONDES

Os barulhentos bondes elétricos da Carris ain da cruzavam a cidade, em viagens que renderam centenas de histórias. Aqueles que utilizavam este meio de transporte formavam quase uma fa mília e muitos pais confiavam seus filhos aos mo torneiros, para que levassem as crianças à escola.

| UM ANO MUSICAL

As músicas que mais tocavam no ano de 1966 embalaram muitos casais, como “Summer Wind”, com Frank Sinatra, ou “When a Man Loves a Woman”, cantada por Percy Sledge. Os jovens, porém, preferiam a revolução que os Beatles causavam na década de 60, mudando hábitos, moda e gosto musical, mas também fazia su cesso a Jovem Guarda.

Em setembro e outubro de 1966, foi realiza do o Segundo Festival de Música Popular Bra sileira, no Teatro Record em São Paulo. A músi ca “A Banda”, de Chico Buarque, empatou com “Disparada”, interpretada por Jair Rodrigues. Os meninos do CMPA seguiam seu rumo.

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Memórias da Turma Sesquicentenário da Independência Bondes - Década de 1970 Fonte: Shigueru Nagassawa - Agência RBS Erika Hanssen Madaleno Aponte a câmera de seu celular para o QR-Code ao lado e acesse o vídeo. The Beatles, os quatro garotos de Liverpool

EDITORIAL PRIMEIRA PARTE

basquete e vôlei, numa área muito grande para as instru ções militares e formaturas, bem como para as reuniões de alunos nos intervalos de aulas e recreio, momento que nós curtíamos e nos divertía mos muito.

Quando ingressamos no colégio, há 56 anos, tínhamos muitas expectativas, mas pouco conhecimento das experiências que iríamos vi venciar. O colégio era, exclusivamente, masculi no, com alunos de idades que iam dos onze aos dezoito anos. Com regime de internato e semi -internato. Na maioria dos dias da semana, em tempo integral, manhã e tarde, atuava com as mais variadas atividades: aulas, educação física, instruções militares, hora de estudo.

A infraestrutura do colégio era excelente, um lugar protegido, com muitas salas de aula, biblioteca, laboratórios, enfermaria, refeitório e um pátio enorme, com canchas de futebol,

Naquele pátio, recebí amos nossas instruções de Ordem Unida, admirando as evoluções diferenciadas dos colegas que integravam a guarda Porta Bandeira, e pra ticávamos para nossa partici pação nos desfiles de Sete de Setembro. Ali, desfilávamos todas as manhãs e “lagarte ávamos” no sol de inverno durante os intervalos das au las. O pátio era o quintal dos alunos internos que, quando podiam, davam suas escapadas para o Bar do Beto, ou uma es ticada até o Instituto de Educação, a chamada “4ª Companhia”.

Passando o Portão da Guarda, encontráva mos o Parque Farroupilha, ou a Redenção, ver dadeira extensão do Colégio, palco das aulas de Educação Física e das disputadas Olimpíadas.

Aquelas quatro alas do Colégio, certamente, têm muitas histórias para contar e vamos nos valer das memórias dos colegas para trazê-las, assim como muitas outras vividas fora do Colégio.

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Colégio Militar com iluminação especial nas comemorações dos 100 anos

REFLEXÕES ACERCA DO CONTEXTO EM 1966

Oano de 1966 se iniciava, para nós, com muitas novidades, como um novo ciclo na vida, e com muita ansiedade e a pre paração do “enxoval”, ingressávamos no Colégio Militar de Porto Alegre.

Para o mundo, as novidades também eram muitas, vivíamos o auge da guerra fria, a dispu ta espacial em pleno andamento, o conflito no Vietnã se ampliava, os conflitos sociais se espa lhavam, a América do Sul passava pelos chama dos “anos de chumbo”.

da contrarrevolução de 64; o prefeito de Porto Alegre era Célio Marques Fernandes. Eleito vere ador pelo PSD, assumiu a Prefeitura no lugar de Sereno Chaise, cassado pelo novo regime.

No Brasil, os militares estavam no poder e uma nova Constituição estava em preparação, o Rio Grande do Sul era governado por Ildo Mene ghetti. Eleito pelo PSD, aderiu à Arena, quando

Porto Alegre vivia, a ressaca dos Jogos Mun diais Universitários de 1963, empreitada fan tástica enfrentada com muita eficiência pela cidade, deixando, como legado, um pulo de modernidade no planejamento urbanístico, mas, ainda, recortada pelos trilhos dos velhos bondes elétricos.

Nos esportes, o Brasil se preparava para pôr em disputa o seu título de bicampeão mundial de futebol; os norte-americanos e russos eram os adversários a serem batidos nos esportes olímpicos.

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Em 1969, a histórica chegada do homem à Lua Prefeito Célio Marques Fernandes (a direita na foto)

Os movimentos sociais, principalmente dos jovens, começavam a chegar ao Brasil, os ca belos cresciam, as ideias afloravam, as canções embalavam os dias e as noites nos movimentos das minissaias e das bocas de sino e, com elas, as drogas iam ocupando espaços cada vez maio res, no cotidiano da juventude.

Nossa opção, no entanto, era a vida cas trense, de muito estudo, disciplina, cabelo zero, uniforme (que nada tinha de bonito), mas sem abrir mão de ser jovem e feliz.

A tecnologia engatinhava, os carros ganha vam câmbio de quatro marchas, no chão, rádios com toca fitas e alto-falantes potentes, o “fusca” era o queridinho da rapaziada.

O terno de linho era o principal traje mas culino, a calça “Lee” chegava ao mercado brasi leiro, ponto de compra no porto da Capital, nos navios mercantes. A concorrente nacional era a calça de “brim coringa”, fabricada pela Alparga tas, rejeitada pelo mercado jovem.

A telefonia passava a ter discagem direta para as ligações urbanas, às numerações das linhas telefônicas era agregado o quarto algaris mo, mas, ainda, era necessária a interferência da telefonista nas ligações interurbanas.

As reuniões dançantes eram o ponto alto da diversão, whisky a go go, cuba libre, caipirinha, gim com tônica, cerveja, as bebidas populares, a moda era fumar cigarros: Marlboro, Continen tal e Hollywood com filtro, Marlboro e Free, que tinha uma versão mentolada, nacionais con corriam com os importados Parliament, Camel, Palmall, Kent, Dunhill…

Os cadernos escolares, agora, com espiral, caneta esferográfica com ponta retrátil, algumas até com quatro cores e as canetinhas coloridas; as provas mimeografadas com cheiro de álcool eram sucesso; os projetores de slide e retropro jetores abrilhantavam as aulas.

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AA Pinent

A HISTÓRIA DO COLÉGIO MILITAR DE PORTO ALEGRE (RS)

OColégio Militar de Porto Alegre (CMPA) foi criado pelo Decreto nº 9.397, de 28 de fevereiro de 1912, sendo Presidente da República o Marechal Hermes Rodri gues da Fonseca e Ministro da Guerra o General de Divisão Adolfo da Fontoura Menna Barreto. Seu aniversário é comemorado em 22 de mar ço, data em que iniciaram suas atividades admi nistrativas.

Em consequência do atraso nas obras de recuperação do prédio onde estava sediada a extinta Escola de Guerra, até o ano anterior, a abertura do ano letivo se deu em dois momen tos: no primeiro, a 17 de junho, com 127 alunos da 3ª Série. O segundo, data oficial do início das aulas, a 19 de junho, com os demais 148 alunos dos quatro anos do Curso Secundário. Como o efetivo máximo seria de 300 alunos, ficaram 25

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Turma

vagas sem preenchimento, todas relativas a alu nos da classe dos “contribuintes”.

O portentoso prédio em que funciona faz parte do patrimônio histórico da cidade de Por to Alegre desde sua fundação, em 1872. A bela arquitetura que o caracteriza, onde predomina o estilo neoclássico, mudou a “fisionomia” da várzea onde foi construído, criando um espaço onde questões ligadas ao ensino e à vida da ci dade, do Estado e do Brasil foram intensamente vividas por aqueles que circulavam pelas arca das do “Velho Casarão da Várzea”. Constituído, inicialmente, de um quadrilátero térreo e cinco “castelos” de dois pisos, o prédio foi aumenta do de um piso em três fases distintas: 1914/15, 1936/37 e 1969/70. As estátuas de Marte/Ares (deus da guerra) e Minerva/Atena (deusa guer reira da sabedoria), existentes no seu frontispí cio, são as maiores estátuas de adorno de Porto Alegre e foram colocadas quando da primeira ampliação em 1914/15.

O torreão existente sobre o Salão Nobre do CMPA é chamado de torre-lanterna, ou simples mente de lanterna, tendo sido colocado para simbolizar “a lanterna do saber com que os an tigos Mestres conduziam seus discípulos pelas trevas da ignorância”. A iluminação, colocada em fins de 2006, ressaltando a lanterna, os deu ses e a Bandeira Nacional, tornou-se um espetá culo noturno na cidade.

Várias instituições de ensino militar funciona ram no edifício da atual Avenida José Bonifácio: a Escola Militar da Província do RS (1883-88), a Escola Militar do Rio Grande do Sul (1889-1898), a Escola Preparatória e de Táctica (1898 e 190305), a Escola de Guerra (1906-11), o Colégio Mili tar de Porto Alegre (1912-1938), a Escola Prepara tória de Porto Alegre (1939-61) e, novamente, o Colégio Militar de Porto Alegre, desde 1962.

É necessário esclarecer que as origens da Es cola Militar remontam ao ano de 1851, quando foi criado o Curso de Infantaria e Cavalaria da Província de São Pedro do Rio Grande do Sul.

Esta escola passou por várias denominações e sedes provisórias, até se fixar no local, então, conhecido como Várzea, Campos da Várzea, Várzea do Portão ou Potreiro da Várzea.

Nas décadas de 70 e 80 do século XIX, alu nos, professores e instrutores da Escola Militar, direta ou indiretamente, tiveram participação ativa em questões ligadas à abolição da escra vatura e à Proclamação da República. Entre es tes, mencionam-se: os então Mal. José Antônio Corrêa da Câmara (redator da Lei Áurea), Cel. Fernando Setembrino de Carvalho, Cel. José Simeão de Oliveira, Cel. Dionísio Evangelista de Castro Cerqueira, Ten. Cel. Joaquim de Salles Torres Homem, Maj. Ernesto Augusto da Cunha Mattos, Maj. Frederico Sólon de Sampaio Ribeiro e Cap. Adolfo da Fontoura Menna Barreto.

Professores da Escola Militar como Antônio Augusto de Arruda, Henrique Martins e Lannes de Lima Costa foram precursores na publicação de livros didáticos de suas disciplinas, na década de oitenta do século XIX.

Também na área da educação, é impossível deixar de mencionar a relevante atuação do Capitão João José Pereira Parobé, professor da Escola Militar do Rio Grande do Sul. Além de ter sido Deputado Estadual e Secretário de Obras

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Mal. José Antônio Corrêa da Câmara

do RS, esteve diretamente ligado à fundação da Escola de Engenharia em 1896, precursora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), onde foi diretor por 17 anos.

O Cap. Parobé também foi o fundador do Colégio Júlio de Castilhos, da escola técnica que hoje leva seu nome e de vários dos insti tutos da atual UFRGS. Por sua enorme colabo ração para a educação do Rio Grande do Sul, o Cap. Parobé constitui-se no maior expoen te gaúcho nessa área. Da Escola Militar do RS também saíram, em 1896, os cinco Tenentes professores que fundaram a Escola de Enge nharia. De maneira semelhante, o primeiro reitor da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS) (anteriormente também reitor da UFRGS), Armando Pereira da Câmara, foi aluno do CMPA.

Ainda no campo da Educação, é lícito res saltar que a Escola Militar foi o primeiro curso de ensino superior do Estado e que contribuiu de forma decisiva, através de seus fundado res e primeiros professores, para a criação e a evolução da UFRGS.

Nos campos do tradicionalismo e da etno grafia, é notória a participação do Major João Cezimbra Jacques, instrutor da Escola Militar, idealizador e fundador do Grêmio Gaúcho em 1898, primeira entidade destinada ao estudo e ao culto das tradições rio-grandenses, moti vo pelo qual foi consagrado como Patrono do Tradicionalismo Gaúcho. Cezimbra Jacques, autor de dezesseis livros que variaram entre a etnografia, antropologia, política e linguística, produziu, ainda em 1883, a obra “Ensaio sobre os Costumes do Rio Grande do Sul”, estudo pio neiro sobre o assunto e base fundamental para aqueles que se dedicam a hoje estudar e pes quisar a etnografia gaúcha. É com orgulho, pois, que o Casarão da Várzea reivindica ser o berço do Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG). Para continuar o culto às tradições gaúchas e

honrar a memória do Maj. João Cezimbra Jac ques, em 1985, sob a inspiração do então Capi tão e tradicionalista Ivo Benfatto, foi fundado o CTG Potreiro da Várzea.

Presidente Getúlio Dornelles Vargas

Pelas centenárias arcadas do Velho Casarão da Várzea transitaram, como alunos, oficiais ou pra ças, oito presidentes da república (João de Deus Menna Barreto, Getúlio Dornelles Vargas, Euri co Gaspar Dutra, Humberto de Alencar Castelo Branco, Arthur da Costa e Silva, Emílio Garrastazu Médici, Ernesto Geisel e João Baptista de Olivei ra Figueiredo), o que o fez ser alcunhado como “Colégio dos Presidentes”, além de um primeiro -ministro (Francisco de Paula Brochado da Rocha).

Francisco de Paula Brochado da Rocha

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Transitaram também dois vice-presidentes (Adalberto Pereira dos Santos e Antônio Ha milton Martins Mourão), vários heróis militares brasileiros (Mal. Câmara, Cel. Plácido de Castro, Mal. Mascarenhas de Morais, Gen. Góes Mon teiro, Mal. João N. M. Mallet e outros), diversos ministros, governadores e ocupantes de outros altos cargos políticos, além de um elevado nú mero de oficiais-generais e outros militares de destaque.

Eminências da vida civil, também, estudaram no casarão da Várzea, como o poeta Mario Quin

tana, o artista plástico Vasco Prado, o escritor e advogado Darcy Pereira de Azambuja, os ex-rei tores da UFRGS Armando Pereira da Câmara e José Carlos Ferraz Hennemann, o presidente da HP Brasil, Oscar Vaz Clarke, e o vice-presidente mundial do Google, Nélson Mendonça Mattos, além de outras destacadas personalidades.

É relevante ressaltar que a primeira publica ção das poesias de Mario Quintana e das gra vuras de Vasco Prado foi feita nas páginas da re vista Hyloea, em 1922 e 1933, respectivamente. A Hyloea – revista literária fundada em 1922 pelos alunos integrantes da, então, Sociedade Cívica e Literária – é, até hoje, publicada pelo CMPA.

O Casarão da Várzea tem seu nome ligado também ao nascimento do futebol e do ensino esportivo no RS. Em 1910, quando da criação da Liga de Futebol de Porto Alegre, o primeiro campeão da cidade foi o “Militar Foot Ball Club”, time dos alunos da Escola de Guerra, sediada no Casarão da Várzea. Foi contra este mesmo time que o Sport Club Internacional obteve sua primeira vitória em 1909. Extinto em 1913, os jogadores do Militar foram ajudar a fundar o Es porte Clube Cruzeiro. Este clube foi campeão da cidade em 1918, 1921 e 1929 (quando obteve também seu único título gaúcho, jogando com um time misto, composto por alunos da UFRGS e do CMPA).

Outro fato que o distingue pelo pioneiris mo educacional no Estado é o de, entre 1915 – ano em que a primeira turma de alunos se formou – e 1938 – quan do foi transformado em Escola Prepa ratória de Cadetes – seus formandos receberem também o diploma de “Agri mensor”, já saindo com uma profissão definida. Assim, o CMPA antecipou-se em mais de meio século à introdu ção do ensino profissionalizante na educação básica do Estado.

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CMPA, Colégio dos Presidentes Poeta Mario Quintana

O INGRESSO NO CMPA

Reconhecido pela qualidade do seu ensino, bem como pela disciplina imposta aos seus alu nos, ingressar no Colégio Militar de Porto Alegre não era para muitos.

Considerando os propósitos do Colégio, ha via vagas para os órfãos de militares, bem como para os filhos de militares que fossem transferi dos para Porto Alegre.

Os demais filhos de militares precisavam submeter-se a um rigoroso exame de seleção (conhecido nos colégios daquela época por “exame no admissão ao Ginásio”).

Os filhos de militares da nossa turma presta ram o Exame de Seleção em dezembro de 1965, quando foram aprovados 50 dos 250 candida tos inscritos.

As vagas restantes, em número de 30, foram oferecidas aos filhos de civis, que realizaram o exame no início de fevereiro de 1966, sendo admitidos apenas 25 dos 294 candidatos ins critos. O Colégio também era muito procurado por pais que moravam no interior do Estado e que buscavam ensino de qualidade para seus fi lhos. Nesse caso, os admitidos estudavam como internos no Colégio.

O exame era tão rigoroso que havia até cur sinhos preparatórios, sendo muito conhecido o do Cel. Leonel. Também havia livros específicos para estudos, com exemplos de questões de provas de anos anteriores.

Um artigo da então Folha da Tarde, jornal da época, retrata o resultado do exame de seleção prestado pelos filhos de civis:

A relação dos aprovados, filhos de civis, no exame de admissão ao Colégio Militar de Porto Alegre, foi divulgada nos principais jornais da cidade

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COLÉGIO MILITAR: CERCA DE 10% DE APROVAÇÃO NOS EXAMES DE FEVEREIRO (FT

8-2-1966)

Foram realizadas dias 1° e 4° passados as provas de matemática e português dos exames de classificação ao 1° Ano Ginasial do Colégio Militar de Pôrto Alegre, para os filhos de civis.

Como já acontecera em dezembro último, quando os filhós de militares submeteram-se as diversas provas de admissão àquele estabelecimento de ensino, quan do pouco mais de 50 garotos, num total de mais de 250 inscritos, conseguiram aprovação, desta vez, muito pequeno foi o número dos alunos que conseguiram in gressar no CMPA.

Inscritos para as provas agora realizadas estavam 294 candidatos. Compareceram aos exames cerca de 260 jovens, sendo aprovados, apenas, 25. Este ano, ao contrário do que vinha acontecendo há quatro anos, foram destinadas ao 1° Ano Ginasial do Colégio Militar de Porto Alegre, 30 vagas, contra 100 vagas dadas pelo Ministério da Guerra aos demais Colégios Militares do país, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Salvador e Fortaleza.

São os seguintes os candidatos, filhos de civis, agora aprovados para ingresso no CMPA:

Rogério de Freitas Ribeiro, Ozi Vieira Lopes Filho, Hector Glorgis Brochado Filho, José Radziuk, Fabio Luiz Comes, João Claudio Feijó Sidou, Ricardo Fogliatto Madaleno, Itacir Omar Leitune, Flávio Eichenberg Campello, Alberto Salles de Abreu, Guilherme Aquiles Ferreira de Almeida, Roberto Fauth de Araujo, Antônio Carlos Pires Knauth, Jorge Amadeu Martine, Homero José Zanotta Vieira, Enio Daudt Alves, Gelson de Mattos Mello, Alberto Luiz da Motta, Marco Antônio da Fonse ca, Jayme Luiz de Souza Pinent, Helius Dias de Arau jo, Gilton Domingues Boneau, José Carlos Lux, Valdir Vissoni e Derli José Santos Ribeiro.

EXAMES MÉDICOS

Os candidatos aqui relacionados deverão se apre sentar no CMPA dia 24 de fevereiro de 1966, às 8 horas, a fim de serem inspecionados de saúde

Depoimentos

Meu pai era militar e me inscreveu para pres tar o exame de seleção para o Colégio Militar devido ao reconhecido nível de ensino. Penso que a disciplina impos ta aos alunos, bem como a questão financeira, também, tenha pesado na sua decisão. De mi nha parte, com então dez anos de idade, nun ca pensei em questionar a decisão do meu pai. Entretanto, devido ao rigor do exame, lembrome de ter garantido o ingresso ao Ginásio pres

tando o exame de admissão ao Colégio Rosário, onde também passei.

Estudei muito! Meu pai contratou uma irmã dele que era professora. Ela me deu aulas de português e história. Já meu pai me passava li ções de matemática quando saía para o traba lho, cobrando-me os resultados dos estudos à noite, ao retornar para casa.

Valeu a pena! Fui um dos cinquenta candi datos admitidos e cursei os sete anos do Colé gio Militar, ingressando na Universidade ao sair do Colégio.

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AA FILHO DE MILITAR

FILHO DE MILITAR TRANSFERIDO

Me lembro bem... Em 1965, meu pai foi trans ferido para servir no 6º Regimento de Infantaria, na cidade de Caçapa va, Estado de São Paulo. Eu cursava a 5ª série primária.

Sim, naquele tempo o curso primário ia até a 5ª série. Neste ano me preparava para fazer o exame de admissão para ingressar no 1º ano do Ginásio.

Manifestei a minha vontade de ingressar no Colégio Militar de Porto Alegre, mas meus pais me convenceram que fizesse o exame de admissão na Escola Pública da cidade, quando meu pai fosse transferido para Porto Alegre, eu ingressaria no CMPA. Inicialmente fiquei muito contrariado, pois queria estudar no CM, mas, in felizmente, meus pais não aceitavam a ideia de eu sair de casa com tão pouca idade. E assim foi feito. Fiz o exame de admissão, passei e ingres sei no 1º ano Ginasial na Escola Pública João Carlos Barbosa. Mas a vontade e a determina ção de estudar no CM nunca me abandonaram. Falava para todos os amigos da cidade que eu ainda estudaria no CM.

Ao longo do ano de 1966, meu pai foi co municado que seria transferido para Porto Ale gre. Em janeiro de 1967, viemos para a capital e, em março deste ano, ingressei no CMPA na turma B1, realizando o meu sonho. A experiên cia do primeiro ano atendeu todas as minhas expectativas, embora tivesse que ter estudado muito para acompanhar o ritmo do Colégio.

Quando me recordo deste momento da mi nha vida, sinto uma gratidão muito grande por aqueles primeiros colegas que me recepciona

ram e facilitaram a minha integração no CM e por ter sido integrante de uma turma excepcional, a Turma Sesquicentenário da Independência

FILHO DE CIVIL

Por ser filho de civil, não ter nenhum familiar militar e nem qualquer conhecimento a res peito do Exército, só era motivado pela vontade de entrar no CMPA. Eu admirava a postura militar, a forma impecável de se apresentar, prestar continência e, é claro, a farda!

Prestei concurso de admissão, como filho de civil, e fui aprovado.

Do alto dos meus onze anos recém comple tados e dos meus 1,18m de altura, eu chamava a atenção por ser o mais baixinho dos alunos.

Ao longo dos sete anos dos Cursos Ginasial e Científico, construí amizades que duram até hoje. Meu ideal de ser militar foi atingido e ago ra, decorridos 56 anos, sou oficial reformado do Exército Brasileiro.

Cada vez que adentro ao CMPA, relembro o menino cheio de ideais, os bons exemplos que tive por parte dos professores, monitores e alunos mais antigos.

Quando vejo um colega de turma é como estar vendo um pedaço de mim. Temos um sig nificativo passado em comum. E o amor pelo Colégio é o principal fator que até hoje nos une!

18 | Memórias
da Turma Sesquicentenário da Independência

Nº NOME

1966 1967 1968 1969 1970 1971 1972

1

ALFEU OLIVEIRA GOULART

A1 B3 C3 2

ANDRE GIL FALCÃO LISBOA

A1 B1 C1 D1 E1 F1 G1 3

BEN-HUR DOS REIS COSTA A3 B3 4

CARLOS ALBERTO SCHROEDER A2 B2 C2 D2 E1 F1 G2 5

CARLOS CESAR CUNEGATTO GUETSCH A1 7

CARLOS EDUARDO ESTRÁZULAS MAYER A1 B2 C2 D2 E1 F1 G1 11

CLAUDIO RODRIGUES ALVARES

A1 B3 C3 D3 13

CYLON ROSA RODRIGUES DE FREITAS A3 B4 C2 D2 E1 F1 G1 14

DARCI GARATE NICHNIG A1 B1 C1 D1 E1 F1 15

DEJAIR OLIVEIRA BOEIRA

A1 B3 C3 D3 E3 F3 17

DELFIN LUIZ TOROK A2 B3 C3 D3 E3 F3 G2 18 EDUARDO FORTES CARPES A2 B4 C3 D3 19

FRANCISCO LUIZ RIOS A3 B4 C2 D2 E1 21 GILBERTO SANTOS DE PAULA COUTO (613) A2 G1 23 HUMBERTO FERREIRA DUBOIS A1 B1 25 JADER SALLES BRAUNER A2 B3 C3 D3 E3 F1 G2 27 JALCIONE PEREIRA DE ALMEIDA A1 B2 C2 D2 E1 F1 31 JOÃO GASTÃO TELLIER FLORES A3 B1 C1 D1 E1 33 JOÃO SÉRGIO PEREIRA KELLER A2 35 JORGE AUGUSTO CORREA A3 B2 C2 D2 36 JORGE LUIZ RIBEIRO MORALES A2 B3 C3 D3 E3 F3 G2 39 JOSÉ CARLOS LUZ CRIVOCHEIN A2 B1 C1 D1 E1 F1 G1 40 JOSÉ EUGÊNIO KOPP JANTSCH A3 B3 C3 D1 41 JOSÉ LUIZ BRANDÃO A3 B2 C2 D2 E2 F2 43 JOSÉ MARIA RODRIGUES DE VILHENA A2 B2 C2 D2 E2 45 JUNIO MARCELINO DE SOUZA NETO A3 B4 C1 D1 E1 F1 G1 47 KLEBER SILVA DOS SANTOS A1 B4 C3 D3 E3 49 LEONARDO ROBERTO CARVALHO DE ARAUJO A1 B4 C2 D2 E2 F2 G2 51 LUIZ CARLOS GOZZINI DAS NEVES A2 B1 C1 D1 E1 F1 G2

Memórias da Turma Sesquicentenário da

Independência | 19
59 MÁRIO JORGE SILVA DE CASTRO A2 B2 62 MARCUS ANGHINONI DE SOUZA A1 B1 63 MAURÍCIO DE FREITAS MOTA A1 B2 65 PAULO EDUARDO PRATES DE NORONHA A3 B2 C2 D2 E2 F2 66 PAULO FERNANDO RODRIGUES MACHADO A1 67 PAULO ROBERTO GOMES A3 B4 C2 D2 E2 F2 G1 68 PAULO TUPINAMBÁ BARCELLOS FERNANDES A3 B1 C1 D1 71 RENATO GOMES DA SILVA A2 B4 C3 D3 E2 78 ROBERTO FANTONI SAURIN A2 B1 C1 D1
SESQUICENTENÁRIO DA INDEPENDÊNCIA - MATRÍCULAS ANO/ANO INFORMAÇÕES AA 1966/1972
53 LUIZ FRANCISCO RODRIGUES DA SILVA A3 B2 54 LUIZ ALBERTO ROGGIA PITHAN A2 B4 C1 D1 E1 F1 G2 55 LUIZ ANTONIO ROGGIA PITHAN A2 B1 C1 D1 E1 F1 G2 57 LUIZ CARLOS VELHO SEVERO A3 B3 C3 D3 E3 F3 58 MÁRIO ANTONIO CASTRO RIBAS A2 B3 C3
TURMA

Nº NOME 1966 1967 1968 1969 1970 1971 1972

83

87

RUBENS IVAN FERREIRA GONÇALVES

A3 B2 C2 D2 E2 F2 G2

SEBASTIÃO LUIZ DE OLIVEIRA A1 B3 C3 D3 E3 F3 G1

88 SÉRGIO ALBANO DE MELLO A2 97 SÉRGIO JOSÉ CORRÊA A2 B4 C3

98 SOLON WAINBERG A2 B3 C3 D3 E3 F3 99 VANDERSON DE LIMA A3 B1 C1 D1 E1 F1 G2 100 WALDEMAR JUNIOR DE PAULA DIAS A1 B4 C3 D3 E3 F3 G2 109 WALTER ANTONIO STAIGER A1 B2 C2 D2 110 WILLIAM ROBERTO ENRLICH DE MIRANDA A1 B3 C3 D3 E3 F3 G2

113 JARBAS THADEU DA SILVA CUNHA A2 B3 C3 D3 117 RAUL AZAMBUJA CONDOTTA A3 B1 120 HUGO SCIPIÃO FERREIRA JUNIOR A3 B3 C3 D3 E3 F3 G1

131 PEDRO PAZ DA SILVA NETO A3 B4 C2 D2

161 LUIZ ANTONIO BORGES GERMANO DA SILVA A1 B4 C2 D2 E2 F2 G2 165 ÁLVARO SÉRGIO PEREIRA DE FREITAS A2 173 JOSÉ ELIAS GOMES A1

176 LUIZ OSÓRIO GUARALDI EBLING A1

178 CARLOS ROGÉRIO CAETANO FERREIRA A2 B3 C3 192 PAULO ROBERTO MACHADO CAMBRAIA A3 B2 C2 D2 E2 F2 194 LUIZ RENATO FRANÇA DE MOURA A1 B4 C1 241 CLÁUDIO CARNEIRO DA LUZ A3 B2 C2 D2 284 IVANHOÉ LAPUENTE GARRIDO A3 285 SÉRGIO LUIZ DUARTE ZIMMERMANN A3 302 RENATO DIAS DA COSTA AITA A1 B3 C3 D3 E3 F3 G1 325 JOSÉ MÁRIO PIRES A1 B2 329 WALDIR VISSONI A1 B4 C2 D2 336 DERLI JOSÉ SANTOS RIBEIRO A2 B4 C1 343 JOSÉ CARLOS LUX A3 B1 C1 D1 345 HELIUS DIAS DE ARAUJO A1 B4 C1 D1 E1 F1 G1 347 GILTON DOMINGUES BONEAU A2 B1 C1 D1 351 JAYME LUIZ DE SOUZA PINENT A3 B3 C3 D3 354 MARCO ANTONIO DA FONSECA A2 B2 C2 359 GELSON DE MATTOS MELLO A3 B1 C1 362 ENIO DAUDT ALVES A2 B1 C1 D1 365 HOMERO JOSÉ ZANOTTA VIEIRA A1 B1 C1 D1 E1 F1 G2 370 JORGE AMADEU MARTINI A2 B3 C3 D3 E2 F3 G2 374 ANTONIO CARLOS PIRES KNAUTH A2 B2 C2 D2 377 ROBERTO FAUTH DE ARAUJO A1 B2 C2 D2 378 GUILHERME AQUILES FERREIRA DE ALMEIDA A3 B4 C3 D3 381 ALBERTO SALLES DE ABREU A2 383 FLÁVIO EICHENBERG CAMPELLO A1 B1 C1 D1 E1 F1 G1 384 ITACYR OMAR LEITUNE A3 B2 C2 D2 E2 F2 G2 386 RICARDO FOGLIATTO MADALENO A2 B4 C1 D1 E1 F1 G1 388 FÁBIO LUIZ GOMES A3 B2 C2 D2 E2 F2 G1 391 JOÃO CLÁUDIO FEIJÓ SIDOU A1 B2 C2 D2 392 JOSÉ RADZIUK A3 B4 C2 D2 E2 F2 393 HECTOR GIORGIS BROCHADO FILHO A1 B2 C2 D2 E2 F2 G2

20 | Memórias da Turma Sesquicentenário da Independência

Nº NOME

1966 1967 1968 1969 1970 1971 1972

396 OZI VIEIRA LOPES FILHO A3 B3 C3 397 ROGÉRIO DE FREITAS RIBEIRO A1 B1 C1 D1 E1 F1 G1 411 CLÁUDIO LAYDNER DA ROCHA A2 B2 C2 D2 E2 F2 G2 412 ALBERTO LUIZ DA MOTTA ASTI A1 B3 C3 D3 E3 F3 465 MÁRIO CEZAR MACEDO MUNRÓ A1 B1 C1 D1 E1 F1 G2 466 HUGO EDEGAR CORNELIUS FILHO A3 478 SÉRGIO SCHUZ A3 B1 C1 490 RICARDO MELLO KARAM A2 B4 492 TUPAIBA GODINHO A1 B3 C3 D3 E3 494 JOEL FRANCISCO MONTEIRO DA CUNHA A3 B3 C3 D3 E3 F1 531 JOEL MARCELO ANTUNES A2 543 FREDERICO BARBOSA GUILHON FILHO A3 581 IRINEU ALVES DOS SANTOS FILHO A3 B3 C3 657 JOÃO FLORIANO MOREIRA FAGUNDES A2 B2 C2 D2 659 JORGE ALBERTO VIANA ROSSLER A1 B4 701 AILTON DA ROSA FERREIRA A2 B1 C1 D1 E1 218 PEDRO ANTONIO CORREA BORGES FORTES B4 C1 D1 E2 F2 G1 237 JOSÉ GROSSI NETTO B1 C1 D1 E1 F1 G1 244 WAGNER WALTER LEHMANN B4 C3 246 JOSÉ CARLOS OLINTO MARTINS B4 C1 D1 E1 F1 266 NELSON GONÇALVES GLORIA B4 C3 D3 E3 270 JORGE CÂNDIDO RIBEIRO DA SILVA B3 289 JOSÉ LUIZ PINTO SOUTO B2 C2 312 EDSON BOLZAN B3 C3 335 MARCO ANTONIO DOS SANTOS OLIVEIRA B3 344 FLÁVIO ANTÔNIO JACINTHO CANTÃO B1 C1 D1 371 NELSON EDY ANTUNES MENDONÇA B3 C3 D3 E3 F3 G1 394 WILLIAMS MONZON DA SILVA B3 C2 D2 E2 F2 G1 403 MARCO ANTONIO CORRÊA PIVATTO DA SILVA B2 C2 D2 407 JORGE HARTMANN NETO B1 441 JOSÉ CARLOS PÖPPL FILHO B3 C3 D3 E3 F1 G2 537 JORGE ALBERTO FORRER GARCIA B1 C1 D1 E1 F1 G1 568 MARCIO BALDINO KARAM B1 C1 D1 E1 F1 G2 573 AURÉLIO ANTÔNIO VIALE DO AMARAL B4 C1 D1 E1 579 GILBERTO NATAL SILVEIRA BICHUETI B3 C3 D3 580 INAGÉ INDIO GUERRA MACHADO B1 C1 D1 E1 F2 G1 583 IVAN RICARDO KLOCK DE OLIVEIRA B1 C1 D1 E1 586 JOSÉ CARLOS V. ORTIS B4 C1 605 NELSON ANTONIO VIDAL MAIDANA B2 C2 D2 E2 631 LUIZ ALBERTO LOPES LIRA B1 C1 640 LUIZ ANTONIO CARVALHO DA ROCHA B4 C2 D2 E2 F3 G1 658 JOÃO MANOEL DA SILVA BARROS B2 666 HILDEFONSO MUNHOZ DA ROCHA NETO B2 C2 673 FERNANDO LUIS LEON DE MELLO B2 680 VALNI NUNES DO SANTOS B3 682 JORGE ANTONIO DIAS POZZOBON B1 114 ANTONIO AGOSTINHO DE LIMA AZEVEDO C1 D1

Memórias da Turma Sesquicentenário da Independência

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Nº NOME 1966 1967 1968 1969 1970 1971 1972 258 JOSÉ PEDRO DE OLIVEIRA LEHNEMANN C1 D1 E1 587 JOSÉ CARLISMAR RAMOS PEREIRA C3 D3 E3 633 RONALDO BRASIL PEREIRA C3 D3 E3 791 RENEU RODRIGUES DA SILVA C2 D2 E2 F3 G1 882 RUI BARBOSA FREITAS C2 888 JOEL MELLO DE FARIAS C1 D1 892 ANTONIO AUGUSTO DUTRA C3 D3 E3 181 CELMAR FIGUEIREDO ZOCH D2 238 MARCO ANTONIO DO AMARAL THOMÉ D3 E3 F3 G2 252 ROBERTO SCHNARDORF D2 413 LUIZ FRANCISCO BRANDÃO GARCIA D2 449 PAULO EMÍLIO MELCHIADES BARRETO D2 E2 F2 G2 547 LUIZ KLUWE GAUDIE LEY D2 E2 F2 G1 565 ANTONIO CARLOS PINHO DE LIMA D3 E3 601 TULIO DE OLIVEIRA SOVIERO D2 E2 F3 653 ALMIR MARTINS TORRES D2 788 JORGE JARDEL CALÇADO LIMA D3 865 PEDRO LAUDÁRIO LAUDE LISBOA D1 E2 F3 876 LUIZ ALBERTO KRUEL HERRERA D3 881 CHARLES GOMES PEREIRA D3 E3 197 MANOEL LUIZ NARVAZ PAFIADACHE E1 F1 G1 314 EDSON LOPES CORREA E2 404 FLÁVIO DE OLIVEIRA SCARCELLA PORTELA E3 438 LANNES BONORINO CUNHA E1 F1 G2 469 CLAUDIO NASCIMENTO GENTIL E3 F1 478 SÉRGIO SCHULZ E1 F1 531 JOÃO SÉRGIO DELLAMORA MELLO E3 F1 543 ADALMIR PACHECO DUARTE E1 552 VASCO FONTOURA FLEURY E2 F2 566 PAULO ROBERTO FLORES SOARES E2 571 SERGIO DE SOUZA CIRILLO E2 F3 572 DELFOS DORNELLES PAZ E2 577 LUIZ EURICO MELO SILVEIRA E3 F3 G1 579 HENRIQUE OTELO MENTZ E3 591 JORGE LUIZ GOMES PAIM E1 F2 600 GILSON ANTÔNIO RAMOS ZIMMERMANN E3 603 MONTEIRO E3 612 MAX OSCAR BILLIAN ALVIN E2 617 SAMIR SAID E3 646 MÁRIO LUIZ ROSSI MACHADO E2 F3 G2 778 FERNANDO LUIS PAULSEN FERREIRA E1 F2 785 SÉRGIO BERNARDINO PAULSEN FERREIRA E2 F3 857 JOSÉ ROBERTO ROUSSELET DE ALENCAR E2 F3 G1 872 CIZINO RISSO ROCHA E3 893 PAULO SÉRGIO SANTOS DE VARGAS E1 896 MÁRIO DE MELLO SANTOS FILHO E2

22 | Memórias da Turma Sesquicentenário da Independência

Nº NOME 1966 1967 1968 1969 1970 1971 1972 904 ARI NASCIMENTO E1 F2 G1 905 HERBERT ZANITH JUNQUEIRA JUNIOR E2 906 RUI ALCIDES DE CARVALHO JUNQUEIRA E3 918 JOSIAS DO CANTO FERNANDES E3 930 FLÁVIO RAFAEL VOLCATO E2 F3 G1 931 ANVALMER SOUZA LINHARES E3 F2 G1 936 RICARDO AUGUSTO GOMES BICCA E1 11 RONY DE BARROS CORREIA KREBS F2 G2 489 ADELSON ELIAS VASCONCELOS F2 550 DALMIR PAVECK URANGA F3 556 LINEU SCHNEIDER CHAGAS F3 567 ANTONIO DE PAULA MEIRELLES STOL F2 588 JOSE FRANCISCO MORAES FERREIRA F1 589 JOSE CRISTHIANO PINHEIRO REIS F1 595 LEONARDO ALBERT NUNES F2 621 HELLEN FUTURO ROCHA FILHO F3 627 FRANCO ADRIANO WERLANG F2 644 LUIZ ALBERTO ALVES ROLLA F2 G2 656 HILDEGAR PIRES TEIXEIRA F1 G1 659 JORGE ALBERTO VIANA ROESLER F1 666 JOSÉ ANTONIO MELLO LUZARDO F2 794 DOMINGOS LIMA GOWINSKI F1 809 SÉRGIO NELSON MAIA GUIMARÃES F2 886 REINALDO GOULART CORREIA F2 G1 914 CLÓVIS GOMES DE ALBUQUERQUE JÚNIOR F3 G2 916 DINIS DESIDERATO PADILHA LEMOS F1 943 PAULO HERON DE OLIVEIRA INDA F3 973 LUIZ CARLOS DE CARVALHO GUIMARÃES F1 1017 BAYARDO VELLOZO JACOBINA F3 1018 JOSÉ ANDERSEN CAVALCANTE F3 G2 1021 DALTRO VEIGA F3 G1 1 CARLOS ALBERTO PONZI FILHO G2 409 LUIS EDSON GEWEHR DUTRA G2 611 RENATO DUTRA DE OLIVEIRA G1 788 JOSÉ ODILOM DE ALMEIDA PERES G2

JOSÉ ALBERTO SPHOR PLENTZ

CESAR LUIZ FLORES

ADELINO COSME MISSAGLIA

ADELINO DAMIÃO MISSAGLIA

LUIZ OTÁVIO CAMPOS ALVARES

OSÓRIO ALMEIDA RETUMBA CARNEIRO

Este é um trabalho de pesquisa realizado em 13.228 páginas de boletins internos do CMPA microfilmados, gentilmente cedidos a esta redação para esta finalidade, nem sempre perfeitamente legíveis, mas que permitiram obter a relação, praticamente completa, de todos os Antigos Alunos que dividiram as mesmas salas de aula no período de 1966 a 1972. Há alguns nomes ao final da listagem cuja matrícula foi localizada, mas não seu número, todos eles matriculados no período do colegial. Também pode ter ocorrido que algum outro nome possa ter sido omitido em função do grande volume de informações e da dispersão destas, pedimos escusas por estes eventuais lapsos e deixamos algumas linhas em branco para que cada um possa completar com suas próprias lembranças.

Memórias da Turma Sesquicentenário da Independência

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O BALEIRO

Baleiro, balas! O apelido de “baleiro”. “Balas, baleiro, balas!”. Mantra ouvi do nas casas de espetáculos de Porto Alegre, ao delas sair, tornou-se ofensa indesculpável aos alunos do tradicional Co légio Militar de Porto Alegre.

Desde a primeira fase, os alunos do CMPA ganharam o apelido pe jorativo de “baleiro”, numa alusão ao uniforme dos antigos balei ros que havia nos cinemas, se melhante ao uniforme cáqui usado no diário, inclusive com listras nas calças.

Tal ofensa exigia rápida e contundente contra-ação, em defesa da honra do traje iden tificador. Muitas foram as bata lhas enfrentadas, sem qualquer importância ao resultado, mas, gar bosa e honradamente, em defesa do uniforme.

O uniforme é um símbolo, uma bandeira que se veste. Representa muito para quem o enverga.

É por isso que, nas décadas de 1960, 1970, incomodava tanto os alunos do Colégio Militar de Porto Alegre, quando eram chamados de baleiros ou lhes gritavam na rua –Baleiro, balas!

Este período foi o auge da gera ção Hippie, Woodstock, Beatles, ca

belo comprido, rock’n’roll etc. E nós, com cabelinho cortado, de unifor me, tínhamos que ter muita perso nalidade e gostar muito do Colégio para suportar o “bullying” daquela

Os motivos da alcunha “pejora tiva” eram vários, entre os quais, certa dose de inveja pelos su cessos que os alunos faziam com as meninas e pelo desta que que obtinham nos vesti bulares e nos esportes. A partir da segunda fase, os “paisanos” diziam que a sigla “CMPA” sig nificava “Chocolate, Mando late, Pirulito, Amendoim”, que era parte do que os baleiros vendiam nos cinemas.

Evidentemente, ser cha mado de “baleiro” na rua, ou em qualquer outro local, era a “suprema ofensa” para um aluno ou grupo de alunos do Colégio, fato este que foi o principal mo tivo das incontáveis brigas com os paisanos. Neste mister, os inter nos se destacavam e assumiam a “defesa da honra do CMPA”. Com o passar dos anos, o mundo mudou, os baleiros de cinema acaba ram, os cinemas de calçada desapareceram, a inocência

24 | Memórias
da Turma Sesquicentenário da Independência

se foi. Com o tempo, veio a transformação, não rara na contingência das relações humanas, que modificou a postura dos antigos alunos do Ca sarão da Várzea.

As contendas com os civis foram acabando e, praticamente, terminaram a partir do ingres so das meninas. Assim, os alunos passaram a se apropriar do apelido, tornando-o motivo de or gulho para todos, como o é atualmente.

É o fenômeno que sucede quando a refe rência pejorativa a um grupo passa a ser assumi da pelo grupo e utilizada como sinete de iden tificação fraternal. E foi assim que os antigos e novos alunos do CMPA carregam, com orgulho e honra, por toda vida, a distinção de ser Baleiro.

| HÁ 50 ANOS, FOI ASSIM CONOSCO.

“Era um garoto, que como eu, amava os Beatles e os Rolling Stones”... Dizia a canção de sucesso que rodava nas estações de rádio em 1967. No Brasil, o conjunto Os Incríveis interpre tava o hit.

Nos impressionantes anos 1960, o mundo mergulhava em profundas transmutações, en tre elas, as estéticas. Garotos, então, passaram a usar cabelos longos, algo só aceito, pelos bons costumes da época, em mulheres. Era tempo de rock’n’roll e uma juventude “iéiéié”. Raízes do mundo pop. E nós, alunos do Colégio Militar, bastiões da educação tradicional, ficamos, es teticamente, anacrônicos com nossos cabelos cortados à cadete na máquina Zero, em uma década na qual era obrigatório ser cabeludo para estar na onda. Frustração! Nossas cabeças, quase raspadas, criavam uma indisfarçável difi culdade de aproximação junto às belas jovens, vestidas com insinuantes minissaias (Uau!). Ora, o que mais um adolescente masculino aprecia? Acertou! Garotas. Naquele tempo, meninos e meninas se encontravam em festinhas de colé gios, clubes sociais e reuniões dançantes. E os

alunos do Colégio Militar ficavam em desvanta gem estética para se enturmar. Vergonha. Vontade de sair do colégio. Mas a família jamais permitiria e, também, é preciso fazer o Curso de Formação de Reservista (CFR) no próprio colégio. Afinal, era bem mais desgas tante servir na dureza de recruta. Bem, o cabelo cortado na forma militar foi uma frustação ju venil, cuja compensação os ex alunos demons traram quando da saída dos bancos do Velho Casarão.

Aqueles alunos que não seguiram para as academias militares, todos, acabaram por trans formarem-se em cabeludos tardios. Hoje, com a visada distante 50 anos desta época, tudo pare ce sem importância.

Contudo, é inescapável do coração e das mentes daqueles “baleiros” que viveram, na pele, as relações no mundo juvenil, com as mu danças de costumes e relações nos quase dou rados anos 60’s e 70’s.

Memórias da Turma Sesquicentenário da

Independência | 25
•••

AS BATALHAS NO BOLICHE, NÃO NO BOLICHO

Lá pelos idos de 67 ou 68, nós estávamos cursando o segundo ou terceiro ano ginasial, todos ainda pequeninhos. Lembro que as sex tas-feiras, ou sábados, aqueles alunos internos, que não iam para casa, eram convocados pelo pessoal do científico, acho que da Segunda Companhia, a ir fardados, à noite, num boliche que tinha na Venâncio Aires, quase esquina com a João Pessoa. E ali a gente entrava e ficava, to dos nós fardadinhos, esperando que alguém gritasse: “Aí, Baleiro”. Era só questão de tempo. Nós então saíamos do boliche e retornávamos ao Colégio para chamar o pessoal do cientí fico. Voltávamos para lá, acompanhados dos “grandões” e, quando entrávamos novamente, imediatamente apontávamos quem tinha cha

mado a gente de Baleiro. É claro, fechava o pau. E isto se tornou rotina aos finais de semana, até por conta de que o pessoal do científico man dava na gente e a nossa missão era ir no boliche atrair briga para o pessoal mais velho.

Em um domingo, quando o pessoal que era interno retornava para o colégio, à noite, chegou o aviso que o Rudigar tinha levado uma surra, num boliche entre a Vieira de Castro e Santa Terezinha. Todos os alunos que estavam no colégio neste ho rário, da 2ª e 3ª CIA, foram para o tal boliche com o cinto de gala na cintura, com duas enormes fi velas. A batalha foi grande, mas vingamos nosso amigo e “honramos” a tradição do Baleiro.

Mas como tudo que é bom dura pouco, esta foi a nossa última ida ao boliche, pois foi a gota d’água para o Comandante do Colégio proibir de frequentarmos este local.

LEGIÃO DE HONRA

O ano de 1964, também, marcou a história do CMPA pela criação da Legião de Honra, institui ção que seria parâmetro para a criação de con gêneres em todos os demais colégios do SCMB (Sistema Colégio Militar do Brasil).

Pioneira no SCMB, a Legião de Honra do Co légio Militar de Porto Alegre foi inspirada, como suas demais similares no mundo, na Legião de Honra francesa criada pelo Primeiro-Cônsul Ge neral Napoleão Bonaparte, em 1802, com o fim de recompensar os cidadãos que se houvessem distinguido por feitos militares na defesa da Li berdade ou por outros méritos civis ou milita res, qualquer que fosse a origem do cidadão. A Legião de Honra francesa tornou-se, assim, a primeira ordem moderna que visava distinguir serviços meritórios prestados à sociedade, inde pendentemente, da condição social do agracia do, e que o Chefe do Estado personificando a Nação, podia conferir a qualquer cidadão disso merecedor.

No CMPA, foi criada no dia 27 de Junho de 1964, sob inspiração do, então, Cap. Dirceu Pi vatto da Silva, com total aprovação do Coman dante Cel. Plácido. A publicação de seu Estatuto se deu a 21 de outubro.

Sob a presidência do aluno Marco Antônio Longo, a Legião iniciou com trinta alunos. Pos teriormente, passou a comportar dois efetivos:

– Legião de Honra Beta (Beta Legionários): alunos que recém ingressavam.

– Legião de Honra Alfa (Alfa Legionários): alu nos que, após o período de prova de um ano como Beta Legionários, eram promovidos (por unanimi dade) a essa condição, na Semana de Caxias.

Os Alfa e Beta Legionários utilizavam vários distintivos no uniforme:

• Alfa: bastão, divisa de braço amarela e insígnia de bolso (metal).

• Beta: divisa de braço cinza.

Além destas distinções, a Guarda-Bandeira e o Porta-Estandarte, também, eram funções reportadas, apenas, aos Alfa Legionários.

26 | Memórias
da Turma Sesquicentenário da Independência |
•••

O ingresso era feito mediante indicação dos Legionários e cada nome era submetido à assembleia dos alunos Alfa Legionários.

O seu primeiro Código de Honra tinha os se guintes princípios:

• Verdade e honestidade acima de tudo;

• Amizade e camaradagem a qualquer mo mento;

• Imposição pela atitude e iniciativa;

• Estudar e primar pela cultura.

A Legião de Honra é composta por alunos exemplares que cultivam e praticam os saluta res princípios constantes no seu novo Código de Honra (instituído pela DEPA - Diretoria de Ensino Preparatório e Assistencial, em 1994):

• Lealdade e Honestidade;

• Iniciativa e Nobreza de Atitude;

• Disciplina e Camaradagem;

• Estudo e Amor à Cultura;

| PERTENCER À LEGIÃO DE HONRA

Certa vez, já na minha fase profissional ma dura, eu conversava com um experiente chefe da auditoria da empresa onde trabalhava e ao perguntar-lhe como ele identificava possíveis problemas de fraude ou coisas semelhantes, ele respondeu taxativamente:

– Sinais exteriores de riqueza, Cylon.

Pois bem, dentre nós, alunos do Colégio Mi litar, havia um grupo diferenciado de colegas, colegas que apresentavam, em comum, “sinais exteriores” de outra natureza em relação ao gru po citado pelo auditor, no caso, sinais exterio res de ordem, de arrumação, de disciplina. Seus uniformes estavam, invariavelmente, limpos, as fivelas dos cintos espelhadas e os coturnos bri

• Respeito às Normas do Colégio.

Além do exemplo que transmite aos demais alunos, aos Legionários cabe realizar ou liderar as ações de cunho social, como as campanhas para arrecadar agasalhos, alimentos e/ou brin quedos para crianças e/ou adultos em situação de vulnerabilidade social. Cabe-lhes, também, representar o CMPA em eventos externos que requeiram a presenças de alunos de conduta e procedimento ilibados.

Em uma bela e emocionante solenidade rea lizada no dia 24 de julho de 2014, no Salão Brasil, foi comemorado o Cinquentenário da Legião. A entidade contava, nesse ano, com 94 alunos, sob a presidência da Al Débora Mota Hackmann, filha de um antigo aluno, também, Legionário. Seus orientadores eram o Maj. Flávio Marcelo Lima dos Santos e o 1º Ten. Wilson Alves de Lima.

A cerimônia foi prestigiada por vários anti gos alunos Legionários e antigos presidentes da entidade, inclusive pelo primeiro presidente no ano de 1964, o, então, aluno nº 67 e, hoje, General de Divisão Marco Antônio Longo. Entre os antigos presidentes, estavam o Gen. Bda. Luiz Carlos Rodrigues Padilha (1973) e o Cel. José An tônio Carneiro Borges (1968).

AA Araujo (pesquisa histórica)

lhando. Alguns, ainda, portavam um pequeno bastão de madeira com as extremidades metáli cas. Ah, como eu invejava portar aquele bastão...

Esses eram os Alfa e Beta Legionários, cole gas que, muito além dos meros “sinais exterio res” de ordem e disciplina, eram exemplo de comportamento para todos nós.

Longe de criar uma casta no âmbito do corpo de alunos, o objetivo da criação da Legião era, justa mente, incentivar todos a percorrerem o caminho da honestidade, honradez e o bem servir. Como bem disse o Comandante Plácido de Castro, “a Le gião de Honra só chegará ao seu objetivo quando congregar todo o efetivo do nosso Colégio”.

Tive a honra de fazer parte desse grupo de alunos e de contribuir para os propósitos para os quais ele foi criado.

Memórias da Turma Sesquicentenário da Independência | 27

Cerimônia de entrega dos distintivos aos legionários
AA
Cylon

GUARDA-BANDEIRA, A TRADIÇÃO MANTIDA

A Guarda-Bandeira, na visão militar, seria como a honra das honras! Ela conduz duas mar cas nobres: a “marca” nacional, a Bandeira, e a marca do CMPA, seu Estandarte!

Ao comando de “Bandeira a seu lugar!” Lá vai ela! Bandeira e sua guarda, seguindo ao rufar de tambores – marca especial da banda de música –em cadência irretocável, todos marchando com aquele passo de “ganso”, com extrema correção. No CMPA, a Guarda-Bandeira era constituída pelo Porta-Bandeira, pelo Porta-Estandarte e por seis alunos pertencentes à Legião de Honra. Os integrantes da Guarda-Bandeira portavam o Fuzil Mosquefal 7,62 mm, com baionetas caladas. To dos usavam barretina e túnica ou a boina, com seus uniformes impecáveis! Porta-Bandeira e Por ta-Estandarte, todos em um só movimento!

Incorporação da Bandeira do Brasil - Ato solene de recebimento da Bandeira Nacional pela tropa

• AA 36 - Jorge Luiz Ribeiro Morales: nosso eterno Porta-Bandeira

• AA 83 - Rubens Ivan Ferreira Gonçalves: Porta-Estandarte

• AA 904 - Ari Nascimento: Guarda

• AA 931- Anvalmer Souza Linhares: Guarda

• AA 857 - José Roberto Rousselet de Alencar: Guarda

• AA 370 - Jorge Amadeu Martini: Guarda

• AA 238 - Marco Antônio do Amaral Thomé: Guarda

• AA 486 - Paulo Claret Cassini: Guarda

No ano de 1972, o Estandarte do CMPA re cebeu a Medalha General Trompowsky, confe rida pelo Instituto dos Docentes Militares, que foi entregue pelo Prefeito de Porto Alegre, En genheiro Telmo Thompson Flores. Foi condeco rado, também, com a Medalha do Mérito Aero náutico, recebida na Academia da Força Aérea, em Pirassununga-São Paulo.

A Guarda-Bandeira da Turma Sesquicente nário da Independência era composta pelos seguintes Antigos Alunos (AA):

O tempo passou, porém, nossa memória pre serva momentos de honrosa missão da GuardaBandeira de transportar e proteger o Pavilhão Na cional, o Estandarte do CMPA! Resta-nos afirmar: Guarda-Bandeira, a tradição mantida!

AA Zanotta, AA Ivan Guarda-Bandeira em desfile de sete de setembro

A SOCIEDADE ESPORTIVA E LITERÁRIA (SEL)

| BREVE HISTÓRICO

No ano da fundação do Colégio, ainda an tes do início das aulas, no dia 11 de junho de 1912, foi fundada a Sociedade Cívica e Lite rária, sob a presidência do Tenente Fernando Pires Besouchet, que desempenharia as funções de uma agremiação estudantil dos alunos do CMPA, mas com características, estritamente, li gadas ao seu nome: cívica e literária. O início de suas atividades se deu, porém, somente no dia 07 de setembro daquele ano.

Esse nome permaneceu até o ano de 1940, quando foi alterado para Sociedade Esportiva e Literária (SEL). Os motivos para tanto foram publi cados na Revista Hyloea daquele ano: “Em virtude de um acréscimo em suas finalidades e tendo em vista que o nome de uma sociedade deve expres sar, em síntese, ao que ela se destina, resolveu a

Assembleia Geral reunida em 10 de setembro findo, aprovar os novos estatutos nos quais mu dou-se o nome de então para o de Sociedade Es portiva e Literária”. Nessa época, o Velho Casarão da Várzea já sediava, há um ano, a Escola Prepara tória de Cadetes que, dois anos após, seria reno meada como Escola Preparatória de Porto Alegre.

Em 1953, a entidade trocou de nome, trans formando-se em Sociedade Pré-Acadêmica Militar (SPAM). Isso foi feito para ajustar sua de nominação a de sua congênere na Academia Militar das Agulhas Negras, que se chamava So ciedade Acadêmica Militar (SAM).

Com o retorno do CMPA, em 1962, voltou também a SEL, que permanece até hoje. Nesse ano, a primeira diretoria tomou posse no dia 24 de maio, sob a presidência do aluno Otelo José da Costa Ortiga.

| O DIA EM QUE A SEL RENASCEU

A SEL de 72, na realidade, não ia acontecer. O Cel. Jonas de Correia Neto, o, então, Comandante do Colégio Militar, havia feito a dissolução da SEL. Por quê? Porque o diretor social, na época, disse a ele que os alunos não gostariam de ir de túnica branca, o uniforme de gala, ao baile do Dia do Soldado. O Coronel ficou uma arara, chamou o presi dente da SEL e disse: – “Não tem mais SEL. Ela está dissolvida!” O Capi tão Mascarello conversou com o Fábio e perguntou quem ele indicaria para ajudá-lo a demover o Comandante da decisão de fechar a SEL.

Memórias da Turma Sesquicentenário da Independência

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O Fábio indicou o Germano. O Cap. Mascarello veio falar comigo. Eu disse que toparia a “em preitada”. O Cap. Mascarello marcou uma entre vista com o Comandante. Então, sabedor que, apesar de ser de artilharia, o Comandante era apaixonado pela cavalaria e eu era cavalariano, no dia da reunião, entrei na sala, me apresentei e bati forte as botas que estavam com esporas. Ele olhou para mim e disse: “é de cavalaria, já tem 50% do meu conceito, pode entrar”. O Cap. Mascarello se posicionou atrás do Comandante. Com a permissão dada, eu comecei a falar que houve um mal-entendido. Que o dia 28 era o dia do baile do soldado e no dia 07 de setem bro nós teríamos o desfile e que poderia sujar o uniforme de forma tal que nós não poderíamos desfilar. Eu olhava para o Cap. Mascarello, que se encontrava atrás do Comandante, que me si nalizava positivo. O Comandante, olhando para mim, disse: – “O papinho furado tá bom, mas e aí? Vocês vão ou não vão usar a túnica branca?”. Respondi prontamente: – Sim. Ele olhou para

o Cap. Mascarello e disse: – “Mascarello, eu sei que tem coisa tua nisso aí, mas o cara me con venceu. Então, está legal, ele assume a parte so cial e nós vamos tocar adiante”. Ele perguntou se tinha mais alguma coisa. Eu respondi: – Sim Senhor, é que nós não temos dinheiro para rea lizar o baile. Nós já tínhamos feito a contratação do conjunto e não tínhamos dinheiro. Então, o Comandante, se dirigindo ao Cap. Mascarello, disse: – “Além de me arrumar um enrolador, ele vem aqui pedir dinheiro”. O Cap. Mascarello ar gumentou que, mesmo com a SEL encerrada, ela já tinha assumido alguns compromissos. Então, ele autorizou a liberação do dinheiro.

Na saída da sala, o Comandante disse: – “Aqui ó, na SEL, só são as festividades que es tão programadas. As que não estão programa das estão canceladas”. E assim foi... mas não foi, porque, depois do baile do dia do soldado, que foi um sucesso, ele permitiu as demais reuniões dançantes dali para frente.

BASTIDORES DA ELEIÇÃO

DA SEL 72

Era exigência, à época, que o presidente da SEL fosse aluno do terceiro ano científico.

Foi, inicialmente, montada a chapa única, Chapa A, presidida pelo Aita. Este cacófago robusteceu o marketing da Chapa, a tal “Cha pa Aita” ou “ChapAita”. Em todos os lugares do Colégio foram colocados cartazes: “CHAPAITA” –chapa única.

O QG da ChapAita foi na casa do Germano. Desenhos maravilhosos do Stol e Munró circula vam por tudo, até na fachada do prédio da IBM, que podia ser visto do pátio do colégio.

Inesperadamente, ocorreu uma dissidência e o Garcia montou a Chapa B.

72

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Memórias da Turma Sesquicentenário da Independência
AA Germano |
Sel - Germano e Karan - Fonte: Hyloea

Logo que a Chapa B foi oficializada, o Aita e o Garcia firmaram uma promessa de coope ração pré e pós eleições, somando esforços na realização dos eventos do ano e, principal mente, o de formatura. Foi um pacto de con terrâneos que deu muito certo, uma campa nha acirrada e leal.

A Chapa A estava certa de que iria ganhar, porque no científico nós estávamos bem, mas desconsideramos todo o ginásio, em muito maior número. Garcia intensificou a propagan da neste ponto fraco e obteve sucesso. A con tagem dos votos foi desfavorável desde o início, finalizando com a vitória da Chapa B com signi ficativa vantagem.

Logo após a eleição, toda a chapa perdedora, encabeçada pelo Aita, colocou-se à disposição do Garcia e, mesmo sem cargos na SEL, colaborou em todos os momentos com a chapa eleita.

A chapa do Garcia fez uma confraterniza ção em comemoração à vitória e o Cel. Jonas,

Comandante do CM felicitou a todos. A Chapa vencedora, através do Karam, convidou o Ger mano para participar da pasta social da Gestão 72. E, neste momento, foi formada a conhecida dupla Karambola, que foi um sucesso – o De partamento Social foi dos mais atuantes.

Quando terminou o ano de 1972, com o en cerramento dos trabalhos na SEL, o Aita fez a se guinte manifestação: – “Sempre me senti muito bem e à vontade, trabalhando em apoio e om bro a obro com este excelente colega, Presidente competente e grande líder que foi o Jorge Alber to Forrer Garcia”.

Nosso caro colega Jorge Alberto Forrer Gar cia fez uma excelente gestão, talvez a melhor daquele período.

Memórias da Turma Sesquicentenário da

Independência | 31
AA Germano, AA Leitune, AA Aita, AA Karam Parte da diretoria da SEL - 1972

CURSO DE FORMAÇÃO DE RESERVISTAS - CFR

Entre 1962 e 1969, o CFR funcionou como um só grupamento, sob o comando de um Ca pitão instrutor, via de regra, tendo alguns Sar gentos como auxiliares, todos do CMPA. A ins trução era ministrada uma tarde por semana no próprio Colégio e os exercícios de campo eram realizados em diversos locais, como nos Parques Farroupilha e Saint Hilaire, na Granja do CMPA na Vila Nova (Granja Sepé Tiaraju, criada em 1964) ou na Granja do 19º BIMtz, em São Leopoldo.

As técnicas e táticas aprendidas eram típicas da formação básica do soldado de Infantaria e o aluno terminava o curso como Reservista de 2ª Categoria do Exército, já que não recebia uma qualificação militar específica. O tempo compu tado de serviço era de 23 dias.

Em 1970, no dia 04 de agosto, com inspira ção na organização existente no CMRJ e com o incentivo de alunos que eram filhos de milita res, foram criados três CFR distintos no CMPA, seguindo as três armas-base do Exército: Infan taria, Cavalaria e Artilharia, cada um comandado por um Oficial da respectiva Arma. O objetivo maior, além de atender os anseios de alunos e também dos militares do Colégio, era servir de estímulo a uma futura carreira das armas.

Os primeiros Comandantes dos CFR fo ram: Al Uberti (Infantaria), Al Petry (Artilharia) e Al Cambraia (Cavalaria), todos do 3º Ano e já Reservistas.

A cerimônia de batismo das Armas ocorreu no dia 04 de agosto no Pátio Plácido de Castro, contando com a presença do, então, Coman dante do III Exército (atual CMS) e de outras autoridades militares.

Nessa configuração, o CFR marcou época no CMPA pelo garbo de seus desfiles com unifor mes e materiais característicos, pela marcialida de que emprestava ao Corpo de Alunos e pela participação em significativos eventos militares e civis locais.

No comando do CFR de 1971, estava o, en tão, aluno 559 - Antônio Hamilton Martins Mou rão, hoje, General de Exército e Vice-presidente da República.

Com o decorrer dos anos, o interesse dos jovens brasileiros pelo Serviço Militar aumen tou, fazendo crescer o número de voluntários. Com isso, os alunos do CMPA sabiam que, dificilmente, teriam que servir. O fato fez com que o CFR fosse perdendo o atrativo até que não mais pôde ser dividido em três armas, vol tando a ser realizado em um só grupamento.

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da Turma Sesquicentenário da Independência
Campo de Instrução da Serraria-Rgt Cav- 1970

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ENQUANTO ISSO, NOS BASTIDORES DA CAVALARIA Égua Diacuí

Diacuí era o nome de uma égua de polo. O Reinaldo (Patinho) requisitava o animal para os desfiles e instrução. Teve um dia que a Dia cuí estava com um princípio de aguamento e avisei ao Capitão Rodrigues (Eu, como Subco mandante do Esquadrão, era encarregado da distribuição da cavalhada para os alunos). Mas ele disse que seria uma instrução leve! Resultado: a égua teve um aguamento sério, com descola mento de um casco. Deu um bochincho com o dono da égua, que era, se não me engano, o Ten. R1 Argeu.

Rato das Baias

Em 1969, foi criada a seção de Equitação do CMPA, que treinava no CPOR (com os cavalos de pelotão), sob o comando do Capitão da Sil va (Chicão). Foi a precursora do Esquadrão. Em 1970, foram criadas as Armas.

O Esquadrão recebeu selas completas (com cargas da frente, porta espada, porta ferradura, bornal, corda de cinzel, malotes para prender a manta, porta lanças nas estribeiras, cabeça das completas com freio regulamentar, dotado com o símbolo de uma estrela, dourado com passador de língua bem baixo e as mantas ne gras reúnas. Nossas lanças foram benzidas pelo capelão militar Müller. E, a partir deste Sete de Setembro, o Esquadrão realizava a Guarda à pira do Fogo Simbólico em seu encerramento frente ao Monumento do Expedicionário.

Peleia de Lanças no Ônibus

O pessoal do Esquadrão estava treinando para uma linha de bandeiras históricas, onde en tregaríamos, a cavalo, as bandeiras históricas do

O Sete de Setembro, para o Esquadrão, era trabalhoso, longo, mas com muita vibração. Nosso primeiro Comandante Aluno do Esqua drão foi Marcos Guimarães, hoje, Gen. de Briga da R1, que comandou o 3RCmec e depois a 3ª Brigada de Cavalaria. Somos amigos e jogáva mos polo juntos toda a vez que serviu em Bagé. Ficamos acantonados no Centro Hípico do Exér cito, na Hípica de Porto Alegre. Eu tive a sorte e a honra de entrar para o Esquadrão, em 1970, como voluntário (uma história de insistência e persistência).

Fiquei no Esquadrão de 1970 a 1972. Fora do expediente e nos fins de semana, minha casa era o Centro Hípico. Era um rato das baias, tra balhando cavalos de polo e salto.

Brasil aos Alunos do CPOR de São Paulo. Histó ria muito bacana do altruísmo do Estado Maior da Cavalaria. Íamos todas as tardes após as aulas treinar no Centro Hípico, nos deslocando por

Memórias da Turma Sesquicentenário da Independência

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AA Cantão
AA Esquadrão Cavalaria - Marcha de Vanguarda/Reconhecimento

um velho ônibus. Certa feita, na volta, houve um problema com o Sgt. Santa Catarina (monitor do Esquadrão) e retornamos sozinhos. Leváva mos as lanças no ônibus. De repente, começou, de farra, uma peleia de lança dentro do veículo. Não deu outra: lancearam o Boch no rosto.

A História do Raio

Era uma vez, no passado, nos tempos da Cavalaria do CM! Vou contar uma das muitas e divertidas histórias do RAIO. O melhor pelo tão de todos os tempos no CFR do Colégio Militar de Porto Alegre.

Olhando para trás, se fôsse mos imaginar um acrônimo para o nome que demos ao RAIO, posso dizer que, inconscientemente, ou nem tanto assim, seria esse: R de Rápidos; A de Altivos; I de Intrépi dos; O de orgulhos. No fundo, or gulhosos de imaginar que fazíamos tudo me lhor e mais rápido que os outros pelotões.

Um pouco era verdade. Encilhávamos os Beiçudos, entrávamos em forma, cumpríamos nossa missão, desencilhávamos e banhávamos as montarias, sempre os mais rápidos! Prontos para escolher os melhores lugares no ônibus Brasinca do CM, “Fanfarra” ou “Costa-reta”, não lembramos mais, na volta da Hípica.

Mas como tudo, cá entre nós, essa história tem, também, o seu Lado “B”. E como vivíamos sempre aprontando alguma traquinagem, al gumas incontáveis, ou “inscrevíveis”, vou contar essa.

Um belo dia, resolvemos aprontar para os nossos queridos companheiros e valorosos Co mandantes, o Cantão e seu Sub, o “Dick Vigaris ta” (a bem da verdade nunca entendi o apelido), e infelizmente, não me veio à memória o seu nome, ao que peço mil desculpas.

Nos veio a ideia de levar ao extremo as habilidades da “Rapidez do RAIO” jun

Não tivemos dúvidas: desviamos o ônibus para o Pronto Socorro, costuramos o gaúcho (pedido de aluno naquela época era lei) e retor namos ao CM. Apresentei o grupamento para o Oficial de Dia para dispensar “SEM ALTERAÇÕES”.

to à tropa. Como íamos entrar em Ordem Unida, pensamos em obedecer às vozes de co mando “super-rápido” mesmo. E assim fizemos: Sentido... Pá! Ordinário Marche... Pá! Direita vol ver... Pá! Alto... Pá! Descansar... Pá! Continuamos nessa batida por bom um tempo. Confesso que foi bem di fícil conter nosso riso! Nossos chefes nos observavam meio desconfiados, não entendendo bem o que estava acontecendo, e imagino, buscando descobrir o que se passava.

Não descobriram! E posso garantir que, ain da hoje, não perceberam o “detalhe” sutil que nos fez quase morrer de rir por dentro, na hora e, ainda, durante muito tempo: todos coloca ram “AS BOINAS VIRADAS PARA O LADO ERRA DO”.

Passados 50 anos, é essa a história inocente e fantástica, a qual quis resgatar, junto a todos e, em especial, aos estimados colegas e amigos do Raio: Amaral; Cantão; Dick Vigarista; Jader; Motta (in memoriam); Mário Pires e Pedroso. Sinto saudades imensas de todos e daqueles tempos maravilhosos em que convivemos.

Ficou gravado forte em nossas lembranças... a “Rapidez do Raio e a Coragem do Leão”. Assim cruzávamos o Corpo da Guarda com o famoso Grito de Guerra da Cavalaria:

“E O FURACÃO... É A CAVALARIA... E A CAVALARIA... É O FURACÃO”.

AA Tupinambá

34 | Memórias
da Turma Sesquicentenário da Independência
AA Cantão

Histórias com um bom cavalariano da época do CFR

O, então, Tenente Erildo foi marcante em nossa vida no CMPA, seja por sua personalidade, seja por sua especial forma de nos tratar.

Eis que o esquadrão de cavalaria foi posicio nado na beira de um barranco, com uma forte declividade, e tínhamos que descê-lo. O Tenen te Erildo demonstrou como fazer. Rédeas firmes, confiança no “beiçudo”, patas retesadas, aluno equilibrado. Um de cada vez, a coisa ia bem. Até que chegou a vez do aluno 47, Kleber, também conhecido como pica-pau. Cena de cinema! O cavalo escorregou, derrapou com a traseira e veio rolando. Pica-pau pulou para o lado e veio rolando junto com o cavalo. Quando chegaram no final do barranco, subiu aquela poeirada toda!

Kleber se levantou devagar, tirando areia e poeira do uniforme, quando o Ten. Erildo, que estava na parte superior do barranco, gritou: – Tudo bem aí, Kleber?

Que prontamente respondeu: – Tudo bem, Tenente!

Ten. Erildo, então, gritou novamente:

Brinquedo e Matungo, dois cavalos campeões

CFR de Cavalaria. Claro, eu não tinha “intimi dade” alguma com o “Nobre Amigo”!

Após as primeiras instruções teóricas sobre equitação, chegou o dia de escolher os cavalos para as primeiras práticas. Fomos para a Socie dade Hípica.

A primeira baia tinha um cavalo de nome Trovão... “Não, esse é muito brabo” – pensei.

A segunda baia era ocupada pelo Relâmpa go. Negativo, esse é meio valente demais...

A terceira baia era ocupada pelo Brinquedo!

Eis que o Brinquedo abre a porta e me puxa pra dentro!

– “Vou colocar a sela” – pensei, pois ele já facilitava tudo.

Brinquedo era meio grande. Lembro de passar pelo Cantão e ele disse:

– Não é com você, é com o cavalo!

Os dias passam... Dessa vez, a atividade externa era no Morro das Abertas, lá adiante da Hípica.

Ten. Erildo seguia à frente, montando o brioso Indiano. Lá pelas tantas, resolveu mos trar como subir um barranco alto. Estima-se que tinha quase uns 50 graus. Duas tentativas sem sucesso! Na terceira, ele conseguiu! Porém, lá em cima, o cavalo corcoveou, capotou por cima dele e se veio barranco abaixo!

Na época, o aluno Carlismar Ramos era o Comandante da Cavalaria. Deixou o grupo no local e, junto com Al. Paulo Tupinambá, seguiu a galope em direção à Hípica, a fim de acionar socorro.

Eis que, após algum tempo, a ambulância, com muita dificuldade, chegou ao local, pres tou atendimento e conduziu o Tenente para o Hospital Militar.

Caríssimo, Tenente Erildo, forte abraço! Você deixou boas lembranças!

– “Bah, tu pegaste o Brinquedo!”. E eu, todo faceiro, com o Brinquedo dando as ordens...

Até que o Ten. Erildo colocou todo o esquadrão em linha, no lado do campo de polo. E nem precisou dar ordem nenhuma!

O Brinquedo tomou as rédeas, deu uma ba forada, e se lançou em disparada... No meio do campo de polo, ejetou o Zanotta... E seguiu em direção ao horizonte!

Brinquedo era do time campeão da equipe de polo do Exército!

Prossegui no CFR de Cavalaria. Só que meu cavalo, sempre meio cabisbaixo, quieto e man so, tinha o nome de Matungo, devagar o tempo todo! Foi com ele que iniciei os treinamentos para o desfile do Sete de Setembro.

Determinado dia, veio a ordem: – “Vamos lá, em coluna, pra receber a lança!”. Estava dando uma de surdo...

Memórias da Turma Sesquicentenário da Independência

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AA Falcão, AA Zanotta

– “Pra que lança? Matungo já fazia bom con junto, já estava bom e em paz” – pensei comigo mesmo.

De nada adiantou. Para o desfile, tinha que estar montado com uma lança.

Fui adiante e peguei a lança. Lança na mão esquerda, rédea na direita, nada pra se agarrar na sela, pés fincados nos estribos... Matungo percebeu meu vacilo e me lançou um olhar de desdém e um sorriso de sarcasmo!

Corpo pra frente, lança pra fora, puxa a lan ça, solta a rédea, corpo pra trás. Matungo no passo a passo. Ao trote, lá vai a lança, puxa ré dea, Matungo reclama, pé sai do estribo... Enfim, depois de dois ou três treinamentos, o conjunto Zanotta/Matungo/Lança/Rédeas e Estribos se acertou. Ainda tinha a barretina, mas essa não teve problemas. O “sistema todo” até ficou bem.

Lembro que passamos a noite no CPOR. Ma drugada cedo, cavalhada foi arrumada, cascos com fita branca. Todos se lembram da velha máxima dos quartéis: o desfile ia iniciar às 10h (por exemplo). O Capitão quer a apresentação às 8h. O Tenente às 7h. O Sargento às 6h. O café seria às 5h. Cavalhada pronta às 4h. Nem precisa comentar sobre para que dormir!

Escuro ainda, lá pelas 5h, iniciamos o deslo camento. Em forma, ali na altura da Borges de Medeiros, na subida, pouco antes do viaduto da

Boca de Xixi

Tradição, aventura e desbravando novos horizontes, coisas típicas da cavalaria!

Levamos os cavalos da Hípica para o CPOR. Ali ficamos alojados, preparando tudo para o desfile de Sete de Setembro.

Tínhamos que cuidar da cavalhada. A noite seria longa. Nessas ocasiões, sempre rolava a boa e velha canha.

Fizemos um churrasco regado na “canha” e cerveja e nos reunimos para ver a distribuição dos turnos de sentinelas para cuidar dos beiçu dos. Para variar, o aluno nada levou e não par ticipou da vaquinha da compra. Já não era a primeira vez.

Duque. Esquadrão formado, Matungo quieto.

Zanotta e Matungo em forma, na coluna do centro do Esquadrão. Pensei: – “Até que enfim, vou me sair bem!”. Ainda deu tempo de escutar o locutor: – “Senhoras e Senhores, o Sr Governador do Estado do Rio Grande do Sul (acho que era Peracchi Barcelos) passará em revista a tropa do Colégio Militar de Porto Alegre!”.

Foi, então, que iniciou a salva de tiros! Bah! Ao primeiro estrondo, o beiçudo da frente deu um coice, o de trás retribuiu.

No segundo estrondo, Matungo ficou bra bo! Atordoado, dava cabeçadas!

Lá se foi a lança, puxei as rédeas!

No terceiro estrondo, os beiçudos todos protestaram! Foi alvoroço pra ninguém botar defeito! O cavalo do lado se remexeu, outro corcoveou, três ou quatro cavalos saíram de forma, puxa daqui, se encosta um no outro. Ainda lembro do cavalo da frente, que balan çava o rabo na cabeça do Matungo...

Hoje, parecia que já tinha esquecido, veio tudo à mente, lembranças que nos fazem bem! Dois cavalos campeões de boas memórias!

Combinamos de fazer xixi em uma garrafa e, quando ele fosse pedir para dar um gole, daría mos essa para ele.

A encenação foi tão bem feita que, quan do ele pediu para dar um gole, cobramos dele o fato de não participar das vaquinhas e que só daríamos aquela vez, a úl tima!

Eis que ele foi com tudo e deu um baita gole, que não dava pra voltar atrás... Teve que beber tudo e, a partir daí, claro que virou o “boca de xixi”!

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Memórias da Turma Sesquicentenário da Independência

E NOS BASTIDORES DA INFANTARIA

O Dia em que o Fuzil se Afogou

Acampamento final do Curso de Formação de Reservista, 1971. Exercício militar conjunto com os alunos integrantes de todas as três ar mas: Infantaria, Cavalaria e Artilharia. O coman do geral era do Cap. Chicão. Foi montado, neste acampamento, um campo de concentração; uma barraca para dez homens, lotada de gás la crimogêneo e cordas trançadas pelo chão, para ser atravessada pelos alunos; cordas entre árvo res para fazer falsa baiana; penhasco para fazer rapel; exercício de fuga e apreensão; travessia de rio sem poder molhar a arma e uniforme.

Vou relatar um fato, durante um exercício da Infantaria, ocorrido na travessia do rio. Para atravessar um rio sem molhar a arma e as rou pas, só tinha uma maneira: tirar as roupas e colocá-las no interior do capacete e manter a arma fora da água. É verdade que, nesta instru ção, foi colocada uma ponte pênsil que ficava sob a água, a uma profundidade de 1m50cm. Teoricamente, todos poderiam atravessar sem problemas… Teoricamente, pois, na prática, o pior aconteceu: um aluno que estava atrás de

mim, quando chegamos no meio do rio, per deu pé e se agarrou em mim. Na medida em que ele ia subindo em cima de mim, eu ia afun dando com arma, capacete e roupas. Para não me afogar, tirei o capacete da cabeça, pois ele me impedia de subir à tona, e deixei cair a arma da mão, que foi parar no fundo do rio. Saí da água somente com a cueca no corpo. Graças a um aluno que tinha o apelido de Índio e ao Jader, os melhores mergu lhadores do grupo, foram encontrados, quase que imediatamente, o meu ca pacete e as roupas, mas a arma não foi possível.

O Chicão ficou uma arara de brabo e determinou que a arma tinha que ser localizada de qualquer maneira. Fica mos até tarde da noite mergulhando naquele rio, mas a “porcaria” da arma foi encontrada.

da Independência | 37 |
Memórias da Turma Sesquicentenário Mello, Ari, Antunes e Garcia AA Karam Atravessando Riacho Serraria CFR

Meu Primeiro Rapel

O ano é 1971, Curso de Formação de Reser vistas – Infantaria – CMPA, exercício no campo. Adolescentes, 16-18 anos em média, cheios de ideais, grande curiosidade do que iríamos enfren tar. Instrução preliminar, seguida de prática de Rapel em “S”. É uma forma de descida com corda, envolvendo o corpo fazendo um “S”. Enquanto se puxa a parte solta (chicote) da corda, esta desliza pelo corpo, coordenando com saltos empurran do a parede do penhasco. Até aqui tudo é no vidade, mistura de apreensão e oba-oba!

Começa a prática!

Um a um vão os alunos descen do, aparentemente sem problemas. Chegou a minha vez! Tomo a posi ção à beira do barranco, passo a cor da pelo corpo, tudo pronto. É che gada a hora de sair da posição em pé, apoiado no solo, para a posição de cos tas para o abismo, com os pés na parede do barranco, dependendo apenas de si mesmo e da resistência da corda.

O medo do desconhecido, aliado ao espírito de sobrevivência, desencadeia uma taquicardia, suor frio, quase pavor. Vontade enorme de de sistir. Eis que escuto: “Pode ir” E agora? O medo é tanto que dá vontade de gritar: “Quero minha mãe”! “Não brinco mais contigo!”.

Mas o menino está se tornando homem e a coragem venceu o medo! A vida é feita de

“Pausa” no Rapel

Desci do caminhão e logo me deparei com aquela enorme “parede” de pedra. Deveria ter, no mínimo, uns 15m de altura. Alguns instrutores estavam posicionados lá em cima, de onde pen diam grossas cordas. Ali faríamos nosso exercício de rapel, descendo pela face daquela pedreira.

Instrução dada, com um Sargento demons trando como passar a corda entre as pernas, vol tando pelas costas, posição do braço que atua

desafios a serem superados! Aos poucos, come ço a descida, pernas abertas para dar estabili dade, inicialmente, pequenos e tímidos saltos, sinto a sensação de segurança, a autoconfiança aumenta, começo a gostar do que estou fazen do. Arrisco um salto maior, quero aproveitar a sensação de liberdade e superação pessoal. Que coisa boa esse tal de Rapel! Com a sensa ção de “quero mais”, aproveitando o momento inédito, chego ao solo. Que pena! “Posso repe tir?”. Infelizmente era apenas uma vez.

Ao longo da vida profissional, como oficial de Infantaria, tive inúmeras ou tras oportunidades para praticar e aperfeiçoar a técnica. Ministrei ins truções de Rapel, mas, cada vez que chegava o momento de passar do plano horizontal para o plano ver tical, me vinha à cabeça o célebre “Pode ir”.

Foi uma inesquecível experiência que acrescentou à minha personalidade, ain da em formação, a coragem e a autoconfiança para enfrentar diversos outros obstáculos.

Encerrando, lembro de uma frase que ouvi na Academia Militar num momento, também, de desafio: “Os fracos que fiquem pelo caminho, porque a vanguarda é dos heróis!”.

Salve a Companhia de Operações EspeciaisCMPA, Infantaria/1971.

ria como freio na descida e pernas levemente dobradas, lá fui eu para o exercício. E pensar que não havia nenhum esquema de segurança, uma segunda corda presa à cintura...

Logo percebi que o movimento mais difícil era na saída, quando o corpo deveria ficar qua se perpendicular à face da pedreira. Passado esse ponto crítico, as pernas já não tremiam e venciam os primeiros metros de descida. Eu até estava achando muito legal.

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Memórias da Turma Sesquicentenário da Independência

Ofegante, completei o exercício, mas logo o Sargento me chamou: – “Vai lá buscar aquele teu colega que ’congelou’”!

Olhando para cima, lá estava um colega em uma pequena saliência da ro cha, encostado contra a parede, a meio caminho da descida, mas paralisado.

Aos gritos de incentivo do Sargento para ambos, desci até ele e falei: – “Vem comigo, tu consegues, vamos”!

Descemos devagar, lado a lado, cada um na sua corda. Já no solo, com um breve tapinha nas costas um do outro, aprendemos o significado da máxima: “ninguém fica para trás”.

Desembarque de Viaturas

em Movimento

O Cap. Da Silva, mais conhecido por Chicão, deu três batidas com a mão na capota do velho caminhão do Exército, uma Dodge, e arrancou por aquela rústica estrada do bairro Serraria.

Aos trancos e barrancos, ganhava velocida de, deixando-me cada vez mais assustado com o exercício que faríamos. Em fila, todos devi damente equipados, inclusive com um mos quetão na mão, ficamos recostados contra as laterais da caçamba, esperando o sinal de que o caminhão havia atingido a velocidade certa. Teríamos que correr com a máxima velocidade possível, antes de nos lançarmos da traseira do caminhão. Dizia a soma vetorial, aprendida nas lições de Física, que quanto maior fosse a nossa velocidade em relação ao caminhão, menor ela seria em relação ao solo... Assim dizia a Física... Mas, à medida que o caminhão corria, mais eu me convencia de que aquilo era uma loucura. Sem muito tempo para hesitar, veio a ordem: – “Pulem!”.

Lá se foram os dois primeiros de cada uma das fileiras, mas tão logo um deles tocou o solo, bateu com a cabeça e ficou ali, estendido, sem movimento. Aos gritos do Cap. Chicão, o cami nhão parou e correram em socorro do colega. Rádio para a ambulância e lá foi ele em uma maca, deixando-nos assustados com o ocorrido.

Não passou muito tempo e soubemos que ele estava bem, recuperado do desmaio.

Pensei: – ‘‘Bem, acabou o exercício’’. Ledo en gano, lá fomos nós, novamente, para a caçamba do caminhão, iríamos continuar!

Novos tapas na capota e fomos nós, de novo, naquele corcovear do caminhão, agora ligeiramente mais devagar.

Ainda sem muito tempo para hesitar (desis tir, nem pensar!), ao chegar a minha vez, corri o máximo que pude e me joguei da traseira do caminhão, caindo na estrada, dando uma pequena cambalhota para trás, involuntária, é claro! Sobrevivi – pensei!

Aos gritos de comando, assumimos as posi ções nas laterais da estrada e, aos poucos, meu ba timento cardíaco voltava ao normal. Com nossos meros 17 anos, íamos nos tornando soldados.

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Memórias da Turma Sesquicentenário da Independência AA Cylon Desembarque da viatura em movimento “Rapel em S” Campo de Instrução da Serraria CFR 1971

CFR na Serraria O Fantasma

Transcorria o ano de 1971 e o Curso de Formação de Reservistas (CFR) de Infantaria prosseguia a pleno vapor. Aita, o 312, e Delfim, o 17, eram disciplinados e valentes integran tes do 1º Pelotão. Conversavam muito sobre o desconhecido, o incerto, o duvidoso, a nature za e a aventura, desafios norteadores de suas personalidades.

Na Serraria, acampamento bem montado. O dia foi de muita instrução. Patrulhas são de moradas. Exigem silêncio no deslocamento. Que não dizer da camu flagem individual, bas tão com cera nas cores verde, preto e verme lho, transformando ros tos dos jovens alunos em “terríveis” silhuetas combatentes.

A ambientação do Chicão, guerreiro de selva e instrutor do CFR, respeitavelmente, co nhecido como Capitão da Silva ou da Selva, foi muito motivadora.

O Chicão contou a respeito de uma lenda, sobre combates entre maragatos e pica-paus, ocorridos na Região de Serraria, onde coisas estranhas aconteciam. Foram vistos vultos, ou vidos gritos, uivos e lamentos, principalmente, nas madrugadas.

Noite de lua cheia, uma densa neblina pai rava sobre a vegetação. Ótimo ambiente para a instrução noturna de patrulhas. Seria uma pa trulha de reconhecimento.

Durante a missão, as ordens eram transmiti das por sinais e aos sussurros. Aita e Delfim for mavam a dupla de patrulheiros “esclarecedores” que ia à frente.

De repente, ruídos de folhagem e galhos se batendo! Aita fez sinal, Delfim repassou para trás: “congelar”, “deitar”, “quietos”, ordens retrans mitidas e rapidamente obedecidas. Silêncio total, tensão no ar. “Seria figuração?” – pensou o Aita. “Aí tem algo que se mexe!” – imaginou o Delfim. Foi, então, que apareceu o vulto esbranquiçado, irregular e esquisito. Ca minhava de 5 a 10 metros à nossa frente. Tinha a forma aproximada de uma pessoa, como se es tivesse com um lençol na cabeça. Não se viam os pés.

“A lenda da Serraria seria verdade?”. Os dois esclarecedores, abso lutamente paralisados, olhos esbugalhados, tentando identificar o que se aproximava. Aita pensava num zumbi ou lobisomem. Delfim, na mula sem cabeça ou no boitatá.

Momentos de an siedade (medo?) infin dáveis! Cada vez mais, os dois patrulheiros se esforçavam para man ter o controle e tirar da imaginação o que, com certeza, seria imagina ção. “Claro, fantasmas não existem!”.

Passado algum tempo, uma surpresa! Eis que a COISA veio na direção dos dois e parou ao lado. Deu para observar, então, que tinha a “fisionomia de gente”. Aquilo foi ficando muito estranho, muito real... A voz rouca e trêmula bal buciava algo como “Cumprir a missão” – disse Aita. Delfim escutou algo como: “Tornar-se bom soldado e cidadão!”.

Os batimentos cardíacos bem elevados, suor escorrendo pelos rostos, trêmulos em posi ção. “Evidente, claro que tudo fruto da imagina

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Memórias da Turma Sesquicentenário da Independência Acampamento de final de ano CFR - Infantaria - Instrução do Capitão Da Silva, especialista em guerra na selva

ção” – pensavam Aita e Delfim. “Porém, mesmo que improvável, muito real”.

Aita e Delfim tomam importante decisão! A patrulha ia prosseguir, e rápido! Trocam olha res, empunham o Mosquefal, ajustam o cintu rão e transmitem sinal de “Em frente!”. Todos se movimentam e a patrulha prossegue, célere! Aita relatou que ainda olhou para trás e nada mais viu. Delfim ainda tem dúvidas... A patrulha retornou por volta das 3h, tendo cumprido sua missão com precisão.

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E NOS BASTIDORES

DA ARTILHARIA

Artilharia Sete de Setembro

A história que me lembro do CFR de Artilha ria é do desfile de Sete de Setembro de 1972. Eu fiz o CFR em 71 e em 72, era monitor. Como eu já tinha 18 anos em 72, com carteira de motoris ta, me escalei pra dirigir o jipe que carregava o canhão (obus) no desfile.

Alunos do CFR Artilharia antes do embarque para visita ao

Memória de cinquenta anos atrás, o episó dio é, agora, relatado pela primeira vez. A narra tiva vem do Aita e do Delfim e redigida a partir de emocionados fragmentos. Acreditem se qui ser, tudo baseado em fatos reais!

Assinam, ainda trêmulos, Renato Dias da Costa Aita, 302 e Delfim Luiz Torok, 17.

Tinha uma namorada que estava debutan do do PTC, baile dia 6 de setembro. Saí da festa mais cedo, passei em casa para trocar de roupa e fui para o CM às 6h. Durante o trajeto inicial do desfile, encontrei com os amigos que saíram do baile e ficaram caminhando na calçada ao lado do jipe, na Avenida João Pessoa, me contando o final do baile...

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Memórias da Turma Sesquicentenário da Independência AA Zanotta, AA Aita, AA Campello e AA Delfim
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AA Rogério

Bombardeando o acampamento do CPOR

Durante o CFR, para fins de exercícios de campanha e manobras, contávamos muito com o apoio do CPOR.

O fato aconteceu no CFR de Artilharia, no Campo de Instrução de São Jerônimo, em 1971.

Nesse exercício de tiro real de artilharia, o CFR, com os alunos do CMPA, trabalhava nas peças de artilharia, preparação da munição e manuseio dos canhões, e seus equipamentos de tiro.

A Central de Tiro que, na ocasião, era operada pelo pessoal do CPOR, ficava posicionada cerca de um quilômetro atrás das peças. Recebíamos os “comandos de tiro” por mensagens de rádio.

Peças instaladas, alunos em posição, muni ção preparada!

– “Bateria atenção... Fogo!”. E lá se foi a primeira saraivada!

Já estávamos preparando para recarga, quan do, do nada, surge um jipe correndo, no qual esta va o Major do CPOR que coordenava tudo.

Ele sai da viatura e, aos brados, grita: – “Cessar fogo! Cessar fogo! Parem tudo!”. “Foi um erro da nossa Central de Tiro. Vocês acertaram e destruíram a cozinha do CPOR! Graças a Deus, sem feridos!”.

Grande susto no pessoal que estava no acampamento!

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Memórias
da Turma Sesquicentenário da Independência

CIOPES

Centro de Instrução de Operações Especiais

Éramos meninos, “meninos soldados”.

Rolava o ano de 1972, início de nossa juven tude, éramos cheios de sonhos e desejos, com uma vida inteira por vir, mas, naquele momento em especial, a maioria cursava o CFR e uns pou cos, que já haviam cursado, voluntariamente, se inscreveram para instrutores dos demais.

Os “meninos soldados” do CFR estavam divi didos em armas: Infantaria, Cavalaria e Artilharia, o que já representou um avanço significativo para aqueles jovens guerreiros que tinham, em seu horizonte de sonhos, não só o invicto sabre de Caxias, mas, também, o velame do Almirante Joaquim Marques Lisboa (Marquês de Taman daré) ou o manche do Brigadeiro Nero Moura.

Neste cenário de muita vibração e vontade, nosso inesquecível Capitão Pinheiro (General Pinpin), então Comandante do Curso de Infan taria, teve a iluminada ideia de montar um curso de Operações Especiais para a gurizada.

Após planilhar a ideia, trocar informações e conhecimentos com outros oficiais e percorrer toda cadeia de comando do CMPA ao DEPA, para conseguir a devida autorização, chamou nosso comandante Aita (Baitaita), Comandante Aluno do CFR de Infantaria, comunicou a inten ção e juntos iniciaram os procedimentos e estu dos para montagem do curso: “Uma semana de inferno para os “meninos soldados”.

Quando a notícia chegou, a grande maioria nem dormia mais, na expectativa do grande dia. A primeira boa notícia: não seria apenas para o CFR de Infantaria, mas, sim, para as três Armas, de modo que foram agregados os efetivos da Cavalaria e da Artilharia. A segunda notícia, com poucos dias de antecedência, foi uma ordem do DEPA que retirou da experiência os alunos do 3° Ano Científico que disputavam as vagas para as Escolas Militares. Eu, o mais antigo, estava no comando do 3° Pelotão do CFR de Infantaria e fui escalado como “Sheriff”, o 01. Os 147 alunos foram divididos em grupos de combate de 12 alunos. Enfim, tudo pronto.

Era, aproximadamente, 17h, de uma terça -feira, final de setembro, quando três caminhões do CMPA chegaram ao pátio do 19° BI Mtz, em São Leopoldo. Desembarcados, ouvimos do Sargento Machado: – Agora é contigo “Negrão”, bota em forma e aguarda.

Os caminhões partiram e nós, ali no pátio, em forma, à vontade, esperando, sem saber o quê. Uma hora de expectativa, então, dois “bi bicos” pretos surgiram do prédio da administra ção, passos firmes em nossa direção, um alto, de óculos escuros e o outro mais baixo, pararam a uns cinco metros à nossa frente e uns cinco metros entre si, em posição de sentido. O mais baixo, em voz alta e estridente, gritou: – Apresenta o turno o “Sheriff”.

Em resposta ao comando recebido, enchi os pulmões, estufei o peito e ordenei: – CFR seeentido! Cobrir! Firme! Ooombro armas! Cruzaaar armas!

Meia volta, três passos de marcha, perfilado à frente, aquele baixinho com cara de “poucos amigos” e ar de “Deus do universo”, apresentei armas e com voz cautelosa, mas firme: – Aluno 285 Zimmermann, comandante aluno desta companhia, apresentando a tropa equipada e pronta.

Veio a resposta, imediata, em sotaque carioca: – COMPANHIA, USCCHH C...!! TURNO EBC 72/10 SENDO APRESENTADO, SENHOR!! APRE SENTA DE NOVO, IMBECIL!!!

Assim foi feito. Após uma vigorosa preleção, de uns 50 minutos, dada pelos dois “bibicos” pretos, enquanto outros militares se dispunham ao redor de nossa formação, um oficial, supe rior a estes, se dispôs entre os dois e o nanico estridente, comandou “sentido” e apresentou o efetivo, em voz inaudível, e, na sequência, do re cém-chegado ouvimos:

– SENHORES, BEM-VINDOS AO ESTÁGIO BÁ SICO DE COMBATE 72/10 DO CENTRO DE INS TRUÇÃO DE OPERAÇÕES ESPECIAIS - CIOPES, DO 19º BATALHÃO DE INFANTARIA MOTORIZA DO. AQUI SÓ LHES SERÁ PERMITIDO PROFERIR

Memórias da Turma Sesquicentenário da

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Independência

AS PALAVRAS: “SIM SENHOR”; “NÃO SENHOR”; “PELO AMOR DE DEUS QUERO IR EMBORA”. – INSTRUTORES CONDUZAM ESTES VERMES AO LOCAL DETERMINADO, NÃO SEM ANTES, É CLARO, LHES DAR BOAS-VINDAS!

Assim, após comemorarmos a nossa chegada com uma enxurrada de apoios, pulos de galo e polichinelos, aos gritos de “vermes inúteis” e ou tros adjetivos similares, fomos conduzidos ao gi násio de esportes, onde, sem qualquer explicação, fomos devidamente fechados, com total ausência de luz. Enquanto se iniciava um pequeno burburi nho entre nós, os comandantes de grupos foram reunidos e determinei que se espalhassem, com seus comandados, pelo ginásio e procurassem dormir, além de distribuir as sentinelas.

Iniciou uma noite sem fim, a cada 15s, os mais ansiosos faziam perguntas sobre o que vi ria, sugeriam rotas de fuga, viam vultos no lado de fora, muito poucos tentavam dormir.

As horas passavam e aquele escuro silêncio parecia não ter fim.

E eu, o 01, tentava dormir, caminhava e falava com um e com outro, cujo semblante demostrava que cada minuto era uma eternidade. Trocavam os sentinelas, bebia-se água do cantil e, entre um ci garro e outro, sempre aparecia um chocolate par tido, dividido em pedaços, por algum anônimo. E assim fomos indo sem perceber que aquilo já era parte da instrução, principalmente para nós que, em síntese, praticamente só sabíamos marchar.

Umas oito horas se passarem, antes mesmo de raiar o dia, ao estampido seco de uma grana da, bombas de fumaça, rajadas de metralhadora, abriram-se as portas corrediças do ginásio, com uma dezena de instrutores, aos berros, com ad jetivos impublicáveis e ordens difusas, tocavam um horror momentâneo, numa surpresa insana que ninguém percebeu nem previu. Meio ator doados e surpresos ouvi aquele sotaque carioca do nanico estridente, em voz tão doce e singela sussurrar no meu ouvido:

– Óh, Sheriff! Bota em forma esta porra no pátio!

Ordem dada, ordem cumprida e, devidamen te apresentado, o incauto, em tom educador: – Aprendeu, meu amor!

Fomos brindados com mais um coquetel de “paga 10”, “paga 20” e, embarcados, os 147, em

dois caminhões com lonas fechadas, seguimos pelas estradas mais esburacadas do mundo até o que chamavam “sala de aula”.

Desembarcarmos e, após uma longa cami nhada, chegamos a uma clareira, em meio à mata, com um tapiri de toras e telhado bem verde, na frente de uma sequência de toras deitadas colo cadas, sucessivamente, como uma escada onde, sentados sobre elas, assistimos várias instruções como: ofidismo, trabalho com cordas, orientação diurna e noturna, defesa pessoal, preparo de ga linha, coelho e outros alimentos de sobrevivên cia, serviço de rancho servido no “bibico”, sem talheres, combate com faca, construção de tapiri e, entre uma patrulha e outra, diversas pistas de reação, inclusive com munição real.

Com essa rotina, foram passando os dias: suga, instrução, instrução e suga, até a fuga de “Pirócobas” (país fictício onde fomos aprisiona dos) para voltar ao Brasil, comer um saboroso sanduíche com suco e, finalmente, no domingo voltar ao Colégio exauridos, mas muito maio res, mais maduros, mais homens, trazendo na lembrança tantos momentos vividos naqueles campos onde deixamos os meninos.

Durante aqueles dias, vivemos vários momen tos inesquecíveis, alguns saíram da casinha, ou tros alopraram, mesmo que momentaneamente, mas o companheirismo, espírito de solidariedade de um por todos e todos por um nunca esteve tão vivo e presente fazendo uma verdadeira re denção entre todos. O buraco do inferno, o mos quetão quebrado, quantos carregados no final por ferimentos leves ou absoluta exaustão física.

“Por ser o bichinho do verme do cocô do cavalo do bandido fui até destituído do coman do, reassumindo logo a seguir”. Vencemos mão a mão, ombro a ombro, juntos, 147 chegaram, 147 voltaram. Surpreendente vitória, não fomos melhores nem piores, apenas fomos, cada um em seu limite físico, mental. Meninos soldados, de corpo e alma, sustentados por um espírito que nem sabiam ter, muito menos preparados, mas apenas, instintivamente, venceram a tudo aquilo com garbo, pelo CM, pelo Brasil!

Este é o meu testemunho daquela notável experiência.

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Memórias da Turma Sesquicentenário da Independência
AA Zimmerman

| DESMAMANDO

Ainda guri, meio assustado, deixou a terra natal, Lembra a família, em despedida, na estação, As tias, as manas, a namorada chorando, lenço na mão.

Ele, agora teatino, seguia para estudar na capital.

Todos na gare, sorrindo, orgulho no olhar. A namorada, passando a mão no cabelo, disse assim:

– Quando cortar, guarda uma mecha pra mim. Ele ia interno para o Colégio Militar.

Para muito poucos reservada esta vitória, Quase um vestibular o tal exame de admissão, Exigia muito estudo, renúncia e até oração, Ser aprovado, uma felicidade, uma glória.

A mãe seguia junto, feliz e contente, Acompanhava o filho, sozinho não podia ir, Nunca, da barra da saia, havia tentado sair. Então, como sempre, protetora, estava presente.

Noite longa, tenta, mas não consegue no sono pegar, O barulho das rodas do trem não ajudava Pela janela, olhar perdido, só escuridão passava E ele, ansioso, contava o tempo, louco para chegar.

| O DIA A DIA DO INTERNO

O internato era um mundo aparte, a gurizada vinha de todos os cantos do Estado, alguns de outros Estados, era uma miscigenação das boas, um conjunto de tudo, ou quase tudo, filho de General, dos estancieiros abastados da frontei ra, dos Sargentos, dos peões das fazendas, uma grande seleção de jovens com inteligência acima da média, isso fica demonstrado pela capacidade de inventar brincadeiras “saudáveis” que só inteli gências a serviço do mal poderiam inventar.

Carregava, no peito, um susto, um grande medo, Muitas horas, durante a noite, para viajar, Isso se o trem Minuano não atrasar, Se tudo der certo, chega lá, amanhã bem cedo. Um novo estilo de vida ia enfrentar, Novos amigos, estudo com dedicação, Disciplina rígida, mas tudo sua opção, Sempre quis ser aluno do Colégio Militar.

O medo não era maior que a felicidade, Trocou os cabelos longos e as grandes noitadas, Pelo uniforme caqui e as lágrimas pelas arcadas. Ser aluno do CMPA era agora a sua realidade.

Crianças de onze, doze anos chegando em um alojamento para conviver com outros iguais, totalmente desconhecidos, com seus enxovais embaixo do braço. O enxoval tão de talhado que até as cuecas eram padronizadas. O alojamento parecia imenso, tão imenso quan to era a insegurança de cada um. Várias eram as razões para estarem ali afastados de suas famí lias, várias eram suas origens, mas todos eram iguais, a única diferença era seu número e o seu nome de guerra.

Memórias da Turma Sesquicentenário da

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Independência
AA Pinent
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Alojamento do internato 2ª Cia AL
O INTERNATO

Já nos primeiros dias, após o reconhecimen to do terreno, de seus limites, aqueles garotos, que chegaram sozinhos, passaram a compor um grupo a testar todos os limites, e aí é que começa a verdadeira história de até sete anos de convívio.

Talvez a distância da família lhes provesse de uma certa liberdade de ação, além dos limites patriarcais, mas ao mesmo tempo, lhes gerasse uma responsabilidade, também, além dos limi tes comuns à idade.

Toda esta diferença existente entre os inter nos não impediu formar um grupo coeso e mui to unido, não faltando, em momento algum, o apoio dos colegas a alguma situação complica da que alguém pudesse estar passando, seja ela externa ou interna ao colégio. Formando um verdadeiro espírito de corpo.

O dia normal do interno era cronometrado, mas nunca era normal.

6h30 Alvorada

7h Rancho (café da manhã)

8h Atividades escolares

12h Rancho (almoço)

13h30 Atividades escolares

18h Rancho (jantar)

Passeio Higiênico

19h Revista

19h30 Estudo Obrigatório

21h30 Rancho (ceia noturna)

22h Silêncio

A correria era uma constante para os inter nos, não havia tempo sobrando, mas conse guiam tempo para tudo, especialmente, para as brincadeiras “inteligentes”.

O toque de alvorada não era a interrupção do sono, era o início de mais um dia de apren dizado, de saudável convivência com os semi -internos e externos. O dia, com seus primeiros raios, trazia a alegria que se espalhava pelo alo jamento, correria ao banheiro para os primeiros atos de higiene pessoal, a camaradagem era

presente, cada um esperando a sua vez, de vez em quando, algum mais atrasado ou atrapalha do causava algum imprevisto, mas, rapidamen te, superado dentro dos melhores sentimentos de companheirismo.

No rancho, isso era repetido, cada um sen tado no seu lugar, aguardando, pacientemente, a sua vez, quando em vez, uma caneca de café com leite, um prato com feijão ou molho escor regava e caia sobre o colo de um ou outro, mas um sorriso e um olhar de cumplicidade resol viam tudo, era só voltar ao alojamento e trocar o uniforme, nada demais. Uma rara e repetida vez, algum de nós teve que ser levado à enfermaria para enfaixar a mão espetada por um garfo, na hora de servir o bife, mais comum na hora do almoço, talvez pela presença dos semi-internos menos ajustados à vida comunitária.

Tumulto mesmo ocorria na ceia noturna, não obrigatória, presentes, normalmente, os mais esfomeados, aí, bem, era cada um por si e seja o que Deus quiser. O soldado garçom larga va a bandeja com bolachas em cima da mesa e corria do local, isso quando conseguia chegar lá, na maioria das vezes, nem a bandeja chegava,

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Memórias da Turma Sesquicentenário da Independência Alojamento do internato de Companhia

quando chegava era farinha de bolacha enchar cada no leite derramado das jarras.

Os aspectos lúdicos estavam sempre pre sentes, descendo para o rancho, felizes iam os internos, em muitos momentos, a cantar músi cas próprias para o momento, tais como:

“Bate sino, pequenino Sino do jantar Pra chamar a macacada Pra se envenenar Hoje a boia é boa Tem arroz queimado Sola de sapato E tomate estragado E para sobremesa Sopa de angu Mocotó de lesma E doce de urubu”.

Atenciosos e colaborativos com o Sargento de Dia, a exigência de silêncio total, ao formar para o rancho, era cumprida ao “pé da letra”, in clusive, no deslocamento, ninguém batia o pé durante a marcha para não deso bedecer o nobre monitor.

Enfim, a melhor hora do dia, o “pas seio higiênico”, plagiando uma peça pu blicitária da época: “que hora tão feliz”. Saiam para passear fora do Colégio, num circuito delimitado, mas era o suficiente para manter a sanidade da rapaziada.

Era hora de namorar, comer um farrou pilha com batida de banana no Bar do Beto, que iguaria, a pipoca quentinha do Seu Filan dro, a melhor de Porto Alegre; ir ao mercado comprar material de higiene, na livraria buscar um caderno novo, uma caneta, aos bares com prar cigarro, produto proibido aos ginasianos, uma revista, um gibi, os mais ousados adqui riam uma Playboy, ou Ele e Ela, que entrava escondida.

Às19h, todos no alojamento, para a “revis ta”, nos presídios isto é chamado de contagem, depois, de imediato, estudo obrigatório, sob a vigilância do Sargento de Dia ou de um aluno monitor, aluno do 3º ano Científico, destacado para cuidar da gurizada, homenagem aos mo nitores de 1966: Adão, Castilhos, Moleda e Zito.

Neste nobre tempo, se dedicavam a impor tantes assuntos: colocar em dia a correspon dência familiar e amorosa, alguns escreviam diários registrando as peripécias dos dias en clausurados, jogatinas infantis como “forca” e “batalha naval”, pela lenda, ali foram afundados mais navios que em toda história da humani dade; resolver “palavras cruzadas” ou “caça pa lavras” no livreto comprado ou no almanaque apanhado no balcão da farmácia, durante o passeio higiênico; os mais aculturados se de dicavam à literatura, as obras mais “estudadas” eram as do mestre Carlos Zéfiro, grande edu cador dos adolescentes brasileiros. Estudar? Ah, sim, nas vésperas das provas.

Memórias da Turma Sesquicentenário da Independência

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Literatura muito preferida... Obras de Carlos Zéfiro

Às 21h, as celas, ops, salas de aulas eram liberadas, seguiam para a ceia noturna, cor riam para uma última partida de ping-pong ou para conseguir um bom lugar na frente da TV, podiam assistir a série até o final se o humor do Sargento estivesse bom ou, 22h em ponto, a TV era desligada. Vale lembrar que era gran de o número de garotos que só tinham visto TV ao chegarem no Colégio.

Com a heterogeneidade dos internos, era constante socialização (voluntária ou não tan to) de experiências gastronômicas, fruto de

| “CAUSOS” DO INTERNATO

“Causo” 1

Sempre ao entardecer e, após o jantar, os alu nos internos formavam pelotão por Companhia para a revista (confirmar presença) e instruções. Certa feita, na 2ª Cia, durante a confirmação de presença e palavras de orientação do Sargento, cansado de ser chamado pelo apelido “MARRE TA”, penalizou o grupo com ordem unida, proi bindo chamá-lo pelo apelido. Eis que uma voz sorrateira e alvoroçada do pelotão, acredito que foi o “Cabeção”, gritou: “Tá bem, MARTELO”. A gar galhada foi geral e o Sargento mais quente ficou.

“Causo” 2

Pelo ano de 1971, já no científico e na 2ª Cia, os internos tinham mais liberdade para sair e chegar ao CMPA. Para não ficar um gran de alojamento, a Cia dividia a área em quartos, utilizando fileiras de armários justapostos, com aproximadamente sete/dez camas de um lado e sete/dez camas no outro lado. Assim, fica va um pequeno corredor entre a cabeceira da cama e os armários, e um grande corredor entre os pés das camas.

Em um desses quartos, o Pafiadache foi meu vizinho. Como um número de alunos retornava

visitas às casas paternas. Os oriundos da fronteira traziam algumas mercadorias das terras dos “hermanos”.

Depois, dormir. Antes, claro, fazer uma ins peção na cama para ver se ela não havia sido desarmada e preparada para “desmanchar” quando fosse utilizada, os descuidados acaba vam no chão, amanhã seria mais um dia maravi lhoso de conquistas e aprendizado.

AA Pinent, AA Leitune, AA Dubois

tarde da noite, algumas pega dinhas eram preparadas, como:

• As camas de ferro, de encaixe, eram desmontadas e armadas fora dos encaixes. Quando o aluno ia deitar a cama desarmava e o barulho acordava muita gente.

• Os armários eram trocados/virados entre os quartos e o aluno não conseguia abrir o ca deado. Passava a noite procurando.

“Causo” 3

Próximo às férias de verão, a grande maioria dos internos começava a deixar crescer os cabe los, tentando burlar a regra dos cortes. “Um, dois ou três ZEROS” e aí entrava a “brincadeira”: as ca beças mais cabeludas eram selecionadas e, no dia seguinte, o aluno acordava com os cabelos colados com pasta de dentes.

O distúrbio era geral e as noites mal dormi das, pois, muitas vezes, as luzes do alojamento tinham que ser ligadas.

Teve um que acordou com a cama no banheiro pela manhã.

“Causo” 4

O DIÓ, Deoclécio, se queriam encontrá-lo? Era só ir ao banheiro: estava sempre lustrando

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Memórias da Turma Sesquicentenário da Independência
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os coturnos, lustrando a fivela do cinto ou pas sando as calças e camisas.

“Causo” 5

Na 3ª Cia, uma noite/madrugada, não lembro ao certo, começamos uma escola de samba com bateria. A bagunça foi tamanha que o Capitão Cunha foi chamado a comparecer no CM. Todos os internos desceram para o pátio como esta

Gerais e Engraçadas:

Quem não se lembra das galinhas pulando antes de morrerem? Quando o prato era com carne de galinha, pela manhã, chegavam dois caminhões com frangos vivos.

Os soldados em cima da carroceria dos ca minhões destroncavam o pescoço dos frangos e

Capitão Resumindo

Em 1969, nossa turma estava na terceira série do ginásio, na 3ª Companhia de alunos, compos ta por estudantes da 3ª e 4ª Séries do ginásio.

Por volta das 21h, iniciamos uma guerra de travesseiros entre alguns alunos do internato, guerra essa que foi ganhando proporções e foi aumentando a participação de combatentes, bem como de meios de combate. Era água, vas soura a rodo, balde de água. Armários e camas que foram viradas serviam de trincheira.

Ao final dessa guerra, parecia que tinha pas sado um furacão pelo alojamento: era cama mo lhada, piso molhado, cama virada, armário fora do local, vassouras quebradas e baldes espalhados.

Eis que entra no alojamento o Sargento de Dia que, vendo tudo aquilo, chamou o Oficial do Dia, o, então, 1º Ten. Antônio Carlos Rodrigues. Ele tinha chegado há pouco no colégio e, talvez, fosse um dos primeiros serviços que realizara.

Rodrigues, vendo o estado do alojamento, mandou o Sargento de Dia colocar todos os internos em forma lá embaixo, na frente da Companhia.

O Sargento deu ordem unida e apresentou a turma para o Tenente que, por sua vez, deu uma

vam: pijama, calção etc. Era inverno e frio. Sorte que tivemos 45 minutos de ordem unida e, claro, aquele inesquecível xixi.

“Causo” 6

Na 1ª Cia, tinha o Sargento Carvalho que, quando em serviço no fim de semana na Com panhia, ligava seu baita rádio e ficava babando o som

os deixavam no chão. Eles ficavam pulando até serem recolhidos pelo cozinheiro.

E aquele Capitão, o “HÔ, que, na “palestra”, dava duas palavras e dizia “HÔ, não é o mesmo que, quando estávamos em forma para o almo ço, ele chamava o número de alunos para com pletar a mesa de dez falando cinco e com as mãos mostrando oito dedos?

senhora bronca em toda a turma e uma lição de moral, dizendo que aquilo não era compor tamento de alunos do Colégio Militar. Toda essa bronca durou uns 15 minutos. Então, ele falou: – ”Resumindo…”.

Aí nós nos olhamos, porque já estávamos de saco cheio daquela conversa toda. Quando pen samos que ele iria terminar, falou por mais uma meia hora, até, finalmente, nos liberar.

Já eram 23h, quando subimos para o aloja mento e começamos a comentar que era um saco tudo aquilo, com o Tenente dizendo que iria resumir, mas ainda falara o dobro do tempo! Ou seja, o resumo foi maior que a bronca, propria mente, dita!

A conversa continuava, com todos passando a dizer: – “Olha lá o Tenente Resumindo”, tendo essa forma de tratamento pegado, a ponto de todos passarem a chamá-lo, para sempre, de “Tenente Resumindo”.

Após o acontecido, o Ten. Rodrigues foi pro movido a Capitão e designado Subcomandante da 3ª Cia de Alunos, mas continuou sendo cha mado de Resumindo, agora por todo o Colégio

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AA
Antunes

O FIM DO INTERNATO

No Velho Casarão da Várzea, a instituição do regime de internato aconteceu em 1887, quan do ficaram prontos os alojamentos da Escola Militar e 133 internos ingressaram. Quando foi criado o CMPA, o regime se manteve, ao lado do semi-internato.

Ao iniciar sua segunda fase, em 1962, o CMPA continuou a funcionar nos dois regimes. Os alu nos semi-internos tinham aulas pela manhã e pela tarde, podendo retornar aos lares após isso. Os internos só podiam sair nos finais de semana, mesmo assim com limitações. Até cerca do final dos anos 60, estes tinham dois tipos de cartão de saída: vermelho e azul. O vermelho indicava que só poderia sair acompanhado de seu responsá vel, enquanto o azul permitia que saísse desa companhado.

A única saída possível nos dias de aula se dava após o jantar (18h), quando o internato tinha o “passeio higiênico”, até às 19h ou 19h30min. Nele, os alunos poderiam passear na quadra da fren te da Av. José Bonifácio, até o limite do canteiro central. Nestas saídas, também, eram resolvidas, “no braço” e às escondidas, eventuais questões pessoais, já que brigas no interior do Colégio eram motivos de pesadas punições. No canteiro, ficavam o carrinho de pipocas do “Seu Filandro F. C. Alves” e o de cachorro-quente do “Seu Fidên cio”, tão célebres nos anos 60/70 que o primei ro foi alçado a membro honorário da Legião de Honra, em 1979.

Com o passar dos anos, o regime foi sendo abrandado e os cartões de saída foram extintos; mesmo assim, os internos do ciclo ginasial ainda precisavam de autorização para sair à noite.

Nesses tempos, havia um “estudo obrigatório”, das 19h ou 19h30min às 21h, quando acontecia a “revista do recolher”, onde eram dados alguns avisos e conferido o efetivo. Após isso, a maio ria ia para a sala de recreação de cada uma das

duas ou três Companhias de Alunos, (conforme a época), pois havia alojamento em todas, onde se via televisão ou se jogava pebolim, sinuca e outros jogos, enquanto outros preferiam ir tomar banho, dormir ou conversar no alojamento ou no pátio. Às 22h, era dado o toque de “silêncio”, apagadas as luzes amarelas, (ficavam apenas al gumas vermelhas), e todos tinham que dormir. O estudo obrigatório noturno e os limites do pas seio higiênico foram extintos por volta do início dos anos 70, permitindo mais liberdade para os internos saírem à noite, mas só até a revista do recolher.

Nas brigas com os “paisanos”, que aconte ciam desde que alguém fosse chamado de “ba leiro, balas”, num tom pejorativo, era o internato que saia para “defender a honra do CMPA”. Mes ma coisa nas competições desportivas contra os colégios da Capital, quando se ouvia a “ofensa”. À noite, bastava alguém gritar no alojamento: “deu porrada!”, para os internos partirem para a rua e “socorrer” quem, eventualmente, fora “ofendido” ou estivesse apanhando.

Sobre o internato, já em sua versão mais abrandada, vale a pena transcrever o texto do aluno nº 28 Cardoso, publicado na Revista Hylo ea de 1979:

“Deus inventou a bagunça. O diabo ficou com inveja e inventou o internato. Creio eu que esta tese seja a mais coerente a respeito do surgi mento dessa raça de baleiros que habita o nosso colégio. O interno é geralmente muito alegre e isso às vezes me faz lembrar as hienas. Mas pen sando bem, a alegria é a melhor arma existente para enfrentar cada osso duro de roer que é dose para pastor-alemão.

Já na hora da alvorada, quando estamos na melhor parte do sonho, uma irritante sirene soa aos nossos ouvidos, e aparece o sargento que rendo botar o mundo abaixo, gritando como um desesperado e dando porrada nos armários.

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Independência |
da Turma Sesquicentenário da

É como uma ducha gelada que nos faz acordar para a realidade. Rádios são ligados e a concor rência é grande, pois de um lado ficam os discí pulos de Teixeirinha e do outro os fãs da disco teque. No fim das contas, a guerra é vencida por quem tem o rádio maior. A correria é grande em busca das melhores torneiras e o tempo é curto. (NR: o banheiro era comum, com grandes pias e várias torneiras, chuveiros e mictórios; apenas os WC eram individuais e fechados. Havia caldeiras a lenha, mas a água saía tão quente que o melhor era tomar banho frio). Comentários, resmungos e reclamações são inevitáveis:

– Quem pegou meu chinelo? / – Quem deu nó nos meus coturnos? / – Vai sobrar porta!!! / –Bah! Não fiz o trabalho! / Tô lascado! / – Se eu esti vesse em casa, a essa hora ainda ‘tava’ dormindo!

Em seguida, entramos em forma para o café e os atrasados chegam atrasados. Pior para eles, pois chegar atrasado é marcar audiência com o Comandante da Cia. O café é digerido vertigino samente, pois já está na hora da formatura mati nal. Na base do entra em forma e sai de forma, o dia vai passando.

A seguir, vamos para a aula dormir, ler revistas em quadrinhos e, às vezes, estudar. No intervalo grande, vamos todos comer a ração Bonzo (NR: apesar de o aluno ‘traduzir’ por ‘bolo inglês’, acre dita-se que sejam os bifes de soja servidos pelo Exército nessa época) que alguns têm coragem de chamar de merenda. Voltamos, então, para a aula e, ao aproximar-se do meio-dia, a barriga ronca mais que caminhão em subida. Ficamos a imaginar qual será o almoço:

– Bem que poderia ser estrogonofe! / – Um bife na chapa não seria nada mal!

Mas as esperanças caem por terra ao darmo -nos de cara com o tradicional feijão com arroz a la união faz a força. Às vezes, também, é servido o bife Uri Gueller (entorta garfos), e assim conse guimos enganar o estômago.

Não há muito tempo, mas o intervalo entre o almoço e as aulas da tarde é usado para tirar uma tora que faz com que o alojamento seja invadido por um festival de roncos.

Às duas horas, após a formatura, vamos en carar as aulas da tarde às 17h35min. Nos dias em que não há aula à tarde, a moleza é maior, pois aproveitamos para jogar um cimentão (pelada). (NR: antes do calçamento do pátio, em 1970, as peladas do internato ou durante o intervalo aconteciam no areião, deixando todos imundos). A regra do jogo é entra quem quer e sai quem pode, e ‘pra’ baixo do pescoço é canela. Seguida mente, um ou outro abandona o campo mutila do, mas não é nada, pois quem entra na chuva é para se molhar.

Após o jogo, novamente, a correria se faz pre sente, só que, desta vez, para tomar banho e não chegar atrasado ao jantar. A comida é a que so brou do meio-dia, só que com algumas transfor mações: a batata vira purê e a carne vira almôn dega (granada).

A seguir o bar do Beto, (NR: ficava na esquina da Av. Venâncio Aires com a R. Vieira de Castro), é invadido por baleiros famintos e sedentos que não conseguiram enganar o estômago no ran cho, e por outros que querem apenas filar um gole de coca ou dar uma mordida num bauru. Mas não são todos que vão até o Beto: alguns dão uma chegadinha até a 4ª Companhia (Insti tuto de Educação), outros vão ao correio mandar um SOS (carta pedindo dinheiro) para casa e ain da há quem dê um passeio apenas para se ver livre por alguns momentos.

A noite chega e com ela a revista do recolher. Os CDFs vão estudar e os vagais vão se enganar ou bagunçar para não deixar os CDFs estudar.

Finalmente, às 22h, toca o silêncio e o baru lho começa, pois sempre tem alguém disposto a bagunçar e largar piadinhas. É nessas horas que as senhoras genitoras são muito lembradas.

Memórias da Turma Sesquicentenário da Independência

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Aos poucos, a algazarra vai cessando e os ino centes começam a pegar no sono. É o merecido repouso do guerreiro, digo, do baleiro”.

Nos anos 80, o interesse pelo regime de inter nato foi diminuindo, fazendo cair, paulatinamen te, o número de internos, até que, em 1989, só havia a 1ª e a 2ª Cia. com alunos desse regime. Com o ingresso das meninas e a consequente necessidade de elas terem vestiário e banheiros próprios, foi lhes destinado para tanto o aloja mento da 3ª Companhia (antigamente destina do aos alunos da 4ª Série Ginasial e do 1º Ano Científico), localizado no piso superior da ala Viei ra de Castro. Os outros dois alojamentos eram da 1ª Cia. (da 1ª a 3ª Série Ginasial, no piso superior norte da ala José Bonifácio) e 2ª Cia. (2º e 3º Ano Científico, no piso superior sobre o Salão Brasil). Este fato fez com que, logo depois, todo o efetivo do internato fosse ocupar o alojamento da 2ª Cia. O da 1ª Cia. se tornou, então, o vestiário masculi no para os alunos externos (o regime de semi-in ternato foi extinto em torno do final dos anos 60).

No final dos anos 90, o regime de internato foi mais abrandado ainda. O seu alojamento tomou o nome de “Residencial”, dispondo de um Subte nente R1 (Antônio Kunzler) e de um Cabo (Eraldo Carvalho Leite), ambos “antigões”, que acompa nharam os internos por muitos anos. Além disso, passou a haver um acompanhamento mais pró ximo das psicólogas e psicopedagogas da SOE junto a eles.

Em 2006, com a construção de mais treze salas de aula para o CMPA poder voltar ao tur no único, o “Residencial” foi deslocado para o final do vestiário dos alunos, onde ficou bem instalado em algumas salas recém-construídas, dispondo de cozinha e banheiro próprios. Nesse período, até sua extinção, ficou sob a responsabi

lidade geral do Maj. Eduardo Peixoto de Araujo, auxiliado pela Psico. Maria Leônia Vargas Herzer e pela psicopedagoga 1ª Tem. Cláudia Elusa Nunes Wesendonk, que com eles já trabalhavam.

Já em período anterior, a DEPA tomara a deci são de extinguir o regime de internato. Os moti vos eram vários, entre os quais a carência de ver bas, a necessidade de destacar profissionais para o trato direto e constante com esses alunos e as exigências do Estatuto da Criança e do Adoles cente. Os comandantes do CMPA, sensíveis aos pleitos de comandantes de OM do interior, foram retardando o quanto puderam o cumprimento da determinação, sob os mais variados argumen tos, até que em 2009, a ordem da DEPA veio taxa tiva e teve de ser cumprida.

Na noite de 08 de dezembro desse ano, sob a condução do autor (também ex-interno) foi re alizada uma cerimônia no Salão Brasil para mar car o fim do internato, contando com os últimos oito internos e ex-alunos de diversas épocas que, também, o tinham sido. Organizados em uma roda de cadeiras, todos contaram vivências do respectivo tempo. O fato foi, ainda, marcado pelo descerramento de uma placa alusiva nas arcadas (que, depois, “sumiu” misteriosamente) e por um jantar festivo, obtendo grande repercussão nos jornais Zero Hora e Correio do Povo do dia se guinte, merecendo, também, uma reportagem da TVE. Os últimos internos foram: Diefer Moisés Mrozinski, Guilherme Matheus Rauber, Wesley Lappe Teló, Felipe Trindade Chaves, Pedro Yago Carvalho dos Santos Rodrigues, Leonardo Gon çalves Monteiro de Sá, Mosiah Heydrich Macha do e Arthur Vinícius Dias Nóbrega.

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Memórias da Turma Sesquicentenário da Independência

GRANDES MOMENTOS

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BASTIDORES DAS REUNIÕES DANÇANTES NO SALÃO BRASIL

A SEL 72 quebrou alguns paradigmas em re lação à organização e divulgação das reuniões dançantes.

Com relação à organização, a mudança foi absurda, pois a equipe, coordenada pelos alu nos Garcia, Munró, Stol e Portela, elaborava todo material utilizado na decoração do salão, desde poster até iluminação artística, com instalação de luz negra e luzes estroboscópicas. O salão se transformava em uma verdadeira “boate”.

Foram contratados os melhores e mais co nhecidos conjuntos musicais de Porto Alegre para animar as festas.

A divulgação era feita como muita intensi dade. Eram enviados cartazes para todas as es

colas de Porto Alegre, promovendo os even tos. Eram mandados con vites para todos cronistas sociais de rádio, jornal e televisão que os divulgavam em seus espaços.

Inesquecível a primeira reunião dançante em 1972: sábado à noite, o acesso ao colégio ficou congestionado; o corpo da guarda não es tava preparado para tamanho volume de pes soas acessando o interior do Colégio; convites sendo vendidos na entrada do portão; aquela gurizada se espraiando pelas arcadas do Colé gio... em casais... Um evento com esta dimensão não passou despercebido pelo comando do Colégio, após ouvir relatos de algumas esposas de oficiais que compareceram à festa. Garcia, Karam e Germano foram chamados ao gabine te do Coronel Jonas, Comandante do Colégio, para dar as explicações sobre as ocorrências da noite de sábado.

Depois de uma boa e longa conversa com o comando, chegou-se a um consenso entre limites e autonomia a serem observados pela SEL para as próximas festas. Ao longo do ano de 1972, as reuniões dançantes do Colégio figura ram entre as melhores festas de Porto Alegre.

| BASTIDORES DA PEÇA TEATRAL “O ROUXINOL

E A ROSA”

Muito legal poder registrar a passagem pelo Departamento Cultural da SEL 1972, em par ticular, quanto à realização da peça de teatro apresentada na ocasião.

Faço aqui um relato de extratos da memória daquela época.

Uma peça de teatro fazia parte do programa do Departamento Cultural, elaborado confor me orientação do Garcia, presidente da SEL.

Parti do princípio que a minha missão seria contratar uma peça de teatro, mas não era bem essa a intenção do presidente da SEL. O objetivo era produzir uma peça teatral.

Memórias da Turma Sesquicentenário da

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AA Karam, AA Germano Convites para reunião dançante - Masculino e Feminino
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Ícone usado em outro convite para reunião dançante

A iniciativa, a concretização e a produção da peça tiveram uma pessoa responsável: Garcia! Ele motivou, “empurrou” e me fez realizar a peça.

A data escolhida foi em homenagem ao Dia dos Professores. Algo diferente! Com a aproxi mação da data, outubro, a pressão aumentou um pouco. Não havia um título ou um sequer um texto escolhido. Atores?! Nem pensar... Importante escolher, pensava eu, um texto fora de conteúdo político ou contexto identifi cado com protestos ou revoluções. Até que, um dia, me deparei com o texto de Oscar Wilde, in titulado O Rouxinol e a Rosa.

O texto Rouxinol e a Rosa é curto, meio ro mântico, falando de amor e sacrifício. Permitiu boa e criativa adaptação.

Porém, foram inúmeras dificuldades.

A primeira delas, achar “atores”. As meninas do Colégio Cândido Godoy aceitaram participar. Convencer o Thomé a “interpretar” o “estudante” foi mais difícil, mas ele topou. A equipe técnica foi composta pelos alunos Delfim, Rony e Portela.

Lembro que o grande problema foi “arranjar” o cenário aonde se desenrolavam as cenas, pois en volviam um jardim, cujas rosas brancas se transfor mavam em vermelhas com o sangue do rouxinol.

Reparem nessa armação, onde a estrutu ra possui uma pequena escada, um reduzido

| OLIMPÍADAS

Nossa formação no Colégio Militar estava baseada em três pilares:

• Disciplina e ordem, ca racterizadas pelos exer cícios de ordem unida e pelo rigoroso regimento disciplinar;

• Sólido ensino das disci plinas fundamentais;

• Educação física, no mais puro sentido do “mens sana in corpore sano”.

espaço superior e, ao fundo, os “galhos” de uma roseira... Ali ocorreu o sacrifício do rouxinol!

O evento foi elogiado e, para todos nós, foi muito marcante. A ideia de tudo foi mostrar aos nossos mestres que há inúmeras formas de demonstrar como assimilamos o que nos foi ensinado. Algo que pode ser evidenciado até hoje, 2022!

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Meninas do Colégio Cândido Godoy e alunos CMPA em ensaio da peça teatral Olimpíada dos Colégios Militares - Belo Horizonte - 1970

Assim sendo, seria natural que, além das au las de Educação Física e do grande incentivo à prática de esportes, houvesse a promoção de grandes torneios, quer fossem internos ao Colé gio, quer fossem externos, entre outros colégios.

Dessa forma, tivemos a realização das Olim píadas entre os Colégios Militares, sendo uma promovida no Colégio Militar do Rio de Janeiro, em 1969, e outra realizada no Colégio Militar de Belo Horizonte, no ano seguinte.

As Olimpíadas dos Colégios Militares que vi venciamos foram marcantes para os atletas que participaram. Os colegas voltavam exultantes e cheios de histórias, intensificando, desde cedo, a vontade de outros participarem.

Além das competições em si, essas Olim píadas foram indiscutível marco das atividades educativas dos estabelecimentos de ensino médio, pelos resultados técnicos, pelo compor tamento das equipes, pelo cavalheirismo e es pírito de luta dos atletas, e pelo congraçamento altamente positivo entre os representantes dos demais Colégios Militares de sete capitais: Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Curitiba, Salvador, Recife, Fortaleza e Porto Alegre.

Proporcionou, ainda, conhecimentos gerais do Brasil para os que viajaram e constituiu-se em excelente ação cívica militar.

Olimpíada do Rio de Janeiro

A Viagem Viajamos para o Rio de Ja neiro em um avião Hércules C147, famoso vagão voador. Entramos, os bancos laterais, malas embaixo deles. Tudo gu rizada, a maioria nunca tinha andado de avião, ninguém respeitou a decolagem e nem aterrissagem, subindo esca da da porta, foi uma bagunça total. Fizemos uma escala em Curitiba para pegarmos a equi pe do Colégio Militar de Curi tiba. Bah, nessa escala, o Co mandante do avião nos botou em forma e nos deu “aquela chamada”! Dali em diante, seguimos viagem bem quietinhos.

O Arremesso que virou tarefa de gincana

A maioria dos discos para lançamento tem a

borda arredondada. Lá, nos apresentaram um disco com borda sextavada, que era o que o atleta deles treinava. Não nos deram opção. Fiquei muito revoltado, reclamei, mas não adiantou nada. O Cel. Tulio passou na hora e me pergun tou o que houve. Expliquei para ele e disse que no outro dia iria ganhar o arremesso de peso. Falei e confirmei. Meda lha de Ouro. Ficou meu amigo. No dia da formatura da tur ma de 73, ele era o paraninfo, quando fui receber o meu di ploma, ele levantou e veio me cumprimentar.

Lembrando que a única medalha de primeiro lugar foi a minha, inclusive foi tarefa de gincana do CMPA. Era a prova que valia mais ponto. Eu não sabia, quando vi, começou a chegar carro lá em casa. O pri meiro que chegou me levou.

A Confusão

Outra passagem foi a ri validade que se criou entre o CMPA e CMRJ. Perdemos um jogo pra eles, se não me fa lha a memória, no vôlei. Qua se fechou o pau na saída do ginásio. Veio o Comandante do corpo de alunos do CMRJ nos dar a maior bronca! O Cap. Chicão enfrentou o cara, dizendo que quem mandava em nós era ele. Grande Chicão. O nome do Comandante era Cel. Mickey. No fim ficou tudo bem, mas foi por pouco…

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Delegação do CMPA partindo para Olimpíada do Colégios Militares no Rio de Janeiro em 1969

Olimpíada de Belo Horizonte

Seção “suor poupa sangue”.

Na Olimpíada de BH, o fato de eu ser um atleta “Caxias”, apaixonado pelo atletismo e de dicado nadador, me trouxe vantagem além do resultado: por ser um dos que competiam no maior número de provas (sete), viajei no con fortável ônibus leito da TTL, juntamente com os alunos do 3° científico, pois o outro era um semileito. Outro colega que teve o mesmo privi légio foi o Touro, do atletismo e futebol.

A experiência na Olimpíada foi excelente, pois além das competições propriamente ditas, interagimos com alunos das mais variadas cul turas. Forjaram-se intensas amizades que per duram até hoje. Os contatos multiplicaram-se nos alojamentos do CMBH e suas áreas de lazer, como, por exemplo, a piscina de 25 metros. Fo ram os locais mais propícios ao congraçamento. Muito nos encontramos, também, na cidade, onde passamos a maior parte do tempo. A dele gação do CMPA não deixou de apoiar suas equi pes, independentemente, das modalidades.

Delegação do CMPA em parada de percurso em Caxias do Sul para as Olimpíadas de Colégios Militares 1970 - Belo Horizonte

Especificamente quanto à torcida, a gaucha da arrasou. Comparecíamos sempre em gran de número e muito inflamados – hinos, gritos de guerra, cantigas, jargões que desafiavam os oponentes, buzinas, cornetas, tambores, faixas, apitos e tudo que inflamasse aquela barulhenta e ritmada massa. Esta vibração foi um elemento motivacional fantástico – um verdadeiro aditivo. Há necessidade de serem relembradas algu mas passagens.

Uma torcida com sangue quente Farroupilha

No futebol de campo e futebol de salão é que a torcida foi mais significativa e motivadora. Chegamos às finais, somente não superando o CMRJ. Desde a Olimpíada no Rio, existia séria rixa com os cariocas. Em 69, saíram no braço, ha vendo intervenção do Comandante do Corpo de Alunos do Rio e do Cap. Da Silva, o famoso “Chicão”, um admirável líder, representante à al tura de atletas, devido a seu porte atlético.

A final do Futebol de Salão foi disputadíssi ma e dura, só foi decidida nas penalidades máxi mas, com pequena vantagem para o CMRJ.

Todos jogaram além da conta, mas o Touro (Flores) fechou o gol como um gato.

Encerrado o jogo, invadimos a quadra e transformamos a noite num grande carnaval.

Era estandarte para um lado, tambores e corne tas para outro, uma torcida, predominantemen te, feminina se misturando com a nossa torcida, com os jogadores vencidos, agora aliados aos vencedores. O ginásio tremia com as músicas e brados de guerra. Transformamos a quadra po liesportiva em um verdadeiro “salão de carnaval” e prolongamos a noite esbanjando alegria.

Testosterona da juventude transbordando, incentivou que vários saíssem garfados com belo-horizontinas para a noite da capital – “lindaças” gurias!

Vencedores ou perdedores, – que nada! – tudo era festa e fair play.

Foi instituído um troféu que não estava computado no início das competições: “Troféu Melhor Torcida”, concedido ao CMPA.

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AA Aita

A Torcida

Lembro de outro fato da Olimpíada, em que o Colégio Militar de Porto Alegre ganhou o prê mio de melhor torcida. Era um prêmio que não estava previsto, mas a gente era tão ativo e se fazia presente em todas as competições, que fizemos uma grande diferença. Encarávamos o pessoal do Rio e de Belo Horizonte, cantáva mos a nossa própria música, e foi bem legal essa

A Prova de Natação

A gente teve uma preparação que não foi muito boa, pois os treinamentos foram na épo ca de inverno. O deslocamento era realizado de caminhão até o Glória Tênis Clube e lá nós fazía mos, ou tentávamos fazer, um treino de natação. Era tão frio que a gente entrava na água e, não dava cinco minutos, tinha que sair para tomar um chocolate quente. Tremíamos tanto de frio que o chocolate quente mais caía fora do copo. A nos sa preparação foi muito deficiente, até justificá vel, porque não tínhamos uma piscina térmica e, consequentemente, não tínhamos muito treina mento. Mas era grande a nossa vontade de que rer fazer uma prova que desse resultado. Minha prova de natação foi 50m de costas.

Eu me lembro de ter saído bem. O nado de costas possibilita nadar olhando para cima, e eu, jogando água para cima. A impressão que eu tinha era de estar na frente. Quando bati os primeiros 25m, e fui voltar, tinha dado tanta

Muçum nas Águas Mineiras Natação Colégios Militares

/ 1970

A piscina do Minas Tênis estremecia com a euforia das entusiasmadas manifestações das torcidas, em especial a aguerrida gaúcha. Ins trumentos da banda Furiosa, sirenes, cornetas de jogos de futebol, faixas, cartazes e muita garganta empurravam os atletas em direção à vitória. Na ala do CMPA, destacavam-se alguns inflamados gritos-de-guerra esportivos:

Grito oficial do Colégio

– O CM chegou / e chegou pra ganhar

Fiquem todos sabendo / que é o CMPA

Ele joga basquete / joga!

Futebol de salão / joga!

Ele joga com raça / e com empolgação

parte. Tanto que, no final da Olimpíada, eles deram um troféu de melhor torcida para nós.

Lembro, também, da maneira como a gente marchava, não era com a mão espalmada, era com o punho cerrado e com o braço estendi do do lado do corpo, bem diferente de todos os outros CMS. Enfim, são coisas mínimas que me lembro.

energia na minha ida, que na volta eu, simples mente, cheguei no meio da piscina, acumula dos uns 35m, e não tinha mais força. Não sou da área de educação física, mas acho que meus músculos começaram a endurecer e, por pou co, eu não cheguei afogado no final da prova. Não tinha mais energia nem para levantar os braços, tanto que, quando cheguei na beira da piscina, o pessoal teve que me puxar de dentro da água, pois eu não tinha mais força alguma. Lembro que o Capitão Chicão me conduziu até uma cadeira e eu fiquei lá por uns cinco a dez minutos. Com frequência, ele aparecia pra saber como é que eu estava e, aos poucos, fui me res tabelecendo. É um fato, logicamente, que não é muito prazeroso, em função da dor e da falta de ter conseguido um resultado melhor, mas, enfim, está dentro daquelas situações que, difi cilmente, a gente esquece.

É o CM amado / que eu trago guardado / no meu coração É o bom, é o bom, é o bom – O CM chegou / e chegou pra ganhar!

Infantaria do CFR “A turma avança Enquanto o bicho berra; É Deus no céu, Infante aqui na terra!

A equipe de natação do CMRJ era a mais te mida e o time a ser batido. Possuía vários atletas dos clubes de maior expressão no Rio de Janei ro, como Fluminense, Botafogo e Clube Regatas Guanabara.

Desde 1969, na Olimpíada no Rio, um atle ta despontava como o maior pontuador, que

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ganhara a maioria das provas que competira. Por isso, aumentava sua fama e conhecido era o seu apelido: Muçum. Na verdade, nunca gravei seu nome. Era uma verdadeira cobra d’água.

Cumpriu-se a programação e, às 15h30min, uma série de apitos curtos marcou a cha mada para a 1ª eliminatória dos 100m livres; seguiu-se um apito longo e nos aproximamos dos blocos de partida.

O juiz da prova comandou: “Às suas marcas”! Nessa ocasião, todos os atletas devem posicio nar-se para a largada, absolutamente imóveis, aguardando o sinal de largada.

A torcida, em respeito à concentração dos atletas, mergulhou num profundo silêncio. A tensão tomou conta do ambiente... Alguns prenderam a respiração.

Eu infringi a norma da imobilidade, arrisquei olhar para meu lado direito e...

– Minha nossa!... Me deparei com um atleta cheio de estilo tomando posição.

Minha posição na raia não poderia ser mais ingrata, eu estava sendo apresentado ao lado

do aluno polivalente, MUÇUM!!!

Tremor de cima a baixo. Não é necessário ex plicar que o moral caiu abaixo do último azule jo da piscina, e o resultado foi muito abaixo do desejado.

Nossa delegação não tinha como ponto for te a natação. Nossos treinamentos não foram dos mais proveitosos, dado, principalmente, às condições climáticas adversas no inverno, em piscina fria.

Uma observação à parte, as provas a que sempre me dediquei mais foram as de arremes sos e corridas de velocidade, tanto no atletismo do Colégio Militar quanto no do Internacional, onde competi desde a categoria Infantil.

A torcida compreendeu; aplaudiu à saída da piscina e retomou a euforia que sempre lhe dis tinguiu.

Mais uma vez nossa premiada torcida por tou-se à altura. Parabéns, dedicados colegas e obrigado pela contribuição.

A sunga voadora Numa daquelas geladas sextas-feiras de trei no, a equipe da natação retornava do treino no Glória, quando voou da carroceria minha sunga de piscina. Foi uma gritaria só, como não pode ria deixar de ser, um incidente que virou farra. Naturalmente, passei a ser motivo de bullying, que àquela época não tinha a interpretação pe jorativa de intimidar. Era uma sadia brincadeira. Havíamos tomado canecas de chocolate quente e não sei como aquilo nunca virou um resfriado.

A gritaria da galera misturou-se com a or dem impositiva do sargento Feijó:

— Pára esta viatura, motorista! Quem foi o voador? Então, desembarca e pega teu TRAPO! Avança o número, aluno!

I Olimpíada das Armas – 1971

Com a criação do CFR-Curso de Formação de Reservistas houve, também, a promoção de uma primeira Olimpíada entre as Armas, Infan taria, Cavalaria e Artilharia.

Não havia o que fazer, senão encarar com espírito esportivo a gozação até subir no Enge sa. Foi outra oportunidade na qual se manifesta ram o espírito de corpo, camaradagem e lealda de. Mesmo abaixo de bullyng, dois colegas me socorreram para subir na viatura e, aos risos, um deles me impulsionou com a direita e outro me puxou com a esquerda.

Retornarmos para o Colégio encarangados, murchos e com os lábios roxos. Era a sina nos treinos da gauchada, enquanto os cariocas e nordestinos, com certeza saiam dos treinos e iam para as praias.

Os melhores treinos aconteciam na piscina térmica do Grêmio Náutico União. Ao que me lembro era o único clube com piscina térmica naquela época.

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Flâmulas Olimpíadas das Armas

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AA Aita
AA
Aita

II Olimpíada das Armas - 1972

A segunda Olimpíada das Armas foi realiza da em junho de 1972, conjuntamente, com a I Olimpíada Ginasial.

Ambas passaram a movimentar o corpo de alunos desde maio, com seleções dos atletas, treinamentos e organização das torcidas.

A Olimpíada das Armas contaria com atle tas das três Armas, enquanto a Olimpíada Gina sial contaria com uma equipe de cada série do Ginásio.

Durante um mês e meio, o Colégio só res pirava competições. A abertura dos jogos foi

O Pivô que não era do basquete

Durante as disputas dos jogos das Olimpí adas das Armas, um fato inusitado ocorreu em um jogo de basquete.

Antes de iniciar a partida, na quadra em frente à 2ª Cia, na fase de aquecimento com ar remessos à cesta, o Al. Paz, do time da Cavalaria, também conhecido como “Quaraí”, estava a ca minho de fazer uma bandeja quando outro alu no se atravessou na sua frente e ele bateu com a boca na cabeça do colega. Resultado: dente quebrado. Nosso heroico cavalariano joga sem o dente, com a torcida adversária pegando no pé dele:

| GUARDA DE HONRA PARA O DEFENSOR PERPÉTUO DO BRASIL

A ideia de civismo foi colocada em prática de maneira festiva pelas ruas de todo o país durante o ano de 1972. O Brasil vivia o ápice dos conheci dos anos de ouro, o “Milagre Econômico”, imple mentado no governo do Presidente Médici.

Um dos principais eventos programados pela Comissão Organizadora dos festejos do

solene e emocionante, com pronunciamento do Comandante do Colégio, desfile das equi pes, hasteamento do Pavilhão Olímpico, acen dimento da Pira Olímpica, juramento dos atle tas e canto do Hino do CMPA pelos alunos do Curso Primário.

A equipe campeã Olímpica Ginasial foi a 4ª Série, enquanto que a campeã da II Olimpíada das Armas foi a Infantaria.

– O Quaraí está sem dente! Houve muita risada a despeito do “banguela”.

Mas esta história não termina aí. O “Quaraí” consulta o professor Anacleto, de Biologia, que era dentista, e coloca um pivô para substituir o dente subtraído na cabeçada.

A Olimpíada termina, o tempo passa... Acampamento na Serraria, exercícios do CFR, fuga e evasão e o “Quaraí” perde o pivô... Não, ainda não para por aí... O Al. Ailton, conhecido também como “Baiano”, acha o tal do pivô, em meio àquela vegetação toda.

Esse pivô só foi trocado 38 anos depois…

Sesquicentenário da Independência foi o rece bimento dos despojos mortais do Imperador D. Pedro I. O ataúde veio de Lisboa e seguiu em peregrinação por todas as capitais.

Coube ao Colégio Militar prestar as Honras Militares com Guarda de Honra (CFR de Infanta ria), Escolta de Honra (CFR Cavalaria) e Salva de Gala (CFR Artilharia), e foi muito bem cumpri da – gerando efusivos elogios das autoridades e comissão.

Tropa de Infantaria em forma – Curso de For mação de Reservistas (CFR), coturno apertado

Memórias da Turma Sesquicentenário da Independência

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pelo cadarço branco, amarração tipo paraque dista; gota de suor pinga do nariz; escondidos, os dedos dos pés se agitam nervosos para cir cular melhor o sangue; olho na nuca do colega da frente.

Assistência e autoridades ansiosos pela che gada solene. Brigadeiro Antônio de Sampaio, o Patrono, com certeza estaria “orgulhoso” que só; Cap. Pinheiro, do curso, atento aos detalhes que cumpríamos corretamente; Cel. Jonas tenso ao desempenho de seus comandados; presiden te da comissão de festejos, Gen. Antônio Jorge Corrêa, muito realizado; e o Gen. Borges Fortes, Comandante do III Exército, muito confiante.

Reinava longo silêncio naquela tarde de sol quente de abril.

Minha nossa, parecia que os pregos quentes transpassavam a sola do coturno!

Sempre que possível, deixava a tropa à von tade, até que a aeronave Hércules C-130 da FAB taxiou e estacionou no pátio do Aeroporto Salgado Filho.

Aconteceu longa e silenciosa espera; reina va atenção, respeito e curiosidade. E compene trada imobilidade até que... Haaaa! Um blindado M113 manobrou e voltou-se para a tropa impe cável. Roncou grosso por duas vezes e cuspiu fumaça negra na capital dos Pampas.

Alguém me fez um discreto sinal convencio nado.

Determinei ao corneteiro: – “Toque Guarda de Honra – Sentido, Armar-Baioneta, Ombro Armas, Apresentar Armas e Olhar à direita!”.

Os alunos-soldados encaravam o féretro de cididamente. Estavam perfeitamente alinhados. Era chegada a hora da verdade.

Como Comandante da Guarda de Honra, ex plodia de vibração! Estremeci de emoção e um frio correu pela espinha.

Minha espada tiniu quando perfilei, como se um raio cortasse meu corpo; choque de 150 anos.

A Viatura Blindada de Transporte de Pessoal M113 com a urna passou em revista a tropa.

“Quietos... peito para fora, barriga para den tro, mão espalmada, polegar também é dedo, olhar altivo, CARA DE MAU, não mexe!!!”.

Minha nossa! Tudo muito perfeito! Caxia gem máxima.

As peças da Poderosa Artilharia sacudiram o aeroporto, rugindo 21 vezes; tremularam as Bandeiras Históricas dos audazes cavalarianos da Arma Ligeira.

Há quem diga que viu arrepiar-se o Laçador, símbolo de Porto Alegre.

Encerrando o cerimonial do aeroporto, o Defensor Perpétuo do Brasil foi conduzido pela Escolta de Honra do Esquadrão de Cavalaria até o Palácio Piratini.

A atuação da Infantaria ficou à altura da quele maiúsculo capítulo – a chegada a Porto Alegre.

Missão cumprida! Independência ou morte!

60 | Memórias da
da Independência
Turma Sesquicentenário
AA Aita Início de revista da tropa M113, Guarda-Bandeira e Comandante da Guarda de Honra Aproximação do ataúde com os restos mortais de D. Pedro I

PROVAS SEM FISCALIZAÇÃO

ACREDITEM!

Na esfera militar, desde muito tempo atrás, o grau, enquanto medida de avaliação do de sempenho escolar, sempre teve muita impor tância. Por sua vez, o ato de colar em uma prova sempre foi reprimido e punido com severidade, podendo levar até à exclusão disciplinar dos es tabelecimentos de ensino.

No CMPA não era diferente. As regras eram severas. Não pode colar! Os professores distri buíam as provas e a fiscalização presencial era o tempo todo. Nos primeiros minutos, os alu nos podiam tirar dúvidas de impressão e nada mais. Daí em diante, era só o relógio mostrando o tempo para resolver as questões.

Os alunos mantinham o silêncio e aquele ar de aprovação x reprovação! Pensavam eles:

– “E agora, qual a fórmula disso aqui?”.

– “Mas que coisa, caiu justamente o que não sei!”.

– “Ei, caiu só o que não estudei!”.

Até que vinha a conhecida fala: – “Terminou o tempo. Parem de escrever. Entreguem a prova!”.

Eis que, nos idos de 1970, o Comandante do CMPA anuncia que passaríamos a fazer provas sem fiscalização. O anúncio causa perplexidade! Vai dar certo, vai dar errado, incertezas conser vadoras e inovadoras!

| UM DESFILE INESQUECÍVEL

Sete de Setembro de 1969, Domingo, Alvo rada 6h30min.

O céu escuro, já cedo, mostrava o que vinha pela frente. Ao toque da sirene, as luzes do alo jamento foram acesas para compensar o breu celeste naquele momento.

O Sargento de Dia, delicadamente, pedia que os alunos deixassem os leitos:

– “As meninas querem convite pessoal; sal tem fora da cama, bando de lesmas”.

Naquela época, fomos colocados diante de uma situação, completamente, nova, que derru bou vários mitos. O principal ganho? Materializou o importante objetivo de desenvolver valores relacionados à honestidade, responsabilidade, ética e disciplina consciente, entre outros.

O novo procedimento era simples. Em dias de provas, os volumes com as folhas de ques tões eram distribuídos, dúvidas porventura exis tentes eram sanadas e professores e monitores não mais se preocupavam em ficar na sala de aula. O aluno que terminasse, levantava e colo cava sua prova no local indicado.

Certamente, oportunidade ímpar de com provar uma boa ideia, a intensa valorização de nossos comportamentos e uma lição de hombridade que levamos do CMPA!

Foi uma inédita experiência na área de ava liação educacional. O mesmo Comandante, posteriormente, introduziu a mesma ideia na Academia Militar das Agulhas Negras, AMAN.

Pérolas sobre provas:

Famoso era o caso do Professor “Motorzi nho”:

– “Professor, a prova vai ser de cruzinha (múlti pla escolha)”? – perguntavam os alunos.

– “Cruzinha só no cemitério!” – respondia o professor.

– “Uniforme para descer para o café: calça garança, camisa bege e casquete, NINGUÉM de túnica branca, pra não sujar; os bebês vão babar na roupa”.

A movimentação era grande, os semi-inter nos e externos chegavam para a preparação, o almoxarifado estava aberto, o Subtenente já estava pronto para a distribuição do material e armamento para o desfile.

Os internos se vestindo, num vai e vem fre nético entre o banheiro e os “apartamentos”, uns seminus, outros malvestidos e até alguns nus.

Memórias da Turma Sesquicentenário da

Independência | 61 |

Já vestidos, os internos formaram direto na frente do rancho, sem deslocamento para não sujar os calçados, pois a chuva da noite deixara o pátio bastante encharcado.

As brincadeiras correndo soltas entre os alu nos durante o café, como pisões nos pés dos colegas só para sujar o sapato. Os xingamentos, também, se fizeram presentes e as mães foram bastante “lembradas”.

Na volta ao alojamento, as surpresas aguarda vam; os mais distraídos, que deixaram a barretina sobre o armário, tiveram que procurar o penacho, as carabinas escondidas, luvas amarradas etc. e as ordens contínuas de —“Descendo, descendo, tá pronto desce. Vamos, vamos, vamos…”.

O Sargento de Dia vociferava, empurran do o pessoal para a formatura. Um verdadeiro Deus-nos-acuda!

O corre-corre só acabou quando, pontual mente, às 7h30min, o Batalhão Escolar estava, marcialmente, formado no Pátio Plácido de Cas tro com Estado-Maior (sob o comando do Coro nel Aluno Oscar Daudt Neto), Banda de Música, 2ª Companhia de Alunos (Curso Científico), 3ª

Cia Al (3ª e 4ª Série do Ginasial) e 1ª Cia Al (1ª e 2ª Série do Ginasial).

Realmente, era bonito de se ver o Corpo de Alunos com suas túnicas brancas, cintos bran cos, calças garança, barretinas com penacho verde e amarelo, charlateiras douradas nos om bros e polainas brancas sobre os sapatos. Mas para nós, adolescentes com cerca de 15 anos, além da beleza das fardas, o que mais nos em poderava era o fato de desfilarmos “armados” com uma velha, mas impecável, CAL (Carabina Automática Leve) calibre 30mm, carregada na posição “em bandoleira”.

Após o Cel. Al Daudt ter apresentado o Btl. Esc. ao Comandante do Corpo de Alunos (Major Sittoni), este o apresentou ao Comandante do CMPA, Cel. Túlio Chagas Nogueira, seguindo -se, então, a incorporação da Bandeira Nacional com sua Guarda ao grupamento, entrando em forma logo após o Estado-Maior.

Antes de se dirigir ao Btl. Esc., o Cel. Túlio olhou para o céu, totalmente, tomado por nu vens cor de chumbo que prenunciavam o que viria a seguir, e ficou absorto por alguns segun

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Memórias da Turma Sesquicentenário da Independência
Desfile de Sete de Setembro de 1969 na Av. João Pessoa

dos. Tomando o microfone, cumprimentou a todos pela presteza da entrada em forma e pelo garbo dos uniformes traquejados, citando os in tensos treinamentos feitos ao longo da semana. Ao finalizar sua alocução, o Comandante bra dou: – “Meus alunos, independente das condi ções do tempo, hoje, em comemoração ao Dia da Pátria Brasileira, o Colégio Militar de Porto Alegre realizará o mais vibrante desfile de sua história, fazendo tremer a Av. João Pessoa com a cadência de sua marcha! Avante, CMPA!”.

Dito isso, e sob as ordens do Maj. Sittoni, o Btl. Esc. iniciou seu deslocamento pela Av. Osvaldo Aranha, liderado pelos bumbos da “Furiosa”, ma gistralmente, tocados pelo Pecois, pelo Stoll, pelo Pinent e pelo “Quadrado”, chegando na área de espera, junto à esquina com a Rua Sarmento Lei te. Lá já estavam o CPOR e a Academia da Brigada Militar, formados na posição “descansar” correta e, totalmente, imóveis. A seguir, foram chegando as demais tropas militares que iriam desfilar, posi cionando-se atrás do CMPA.

Proféticas as palavras do Cel. Túlio. De repen te, não mais que de repente, um trovão se fez ouvir e a chuva começou. Não eram uns poucos pingos, mas sim o que, no interior, é conhecido como “chuva de balde” que, misturada a um for te vento e à baixa temperatura, enregelava até os ossos dos mais resistentes, quem dirá da pia zada da 1ª e da 2ª Série.

Ficamos uma meia hora nessa situação de penúria até que veio a ordem: – “Está suspen so o Desfile de Sete de Setembro!”. Mas nós já estávamos a meio caminho, ou seja, tanto faria voltar pela Osvaldo Aranha ou pela João Pes soa, pois a chuva, o vento e o frio seriam os mesmos.

Foi aí que o Cel. Túlio reuniu seus Oficiais e Sargentos e, coerente com o que havia antes afirmado, transmitiu sua ordem: – “Digam aos alunos para levantarem a cabeça, estufarem o peito e se prepararem, pois o CMPA irá desfilar!”.

Por sua vez, o Comandante da 2ª Cia Al, Cap. Denardim, estimulou seus alunos dizendo: –“Podem quebrar o chão, que o Colégio manda arrumar depois!”.

Assim foi dito e assim foi feito, para a vibra ção da garotada, que não queria voltar para o Casarão com “o rabo entre as pernas” por causa do tempo. Afinal, molhados por molhados, to dos já estávamos encharcados até a medula.

Foi só esperar as tropas do CPOR e da Aca demia da BM retraírem para iniciarmos o desfile, com a “Furiosa” à testa.

Chegando na Avenida João Pessoa, o CMPA “rachava” o chão com sua cadência, enquanto a chuva gelada não dava tréguas. Na altura da Po liclínica Militar, onde se localizava a Pira da Pátria (junto ao Parque Farroupilha), o General Médici e o Cel. Túlio estavam, marcialmente, postados. Eram das poucas autoridades a receber e a re tribuir a continência do Btl. Esc. E nós vibráva mos a cada passo, estufando o peito de orgulho por ser a única tropa a desfilar, enfrentando a inclemência do tempo, sob o aplauso das pou quíssimas e corajosas pessoas que assistiam (na maioria, nossos pais).

Enfim, depois do épico desfile, chegamos ao CMPA onde, para nossa completa surpresa, além dos cumprimentos do Cel. Túlio e de to dos os Oficiais e Sargentos, recebemos um co pinho (de cafezinho) cheio de... cachaça! Só isso mesmo para esquentar as entranhas depois do frio, da chuva e do vento!

Imaginem a nossa alegria! Única tropa a des filar desafiando o temporal, armados com nossa CAL e recebendo um copinho de cachaça na chegada! Mesmo os mais piás se sentiram ver dadeiros homens naquele dia inesquecível.

Memórias da Turma Sesquicentenário da Independência

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A REDENÇÃO E A 4ª COMPANHIA

O Parque Farroupilha, mais conhecido como Parque da Redenção, ou, simplesmente, por Re denção, é o parque mais tradicional e popular da cidade de Porto Alegre.

O local onde hoje está o parque, antigamen te, era a chamada Várzea do Portão, uma grande planície alagadiça próxima do antigo portão da Vila de Porto Alegre.

Em 1870, a Várzea recebeu sua primeira de nominação oficial, passando a se chamar Cam po do Bonfim, em vista da construção da Cape la do Bonfim em seu limite norte. Houve, ainda, posteriores ameaças à integridade da área, ge ralmente frustradas, mas, em 1872, o Presiden te da Província autorizou a construção de um quartel militar no seu limite sudeste, a origem do atual Colégio Militar de Porto Alegre.

O portentoso prédio em que funciona, sem dúvida nenhuma, faz parte do patrimônio his tórico da cidade de Porto Alegre, desde sua fundação em 1872. A bela arquitetura que o ca racteriza, onde predomina o estilo neoclássico,

mudou a fisionomia da várzea onde foi constru ído, criando um espaço onde questões ligadas ao ensino e à vida da cidade, do Estado e do Brasil foram, intensamente, vividas por aqueles que circulavam pelas arcadas do “Velho Casarão da Várzea”.

O Parque da Redenção, ao longo de sua his tória, sempre foi um lugar muito especial para todos os alunos do Colégio Militar, pois simbo lizava um pouco de liberdade da rotina escolar. Na realidade, esse Parque sempre foi uma ex tensão do Colégio Militar.

Nele, praticávamos as nossas corridas das aulas de educação física; as nossas instruções militares. Impossível esquecer estas atividades sob a orientação dos nossos saudosos Sargen tos Instrutores. Na Redenção, eram disputadas nossas olimpíadas.

Mas, mais do que tudo isso, era, principal mente para os alunos internos, um lugar para as mais variadas atividades e experiências “extra curriculares”.

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da Turma Sesquicentenário da Independência

A Redenção, também, era o caminho que ligava o Colégio a uma “Companhia Especial”: o Instituto de Educação General Flores da Cunha, exclusivamente feminino e que se localizava na Redenção, mas no extremo oposto ao CM.

Desde que começou a funcionar na Avenida Osvaldo Aranha, em meados da década de 30, o Instituto de Educação General Flores da Cunha era uma escola feminina que ministrava o Curso Normal e formava boa parte das professoras de Porto Alegre.

Como o CMPA possuiu em alguns períodos duas ou três companhias de alunos, o Institu to era conhecido, até 1989, como a “3ª ou 4ª

O BAR DO BETO

O Bar do Beto, localizado na Av. Venâncio Aires, próximo ao CMPA, sempre foi um local de reunião para os “baleiros”, desde a reativação do Colégio em 1962.

Companhia”. Como lá só havia meninas e, no Co légio, só meninos, a diferença de sexos e a proxi midade geográfica contribuíram para aproximar as duas instituições. Assim, os saraus, reuniões dançantes e bailes do CMPA contavam com a presença maciça das alunas do Instituto, fato que resultou em muitos namoros e casamentos.

A Redenção era o caminho para chegar ao paraíso!

É impossível não lembrar do Parque da Redenção para todos aqueles que passaram pelo Colégio Militar de Porto Alegre.

No final dos anos 50 e nas décadas de 60/70, localizava-se na esquina da Av. Venâncio Aires com a Rua Vieira de Castro, onde hoje existe uma farmácia. Era ali que os internos trocavam de roupa e colocavam o “paisano”, comiam um bauru, um farroupilha ou um prato feito (macar rão ao sugo ou arroz com feijão e carne) quando apertava a fome, acompanhado de uma “batida” (vitamina) de banana, mamão ou morango, ou de bebidas da época, como o Minuano Limão.

Era ali, também, que muitos internos come moravam o aniversário com os amigos mais chegados.

Nos sábados e domingos à noite, aconte cia a costumeira romaria dos alunos que iam ali para fazerem seus lanches, trocar de roupa ou locar os armários para a guarda desta, haja vista que nos fundos do bar havia uma espécie de vestiário, no qual os alunos da, então, Escola Preparatória de Porto Alegre (EsPPA, até 1961) e, depois os do CMPA, trocavam e guardavam o uniforme nos finais de semana, em armários locados, (desde o antecessor do Beto), para irem à paisana curtir a “vida social” de Porto Alegre.

Sua filha Marta Pinto Cravo Cabrera, faleci da em 2014, lembrava que o boteco que existiu antes servia petiscos e bebidas (entre as quais cachaça, servida ao freguês no balcão). Quando Beto assumiu o bar, segundo a filha, ele mudou o conceito. “Ele mudou um pouco o estilo do bar”, contou Marta. “Meu pai era todo rígido nos conceitos dele e passou a não servir mais be bida, como cachaça e outras no balcão”. Desde que assumiu o estabelecimento, Beto passou a servir comida nas mesas, feita com muito cari

Memórias da Turma Sesquicentenário da Independência

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Bar do Beto em 1970 na esquina da RuaVenâncio Aires com Vieira de Castro
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nho e cuidado pela sua esposa. Era simples, mas muito saborosa. Assim, o antigo Bar do Pagé se transformou no que viria a ser o famoso Bar do Beto, frequentado por jornalistas, artistas em geral, advogados, bancários e alunos do Colé gio Militar.

Marta recordava com carinho suas primei ras lembranças do Bar do Beto: “É eu correndo lá dentro com apenas três anos. Eu corria pelo bar. O pessoal que frequentava era sempre o mesmo. Contavam histórias e me pegavam no colo. Os fregueses me levavam na pracinha por que o pai e a mãe trabalhavam direto ali no bar e, então, não tinham tempo. O pessoal, princi palmente os alunos da Escola Preparatória, que hoje em dia é o Colégio Militar, viviam comigo. Eu era a irmã mais nova. Eles estavam sempre me levando na pracinha e era colinho pra con tar histórias, colinho pra comer... São lembran ças que eu tenho sentada naquela porta, aquela bem da esquina, sentadinha, comendo laranja”.

Durante os 20 anos de funcionamento, Beto foi auxiliado no trabalho pela inseparável espo sa e verdadeiro “braço direito”, Sra. Theresinha Correa Pinto Cravo (cozinhando com Beto já nos anos 90), falecida em 23 de abril do ano passado aos 81 anos. Sua única filha lhe deu duas netas, Letícia e Priscila, filhas do casamento com o AA Luís Alberto Rodrigues Cabrera. Havia mais duas cozinheiras, a Da. Téia e a Elisa, sempre supervisio nadas e auxiliadas por Da. Therezinha.

“Os dois eram um exemplo de respeito e companheirismo”, comentou a amiga Denise Duarte Bruno (mãe do AA Bento Bruno Perei ra), que conhecia Therezinha desde quando era jovem. “Quem esteve comigo no meu parto foi ela, e, também, era ela que acompanhava o meu filho em todas as atividades dele”, acrescentou Denise. Beto e Therezinha foram, inclusive, os padrinhos de seu casamento com Klaus Pereira.

A placa com o nome “Bar do Beto” só pôde ser colocada em maio de 1978, no dia do batiza do da neta Priscila, pois o proprietário do prédio não autorizara a colocação até aquela data.

O bar foi vendido em 1980 e, posteriormen te, revendido para os atuais proprietários, que, hoje, mantendo o tradicional nome, estão es tabelecidos em um local próximo, mais amplo e confortável. Pela tradição e pela proximidade do Colégio Militar, o Bar do Beto, ainda nos dias atuais, é palco de happy hours e comemora ções diversas por parte de profissionais, alu nos e antigos alunos que ali se reúnem. Para quem pergunta, seus proprietários exibem com carinho uma antiga foto do Beto dentro do primitivo bar.

Hoje, passadas mais de quatro décadas após Beto e Theresinha terem vendido o bar, o ca sal ainda é lembrado com grande saudade por clientes que fizeram parte da história do primei ro Bar do Beto, principalmente os, então, alunos do CMPA. Para estes, o Beto era muito mais que o dono do bar, era um grande amigo, um ver dadeiro paizão que, junto com Da. Theresinha, atendia a todos com carinho e, sempre solícito e atencioso, ajudava-os a resolver muitos dos problemas típicos de adolescentes que viviam longe de seus pais. Em 2001, um ano antes de sua morte (faleceu com 70 anos, em Para naguá-PR, em janeiro de 2002), ele e Theresinha foram homenageados por uma turma de anti gos alunos da EsPPA.

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Memórias da Turma Sesquicentenário da Independência Bar do Beto - Grupo de alunos

O corte de cabelo fazia parte da nossa vida como aluno. Constituindo rígida e tradicional nor ma de apresentação, o corte do cabelo também era, constantemente, observado e, muitas vezes, motivo de transgressão disciplinar em caso da não observância do corte “padrão”, que era zero.

A barbearia, sem dúvidas, era das salas mais fre quentadas no CMPA! Ali se encontravam os vete ranos, os novatos, os mais alterados e aqueles mais “caxias”. E a “reunião” era sempre breve, nada muito demorado e simples. Ali rolavam as notícias, as no vidades, as mais novas piadas, as gafes e as fofocas!

Jacintho, in memoriam, chefe da barbearia, era um cara muito legal. Camarada no relaciona mento, cordial no tratamento e rápido no corte com a máquina e no arremate com a tesoura!

As mãos do Jacintho delineavam o que sobraria dos nossos cabelos! Fora dos seus dedos, o corte zero formatava característica marcante do nosso perfil fisionômico como aluno do CMPA!

JACINTHO, A MARCA TEMPORÁRIA QUE NOS DEIXOU ETERNA LEMBRANÇA FILANDRO, O PIPOQUEIRO

Evidentemente, não era obrigatório cortar o cabelo na barbearia do CMPA, mas quem de nós nunca ali esteve e não foi atendido pelo, ainda hoje, sempre lembrado Jacintho?!

Corte de cabelo, certamente, nos deixou indelével marca, impossível de apagar!

Interessante observar que parecíamos estar sempre na contramão dos costumes. Enquan to a juventude da nossa época usava longas e rebeldes cabeleiras, tempos da Jovem Guarda e do movimento Hippie, tínhamos que usar o cabelo a “zero”, contando, apenas, com os pou cos dois meses e meio de férias de verão para entrarmos na moda. Passados cinquenta anos, a moda é usar corte “a militar”, com jogado res de futebol e cantores de Sertanejo fazendo sucesso entre as mulheres...

Ao sempre lembrado Jacintho, nossa memó ria e gratidão!

Olha a pipoca quentinha!

Quem passou pelo portão principal do corpo da guarda do CMPA e teve o prazer de fa zer parte do corpo de alunos, não deixou de conhecer uma figura marcante e muito espe cial, tanto para os alunos como, também, para instrutores e fun cionários da instituição.

Estamos nos referindo não apenas a um vendedor de pi pocas, mas, sim, a uma pessoa fantástica e amiga, “Seu Filandro”, como era chamado aquele ven dedor, no qual muitos de nós viam, em suas expressões, uma amizade paterna.

Tenho grandes recordações da pessoa do “Seu Filandro”, pois, já com seus cabelos grisa lhos, muitas vezes, ouvia com

atenção as lamentações, princi palmente, dos alunos internos, da saudade que nós sentíamos da família e, várias vezes, nos conformava com suas palavras.

“Seu Filandro” era uma pes soa carismática, gentil e bon dosa. Acredito eu que nenhum aluno deixou de saborear uma pipoca quentinha e gostosa, por não ter como pagar, pois, com seu caderno dos “fiados”, era por ele apontado número, nome e Cia do comprador e li berada a pipoca. Ah, como sinto saudade daquela pipoca quenti nha! Tenho lembrança e muita gratidão, pois foi ele quem me ensinou a fazer pipoca salga da e doce e, com o passar do tempo e experiência, eu saía do refeitório, onde tinha jantado,

Sr. Filandro (camisa xadrez) com seu carrinho de pipocas

e corria para frente do colégio para atender os consumidores e fazer mais pipocas.

Hoje, quando faço uma panela de pipoca, me vem a lembrança dessa pessoa que foi, pra mim, e muitos outros alunos, um grande amigo e conselheiro: Seu Filandro.

Memórias da Turma Sesquicentenário da Independência

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AA Natal

OUTRAS HISTÓRIAS NO CASARÃO

| BATALHA DO ROSÁRIO

Jogo válido pela Copa Cauduro de futebol de salão, Rosário x CMPA, no ginásio deles, os internos liberados para acompanharem o jogo, in loco.

A chegada da torcida do “Militar”, momento apoteótico, todos uniformizados, recebida com uma inflamada e estrondosa vaia, sob os gritos “baleiros, balas!”.

Impassíveis, os disciplinados alunos aden traram ao Ginásio tomando seus lugares nas arquibancadas; alguns mostravam a expecta tiva do placar com o dedo médio (1x0), outros concordavam com os apupos através do sinal de OK, com a mão direita.

Característica da gentil torcida do CMPA era os alunos, para prevenir problemas abdominais, usarem uma larga e forte cinta de couro, em cor branca, com um discreto fecho metálico, ajusta da na cintura, por baixo da túnica.

O Rosário vencia, com tranquilidade, por 2x1. Assim o jogo corria até que: “gol do Militar”, “gol do Fiapo”, guri convocado, às pressas, naquela mesma tarde. Alegria, os “baleiros” comporta dos, entre apertos de mãos, aplaudiam seu herói com cânticos de louvor; reinício do jogo, nosso inocente craque “Fiapo” retoma a bola, sequên cia imediata, é “levantado” por um brutamonte adversário, caindo na quadra. A torcida, solidária e preocupada, corre em socorro ao colega aba

tido; os violentos adversários, num desejo mór bido que o pior ocorresse com o craque caído, se opunham, o que obrigou uma atitude ríspi da, mas necessária. Intervenção mal-entendida, que deu origem a gládio generalizado.

Os monitores, de forma gentil e organizada, dirigiram os torcedores para fora do Ginásio, enquanto, a portas fechadas, dentro, os facíno ras rosarienses impediam a apresentação das necessárias desculpas pelo mal-entendido. Si tuação delicada para os nobres cavaleiros que representavam nossa Academia.

Alguns vândalos torcedores do Rosário sa íram antes do ginásio e receberam os pacatos “militares”, ou, na linguagem deles, “baleiros”, com pedras. O Capitão Moraes, que orientava a torci da organizada, foi atingido por um desses petar dos e teve que ser atendido no Pronto Socorro.

Inconveniente que não podia evitar o ne cessário pedido de desculpas pelo mal-enten dido. Uma fria porta de madeira os distanciava do ato de civilidade.

Vândalos afastados; os torcedores do “Mili tar”, reagrupados, formaram escalões e, ao co mando de um mais antigo, corriam, em grupo, e se jogavam sobre aquela muralha, tentando abri-la. Quando estavam a alcançar o objetivo, surge a Polícia do Exército, preocupada com a possibilidade de ferimentos. No intento de es cusas, solicitou, mui educadamente, que pa

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rassem e retornassem ao abrigo do Casarão da Várzea.

Assim foi feito, sob as vistas da escolta pro tetora; os alunos entraram, marcialmente, no pátio do Colégio, onde foram apresentados ao Comandante do Corpo de Alunos, que se des locou até o Colégio para recebê-los, aproveitan

| A LENDA DO TÚNEL

Reza a lenda que existiria um túnel no subso lo do colégio que permitiria a entrada ou saída de tropas em caso de necessidade. Alguns chegam a dizer que foi usado durante as diversas revolu ções que houve no Brasil, a partir de 1893, e que sua entrada se situaria próxima ao Monumento ao Expedicionário ou na Rua Vieira de Castro. Na verdade, como o quadrilátero do CMPA é um enorme coletor de águas, o que há é um grande esgoto pluvial com cerca de um me tro de altura, que se inicia na Vieira de Castro e passa pelo centro do pátio, prolongando-se em suave declive até 300 metros na Avenida Venân cio Aires. Suas três entradas, hoje bloqueadas,

| O CORONEL DE BRANCO

Verdadeira lenda do CMPA, o “fantasma” do Coronel de Branco, terror da bicharada interna nos anos 60 e 70, costumava “aparecer” à noi te. Esse “fantasma” teve origem no assassinato a tiros do Cel. Galvão do Nascimento Leães, Co mandante da EPPA, no dia 22 de março de 1960, perpetrado por um Oficial que havia sido acusa do de desvio de dinheiro.

Como, no ano anterior, houvera um incên dio que atingira o Gabinete de Comando e outras dependências próximas, o Comandante passou a despachar no piso inferior da Bibliote ca, onde se deu o assassinato. Em consequência, para colocar a fotografia do ex-comandante no Gabinete, teve-se que aproveitar uma em que

do para passar conhecimentos sobre a vida em sociedade e a importância do fim de semana na vida dos adolescentes, finalizou deixando o gru po aos carinhosos cuidados do Oficial de Dia.

Experiência pedagógica inesquecível.

AA Fagundes, AA Leitune, AA Pinent

situavam-se na Rua Vieira de Castro, próximo ao Laboratório de Física e próximo ao rancho. Nos tempos da EsPPA, alguns alunos fugiam à noite, utilizando-se das entradas do Laborató rio de Física e a da Rua Vieira de Castro. Outra “rota de fuga” era pela abertura externa do po rão existente na ala norte da Avenida José Boni fácio. A propósito, a construção inicial do prédio era do tipo “casa de porão alto”, com porões sob todos os pisos. Tais porões foram sendo aterra dos pelas modificações havidas no prédio, até só restar, hoje, uma abertura (escotilha) cum prindo a antiga função de “arejamento”.

ele vestia a túnica branca, sendo o primeiro a ter a foto com esse uniforme, daí o nome “Coronel de Branco” (em solidariedade a seu antecessor, o Cel. Saraiva, também, fez sua fotografia com a túnica branca).

Com o reinício do CMPA em 62, os vetera nos passaram a aterrorizar a bicharada à noite, contando sobre o fantasma e “representando-o” com um aluno vestido com lençol branco e correndo pelas arcadas escuras.

Memórias da Turma Sesquicentenário da Independência | 69

O Coronel de Branco no alojamento da Primeira Companhia?

Numa segunda feira do mês de junho de 1966, primeiro ano no Colégio Militar, um frio de “renguiá cusco”, na carona do sopro do Mi nuano. Fora os trotes normais, os veteranos contavam muitos causos ocorridos no Velho Casarão e, entre eles, o do “Coronel de Bran co”. Conta a lenda que ele teria sido morto por um desafeto, nas dependências da Biblioteca. Naquela biblioteca, onde tinha fotos enormes dos que comandaram o CM, e, claro, lá estava o “Coronel de Branco”. Era impressionante, toda vez que precisei ir à biblioteca, lá estava ele me cuidando. Me sentava de costas, mas, quando dava uma olhadinha, com o canto dos olhos, ele estava me olhando atentamente. Trocava de lugar e ele continuava me olhando.

Internos, tínhamos uma rotina rígi da, “revista” às 19h e estudo obrigatório até às 21h, sob a vigilância do Sargen to de Dia. Bueno estava fazendo os te mas quando lembrei que, na terça-feira, na primeira hora, tinha aula de Geografia com o professor Lambari.

Eu precisava resolver o tema e o livro cader no de anotações (comprado na livraria Baya deira, na Osvaldo) não estava na pasta. Fui ao Sargento Feijó e pedi para ir ao alojamento pe gar o livro. Licença concedida, fui. A noite era um breu, as majestosas arcadas, caminho de meu destino, mal iluminadas. Subi as escadas de madeira do alojamento da Primeira Cia, os degraus rangendo a cada passo, as luzes to das apagadas. O medo já estava querendo to mar conta de mim e já comecei a praguejar o maldito livro de Geografia. O alojamento todo escuro e as sombras das luzes da rua, contrace nando com o balancear das árvores da Reden ção, formavam uma cena um tanto horripilante. Desviei o olhar e liguei as luzes, as chaves de

luzes ficavam à direita da grande porta de ma deira. Entrei, reparei o quanto era enorme de grande aquele alojamento, parecia não ter fim. Adentrei ao recinto prestando muita atenção se tinha algum barulho diferente. Meu armário ficava pelo meio do alojamento, entre o do Lio e o do Sebastião. Caminhei, lentamente, como um índio no meio do mato que não quer ser ouvido. Pronto, cheguei ao meu armário e era só pegar a chave, abrir o cadeado e pá! Pegar o MALDITO LIVRO DE GEOGRAFIA.

Tornei a olhar em volta, tudo estava normal, só eu no alojamento.

Nesse momento, peguei o “MALDITO LIVRO DE GEOGRAFIA” e... Nossa Se nhora das cuecas freadas...

Senti um vento gelado, uma mão no meu obro e um “Olá”. Estremeci, achei que o “Coronel de Branco” estava ali.

Esqueci livro, armário aberto e, numa louca e cega correria, desci as escadas, vo ando até a sala de estudo. Entrei, não conse guia falar, ofegante, assustado. O Sargento per guntou: – “O que houve? Fala, guri!”. Os colegas, olhando aquela cena, atentos, curiosos. Quan do consegui falar, disse quase gritando: – “O Co ronel de Branco”. A sala se dividiu entre garga lhadas, risadinhas e olhos arregalados e sérios, esses deviam ser todos bichos como eu.

O Feijó conversou comigo, me acalmou, fo mos com mais alguém ao alojamento, tudo cer to, menos pra mim. Fomos para a ceia e, naque la noite, mal dormi. O tema? Colei do colega da A3 aluno 31, João G.T. Flores, momentos antes da aula. E a cueca? Foi para a lavanderia… Juro, era o “Coronel de Branco”!

AA Pedro Paz “Quaraí”, AA Pinent

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Memórias da Turma Sesquicentenário da Independência

HISTÓRIAS DO DARCI

Uma pescaria desastrada

Sempre depois do almoço, lá no colégio, a gente estava liberado, por uma hora, até a for matura e podia fazer o que quisesse. Então, eu adorava ir para a Redenção passear, ver as ár vores, os pássaros e o lago. Um dia estava lá, mexendo com os peixes, e caí dentro do lago, me molhando todo! Resultado: na formatura da tarde, o colégio inteiro de uniforme e eu usando a pelerine num sol escaldante!

Meus cabelos longos

E a outra que me acontecia seguido, entre a quarta série e o primeiro científico, era que,

| AS VACINAS

Só de nos lembrarmos delas, já sentimos dor: as “memoráveis vacinas”!

Dia da vacina, na verdade, era um terror! É que nem paraquedista, depois que entra em forma naquela enorme fila, encarando a porta no primeiro piso, a subida da escada e a caminhada para o matadouro no 2º piso, não tinha como refugar. Seria muita vergonha vol tar, diante de todo mundo e, claro, que motivo para gozação futura. Além do mais, elas eram obrigatórias... Paraquedista, depois que chega à porta, tem que ir ao sacrifício. Não tem como di zer “– Por que eu inventei de fazer isso?”. Decolou, bailou!

Quando a gente via os colegas le vando aquelas agulhadas, uma de cada lado, a perna tremia, ainda mais vendo, na parede, um “Popeye” com uma se ringa maior que ele, pingando sangue (era um poster da enfermaria…), aplica das por aqueles dois “subordinados do Cap. Vilhena” (pai do nosso colega 43), muito disciplinados, que não refugavam “o crime” nem pela nossa, quase deses

normalmente, eu andava com o cabelo um pouco crescido, o Cap. Mascarelo andava atrás de mim nas arcadas, me procurando e eu me escondendo dele.

Prêmio merecido

Uma vez, teve um concurso de fotografias no CMPA e eu tirei o segundo lugar, ganhando um livro e não sei mais o quê. Mas, para isso, eu peguei as revistas National Geographic de uma amiga, recortei todas as fotos sobre o Grand Canyon e estraguei toda a revista da guria...

perada, atitude de recolher o braço para dentro do outro... bem... depois do “assassinato” execu tado, era a hora de “pagar mistério”, com a cara bem feia. Tinha, ainda, as vacinas aplicadas por pistolas a ar comprimido, um verdadeiro “tiro gelado”, a saciar a índole de combatente dos “enfermeiros”.

Essas vacinas eram sempre aplicadas às sex tas feiras, porque, invariavelmente, ficávamos fora de combate e com dores nos braços por todo o final de semana.

Nosso tempo foi assim, até sofrimento vira história.

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Memórias da Turma Sesquicentenário da
AA Darci •••
AA Sebastião, AA Aita, AA Darci e AA Cylon Vacinas- uma pistolada em cada braço

OS TRAUMATIZADOS

PELO CORAL DO CMPA

A saudosa Profª. Dinah Neri Pereira foi uma das mulheres que marcaram a história de Cachoeira e de Porto Alegre.

Quando estava na Capital, notabilizou-se ao reger os Coros Orfeônicos do Instituto de Edu cação General Flores da Cunha, da Escola Prepa ratória e do Colégio Militar de Porto Alegre.

No Instituto, foi professora de Elis Regina, ini ciando-a na música. Já no Colégio, deixou algu mas marcas profundas e traumáticas em alguns alunos:

| GUARDA DA PIRA DA PÁTRIA

Acho que foi lá pelos idos de 1970, 1971. Fui escalado para participar da Guarda da Pira da Pátria, ali em frente ao Colégio. Tivemos que, após participar do desfile de Sete de Setembro, nos apresentar no CM, pelas 20h, para dar uma treinada dentro do Colégio.

Ficamos com o último turno da Guarda, quando ocorre a cerimônia de extinção do fogo da Pátria. Saímos do Colégio marchando e nos posicionamos no local. De repente, um cole

| HISTÓRIAS COM O SARGENTO PEDROSA

Entre o susto e a lição

O Sargento Pedrosa, que era o monitor do Es quadrão de Cavalaria, sentiu cheiro de cigarro no fundo da sala, no intervalo entre as aulas, e per guntou quem tinha fumado. No ginásio, era proi bido fumar e, se fosse no interior da sala de aula, pior ainda! Sentimos a aproximação dele e, rapi damente, apagamos e escondemos as baganas.

Mas o cheiro na sala de aula nos denunciou. Ele colocou a turma em sentido e perguntou,

Fábio: A Professora Dinah Nery me testou para o Coral e disse que a minha voz não se enquadrava em nenhum lugar… Me deixou traumatizado até hoje.

Araujo: Também aconteceu comigo, e fui reprovado de pronto! Foi aí que decidi apren der a tocar violão e cantar... Creio que muitos de nós foram “voluntários” para ir lá fazer o teste no Coral...

Leitune: Eu estou no mesmo time do Fábio, rejeitado no primeiro dia.

ga, que não lembro o nome, (era um magrão) e estava à minha esquerda, dá uma golfada de vômito que saltou longe. Foi tragicômico. Fica mos firmes, como se nada tivesse acontecido. Dentro do CM, demos muitas risadas. O brabo é que não lembro os nomes dos demais cole gas. Lembro que houve uma chuva de fogos de artifício e vários “pauzinhos” dos fogos caíram e bateram em nossos capacetes.

novamente, quem estava fumando. Ninguém se acusou.

Então, ele comentou: “Os homens assumem o que fazem”. Se ninguém se apresentasse, toda a turma seria responsável. E saiu. Me senti um guri de merda, medroso, não assumindo meus atos, e a turma fiel, em silêncio, assumindo a cul pa. Em posição de sentido, me apresentei para ele, pronto para tomar um fim de semana deti do, e disse que eu tinha fumado. Para a minha surpresa, sua resposta foi:

– “Parabéns, Cantão, não vou dar parte de ti, foste um homem e te responsabilizaste pelos teus atos e não entregaste os colegas. Assim,

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Turma
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age um homem. Só não fuma de novo no colé gio, pois terei que te punir”.

Aquele pequeno homem tornou-se um gi gante na minha frente. Tornamo-nos grandes amigos, com bons papos nas horas de folga.

De monitor a bixo

Quando saí do colégio, fiz vestibular e passei na UFRGS em Ciências Contábeis. No ano seguinte, quando eu vi, o Sgt. Pedrosa entrou, também, na faculdade e ele era meu bixo... Eheheheh.

O Sargento errado na hora errada

A gente tinha horário de estudo e ficava na sala de aula, praticamente, sem fazer nada. Numa destas, um colega fa lou que ia na cantina comprar um salgado e perguntou se alguém queria alguma coisa. Ninguém quis nada e ele foi até a cantina. Sabendo que ele ia voltar, eu peguei o cesto de lixo coloquei em cima da por ta, deixando-a entre aberta, es

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ANIVERSÁRIO DO PROFESSOR

E a lição me acompanha na minha vida: sempre assumir meus atos e a verdade acima de tudo. Minha continência à sensibilidade e sabedoria deste mestre. Fomos uma geração privilegiada.

Aí eu me aproveitava dele... Dizia para ele: – “Vem cá, bixo, vou te passar um trote…”. Ele ficava louco comigo.

perando o colega voltar e ver lata de lixo cair na cabeça dele. Mas, nisso, quem voltou foi o Sgt. Pedrosa. Entrou empur rando a porta e aquele cesto de lixo, cheio de papel, casca de banana, bagaço de laranja, cheio de tranqueira caiu e em borcou na cabeça do Sargento Pedrosa.

Não precisa falar muito que todo mundo que estava na sala se mijou de rir, mas eu fui o único que caiu da cadeira...

O Sargento não me perdoou... Daí pra frente, eu passei ser o alvo predileto do Sargento... Em toda a revista, ele parava na minha frente, sempre pro curando uma coisinha errada...

Sargento Pedrosa, com uma lata de lixo emborcada até o ombro, cheio de papel, casca de banana caindo na cabeça dele... foi uma visão do paraíso... Ahahahah.

TÚLIO, UM ATO DE CORAGEM!

No CMPA, como era de se esperar, o rela cionamento dos professores com as turmas e alunos seguia protocolos disciplinares bastante rígidos. Por outro lado, importante relatar, ma temática era das matérias tidas como das mais “duras” em termos de ensino-aprendizagem.

Voltando no túnel do tempo, estávamos no ano de 1967, 2º ano ginasial, a Turma B3. A lem

brança era do período da tarde, na sala de aula localizada na parte superior do rancho, onde o CMPA se volta para a Rua Santana.

Ao longo daquele ano, a turma desenvolveu uma especial empatia para com o professor Tú lio Paulo Ordovaz Santos, fazendo emergir uma relação de muita consideração e amizade.

Eis que descobrimos o dia do aniversário do Prof. Túlio! Decidimos preparar uma surpresa para ele. Foi comprado bolo, o disco do cantor José Mendes, com a música “Para Pedro” – que ele detestava – e uma flâmula do Internacional,

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time que ele torcia, flâmula essa trazida pelo Scipião e assinada por toda a turma.

Naquele dia, Prof. Túlio sentiu um olhar es tranho dos alunos em seu rosto. Scipião e Pinent contavam os segundos e se entreolhavam. Mo rales mordeu o lábio e começou a interrupção. Em determinado momento, eis que Sebastião e o Estancieiro iniciaram a cantar o “Parabéns pra Você”. Foi uma só voz, todos cantavam juntos! E aí não teve mais aula. Foi levado um toca -discos e a música “Para Pedro” foi repetida várias

| O PÔNEI

Em 1971, recebi a missão de buscar, depois de Guaíba, um pônei fêmea, que seria a mas cote do Esquadrão de Cavalaria, montada por um aluno do 1º ano do ginásio (meu irmão, o Ronaldo Cantão) no desfile de Sete de Setem

| OBJETOS VOADORES NAS AULAS DE HISTÓRIA

Nós estávamos na quarta série do ginásio, ano de 1969, na sala D3, aquela mais próxima à sala de reunião dos professores, lá no fundo do colégio, à esquerda, e a aula era do Cel. Teixeira Leite. O assunto era Segunda Guerra Mundial.

Como sempre, o Professor Teixeira Leite mantinha sua didática de escrever no quadro negro a síntese da matéria. Ai do aluno que não mantivesse seu caderno atualizado com a transcrição do conteúdo posto no quadro, aliás, nos quadros negros. Terminava num quadro ne gro, passava para o outro quadro negro e con tinuava escrevendo, sem olhar para trás. Pedia para um aluno apagar o quadro antes utilizado, e dá-lhe texto e giz!

Nesse dia, ele já estava no terceiro qua dro negro! Repentinamente, para de escrever. Vira-se e observa toda a sala de aula. Todos es crevendo! Olhou para o Scipião, o 120, que, nes

vezes. O disco, um compacto simples, foi pre sente, não sabemos se ele quebrou ao chegar em casa! O fato é que ele ficou muito emocio nado com a surpresa e o carinho da turma. Foi muito divertido, sem dúvida!

Hoje, pode parecer uma coisa normal. Mas, naquela época, o que fizemos, ao quebrar o protocolo formal de uma aula, foi um ato de co ragem, de afeto e camaradagem! Boa lembran ça, caro Prof. Túlio!

AA Antunes, AA Zanotta

bro. Recebi um caminhão militar com motoris ta, uma carta do III Exército de salvo conduto e preferência de travessia da balsa. Eu comandava a viatura e era responsável pelo transporte, em barque e desembarque do equino.

se momento, o observa com a mente esparsa em outras coisas. Entrechoque de olhares!

Pergunta o Professor:

– Você, diga, Hitler era de direita ou de es querda?

O Miranda, o 110, que sentava ao lado do Scipião, era um relativo bom aluno de história e gostava do assunto. O Scipião olha para o Mi randa pedindo ajuda, que, por sua vez, imagina como auxiliar o amigo. Eis que, num lampejo, Miranda lembra da bandeira com a suástica na zista, quase sempre na cor vermelha. Associa, então, o vermelho e pensa: “Esse cara foi de es querda”.

Miranda cochicha: – “Esquerda”!

Não deu outra, o Scipião respondeu: – “Esquerda, Professor”!

A surpresa acontece! Professor Teixeira Leite para, vira, apanha o apagador, olha para o Sci pião que, por sua vez, pressentindo o perigo do impacto daquele objeto voador, afasta a cadeira

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para o fundo e abre espaço para poder se abai xar. Não deu outra! O apagador é arremessado na direção do Scipião, quica na carteira e vai ba ter lá na parede do fundo da sala.

A seguir, Prof. Teixeira Leite, com a mão bran ca de giz, apanha seu material na mesa e põe debaixo do braço, coloca o casquete (bibico) na cabeça, olha para toda a turma e diz: – “Hoje eu não dou mais aula, até logo”! E vai embora, terminando a aula na metade.

MINHA HISTÓRIA

COM O PROFESSOR TEIXEIRA LEITE

Me lembro que era da tur ma A2 e ainda não tinha uni forme, então, usava a roupa civil. Era aula de história com o Prof. Teixeira Leite. Lembro de ele ter pedido para eu subir no estrado. Eu era muito baixinho, um dos menores da turma.

Ao subir no estrado e ficar de frente para os colegas, ele começou a me dar um belis

Outras narrativas dão conta do arremesso de giz com boa pontaria em situações de res postas similares.

Deixamos aqui nossa admiração pelo Pro fessor Teixeira Leite, um excelente professor de história! Todos nós gostávamos dele e o respei távamos demais!

cão e eu não estava entenden do nada. Imagina, eu tinha um metro e meio de altura, acho, ao lado de um Coronel alto e forte. Ele começou a apertar, segurei a onda, e ele me aper tava cada vez mais, e eu pen sei: “O que esse cara quer?”. Aí ele começou a torcer e eu dei um berro e ele, então, come çou a explicar a história em causas e consequências: que o beliscão era a causa e a con sequência foi o meu grito. Este

| EXPULSO DA SALA, AULA DE HISTÓRIA... ADIVINHEM

POR QUEM?

Esse mesmo... Cel. Teixeira Leite!

Sempre que encontro o Fábio Gomes, nosso grande parceiro Trator, relembramos esse episó dio dando boas risadas.

Vou contá-lo aqui do jeito que lembro! Está vamos lá, na aula de História, assistindo aquela espécie de locomotiva fumegante: escrevendo e fumando, cigarro e mais cigarros. Pior, acen dendo um no outro. Nós ali, superconcentrados, tentando acompanhar aquele ritmo alucinante do nosso querido Mestre, mas não era fácil.

fato é um detalhe, mas eu me lembro bem. Até hoje tenho o caderno de história dele e sou um estudioso do tema.

Tenho vários livros de his tória do Brasil e gosto de ler sobre o assunto, procuro estar bem atualizado. Às vezes, é um beliscão que faz toda a diferen ça. Até hoje eu adoro e curto história. Me interesso muito.

Na sequência, ele se sentava saltitante em sua mesa e acendia mais um cigarro. Iniciava, então, sua narrativa empolgante sobre os acon tecimentos históricos. Nós acompanhávamos tudo, ávidos de algum fato inusitado, que ele nos trazia de forma brilhante, mas, também, dava uma “travada” no ritmo, nos permitindo dar uma respirada em meio aquele turbilhão de informações e dúvidas sobre o que iria cair no próximo TE, ou TC, vai lá saber!

Na ocasião, a narrativa era sobre as Guerras Cisplatinas e a questão do Gado Bravio, que va gava solto no Pampa trazido pelos Jesuítas. De repente, nosso Mestre cometeu um erro que

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passaria despercebido, se não fosse a minha ba baquice naquele momento: virei meio pro lado e pra trás, cochichando baixinho, mas com um sorriso “meio” debochado, comentando no gru pinho em volta algo sobre o erro do “Teixerinha”. Era assim como nos referíamos a ele!

Pra quê!!! Se alguém lembra, a locomotiva descarrilou na hora. Lá veio ele, cuspindo e bu fando pelas ventas pra cima de mim. Me intimi dando, perguntou o que eu falara, naquele jeito “tranquilo” dele.

Eu, burro, imagino, ainda, com um resquício do sorriso, respondi: “Professor, o senhor falou, Gado Charrua. Não é Charrua, é Gado Chimar rão (ou Cimarron como diziam os espanhóis. Isso eu pensei, mas não falei. Talvez não estives se aqui contando se o tivesse feito).

A cena seguinte foi bem forte: ele me jogou um giz e, esbravejando, me expulsou da aula. Até hoje, não lembro o que falou, mas saí o mais rápido que pude!

Aprendi muito, mas muito mesmo, com aquele episódio: ser sempre humilde e respei

| AS PELADAS DAS QUINTAS

Outra história é no terceiro ano do científi co, 1972. Nós tínhamos uma equipe de futebol de salão: era o Alencar no gol, Scipião, Karam, o Kiko Martini, o Pöppl e eu, Miranda.

Toda quinta-feira de manhã, às 10h30min da manhã nós jogávamos futebol de salão contra os instrutores. Pelo horário do jogo, tanto os ins trutores como os monitores, que jogavam co nosco, sabiam que nós só podíamos estar ma tando aula para jogar bola.

No entanto, passamos o ano inteiro jogan do aquela pelada, na quinta-feira, e nunca nin guém nos reprimiu ou chamou a atenção. Aliás, quem devia chamar a atenção eram os próprios instrutores e monitores: “Vocês, que estão aqui nessa hora, deveriam estar em aula”. Que nada, eles continuavam e a pelada transcorreu o ano

toso com os nossos Mestres, em tudo na vida, e também: o espaço de aprendizado é sagrado, pelo saber que nos traz e os conhecimentos que deixam!

Uns dias depois, deixei baixar a poeira do momento e fui pedir desculpas em seu cami nho, pelas arcadas, rumo à Sala dos Professo res. Ele me olhou com um sorriso, deu uma boa gargalhada e encerramos o episódio re conciliados!

Meus caros colegas e amigos, mesmo com seus pequenos enganos, o Cel. Teixeira Leite foi incrível ao nos ensinar. Ele nos inoculou o vírus da História com todo o seu encanto. Pelo me nos em mim, ficou o amor profundo pela His tória, como saber inestimável e imprescindível para entender melhor o mundo, seus persona gens e a civilização!

MUITO OBRIGADO NOSSO GRANDE

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inteiro. Tinha, também, um fato inusitado com o Martini… Ele era da legião de honra, não sei mais que lá, nunca queria matar aula para jogar bola e dizia: “Não, essa aula que vem agora é de química, eu quero assistir... é de matemática”...

O Pöppl ia lá na sala de aula, recolhia os ca dernos dele, pasta e tudo, e saía lá para o pátio e dizia para o Kiko: “Não vai assistir aula coisa ne

| A BOTA QUEIMADA

A Turma D1 funcionava numa das novas sa las voltadas para a Venâncio Aires, próximo da Biblioteca. Era sexta-feira, meados de junho, dia frio, sala fechada, alunos com japona. Aulas de Ciências Físicas e Biológicas, CFB.

O professor, amistosamente, chamado de “João, o louco”, usava roupas da moda, cabelos com corte moderno, meias verde-limão, óculos extravagantes. Dizia que a matéria CFB era tran quila, atual, não reprovaria ninguém.

Na primeira aula, descreveu a biologia ligada ao intestino humano. Explicou que um adoles cente/aluno chegava à produção de até 2000 ml de gases intestinais.

Descreveu o famoso pum, cuja composição química tem vários gases, como nitrogênio, hi drogênio, dióxido de carbono, metano, oxigê nio e 1% de sulfato de hidrogênio. Esse 1% seria o responsável pelo cheiro. A velocidade média de propagação de um pum chega a 3 m/s!

Fez um célebre acordo com a turma: não soltar gases durante as aulas de CFB. O que foi feito e respeitado! Até que um dia...

Sabe-se que houve, sim, tentativa de segu rar ao máximo, porém o infrator não conseguiu reter o cheiroso.

O odor horrível começou, parece, do lado esquerdo. O cheiro insuportável iniciou sua pro pagação de modo sorrateiro.

As primeiras medidas de proteção eram as mangas das japonas. Começou a efervescência entre os alunos. O mau cheiro empesteava o ambiente de maneira nunca vista!

O professor sentiu o fétido ar ao seu redor! Seus olhos ficaram vermelhos diante da mag

nhuma, vamos jogar pelada”. Meio contrariado, o Kiko dizia que seria a última vez que faria isso. Jogou bola conosco o ano todo... Transcorreu o ano inteiro e, desde o Comandante até o Cabo velho do rancho, todos sabiam que nós estáva mos matando aula e, no entanto, passamos o ano inteiro jogando bola sem problema algum.

nitude desagradável do mau cheiro daquela coisa. Tremia, quando disse: – “Ah, isso não pode ficar assim. Vocês quebra ram nosso trato”!

– “Queimaram uma bota na sala de aula!” – disse ao adentrar à sala do Capitão Cmt. da Cia. de Alunos, e relatou, nervoso, o acontecido.

A turma D1 imaginava que iria ficar detida no fim de semana, quando o Sargento monitor compareceu à cena e deu algumas ordens:

– “Viemos investigar a presença de gás mal cheiroso em sala de aula. Turma pra fora, em for ma, uma linha em uma fileira! Alinhar, Sentido, Descansar. Preparar para inspeção das botas, quero dizer, dos borzeguins!”.

Um a um os alunos mostraram suas “botas”. Tudo sem marcas ou manchas de queimaduras. O Capitão explicou a situação e disse: – “Apresente-se, voluntariamente, o culpado!”. Nada... Não havia transgressão! A turma D1 era muito disciplinada!

Eis, então, que o Capitão e o Sargento se deram conta de que o “queimaram uma bota”, como denunciado pelo professor, significava que alguém havia soltado um pum na sala de aula. Até hoje, não se sabe se a cara de extrema con trariedade que eles fizeram naquele momento era por causa dos alunos ou do professor!

História baseada em fatos verídicos, confor me vários testemunhos!

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AA Zanotta

ANÁLISE

SINTÁTICA

DOS APARELHOS REPRODUTORES

O professor Constantino tinha um método próprio, que era muito didático, para nos ensi nar análise sintática. O pouco que eu sei, hoje, de português eu devo ao Coronel Constantino, que era um excelente professor.

Mas vamos à história: transcorria o ano de 1969 e nós estávamos no quarto ano ginasial, pertencentes à turma D3. Estávamos sentados num banco existente na Pérgola, ao lado da bi blioteca, aguardando o início da aula. E estava uma patotinha ali reunida, que era composta pelo Miranda, pelo Scipião, pelo Silva Abreu. Acho que o Moraes e o Martini também esta vam. Nós aguardávamos o início da aula e eu teria dito: – ”Hoje não vai ter aula, porque eu vou fazer uma pergunta para o professor Cons tantino... Ele vai se empolgar e assim nós vamos matar aula”. E foi feito: entramos em sala, co meçou a aula e eu, imediatamente, levantei o braço para fazer a pergunta, sendo observado pela patotinha mafiosa, todos já com um sorriso irônico no rosto. Fiz a pergunta, que era sobre sexo. Então, o professor Constantino interrom peu a sua aula, pois ele adorava falar sobre esse assunto, e começou a dissertar sobre o tema. Nós alunos, que éramos adolescentes naque la época, ouvimos, atentamente, a explanação do Coronel Constantino, pois esse assunto era tabu naquela época e nós pouco conhecíamos sobre esse tema. E, ainda mais, para ilustrar o assunto, o professor Constantino desenhava no

| A EUFORIA DO PERFUME E A PUNIÇÃO

Lembro de uma história engraçada que me custou uma detenção de FDS em 1971. Um amigo do internato ganhou um enorme perfu me Lancaster do pai e, no intervalo de almoço, me ofereceu o vidro todo.

Era a oportunidade de me perfumar, junto com meus amigos... Muitos. Rimos bastante,

quadro negro o aparelho reprodutor masculino e feminino e prosseguia em sua explanação. Assim, nós che gávamos ao final da aula sem ter mos tido a análise sintática, que era o tema proposto para aquele dia. E isso se repetiu em diversas oportunidades, não foi somente naquela aula. Portanto, meus companheiros, se algum de vocês aí tiver alguma deficiência em português, no nosso idioma pátrio, como eu também tenho, o cul pado sou eu, porque, em várias oportunidades, como já disse, nós desviávamos o tema da aula e o nosso saudoso professor Constantino, pron tamente, nos atendia com as suas explicações.

Anos mais tarde, já adulto, eu estava relem brando dos bons tempos nosso Colégio Militar e, fazendo uma reflexão, concluí que, na verda de, nós nunca enrolamos o professor Constanti no, pois, com o máximo prazer, ele interrompia a sua aula para nos explanar sobre esse assunto que era tabu para nós, ou seja, era sobre sexo, um tema que jamais seria abordado em sala de aula, naquela época. Assim, e não só eu, mas tenho certeza que todos nós, somos gratos ao professor Constantino pelos ensinamentos que ele nos transmitiu, os quais, certamente, foram muito úteis para todos nós ao longo de nos sa vida. Portanto, ao professor Constantino, os nossos agradecimentos.

mas, na hora de entrar em forma, nossos risos continuaram contidos.

O Tenente Erildo, se não me falha a memória, de 50 anos, ficou intrigado, perguntou o que es tava acontecendo e quem era o responsável. Um colega, que estava de Cabo de Dia, deu a dica ao Tenente. Assumi a “culpa” e passei sábado e do mingo no CMPA, aprendendo a lição com alegria!

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PROFESSOR E OS ALIENÍGENAS

Narrativa baseada em fatos reais. O nome do professor não deve ser mencionado por questões de cunho pessoal. Aqui ele será denominado Professor X. O céu estava cheio de es trelas! Eis que o Professor X retornava de carro para Porto Alegre pelo litoral e resol veu alterar sua rota, desviando para transitar pela beira-mar.

Estacionou próximo do posto de salva-vidas. Recostou-se e apreciava as estrelas. De repente, se deparou com aquele enorme objeto em for ma de disco.

Com certeza, não se tratava de balão de festa junina, meteoro, pandorga noturna, nada disso. Era, sim, um disco voador, um OVNI! E em terras gaúchas! Mas bah!

Entrevistado pela reportagem, o Professor X descreveu o que aconteceu.

“A abdução foi muito além do irreal e do folclore. Posso lhes dizer que da terra eles não são!

A coisa pairou sobre mim. Painéis de luzes piscavam, quase todas pratea das. Foi uma forte sensação de formi gamento, seguida de intensa sonolên cia. Uma estranha energia me puxou para dentro do OVNI.

O ambiente interno muito sombrio. Tive a impressão que o líder estava sen

| O PROFESSOR

HALTEROFILISTA

Aquela manhã, revelou que o professor não estava em seus melhores dias.

As aulas de Biologia eram muito práticas, microscópios à frente, preparação das lâminas, experiências com folhas etc. A turma estava in quieta, as coisas não andavam bem na sala, uns não paravam de falar, outros muito agitados.

tado, inquieto, com seus olhos movendo-se sobre uma tela que parecia ser um sonar com linhas e mapas. Tudo conforma va um estranho ambiente. Os seres – cabeçudos e orelhudos – murmu ravam coisas ininteligíveis. Foi a última imagem que tive dos alie nígenas!

Algum tempo depois, notei que estava com as roupas rasgadas e com os sapatos arranhados. O curioso é que não me lembro do que havia se passado naquele trecho da viagem. Era como se as últimas horas tivessem sido apagadas da minha me mória. Apenas consegui reproduzir um esboço inicial do que me aconteceu”.

Caro Professor X

• Muitas pessoas afirmam já terem visto OVNIs. Por outro lado, todos sabemos que os mistérios envolvendo os objetos voado res e seres extraterrestres dão espaço a teo rias de arquivos secretos dos governos, que comprovariam suas existências.

• Sua lembrança, querido Professor X, nos é muito grata, tenha certeza, mesmo 50 anos depois de convivermos no CMPA. Descul pe-nos pelas inverdades e irreverência do texto.

Até que o professor apanha uma lata, dessas de leite condensado, segura em apenas uma de suas mãos, a esmaga como se fosse papel, e diz: – Adoraria fazer isso com vocês!

E fez-se o silêncio...

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O DIA EM QUE O 25

SE TORNOU O 24 + 1

Nossas aulas de Biologia realizavam-se na sala situada junto à quadra de futebol de salão, no corredor oposto ao que se situava o bar do Colégio.

As aulas aconteciam no primeiro horário, após o intervalo maior entre as aulas.

Este era o intervalo para comer as merendas trazidas de casa, quando não eram surrupiadas por um outro colega.

Mas havia, também, os que iam lanchar no bar, portanto, bem afastado da sala de aula de Biologia.

As prioridades do intervalo eram lanchar, bater papo, fumar escondido dos monitores, jo gar bola com uma pedra e, ainda, não chegar atrasado para a entrada na sala de aula, sendo, esta última, pouca observada por alguns.

| ALUNO “BOMBER”

Consta que o caso ocorreu na turma B1, que era volta da para a rua Vieira de Castro. Contam as “testemunhas” que o aluno era magrinho, de bo chechas avermelhadas, olhar

Um dia, cansado de deixar aluno entrar atra sado na sala, o prof. de Biologia resolveu parar os atrasados na porta da sala e, sentado em sua mesa, olha para o grupo e diz: – “Observo que os integrantes deste grupo não são sempre os mesmos, à exceção de um, o A. 25, o único constante neste grupo. Al 25, o senhor deve ser o 24 + 1 desta turma. Podem entrar para assistir a aula”.

O Al 25, sem perder o seu elevado grau de bom humor e camaradagem, colocou o cas quete no rosto, se fez de encabulado e respon deu: – “Pois é Professor…”.

A turma e o próprio professor caíram na risa da e, desta data em diante, o Al 25 passou a ser chamado de 24+1, fato que nunca o incomo dou e até o divertia...

distante, meio sinistro e muito calado, sempre de quepe. Nú mero e nome não identifica dos.

Num dos intervalos, quan do todos já haviam saído da sala, ele deixou um cigar ro aceso na ponta de uma

| À PROCURA DAS ANDAROLAS

O aluno desceu do alojamento, após algu mas horas, ajustando cinto e talabarte, barreti na, penacho, carabina, acertando a bandoleira, a posição exata das polainas, enfim, pronto! Eis que o monitor pergunta: – “E as andarolas, onde estão? Tens que apanhar com o Subtenente!”.

Em outra oportunidade, recém-chegado ao CMPA, o “bicho” foi instado a apresentar as an darolas, a fim de ver se tudo estava certo com

dessas bombas usadas nas fes tas juninas.

O estrondo foi muito for te! Muita fumaça... destruição total da carteira!

O aluno “bomber” teve cur ta duração no CMPA!

sua vida escolar. Elas estariam à disposição na Sala 40. – “Anda logo, bicho, vai lá apanhar as andarolas!”.

E a criatura bichana, inexperiente e ingênua, saía à procura...

– “Ah é fácil! Sala 38, sala 39, agora viro à di reita... Pera aí, aqui é a cozinha e o rancho!”.

É que a Sala 40 não tem número, não existe, ou melhor, é o banheiro dos alunos!

O pior é que existe um significado atribuí do às andarolas. Seria meio que “anônimo”, nada

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de coisa culta e com credibilidade para o termo andarolas. Em tom de brincadeira, consta que andarola viria do latim “andarolum”, composto por dois elementos, um principal, e outro me nos importante! Também há relatos que anda rolas podem ser um par de almofadas, “forro de bunda”, literalmente, usado, antigamente, na ca valaria por recrutas da cidade, desacostumados

| A PROVA DE FÍSICA

Eu me lembro de uma passagem com o Motorzinho. Um TC de Física, se a memória não me trair, no ano de 1972, turma G1.

Era entregue aos alunos: a prova, papel de jornal para rascunho e papel branco para as respostas passadas a limpo.

Eram cinco questões. Eu tinha estudado muito e fiz a prova com muita confiança. Tanta, que uma das questões fiz direto na folha branca, não utilizando a folha para rascunho.

à montaria, algo vexatório, pois demonstrava fraqueza perante o grupo.

Na verdade, buscar as andarolas foi um trote comum naqueles anos de CMPA. Quem aplica não se recorda, mas quem sofre não esquece o trote!

Entreguei a prova, certo que havia gabaritado. No dia da entrega das provas corrigidas, vi que a minha nota foi 8, apesar de todas as mi nhas respostas estarem certas.

Fui reclamar com o Motorzinho.

Ele pegou minha prova, olhou e me disse: “Esta questão não está no rascunho, você colou, portanto, é zero...’’. Ponderei o que pude, mas ele não voltou atrás... Até hoje estou mascando esta...

| LABORATÓRIO DE FÍSICA

Lembro-me como se fosse hoje! Aula no Laboratório de Físi ca, ano de 1972, turma G1, professor Cel. Bayard (Motorzinho). O professor chamou o Rogério para resolver mais um proble ma no quadro.

Estávamos sentados naquele balcão em U, com tam po de granito. Eu estava na ponta e assoprei a solução inteira do problema para o Rogério, que apresentou o re sultado, dando uma risadinha mista de satisfação e de saca nagem, ao concluir. Mas o Motorzinho não era bobo e pergun tou para o Rogério qual era a unidade da resposta, dizendo: – “Que cor é isso? Azul, verde, amarelo?”.

O Rogério continuou rindo, sarcasticamente, e respondeu: – “Amarelo!”.

O Motorzinho gritou: – “Amarelo é o sol lá fora, ruuua!”.

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AA Karam

| SEMPRE GOSTEI E PASSEI POR MÉDIA EM GEOMETRIA DESCRITIVA

Trabalho Corrente (TC) de Geometria Des critiva em 72. Reunimos um grupo habitual de estudo no apartamento do Paula Dias, na João Pessoa.

Naquela noite, contrariamos, radicalmente, o princípio básico do estudo de não apelar para o “gagá de desespero”. Viramos a noite. Agravan do a situação e raiando o dia, surgiu um litro da famosa aguardente Ypióca, que me emba ralhou retas, curvas, círculos, planos e diedros.

| OS SETE DE PIRASSUNUNGA

Lembro do início, quando fui para o Colégio Militar. Éramos sete de Pirassununga. Quem nos levou para o Colégio Militar foi o nosso antigo Comandante, o Coronel Túlio Chagas Noguei ra. Recordo que, quando à noite, todo mundo já estava deitado, pronto para dormir lá no alo jamento, um alojamento comprido e cheio de armários e muitas camas, não havia divisão ne nhuma. E uma das coisas que notei é que nin guém falava para ninguém o nome da sua mãe.

| MACACOS NA ÁRVORE?

Segunda série ginasial, turma B3, aula de francês, o professor entusiasta da teoria da presença dos extraterrestres, cada vez que ins tigado ao assunto, se delongava sobre o tema, deixando de lado a matéria linguística, meta da gurizada para uma sessão pós-almoço.

Empolgado com o interesse da turma, o mestre avança no assunto e conta um inciden te ocorrido numa estrada, no interior do Estado, final de tarde, início da noite, teria o mestre tes temunhado a aparição de uma nave, na época “disco voador”, planando sobre as árvores que

Coroando o estudo, surgiu uma prova antiga da matéria. Checamos nosso estudo por ela.

Na sala, pronto para o teste, para meu es panto, quando abri a prova, ainda meio zonzo, a prova era muito semelhante – na verdade era igual a que tínhamos acabado de resolver.

Todos os do grupo se olharam, vibrando. EU NÃO!... Por quê? Milagrosa e infelizmente, a “marvada” e a noite em claro “apagaram” tudo que estudei. “Congelei” e fui mal nas quatro questões. Desenho, uma matéria que já havia passado por média.

Era tabu, ninguém podia saber o nome da mãe do outro, porque, à noite, quando todos já estavam deitados, alguém gritava: “C... a mãe do fulano, c… a mãe de beltrano”. Quer dizer, a mãe estava sendo comida por todo mundo. Eu achei muito interessante e engraçado porque era uma forma de interagir com todos os cole gas, todos os baleiros internos.

ladeavam a via, duas luzes muito fortes não per mitiram o reconhecimento da forma do objeto. O silêncio reinava na turma, na verdade, mui tos dormindo, outros apenas deixando o tem po passar, quando um colega (não vou dizer o nome, apenas o número: 120) pronunciou as fatais palavras: – “Sei o que era, Professor, eram macacos em cima das árvores carregan do lanternas”.

O nobre ensinador tomou a coloração rubra na face, cerrou os pu

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AA Said

nhos, olhos saltaram das órbitas em direção ao interlocutor, que estava sentado ao meu lado. Não consegui segurar a risada e ouvi a resposta: – “Sei, isso mesmo, era você e o risonho ao seu

lado, pulando de árvore em árvore.

Aliás, continuem lá fora, os dois”. E lá fomos nós, nos escondendo do Sargento Monitor.

TIRO AO ALVO

Terceira série ginasial, Turma C3, aula de francês, momento de leitura de texto, o aluno 120 esqueceu o livro em casa e sentou-se junto comigo para acompanhar a aula. Na nossa fren te, o aluno 396 fazia a leitura de uma passagem do livro.

Nós brincávamos, sem maldade alguma, apenas uma salutar brincadeira de colegas, que a pronúncia do leitor estava muito ruim, que ele estava dizendo palavrão. Nossas carteiras eram aquelas de levantar o tampo, madeira de lei, forte.

Sem que notássemos, o 396 pegou um com passo, o qual seria usado naquela manhã, pois

teríamos aula de desenho, abriu o instrumen to, totalmente, e aguardou o momento certo. O Professor se deu por satisfeito, ou não, com a leitura e passou a incumbência para outro cole ga. Ao sentar, acho que se sentindo magoado com as brincadeiras, o leitor dispensado girou o braço, com o compasso na mão em direção a nós.

Por instinto de sobrevivência, levantei o tampo da carteira, que recebeu a ira do atacan te, ficando o compasso cravado na madeira. Ao Comandante da Companhia, afirmamos que tínhamos combinado um teste de tiro ao alvo…

| A PESCARIA E O RANCHO

Nós tínhamos aquele horário de descanso depois do almoço e me recordo que, naquelas tardes de inverno, saíamos para passear na Re denção.

Eu havia preparado, em casa, um cordão com anzol na ponta, com a intenção de, quando pudesse dar uma saída, ir lá na Redenção para tentar pegar um peixe no lago, aquele central, que hoje foi aterrado. Era o lago mais baixinho, retangular, que, naquela ocasião, tinha algumas carpas. Naquele dia, peguei um pedaço de pão no rancho, que me serviu de isca.

O anzol, um prego dobrado, que, também, fiz em casa. Coisa de guri. E fui para o parque, direto para o lago. Joguei aquela linha (cordão) dentro da água para brincar de pescar. E não

é que, realmente, consegui pegar um peixe? Uma carpa grande, com uns 35 centímetros de comprimento. Peguei aquele negócio e me per guntei: – Vou fazer o que com este peixe? Mas

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Lago da Redenção

a gente já tinha uma ideia, uma predisposição para a carpa: iríamos usá-la como uma moeda de troca e, para isto, tínhamos que levá-la para o Colégio.

E como passar, com uma carpa viva, pelo corpo da guarda, instalada no portão de entrada do Colégio? Resolvi botar o peixe embaixo da pelerine e encarei o corpo da guarda. O receio de ser apanhado era grande, pois aquela carpa viva se debatia nas minhas pernas, mexendo com a pelerine, mas consegui entrar, o que foi muito divertido. Após esta façanha, tínhamos que atingir o nosso objetivo, ou seja, levar aque le peixe até o rancho. Fomos, então, com bas tante sigilo e com bastante cuidado para não chamar a atenção. Lá tinha o Cabo Machado, que era um pouco nosso amigo, e nós propu semos para ele: – “Nós pescamos esta carpa e queremos te dar. Em troca, queremos que seja

| INAGÉ, A VINGANÇA

Eu recordo que na revista da Hyloea, a da nossa formatura, consta lá a minha vergonha, passada por ter comentado sobre a leitura da revista Life, logo no começo do curso de inglês e sobre o sal de cebola. Estes fatos ocorreram ao mesmo tempo em que o meu pai voltou de Suez e trouxe uma porção de novidades. Na quela época, eu fiquei muito envergonhado, porque não me deram a oportunidade de es clarecer.

Quando meu pai veio de Suez, e isto é ve rídico, ele trouxe um produto de tempero que era basicamente sal, cebola e alho, é claro que desidratado, e na embalagem falava sal de ce bola. Mas como o pessoal não conhecia aqui no Brasil, eu fui levado como piada.

A outra parte é da revista Life. No meio de uma das primeiras aulas de inglês, eu comen tei que já lia a Life. Também não me foi dada a oportunidade para dizer que era com o auxílio

fornecido um bife a mais na nossa mesa ama nhã no rancho”. Após esta façanha de entrar com o peixe vivo no Colégio e a negociação com o Cabo do rancho, fomos cumprir as ativi dades previstas para o turno da tarde, como o estudo extraclasse. Como era inverno, tive que ficar com aquela pelerine fedendo a peixe até o final do dia, fato que não passou despercebido pelos demais colegas, pois o fedor era insupor tável. A gozação foi muito grande e divertida.

Quando cheguei em casa, quase apanhei dos meus pais, porque eles perguntaram: –“Que cheiro horrível é este? Cheiro de peixe, horrível! Por onde tu andaste? No mercado pú blico? Que história é essa”? Bem, não tive outra alternativa a não ser contar a verdade. Meus pais me recriminaram por pescar um peixe em lugar público e proibido.

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Revista Life Inage Indio - fonte: pinterest.com

de um dicionário, inclusive um dicionário velho, que o pai tinha usado para fazer o exame do Es tado Maior. Eu lembro que ele não tinha nem a capa. Mas, também, naquela oportunidade não me foi dado tempo para esclarecer, totalmente, as minhas afirmações. Portanto, fica aí marca

| O MILAGRE DOS PÃES

Era o ano de 1971. Sob um sol do meio-dia e em formação, aguardávamos a ordem de debandar para entrar no rancho. Vínhamos de uma instrução do CFR e a fome era MUITO gran de! Para mim, que não era interno, almoçar no rancho não era comum, mas já acontecera ao longo daqueles seis anos de CM.

Ordem dada, correria para pegar os pratos e entrar na fila. Mas, tão logo entrei, senti aquele cheiro inconfundível de algo que meu estôma go não gostava. Sim, lá estavam os panelões cheios de dobradinha, mondongo, tripa gorda, bucho ou o nome que quiserem dar para aque la gororoba. O vapor que saía das panelas des tampadas invadia todo o recinto do rancho e deixava os azulejos das paredes com uma umi dade pegajosa.

Os olhos viram, o nariz sentiu e o estômago refugou, mas a fome desesperadora pedia por alguma coisa. Minha vez de encher o prato che gava... Desespero! Sem outra alternativa, lem bro-me de ter pedido ao soldado:

– “Carrega no molho!”

Mas seu preparo para seguir um padrão fez com que despejasse no meu prato fundo aque

| O DIA EM QUE A BANDA SUMIU

Nos idos dos anos 70, duas grandes orques tras eram de conhecimento público no Rio Grande do Sul: A OSPA (Orquestra Sinfônica de Porto Alegre) e a OSSO (Orquestra Sinfônica do Sargento Onofre).

da a minha vingança por aqueles que riram de mim, claro tudo no bom sentido, e que hoje de vem estar encarando esse tipo de história com um pouco mais de zelo.

le monte de tripas e outras coisas, assim como fazia com todos os demais da fila, não tomando o menor conhecimento do meu pedido.

Procurei um lugar na mesa entre os colegas que já se lançavam ávidos àquela “iguaria”, co lherada após colherada. O nariz tentava não res pirar, os olhos repugnavam, o estômago tam bém, mas a fome já não falava alto, gritava!

Foi, então, que olhei para o pãozinho e uma luz iluminou minha mente atormentada. É isso, pensei! Pão molhado no molho! Salvação, já não morreria de fome.

Antes que os colegas devorassem seus pães, iniciei uma negociação que, tenho certe za, arrancaria um elogio do meu conceituado professor da cadeira de “Negociação” do curso de MBA, da Fundação Getúlio Vargas, que faria muitos anos depois. O negócio era trocar pão pelo conteúdo, digamos assim, sólido do meu prato. Eu despejava uma poção de mondongo no prato de um colega e recebia seu pão em troca (às vezes, só meio pão...). Feito! Negociado isso com dois ou três, e lá estava eu, novamen te, pronto para a vida, pronto para as atividades que a tarde nos reservava.

O Sargento Onofre era o mestre e regente da Osso, figura cordata e muito pacienciosa. Em função deste temperamento, não era muito res peitado ou temido pela gang de maliciosos e preguiçosos elementos que adentram à banda em busca de dispensa de ordem unida e menos

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atenção a itens como cabelo cortado, fivela do cinto brilhante, coturnos engraxados e camisa para dentro das calças.

Os ensaios eram sempre feitos na sala de música, onde eram passadas e repassadas as partituras das marchas militares e alguma músi ca da moda que pudesse ser adaptada ao nosso ritmo.

Quando a música fluía aceitável, com todos sentados, íamos para o Parque da Redenção para treinar, tocar e marchar ao mesmo tempo.

Uma bela tarde, antes da dispensa do dia, fo mos marchar na Redenção com o Sargento na testa da tropa, com movimentos de batuta de cima para baixo, com o fim de marcar a cadên cia que era dada pelo bumbo.

A tarde era de um calor insuportável e mar char e tocar ao mesmo tempo ficou um suplí cio. Foi quando, ao entrarmos nas áreas arbo rizadas, iniciamos um movimento orquestrado

(desculpem a redundância) e começamos a debandar um a um, partindo das fileiras da retaguarda com os metais (cornetão, clarim e piston), já que estávamos apenas no ritmo da percussão (surdo, caixa, tarol e bumbo).

O movimento continuou silencioso até so brar apenas o bumbo! O Sargento, que ficava de costas para o grupamento, apenas se fixou na batida do bumbo, mas, lá pelas tantas, deve ter estranhado a falta da caixa e do tarol. Então, de cima de toda a sua autoridade, ordenou: – “Banda, Alto!”. E se virou...

Imaginem a cara de espanto por notar que somente o bumbo não tinha desertado!

No dia seguinte, a nossa punição, já que sua alma bondosa não deu “parte” dos vagabundos dos seus músicos, foi: Ensaio sábados pela manhã por um mês!

| BAILE DA SAUDADE – NÃO DEU PRA TI

Acabei lembrando de uma das histórias que marcaram meu período de CM e não mais a esqueci. No Baile da Saudade, em dezembro de 1972, nós, de calça garança e túnica branca, com botões dourados e golas azuis, verdadeiros príncipes de cabelo cadete em busca de um par perfeito para a grande noite. Conjunto ao vivo, tocando Renato e seus Blue Caps, inspirava os bailarinos.

À época, eu era meio prejudicado, vertical mente, com meus 1,58-1,60m, e visualizei uma beldade, languidamente sentada, com certo ar de enfado. Pensei: “É porque ninguém teve co

ragem ou deve ter dado o bolo em vários co legas”. Me enchi de coragem e imaginei que, comigo, certamente seria diferente!

Respirei fundo e iniciei a marcha atlética até a mesa da deusa.

Chegando lá, olhei firme e disparei a pergunta de praxe: – ‘‘Vamos dançar?’’.

Ó suprema realização, ela olhou para mim e levantou!

E não parou mais de levantar. Para meu de sespero, ela devia ter uns 1,80m e eu dava abai xo do pescoço dela!

De cima do décimo andar, ela olhou para baixo e, com um sorriso complacente, disse:

– “Acho que não vai dar, né?“.

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Grossi

AMASSOS NAS ARCADAS

Lembrei de uma passagem minha, ano 1971, quando o CM realizava bailes no Salão Brasil (onde, muitos sábados de manhã, dormi enrolado na pelerine e de óculos de som bra, se a palestra era chata e a noitada de sexta-feira tinha sido forte).

Mas me tocou estar de serviço no sábado (Sargento Aluno de Dia), logo no dia da festa. Que fazer! Mas o pior é que recebi ordens de coibir os amassos nas galerias e arcadas, “no escurinho“. O que significa va cumprir uma ordem contra os meus princípios (adorava um amasso nas VO, nas arca das). Antevi um sábado de noi te catastrófico!

Chegou o dia e, como eu prezava a hierarquia e antigui dade, sendo meu Cabo de Dia mais novo que eu, o Cenouri nha, foi encarregado de não permitir namoros nas arcadas, sem muita eficiência e incidên cia. Estava mais tranquilo e não passaria vergonha frente aos parceiros de arcadas. Come çou a festa, eu de uniforme de instrução, capacete azul, cinto NA, braçadeira de Sargento de Dia, botas e esporas alumian do, na porta do salão, com jeito de infeliz, vendo a turma dançar.

Para completar o quadro, avisto uma gata, “flor de linda”, que fazia tempos que eu pa querava! Pensei: “Se foi a égua com os arreios!”. Mas Deus es creve certo por linhas tortas.

A guria deve ter ficado com pena da minha cara de infeliz e se aproximou para onde eu estava e veio conversar. Expli quei que estava de serviço e não podia dançar. Para minha surpresa, ela disse: – “Então es tou de serviço contigo”! “Bah, aquela gatinha linda no meu costado e eu maneado”. Pen sei: “Vale o risco”!

Pedi ao meu fiel Cabo de Dia que ficasse de sobreaviso e convidei a guria para dançar no segundo andar, nas arcadas frente ao Salão de Honra. Ela adorou a pequena aventura e foi minha namorada. Se o Ofi cial de Dia me pegasse, seria cadeia na certa. Mas valeu o risco.

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DOM PEDRO I E AS ROSAS DA CAVALARIA DO PADRE

Cavalarianos!!! Lembram quando os ossos de Dom Pedro I vieram em definitivo para o Brasil?

Eu fiz parte de uma comitiva que, com os cavalos do CPOR, fez o cortejo do aeroporto até o Palácio Piratini.

Pois é, foi a 1ª vez que eu tive “ROSAS DA CAVALARIA” das brabas.

O cavalo que me deram acho que era man co das pernas e tinha o trote, totalmente, lateral. Imagina a “busanfa” como ficou!!!

Seguimos juntos, do Aeroporto à Catedral, a galope e trote, na frente de um carro de com bate. Éramos onze em cavalos tostados, joelho

roçando no do guerreiro do lado, com as ban deiras históricas!!! Superamos dor e fadiga, pois treinávamos de tarde e de manhã, tínhamos prova e, portanto, só sobrava a noite para estu dar. É como eu sempre digo: fomos uma gera ção aguerrida e, brincando e rindo, cumpríamos qualquer missão.

Desafio esta geração de hoje a tocar do Ae roporto à Matriz, a galope, emassado joelho a joelho e alinhado com a cavalhada cadenciada!!! Lembrança que muito deve nos orgulhar.

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Cantão

O RETORNO

Entrar para o CMPA foi um sonho acalentado de minha infância, vivida no meu inesquecível 12º RC, acompanhando meu pai nas manobras a cavalo, aos sábados, levando os cavalos de polo para banhar no arroio Bagé, assistindo, ex tasiado, o carrossel noturno, com archotes nas lanças na Carriere. Ver um Regimento com seus cinco esquadrões hipo, (três de fuzileiros, um de comando e um de petrechos), deslocando-se em marcha, ou fazendo transposição de curso da água, ou realizando a manobra retroativa, re cuando pelotão a pelotão.

As ações de 1964. Entrar no portão do CM foi a realização de um sonho. Na quarta série ginasial, não consegui passar em desenho Ge ométrico com o Cel. Vinholo, sempre fui burro para as Ciências Exatas. A vergonha de ser repe tente me fez pedir desligamento do CM. Fiz exa me na matéria em fevereiro no IPA (desenho) e passei com 9,8.

Eu que não consegui mais de 5 com o Cel. Vinholo. Em março, no primeiro dia de aula, em um ambiente totalmente diferente, o professor

entrou em aula e eu, instintivamente, tomei posição de sentido, sobre o olhar curioso dos novos colegas. Era um peixe fora d’água, com sabor de derrota! Minha mãe percebeu que eu me encerrava no quarto para chorar. Ela me per guntou: – “Tu queres voltar”? Eu disse que sim! Ela foi falar com o Cel. Túlio, que respondeu: –“Ele que corte o cabelo, se farde e, amanhã, se apresente para mim”! No outro dia me apresen tei e o Cel. disse: – “Estou te recebendo de novo, não me decepciona”! (Tenho certeza que não o decepcionei, meu grande chefe).

A satisfação de voltar ao meu mundo, mes mo repetindo ano, foi maravilhosa. E, naquele ano, foram instituídas as armas no CFR e eu con segui ser voluntário na Cavalaria, onde vivi três anos maravilhosos de minha vida.

Eu saí do CM e do Esquadrão, mas o CM e o Esquadrão nunca mais saíram de minha vida. Agradeço a Deus de ter tido a honra de ser aluno do CMPA.

| É DE PEQUENO QUE SE

TORCE O PEPINO

Entrei no CMPA em 1966, através de concur so de admissão. Meu pai também deve ter feito concurso, pois, neste mesmo ano, foi transferido do 18º BI para o CMPA. Não sei o que foi mais di fícil, se era a vida do CM ou ter o pai no meu pé. Se não passava marchando direito na formatura, levava um “esporro” quando chegava em casa.

Durante os sete anos, fui punido uma vez por ter brigado com um companheiro. Não me lembro bem o tipo de punição, acho que fiquei final de semana no CM.

Quem escreveu a parte foi meu pai, que estava de Oficial de Dia na ocasião em que bri guei. Só não achei justo ser punido em casa, também pela mesma falta. Naquele tempo, não sabia que existia STF. O CMPA foi, extremamen te, importante na minha vida, quer pelo ensino, preparação para a vida, pelos companheiros, pela primeira namorada, que conheci em um dos disputados bailes, e por ter me possibilitado ter ingressado na AMAN.

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O “AUTORAMA”

Em 1967, eu fazia parte de uma banda com colegas do Colégio Militar de Porto Alegre. A gente tocava Roberto Carlos, Renato & Seus Blue Caps, enfim, o iê iê iê da Jovem Guarda da época. Foi assim que um outro legionário da 1Cia convidou a nossa banda para a festa de 15 anos de sua namorada.

O aniversário foi divertido, num apartamen to no bairro Gasômetro. À época, bebia-se mui

O nosso passeio festivo só foi interrompido quando passamos na frente de um quartel da PE, que havia na esquina da Duque com a ave nida João Pessoa. Os soldados não gostaram do que viram e nos detiveram.

Não ficamos muito tempo no quartel. Logo nos identificamos como alunos do Colégio Mili tar, e os soldados ainda resolveram nos dar uma carona. Colocaram Álvares, Grossi, Lira e eu na traseira de uma caminhonete e nos entregaram no portão da guarda do CM.

Depois da festa, saímos em direção ao CMPA. Eu era interno, vinha do Interior, mal conhecia as ruas de Porto Alegre. Mas caminhamos muito. Ainda sob a inspiração das cubas, a gente se di vertia e cantava.

Na altura da Rua Duque de Caxias, me cha mou a atenção o que parecia ser um gigantesco autorama. A imagem daquele autorama fora do comum ficou na memória. E seguimos pela rua, cantando e rindo de tudo que vinha pela frente.

Antigo quartel da PE na esquina da Rua Duque de Caxias com Av. João Pessoa

Era o tal autorama gigantesco que havia me deixado perplexo em 1967.

Na verdade, era a Avenida Borges de Medei ros, passando por baixo do Viaduto Otávio Ro cha. Como falei, foram vários copos de cuba.

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Independência
AA Dubois

UM BOI POR UMA PERNA

Aluno de Colégio Militar sempre foi exigido fisicamente, visando otimizar as condições físi cas e psíquicas, proporcionando melhor rendi mento escolar. As atividades físicas regulares e a faixa de idade, em torno de dezoito anos, nos deixava com a fome em alto nível. Para contornar este fato, surgiam algumas soluções dos criativos baleiros – refeições na casa de algum colega (o mais frequente), de conhecidos diversos, apoio na rede de restaurantes locais, notadamente no agradável “Bar do Beto”, tratado nesta publicação em texto específico. Os radares permaneciam, constantemente, em atividade.

Um tiro de largada aconteceu num domin go de 1970, dia com sol radiante, quando nos reunimos para a incursão de acalmar o estôma go “já no espinhaço”.

A recém inaugurada Rodoviária (junho de 1970) possuía uma churrascaria de padrão, apre sentando o inédito sistema Espeto Corrido. Era pioneira com esse sistema na capital. Comer à vontade por um preço fixo? Aquilo seria uma so lução inimaginável; um verdadeiro pulo do gato.

Nos reunimos, então, em três “assaltantes”: eu, o interno Leitune e o, também interno, meu colega-irmão 87 Sebastião. Este acabava de sair comigo de um estafante treino de Atletismo no Inter, onde éramos sócios-atletas. Nos prepará vamos para a II Olimpíada dos Colégios Milita res, em Belo Horizonte.

A Ação no Objetivo foi precedida de um mi nucioso planejamento, desde o jejum no café. Seguimos todos os passos, judiciosamente:

1. Eu e o Sebas saímos do pesado treino. Ele de salto em altura e triplo.

2. Passamos no Colégio, onde o Leitune fazia um “extra” no Curso de Preparação para o Exame de Admissão, do qual éramos monitores.

3. Uns pingos de perfume Lancaster depois e vestindo, orgulhosamente, uma pantalona,

4. Partimos para nosso objetivo de saciar a fome na já famosa “Churrascaria Gauchão”, re centemente inaugurada.

5. E, lá, chegamos às 11h. Fomos os primei ros naquele enorme salão, pleno de motivos gauchescos. Na minha frente, um enorme qua dro de um boi Angus Red, que combinamos “comer por uma perna”.

Observação: Lamentável descuido! Em vir tude da pressa para sair, não confirmarmos se todas as guaiacas estavam cheias.

Cheiro de óleo diesel dos ônibus Ouro e Pra ta misturava-se com o aroma vindo da churras queira. Na copa, os garçons, ainda destreinados, chegavam atrasados e correndo para pegar os espetos e saciar aqueles vorazes.

As reações foram diferenciadas: o Sebas tos siu duas vezes, acho que meio afogado com a saliva; o Leitune arrastou a barulhenta cadeira para alertar o pessoal da carne e pedi um suco para preparar o combate e “regular a lenta”.

Então, começou uma disputa pelos melho res pedaços que nos apresentavam. Os pedidos de carne se sucediam, para o espanto dos gar çons. Fiquei muito à vontade com os colabo radores, vestidos a caráter. Estava na cabeceira mais próxima à churrasqueira. Todos pedidos eram feitos por mim, como se fosse o “mais ca rente” – fiquei famoso.

A cassata do tipo napolitano estava sensa cional, o que nos levou a repetir algumas vezes – sabe-se que em restaurantes a sobremesa é bem dispendiosa.

Próximo às 16h, quando os raros garçons começavam a virar as cadeiras, o colaborador mais afoito, com certo ar de desafio, disse que na próxima cobraria dobrado para não darmos prejuízo. Dirigiu-se, especialmente, a mim e ofe receu um sonrisal.

Foi excelente, mas o final do almoço foi mar cado por uma surpresa:

Não tínhamos dinheiro suficiente para a conta, o que o Leitune resolveu com o que re cebera na sexta-feira do Primário.

Aprendemos o “caminho das pedras” e com a devida propaganda, reincidimos mais tarde, desta feita em cinco: eu, Sebas, Leitune, Jader e Ari.

Hoje me ocorre que alguém com nosso espírito deve ter frequentado a Churrascaria Gauchão, pois fechou... (risos).

A Rodoviária foi construída na gestão do prefeito Telmo Thompson Flores. Seu governo foi caracterizado por grandes obras, em especial na área dos transportes, desativando o bonde e incentivando o transporte automotivo, com a construção de seis viadutos, a inauguração do “Parcão”, da rodoviária e a construção do Muro da Mauá. Foi sucedido por Villela, em 1975.

O governador do Estado, nesta época, era Peracchi Barcelos.

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AA Aita

FRASES QUE FICARAM NA HISTÓRIA

– “Amanhã não harará aula”. (Tenente…)

– “…me faz um favor. Fecha a porta da sala… pelo lado de fora”. (João, Louco)

– “…faz uma linha reta no quadro, continua, con tinua… aproveita e fecha a porta…”. (Motorzinho)

– “A Maria Stuart? A Maria Stuart era uma p…”. (Teixeira Leite)

– “Parecem umas normalistas na passarela”. (Sargento…)

– “Um, dois, três, quatro Barriga pra dentro, peito pra fora, Olha pra frente, não olha pra baixo Queixo pra cima, cara de macho. Um. Dois”.

(Subtenente Honofre)

– “À minha direita, mérito. À minha esquerda, de mérito”.

(Coronel Túlio Chagas Nogueira)

CURSO PRIMÁRIO

– “Quem pregou o apagador no teto?”. (autor desconhecido)

– “Para não esquecer mais, copia 100 vezes, no caderno, o poema “O Mar”, de Casemiro de Abreu”.

(Coronel Cairolli)

– “Só pra constar”. (Sargento Tavares, tomando nota do número do aluno)

– “M… manca”. (autor nem tanto desconhecido) Naquela quarta-feira era almoço obrigatório. Parte da turma entrou em forma de calça cáqui. Outra parte de calça garance. O Sgt. Peter não gostou e, com aquele sotaque do interior, foi bem claro:

– “As formaturas para o rancho, nas quartas-fei ras, são de calça cáqui! Daqui pra frente ninguém mais me come de calça garance!”. •••

O chamado Curso Primário ini ciou as atividades em 1971. Foi re sultado de um grande esforço pes soal do Ten. Cel. Constantino, nosso professor de Português, que obteve o apoio do Comandante do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA) o, en tão, Cel. Túlio Chagas Nogueira. Este curso mantinha duas séries, 4ª e 5ª do Primário, conforme a antiga estrutura educacional nacional. Por ser um cur so que, também, preparava para o in

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gresso no CMPA ficou, afetivamente, conhecido como CPREP.

Sob a direção do Ten. Cel. Constantino, o corpo docente era formado por professores convidados, civis e militares, e por alunos do 2º e 3° ano científico que desempenhavam o pa pel de monitores.

Uma grande parte dos monitores era com posta por colegas da nossa turma. Éram jovens em torno de 17/18 anos que assumiram a dig nificante missão de transmitir valores, controlar as turmas, mantê-las disciplinadas, bem unifor

| CURSO DE PREPARAÇÃO AO

GINÁSIO

Depoimento da Sra. Malena, esposa do Prof. Constantino

O Constantino era, por excelência, um pro fessor, uma pessoa voltada a transmitir conheci mento. Era, também, um tanto quanto apaixo nado pela hierarquia e pela disciplina. Ao reunir essas duas paixões no magistério militar, já na qualidade de Tenente Coronel, bem experien te na sua atividade, dispunha de tempo ocioso pelas tardes semanais. Teve vários convites para ministrar aulas em cursos pré-vestibulares e pre paratórios ao Colégio Militar.

Tinha um receio, no entanto, perda da dis ciplina e da hierarquia, e liberalidade de carac terísticas na vida civil, razões pelas quais nunca aceitou tais convites.

Nesta época em que eu finalizava o curso de pedagogia na Universidade Federal, ele me expla nou sua vontade de criar um curso primário de boa qualidade de ensino e que, também, fosse um curso preparatório aos colégios militares. Cumpre ressaltar que, nesta época, mantínhamos, em nos sa residência, um curso preparatório, dentro da in formalidade, preparando alunos para acessarem o Casarão da Várzea. De pronto, achei a ideia ótima, mas grande demais para a nossa capacidade.

Ele não era homem de desistir e acabou por me convencer. As dificuldades, então, come

mizadas e até ministrar instruções de Ordem Unida.

Se por um lado éramos disciplinadores, por outro lado tínhamos a grande responsabilidade de servir de exemplo. Valores como correção de atitudes, integridade, disciplina conscien te, apresentação pessoal impecável, liderança eram observados em nós pelos nossos alunos. Tínhamos ciência que éramos referência para eles. Tudo isso contribuiu, também, para a consolidação da nossa personalidade.

çaram a aparecer: local, nome, autorização da Secretaria de Educação, professores, material, equipamento escolares, pessoal discente e ati nências.

Para fortalecer nosso trabalho, nos cercamos de mais três pessoas que se dispuseram a nos ajudar: professora Eneida, professora Eloah e o Sr. Mário. O projeto, que já estava em anda mento, deslanchou, e a passos largos, haja vis ta a Secretaria de Educação autorizar o curso e o currículo, com metodologia criada por ele e com retoques e complementos propostos pe las três professoras Maria Helena, Eloah e Enei da. Também convidados a participar, o Capitão Carvalho e o senhor Mário formularam o proje to da administração, juntando-se a eles, poste riormente, o aluno Leitune.

Vencida toda a parte burocrática, adminis trativa, a metodologia, currículo, aprovações, razão social, o que demandou mais de ano, encontramos nossa última e maior dificuldade: não tínhamos patrocínio e nem economias para financiar o espaço físico e os materiais e equi pamentos necessários para implantar o curso. Nesse momento, aquele que iria ser o nosso genro, o aluno Paulo Dias, ainda que de brinca deira, sugeriu que ocupássemos as dependên cias do Colégio Militar de Porto Alegre.

Muito otimista como sempre foi, o Constan tino tomou a termo a sugestão e consultou o

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Capitão Carvalho a respeito, que sinalizou posi tivamente quanto ao aspecto físico, dependên cias, diversos equipamentos e assemelhados. Pelas tardes, havia muitas salas ociosas, que po diam ser, perfeitamente, ocupadas no segundo andar, fundos, o pátio e quadras de esporte, além da Redenção.

Numa noite de sábado, convidamos o Co ronel Comandante e esposa para um jantar em nossa casa e, após algumas taças de vinho, já bem descontraídos, apresentamos-lhe a nossa proposta e projeto. Extremamente acessível, o Coronel Túlio aceitou a ideia, mas estava muito receoso quanto às consequências disciplinares, responsabilidades e aspectos jurídicos perti nentes. Num ato de coragem, tomou para si os efeitos e autorizou o funcionamento do CPREP, emprestando-nos o nome do Colégio Militar, sua credibilidade, dependências e facilitando tudo quanto foi possível. Esse desapego e co ragem não veio a se confirmar nos comandos posteriores, o que nos obrigou a alugar um

prédio na Rua dos Andradas onde funcionou o Instituto Educacional Andradas, nos mesmos moldes do primário do CPREP. O corpo discen te se compunha, então, pelo Capitão Carvalho, senhor Mário, soldado Victor e aluno Leitune. Como não pudemos dispor dos Sargentos do Colégio Militar, o Constantino convidou vários alunos do segundo e terceiro ano científico, alfa legionários, para monitorar as turmas, remune rando os monitores monetariamente. Professo res do próprio colégio foram convidados a mi nistrar aulas, assim como tantos outros civis.

Criou-se um sonho e o Constantino o fez acontecer, com muito sucesso, prazer e dedica ção; deu preocupação, houve problemas, dis tensões, todavia a positividade, a felicidade e a sensação do dever cumprido prevaleceram.

Ainda hoje, eventualmente, encontro um ou outro aluno que lá estudou e que ingressaram no ginásio do CM depois de uma passagem pelo CPREP.

PREPARAÇÃO PARA A SAÍDA DO COLÉGIO

Basta apenas que seja ci tado o nome do Colégio para que a sua vocação de formar, ou preparar, alunos para a carreira militar seja, imedia tamente, associada a ele. De fato, desde o distante ano de 1807, quando o terreno onde se situa o atual Colégio foi do ado para a construção de um quartel, os anos que se segui ram iriam presenciar as mais diversas instituições voltadas

para o ensino, todas elas com objetivos militares.

Embora a vocação mili tar continuasse associada ao nome, a partir de 1961, os alu nos formados pela escola já não mais visavam, exclusiva mente, seguir a carreira militar. Aparentemente, o objetivo do Colégio era garantir uma for mação adequada aos filhos de militares, trazendo a tran quilidade de uma boa educa

ção e a segurança de uma boa escola àqueles que, por força do ofício, eram transferidos de uma cidade para outra com uma certa frequência.

Assim, buscavam o Colé gio Militar de Porto Alegre, não apenas os filhos de militares re sidentes ou transferidos para o Rio Grande do Sul, que preten diam seguir a mesma carreira do pai, mas buscavam-no, tam bém, aqueles que, almejando

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as difíceis e concorridas vagas nas boas Universidades, sabiam da excelência na formação que encontrariam, passaporte certo para os vestibulares.

Interessante observar que o período em que lá estudamos coincidiu com o auge dos go vernos militares, quando era de se esperar um retorno à priori dade para a formação militar. Paradoxalmente, os comandan tes do Colégio, durante esse pe ríodo, reforçaram, ainda mais, a qualidade do ensino e a ênfase nos valores essenciais para a formação dos futuros cidadãos, embora não se descuidassem da formação militar (hierarquia, respeito, ordem unida etc.). E foram ainda mais longe, trazen do, para o corpo de professores, conceituados professores civis, professores esses que ministra vam nos cursinhos pré-vestibu lares e nas próprias universida des de Porto Alegre.

No ano de 1972, último ano da nossa turma no CM, o Colé gio tomou uma medida inédi ta e que reforça o que acaba mos de comentar, trazendo um grupo de oito estudantes do quinto ano de Psicologia da PUCRS – Pontifícia Universida de Católica do Rio Grande do Sul, que, sob a coordenação do Major Simões, da Secção Psicotécnica, aplicaram uma série de Testes Vocacionais e orientação psicológica.

Mas, de fato, a maior prova de que o Colégio, efetivamen te, nos preparou para a vida fora das suas arcadas foi o des tino daqueles 65 alunos que se formaram em 1972, dos quais, aproximadamente, 35% segui ram a carreira militar e 45% in gressaram nas universidades.

Inesquecíveis as palavras do Comandante do Colégio, Cel. Jonas Correia Neto, dirigi das à nossa turma:

| VISITAS PROPICIADAS PELO COLÉGIO VISANDO NOSSA FORMAÇÃO PROFISSIONAL

As visitas propiciadas pelo CM no nosso úl timo ano, visando proporcionar-nos uma visão dos desafios profissionais que nos aguardavam, me marcaram tanto, que meu primeiro estágio, ainda no primeiro ano da Engenharia Mecânica do UFRGS, foi na Aços Finos Piratini.

Depois de formado, trabalhei com usinas hi drelétricas (influência da visita ao IPH?) e termelé tricas (visita à UT Charqueadas?). Nas festividades dos 50 Anos da Usina Termelétrica de Charquea

“A Turma Sesquicentenário, que ora deixa o Colégio Militar de Porto Alegre, destacou-se entre as muitas que, ultima mente, tem passado neste his tórico quartel-escola. Os profes sores, os instrutores, os colegas – para quem ela foi exemplar – são unânimes em afirmar as qualidades da Turma, em con junto e individualmente. Isso é um prêmio ao seu procedimen to, que a eleva e vai fazê-la sem pre lembrada, com saudade e admiração. É também, princi palmente, mais uma garantia do sucesso que terão os seus integrantes, na vida para a qual tão bem se prepararam e que vão enfrentar com capacidade, ânimo e segurança.

Que Deus a todos ilumine e fortaleça, para que saibam escolher o caminho mais con veniente – e através dele ven çam. Hão de vencer!”.

das, em dezembro de 2011, tive a oportunidade de discursar, mostrando o artigo que havia escri to para a Hyloea 72. Coincidências...

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Memórias da Turma Sesquicentenário da Independência AA Cylon Visita a Aços Finos Piratini e Minas de Carvão

A FORMATURA

A FORMATURA DO ADEUS?

O amanhecer em toda Porto Alegre deixa va observar um horizonte bem definido. O sol surgia por trás dos prédios e formava sombras das árvores da Redenção, sempre algo agradá vel de ser visto. Naquele cenário, logo cedo, em conjunto com as cores do CMPA, constituíam eterna visão a ser perpetuada.

As memórias exatas do que aconteceu são um tanto difusas. Mesmo assim, é possível uma reconstituição do marcante evento, ansiosa mente, aguardado. Os alunos da Turma Sesqui centenário, formandos, estavam agitados.

Naquele dia 14 do mês de dezembro de 1972, o convite era bem claro: marcava para as 9h30min o início da solenidade. O 4º A (definição do uniforme militar) não era a túnica branca, guardada, que estava, para o Baile do Adeus.

Preocupações com a fivela brilhando, posição correta da calça garance, envol vendo a parte de cima do coturno limpo e engraxado, camisa por dentro da calça, posição da boina... Último dia no CMPA, úl timos chamados para “entrar em forma”! O dis positivo pronto para a formatura às 9h30min!

À frente, um pequeno palanque com au toridades militares e civis, ladeadas pelos pro fessores e outros militares. Atrás, enchendo as arcadas que ladeavam a biblioteca do Velho Casarão, nossos familiares e convidados.

Essa seria a última vez que buscaríamos um alinhamento com os colegas ao lado, demons tração de disciplina e organização. Não mais ou viríamos aquelas vozes de comando tão fami liares e que nos acompanharam pelos últimos sete anos: – “Cobrir! Firme! Descansar! Senti do! Não mexe mais!”.

Os exercícios de Ordem Unida, onde os Sar gentos exibiam seus dotes de comando, con duzindo-nos por manobras de “direita volver”,

“alto” etc., por vezes fazendo com que os gru pos de alunos se entrelaçassem, milagrosamen te, sem se chocarem, já iam ficando apenas na memória.

Em silêncio, ouvimos os discursos e presta mos nosso juramento de ex-alunos (mais tarde denominados de AA Antigos Alunos), assisti mos a troca do Porta-Bandeira e desfilamos pela última vez por aquele tão familiar quadrilátero que formava o pátio do Colégio.

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Após a formatura, foi a vez de nos reunirmos para o momento do descerramento da Placa da Turma. Nosso colega, Itacyr Leitune, o 384, leu uma mensagem. O descerramento foi feito pelo Cel. Silvio Mussoi, representante do Paraninfo da Turma, Ministro Jarbas Passarinho, infelizmente, ausente das festividades.

Sob um sol, agora mais quente, os Sargentos tiveram dificuldade para reunir, novamente, a

diploma dos, também muito emocionados, familiares.

Neste momento solene, algo inusitado ocorre: um som de uma narração de um gol

turma, dessa vez, para a foto oficial de formatura. Imagem clássica da Turma, naquela arquibanca da, como que relutando em dispersarmos...

A noite chegou e, mais uma vez, lá estava a Turma, distribuída em arquibancadas em frente à Biblioteca, dessa vez, para a solenidade de en trega dos diplomas.

Nosso colega Fábio Gomes, o 388, escolhi do orador da turma, proferiu um esplêndido discurso, que viria se mostrar como atemporal, assim como o é a nossa Turma.

Emocionados, escutávamos os nomes de cada um serem chamados e recebíamos o

saindo de um rádio de pilha, dissimuladamente, guardado no interior do bolso da túnica branca de um dos formandos. Ao longo da solenidade, foram narrados outros quatro gols. O jogo era do Campeonato Brasileiro de 1972, entre Fla mengo e Internacional, vencido pelo Inter por 3x1. Esse foi o toque de humor e descontração para aquele momento tão sério e solene. Coisas da nossa turma...

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Na manhã seguinte, a igreja Santa Terezinha, vizinha do Colégio e, para muitos, passagem obrigatória no caminho diário para as aulas, fi cou lotada para a Missa de Ação de Graças.

À noite, o tradicional “Baile do Adeus”, reali zado na Sociedade Gondoleiros, com animação por conta da Banda Renato e Seus Blue Caps.

No imaginário, hoje, interessante afirmar que a “Formatura do Adeus” não foi realidade! Igual

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mente, o “Baile do Adeus” também não ocorreu, assim, com esse nome. Tudo, menos adeus!

Os nomes dos eventos insistiam em finalizar essa relação do CMPA com os Alunos de 1972, coisa que, estranhamente, não aconteceu!

HOMENAGEM

AOS NOSSOS

PROFESSORES, INSTRUTORES, MONITORES E COLABORADORES

Durante os sete anos que permanecemos no nosso amado Colégio Militar de Porto Ale gre (CMPA), tivemos a oportunidade de sermos ensinados, orientados e liderados por professo res, instrutores, monitores e diversos colabora dores, desde funcionários civis e prestadores de serviços até as psicólogas que nos deram aten dimento pessoal e orientação para escolha da profissão.

Desde meninos, em 1966, até adolescentes/ jovens em 1972, tivemos a nossa personalidade sendo fortalecida pelas sempre sóbrias, sensa tas e pertinentes orientações recebidas em si tuações as mais diversas e peculiares. Se hoje somos homens com sólida e distinta educação, muito devemos a essas pessoas que se fizeram presentes. Muitos marcaram de forma diferente

as nossas vidas e, particularmente, ainda lem bramos e sempre os lembraremos com carinho e saudade. Alguns já não estão conosco (de saudosa memória), mas a lembrança e a grati dão são eternas!

É uma grande quantidade de pessoas que, se fôssemos citar nominalmente, correríamos o risco de cometer a injustiça de esquecer algum nome. Assim, decidimos evocar todas essas pessoas, que tanto nos ajudaram, citando nos sos homenageados na revista Hyloea de 1972, ano de nossa formatura e, dessa forma, trans corridos 50 anos, rendermos o nosso preito de gratidão extensivo a todos os demais.

Fica, pois, o registro do nosso profundo agra decimento pela dedicação a nós dispensada!

• Cel. José Plácido de Castro Nogueira;

• Cel. José Paiva Portinho;

• Cel. Túlio Chagas Nogueira;

• Cel. Jonas de Moraes Corrêa Neto.

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| OS
COMANDANTES

HOMENAGEADOS DE HONRA

• Cel. Prof. Cyrino Machado de Oliveira;

• Ten. Cel. Prof. João Borges da Costa;

• Ten. Cel. Prof. Ivo de Castro Constantino.

| HOMENAGEADOS ESPECIAIS

• Cap. Inf. José Carlos Codevilla Pinheiro;

• Cap. Cav. Francisco de Paula Barcellos da Silva;

• Cap. Art. Alexandre Renê Mascarello;

• Cap. Art. João Uchoa Menegatti;

• Sub. Ten. Inf. Cláudio Dispessel da Silva;

• 2º Sgt. Inf. Irineo Schirmer;

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PLACA DA TURMA

Registrar as turmas que, anualmente, con cluem o curso colegial, em placas de bronze fixadas nas arcadas do Velho Casarão da Várzea, é uma prática desde os tempos em que era Es cola Preparatória.

Não foi diferente com a nossa, a Turma Ses quicentenário da Independência.

As formaturas, naquela época, não eram programadas com anos de antecedência e os custos envolvidos em todos os eventos come morativos e publicações deveriam ser absorvi dos pelo próprio colégio, pela SEL ou por patro cínios. Não foi diferente com nossa turma.

Não havia verba para a confecção da placa e a solução encontrada foi a de tantas outras turmas que nos antecederam: buscar a fundi ção do Arsenal de Guerra de General Câmara e contar com a boa vontade de seu Comandante para a execução gratuita da placa.

Fomos a General Câmara acompanhados do Cap. Rodrigues em um jipe da CCS. Na frente, o motorista e o Capitão, e eu atrás, sentado, dire tamente, sobre o para-lamas.

• 2º Sgt. Inf. Wilson Ivo Zanini;

• 2º Sgt. Inf. Antônio Carlos Garrido Feijó;

• Maj. R/1 Mário Dias de Castro;

• Ten. Cel. R/1 Horizontino Sittoni Filho;

• Dr. José Antônio Hann;

• Prof. Túlio Paulo Ordovaz Santos.

Saímos pela manhã e retornamos à tarde. Viagem difícil, voltei mais lesionado do que em uma tarde inteira de instrução na hípica, no lombo de um cavalo com vontade própria.

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Conseguimos que o Arsenal produzisse a placa, mas não da forma como desejávamos. Havia restrição quanto ao tamanho da placa em função da quantidade de matéria prima neces sária. Para viabilizar, seria necessário abreviar os nomes, constando apenas o primeiro e o último nome de cada um, e a primeira letra dos nomes intermediários. Concordamos, pois, enfim, tería mos uma placa, mesmo não sendo a ideal.

Ao receber a placa, fomos surpreendidos com uma situação que não havíamos previsto. Nossos colegas gêmeos, Pithan, têm exatamen te o mesmo primeiro nome e as mesmas letras intermediárias. Temos, desta forma, na placa dois Luiz A R Pithan.

Mesmo com esta peculiaridade, a placa fi cou boa e podemos, assim, guardar a memória de nossa turma.

DISCURSO DE DESCERRAMENTO DA PLACA DE FORMATURA

O Colégio Militar não termina aqui, nesta solenidade. Sete anos de vida não podem ser apagados, pois marcaram fundo nossa personalidade e sempre em nossas atividades, como militares ou como civis, sentiremos o efeito da disciplina e da ordem que nos foram ensinados no velho Casarão da Várzea.

Se colocássemos numa placa o que sentimos neste mo mento, as pessoas que gostaríamos de homenagear, os agrade cimentos, talvez as arcadas do colégio não seriam suficiente mente grandes para contê-la.

Nesse momento, sentimentos se embaralham: felicidade, pesar, alegria e até saudades. Mas como descrever isso? Só quem já partilhou com estas arcadas seus segredos, que em noites de chuva ouviu suas estórias pode entender o que sen timos agora Colegas… É necessário que permaneçamos unidos, sempre unidos, cada vez mais unidos, em qualquer circuns tância e a despeito de tudo, dentro de uma mentalidade for mada em sete anos de Colégio Militar.

É necessário, confiança e lealdade, de uns para com ou tros; é necessário que se acredite no camarada, pois esta é sem dúvida a grande força que tem servido de sustentáculo ao desenvolvimento das nações livres.

Quando nos encontrarmos novamente e, já com o as pecto vigoroso apagado pelo tempo, como velhos rochedos bati dos pela tempestade, lembrar-nos-emos deste momento em que mil sonhos atravessam nossa mente e a maldade humana nos espanta, veremos então que mesmo na corrente conturbada em que nadamos, foi possível construir um barco que desafia os mais poderosos inimigos e as mais terríveis tempestades.

E, nesta placa de bronze fica gravada, para a pos teridade, a passagem pelo colégio da turma “Sesquicentenário da Independência”, que deu o máximo de si para preservar as tradições do colégio e cujos integrantes levarão para a vida todos os ensinamentos colhidos destes anos de convivência.

Só nos resta agradecer a todos que nos auxiliaram a perder o medo de enfrentar a vida. Aos nossos professores desde a primeira série até o terceiro colegial, a todos nossos instrutores, nossos pais os mais profundos sentimentos de ter nura e gratidão.

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AA Leitune

Discurso de Formatura (AA

Sr. Cel. Comandante do Colégio Militar de Porto Alegre, Sr. Cel. Jonas de Moraes Correia Neto. Srs. Oficiais, Senhoras, Senhores e Senhoritas aqui presentes.

O homem, por mais que se orgulhe daquilo que sabe, por mais que se orgulhe daquilo que pode, no fundo do seu coração e da sua inteligência, só alcança o mistério da sua ignorância. E, a partir do momento em que cada indivíduo toma consciência de sua falta de conhecimentos, faz desencadear, dentro de si, a mais árdua e mais antiga luta que já existiu: a luta entre a sabedoria e a ignorância. E na nossa época, graças a Deus, o homem passa, cada vez mais, a valer aquilo que sabe; parece que a ignorância está levando uma pequena desvantagem.

Só há uma maneira de fazer com que o povo se torne livre: é fazendo com que ele se torne culto! E nesta nobre tarefa de transmitir conhecimento libertador, o principal per sonagem sempre permanece oculto, como que embuçado no manto da sabedoria.

Se o Brasil, atualmente, segue com passos de gigante em busca de um progresso que sem dúvida nenhuma o fará bre vemente um dos países mais desenvolvidos do mundo, alguém deve ter orientado muito bem os responsáveis por esse desen volvimento. E não nos é difícil apontar muitos exemplos! – Duvido que alguém nos diga quem foram os mestres responsáveis pela orientação do nosso Presidente, dos nossos Ministros, dos Diretores de Empresas, enfim, os mes tres daqueles que impulsionam a máquina que faz nosso país progredir. Onde estão os mestres de nossos líderes? Ninguém deve falar deles!

Por esses motivos, a Turma Sesquicentenário da Independência do Brasil não poderia deixar de fazer uma homenagem àqueles que foram, ao longo de sete anos, nossos orientadores, muitas vezes pais, muitas vezes irmãos. Não sei se os comparo a um rio, do qual todos tiram água para matar a sede de saber; rio este, cujo destino é di fundir-se no mar do esquecimento.

Não sei se os comparo à lua, que nas trevas da ignorância ilumina a nossa mente, mas desaparece para cada um de nós quando raia para nós um sol chamado fama. Não sei se os comparo à chuva, que dá vida à semente, mas que é esquecida quando os frutos amadurecem.

O que sei é que mesmo que esse rio se difunda no mar, nunca esquecerei que a grandiosidade desse mar é devida à afluência de humildes rios.

O que sei é que se um dia um raio de sol da fama me atingir, lembrarei sempre que antes deste dia houve uma noite e que nessa noite só me foi possível caminhar graças à luz da lua.

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Memórias da Turma Sesquicentenário da Independência

O que sei é que o dia em que amadurecer, estarei sempre lembrando que as minhas sementes também necessita rão da água da chuva para germinarem.

Obrigado, mestre. Obrigado pelo que fizeram por nós e pelo que ainda farão por aqueles que irão nos suceder.

Minha Pátria Querida!

Heróis corajosos vencem as guerras lutando!

Heróis corajosos e sábios vencem as guerras sem lutar.

Povos do mundo! Olhai o exemplo da minha terra. Produzi, antes que se faça tarde, homens que sejam heróis, sejam corajosos e que sejam sábios.

No país onde tivemos a felicidade de nascer, não faltaram heróis que corajosamente derramaram seu sangue pela Pátria, quando tal ato se fez necessário. Mas, também, não faltaram heróis que sabiamente evitaram o derra mamento de sangue, sempre que foi possível.

Os nossos heróis nunca tiveram motivos para se envergonharem da vitória!

Colegas! Os alicerces que sustentam moralmente a nossa Pátria foram construídos com solidez por nossos an tepassados, e cabe a cada um de nós, seus sucessores, não agirmos como micróbios que desinteligentemente destroem o organismo que lhes dá sustento. Porque se assim agíssemos teríamos um fim bem pior que os micróbios, pois fica ríamos com falta de alimento físico e falta de alimento moral, este último tão mais importante que o primeiro. Por enquanto, devemos nos concentrar em zelar por esta grande casa que é o nosso Brasil. Estamos ainda a caminho dos trigais, mas quando de lá voltarmos, prometemos encher esta casa do melhor pão produzido com o trigo que agora estamos semeando!

Continuemos, pois, semeando como até aqui fizemos. Não devemos nos contentar em apenas ficar apreciando, pois estaríamos fazendo dos outros nossos escravos, mas nem por isso deixaríamos, também de sê-lo. Devemos ter sempre presente que correntes de ouro também escravizam.

Prezados colegas que se formam!

PROTESTAR é outra grande missão que temos. Pelo simples fato se sermos jovens, nós devemos sempre protestar.

Neste mundo bélico, competitivo, erótico e violento, infelizmente a maioria dos jovens “luta pela paz”. Mas como conseguirão paz, lutando por ela? Nunca haverá paz através de LSD, vícios e ócios pervertidos.

Protestemos! Mas que os nossos protestos não aumentem os decibéis ensurdecedores das perturbações! No país continente em que vivemos, grandes empreen dimentos estão sendo levados a efeito: mas há, ainda, muita coisa a fazer. Nos nossos sertões, o analfabetismo ainda se faz presente.

Protestemos, pois, contra esse analfabetis mo, mas protestemos alfabetizando!

Protestemos contra a desonestidade, sendo honestos, pois quando se é honesto e leal, a me lhor forma de protestar é, por vezes, opor-se.

Quando acharmos certo o progresso de nosso país, protestemos; mas protestemos con

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tribuindo para o progresso da técnica, nunca esquecendo de pedir conselhos à ética. Infelizmente, este tipo de protesto é hoje muito raro. O que ouvimos são protestos contra qualquer coisa que se constitua num obstáculo. Não esque çamos que não nascemos plantas, que necessitam de meios propícios para crescerem!

Nós nascemos homens, e como tais devemos preferir meios adversos que nos desafiem a crescer. Protestemos, portanto, desafiando os obstáculos que se nos apresentarem.

Meus bons companheiros de sete anos de vida!

Relutando interiormente, eis que é chegado o momento de nos separarmos; nos separarmos deste mundo à parte que é o Colégio Militar, e uns dos outros.

É difícil, para quem nunca passou por isso, imaginar o que vai dentro de cada um de nós neste momento! Nos sos olhos choram enquanto nossos lábios estão sorrindo. Nossos lábios sorriem pela alegria e felicidade de uma etapa vencida; e nossos olhos choram diante de uma despedida triste.

O Colégio Militar nos proporcionou uma preparação física e mental completas, mas falhou ao não nos preparar para que enfrentássemos esta despedida sem tristezas.

Tenho absoluta certeza de que se estas velhas arcadas pudessem falar, elas diriam: – Estamos engalanadas e sorrindo, mas, por favor, nos deem um lenço para enxugarmos nossas lágrimas. Infelizmente, elas não falam... Entretanto, se cada um de nós refletir, ser-nos-ia difícil precisar o número de vezes que nos recostamos a elas, como que pedindo consolo por uma prova mal feita ou por saudades de casa.

Foram já sete longos anos, numa bela manhã de verão que aqui entramos meninos ainda. E este pátio nos pareceu infinito e arrogante.

Hoje, cada laje nos é familiar; e cada arcada uma amiga e confidente.

Por este pátio, por estas salas, por estas arcadas e por estes bancos, não zumbiram apenas abelhas douradas da juventude. Aqui viveram também e ficarão para sempre, numa comovida ressonância, as ansiedades da nossa adolescência, silenciosos heroísmos de estudantes em dificuldades, pensamentos dos lares deixados lá longe.

Aqui já tivemos pais, irmãos e amigos; e podemos ficar certos de que amigos tão amigos quantos estes, jamais teremos, pois é na adolescência que a gente os tem.

Agora... só restarão saudades...

Saudades deste pátio, deste relógio, destas arcadas.

Saudades das nossas salas de aula, das nossas reuniões dançantes, do nosso salão Brasil com as paredes decoradas.

Saudades das frases com que carinhosamente caracterizamos cada um dos nossos professores:

– “Turma, agora pra entender”...

– “Realmente, meu filho, tu tens dificuldade para entender as coisas”...

– “Senhor, assim não é possível”...

– “É sempre a mesma coisa, rebate o plano”...

– “O, gurizão! Quer fazer a gentileza de parar”...

– “Eu acharia assim genial que a turma se desse conta que estamos numa sala de 3º ano”...

Sim, meus amigos, isso tudo agora só existirá em nossa memória. Nunca mais, essas falas, as ouviremos sen tados nas nossas classes.

Nunca mais nós teremos nosso acampamento.

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Memórias da Turma Sesquicentenário da Independência

Os infantes não mais desfilarão garbosos, empunhando seus fuzis. Os cavalarianos não poderão mais desfilar no dorso do cavalo amigo. E os artilheiros já não exibirão orgulhosos os seus canhões. O desfile de sete de setembro será agora apenas grata recordação.

É curioso! Apesar de estar aqui dentro, vejo o meu colégio já muito distante... E isto me faz parar,... meditar,... e chorar uma saudade que já está machucando.

“Mens sana in corpore sano”! Este foi o lema que nos guiou durante os sete anos passados aqui, mas é preciso ter um coração de pedra para suportar, agora, esta despedida.

É duro se convencer de que agora só resta-nos despedirmos...

Adeus, Colégio Militar. Nós lhe somos gratos pelas sementes que lançaste na nossa terra. Adeus, velho e querido Casarão da Várzea...

CASQUETES E BARRETINAS

Artefatos militares Passando por Quepes e Capacetes

Hoje Boinas

Fizemos batalhas com casquetes Barretinas deixaram marcas nos desfiles e em nossas cabeças (!) Capacetes guardavam estampidos do mosquetão no estande de tiro Barretinas ostentavam um glamoroso penacho Os quepes, usados externamente, alinhados e elegantes Cas

quetes, leves e práticos, no uso interno das atividades Tudo limpo, arrumado e ajustado Que não dizer quando de serviço. Pesos, tamanhos e formas não importam Forjaram, sim, a memória e o orgulho dos tempos, de 1966 a 1972. De poder dizer, hoje, o que fui e o que sou Fui aluno do CMPA! Sou da Turma Sesquicentenário da Independência!

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1966 1967 1968 1969 1970 1972 1971

Memórias da Turma Sesquicentenário da Independência

1973 1982 1992 2002 2012 2016 2022

Os rapazes maduros de 1972

A entrada no Colégio Militar, em 1966, mudou a vida daqueles meninos em todos os sentidos. O que era pacato e calmo entrou em ebulição.

Tiveram que sobreviver aos trotes dos vetera nos e às brincadeiras externas de estudantes de outros colégios, que não poupavam piadas ao uniforme engomado e de cores análogas aos ba leiros de cinema.

As turmas eram compostas por alunos inter nos e semi-internos. Não demorou muito para

• A vida ao redor do CMPA

Havia um mundo a viver ao redor do Co légio Militar. Uma boa diversão era comprar material escolar na Bayadeira, enquanto o Cine Avenida foi a segunda casa de muitos alunos.

Do outro lado do prédio do CMPA, havia mais um cinema, o Baltimore, e depois veio o Mini Baltimore, mais tarde chamado de Bris tol. Certamente, os garotos assistiram a filmes como A Primeira Noite de um Homem, Ro meu e Julieta, 2001 – Uma Odisseia no Espaço, O Planeta dos Macacos, Woodstock 3 – Dias de Paz, Amor e Música, O Dragão Chinês e O Poderoso Chefão.

que ficassem a par dos meandros do Colégio Mi litar e do significado de ser um componente da tradicional escola.

Ao mesmo tempo em que existia muita brin cadeira, amizade e peraltices, havia a noção exata da hierarquia que os rodeava, do senso de res ponsabilidade e do papel de cada um na socie dade vigente.

Com a fome típica dos ado lescentes, os alunos jamais vão esquecer do Zé do Passaporte, famoso local de lanches da ma drugada porto-alegrense.

Outro ponto preferido dos alunos era o Bar do Beto, onde eles trocavam de roupa nos fundos do estabelecimento. Eles queriam se divertir, devo rar os baurus, as massas, beber

as batidas de mamão e banana, ou comer um prato de arroz, fei jão e carne, regado a Minuano Limão.

Os alunos viveram em uma época cheia de acontecimen tos. A população da capital do Rio Grande do Sul havia au mentado, consideravelmente, passando a 903.175 habitantes, pelo Censo de 70.

Os jovens dançavam, de rosto colado, músicas como “Alone Again”, de Gilbert O’Sulli van, “Long Ago Tomorrow”, com B.J. Thomas, “Imagine”, de John Lennon, “Ben”, com Michael Jackson, e “Como Vai Você”, de Roberto Carlos.

106 | Memórias da
Sesquicentenário da Independência
Turma
Cine Baltimore anos 70
Comilança

A formatura

Em 14 de dezembro de 1972, dia da forma tura dos alunos da turma de 66, a capa do Jornal Correio do Povo alertava: “Astronautas Realizam Última Excursão na Superfície da Lua”.

O grande acontecimento daquele ano, po rém, foi a comemoração dos 150 anos da Inde pendência do Brasil, fazendo com que o grupo dos meninos de 66 levasse, para sempre, o título de “Turma do Sesquicentenário”, uma marca re gistrada até hoje.

Além da transferência dos restos mortais de Dom Pedro I de Portugal para o Brasil, ficou famoso também o hino criado para o evento, imortalizado na voz da cantora Ângela Maria.

Aponte a câmera de seu celular para o QR-Code ao lado e acesse o vídeo do hino interpletado pela cantora Ângela Maria ou, se preferir, acesse diretamente clicando no botão abaixo.

Aquela turma era diferenciada, especialmente na criatividade. Na revista Hyloea de 1972, os rapazes, formandos do então científico, posaram para as fotos de forma irreverente e divertida. Queriam mostrar a vida como ela realmente se apresentava. As legendas eram engraçadas e, por sorte, não foram cortadas na edição pelos superiores.

Aponte a câmera de seu celular para o QR-Code ao lado e acesse o vídeo da revista Hyloea. ou, se preferir, acesse diretamente clicando no botão abaixo.

Longe dos comandantes, eles nem sempre seguiam as regras piamente, mas amavam e res peitavam seu colégio acima de tudo. O amor que tinham pelo CMPA permanece até hoje. Os me ninos, que entraram tímidos em 66, haviam se tornado rapazes maduros, confiantes e prontos para enfrentar o mundo ainda mais difícil fora do Colégio Militar.

Memórias
da Independência | 107 •
da Turma Sesquicentenário
Erika Hanssen Madaleno

EDITORIAL SEGUNDA PARTE

A memória é contrária ao tempo. Não permi te que sejamos adultos completamente esqueci dos de nossa juventude. Enquanto o tempo leva a vida embora como vento, a memória traz de volta o que realmente importa, eternizando mo mentos.

Diante do tempo, envelhecemos, nossos fi lhos crescem, muita gente parte. Porém, para a memória, ainda somos jovens, atletas, amantes insaciáveis.

Quanto mais vivemos, mais eternidades cria mos dentro da gente. Quando nos damos con ta, nossos baús secretos – porque a memória é dada a segredos – estavam recheados daquilo que amamos, do que deixou saudade, do que doeu além da conta, do que permaneceu além do tempo.

A capacidade de se emocionar vem daí, quan do nossos compartimentos são escancarados de alguma maneira.

Amigos verdadeiros têm a capacidade de se eternizar dentro da gente. São naturais nossas ati tudes, ao reencontrar amigos da juventude e tem pos de baleiro, depois de décadas – já adultos ou até idosos – de voltar a nos comportarmos como adolescentes descompromissados e imaturos.

Descobrimos que o tempo não passa para a memória. Ela eterniza amigos, brincadeiras, apelidos.

Mesmo que por fora restem cabelos brancos, artroses e rugas.

Aquilo que amamos tem vocação para emer gir das profundezas, romper os cadeados e as sombrar de vez em quando.

A frase do professor Cyrino, “Valorizem ao má ximo todas as oportunidades que puderem de se reunir, pois cada vez serão menos numerosas estas fantásticas oportunidades”, pronunciada no almoço de despedida, é de muito significado e

moveu todo um sentimento que permanece ativo.

A partir de 15 de dezembro de 1972, quando, através do baile de formatura, nos despedimos de um período maravilhoso da adolescência, de uma rotina e convivência de sete anos, para partir para um mundo adulto, onde cada um buscaria realizar os seus sonhos, cheio de desafios, onde colocaríamos em prática tudo o que aprendemos no Colégio Militar.

Alguns seguiram a carreira militar. Outros op taram pelas carreiras e atividades civis.

Por 30 anos (1972 – 2002), um período de es curidão, pois este grupo não se encontrou, a não ser aqueles que, por diferentes motivações, man tiveram contato mais próximo.

Em 2002, deu-se a luz! A Turma Sesquicente nário da Independência reencontrou-se para co memorar os 30 anos de formatura.

A Turma relembrou os inúmeros desafios e as difíceis barreiras enfrentadas e superadas! Isso reavivou os fortes vínculos, nunca esquecidos, e que valem ser lembrados.

Pertencer, ou ser de uma mesma “Turma”, dá orgulho a seus integrantes. É uma estranha força, que nos integra e nos faz ter pontos em comum. Há uma origem, um nascedouro de expectativas que potencializa os sentimentos de irmandade e fraternidade.

Pertencer à Turma Sesquicentenário da Inde pendência nos distingue no tempo e no espaço da vida. Nossa Turma tem memória, tem passado de superação, de criatividade, de energia e per sonalidade.

A partir de então, aquele espírito de grupo do CMPA ressurgiu com muita força e veio num crescer, como poderemos constatar através dos relatos, histórias e depoimentos que se seguem.

108 | Memórias da Turma Sesquicentenário da Independência
O Grupo Editorial

Reflexões Acerca do Contexto da Nossa Geração

Somos oriundos de uma geração peculiar, nascidos na década de 50, que impactou o mun do com inovações tecnológicas, mudanças com portamentais, culturais e sociais.

Geramos, vivenciamos e acompanhamos mu danças que nos moldaram:

Vivenciamos o nascimento do movimento hi ppie, mesmo com nossos cabelos cortados;

Nós somos a geração que trocou o linho dos ternos pelo jeans e a camiseta, mesmo usando uniforme por sete anos.

A nossa geração desenvolveu e popularizou, entre outras inovações:

A minissaia, como novo símbolo da moda fe minina;

O smartphone e os tablets; Deixamos o bolero pelo rock;

O Vestibular e a AMAN

• Milico ou Paisano

A Academia Militar das Agulhas Negras era o ideal de muitos alunos do CMPA. Corria na “imagi nação” que haveria vagas para todos aqueles que concluíssem o científico.

Mas não foi bem assim...

Chegara o ano da escolha das profissões, uma das mais importantes decisões da vida.

Eu pensava: “Qual profissão combinará comi go; maior realizarei; compensações financeiras etc”.

O número de vagas ofertadas foi somente 17, completando com o Campello e a distribuição aconteceu pelo critério de graus.

Alguns optaram por repetir o 3º ano na Esco la Preparatória de Cadetes do Exército, ESPCEx, Campinas – eram os “paraquedistas da Prep.”.

O Garcia e o Edson Dutra fizeram isso.

Todos os interessados fizeram o exame de

O gigantesco IBM foi transformado num PC. Nossa geração se refletiu na geração dos nossos pais.

A geração de nossos pais seguiu os padrões comportamentais de seus pais.

A nossa geração impactou a geração de nossos pais.

Nossos pais não tiveram o que nós tivemos.

O pai passou a usar jeans porque o filho usava.

Quebramos paradigmas e dogmas da gera ção de nossos pais, nem sempre com tranquili dade; e isso se reflete no futuro dos nossos filhos e netos com mudanças a partir do nosso tem po. Nossos netos terão coisas que não tivemos... E assim caminham as gerações.

escolaridade para a Academia. Caso passassem, liberariam vagas.

No período de adaptação da AMAN, o ritmo foi alucinante. Oficialidade, cadetes veteranos e o sistema, propriamente dito, “tiraram o couro dos bichos”.

Vários desistiram e vagas foram revertidas para candidatos não contemplados.

Houve uma alteração quase que assustadora, quando nos transformamos em Cadetes e milita res de carreira.

Em Porto Alegre, como veteranos do 3º Científico, nos julgávamos autoridades de mui ta expressão, verdadeiros “Reis da Cocada Preta”. Impactados pela grandiosidade e ambiente da AMAN, caiu a ficha. Encaramos uma realidade, completamente, diferente, os “Bichinhos do Cocô do Cavalo do Bandido”!

Memórias da Turma Sesquicentenário da

Independência | 109
AA Karam

Que sina! Uma realidade impactante! Aos que superaram este primeiro susto, prevaleceu o sen timento de conquista e orgulho por ter vencido o obstáculo, a passagem para o oficialato!

Até chegarmos ao destino, a AMAN, aconte ceram passagens inesquecíveis.

Chegamos com um sol forte depois de um cansativo dia de viagem.

Descemos do ônibus no Portão Monumental e percorremos um retão interminável, arrastando bagagens com enxoval. O suor corria pelas cos tas. O sol do verão de Resende arde. É bom para uma praia...

Ao final do retão, estávamos faceiros da vida quando o temido Tenente Pinto, Homem no Esta do Maior da Escola, falou, aos brados:

– Alunos, vocês estão sujos, mal fardados (cal ça garança) e barbudos. Vocês têm uma hora fa zer a barba, tomar banho e entrar em forma para o almoço no rancho!

Na Ala (alojamentos), começam os trotes dos veteranos que havia, de 2ª época.

Bicho e sem conhecer nada da “Fábrica de Oficiais” surgia o primeiro problema: encontrar a barbearia.

Acabei caindo com o famoso barbeiro “Cara de Cavalo”. Ele passava o “CORTE ZERO”, em vez da desejada “meia cabeleira” (independentemen te da gorjeta), moda perseguida na época.

Depoimento do AA Machado:

— “Entrei no Pátio Monumental... Impressio nante, fascinante e impactante; aquela imensi dão, aquela altura, imponência e vibração... Ali, eu senti que a AMAN realmente me devorou, me abraçou; dali eu só sairia Aspirante-a-oficial, mes mo que triturado; não tem outra escapatória”.

Há 48 anos, em 06 de fevereiro de 1973, o pes soal do CMPA, da turma de 1972, embarcava num ônibus da empresa Penha, na rodoviária de Porto Alegre, com destino à AMAN.

Deixamos familiares, amigos e seguimos o nosso destino em busca dos sonhos!

O meu derrancho na viagem foi o AITA e o aluno mais antigo era o MORALES.

No dia 07 de fevereiro de 73, mais ou menos pelas 8h, ou 9h, o ônibus deixou-nos no Portão Monumental.

De lá, seguimos a pé com nossas malas pelo retão (650 m) que liga o Portão Monumental ao Conjunto Principal. Quantas dúvidas e desafios...

Tinham nos alertado: se caírem na 3ª Cia C Bas, estão ferrados...

E lá fomos, bufando e arrastando nossas tra lhas. Retão interminável...

Chegamos ao Estado-Maior da AMAN e três frangos (oficiais) já nos esperavam com as pran chetas na mão.

O Morales comandou: – “Alto”, “cobrir”, “ firme”. E foi apresentar o grupamento.

Não terminou a apresentação. De cara, toma mos a primeira “mijada”.

O alemão Pöpll, bem na testa, com aquela posição de sentido meio CM, e um dos frangos logo gritou: – “Que estão pensando, podem fazer a meia volta e pegar o ônibus de volta. Isto aqui não é colégio”.

E eu comecei a pensar: “Quê vim fazer aqui? Isso é pra doido”.

Após nova apresentação, um dos frangos começou a chamar os nomes, separou os da 1ª Companhia e partiu com o pessoal para a ala.

Já não fiquei na 1ª...

Logo após, outro frango chamou mais alguns nomes e foram para a 2ª Cia.

Também não fui para a 2ª...

Então, o Ten. Pinto Homem contou o efetivo na prancheta e contou os que estavam em for ma e disse: “O restante... 3ª Cia do Curso Básico... comigo!”

110 | Memórias da Turma Sesquicentenário da Independência
AA
Aita
• Chegada na AMAN

Pensei curto, claro e conciso: “fud..!”.

Mal tivemos tempo de pegar as nossas malas e, mais em acelerado do que caminhando, en tramos no P3M (Pátio Marechal Mascarenhas de Moraes), hoje PTM (Pátio Tenente Moura).

Que impacto daquela grandiosidade! Sentime pequeno, mas, ao mesmo tempo, abraçado pela Academia que me dizia: “Agora és meu”.

No meio da confusão, não me recordo se no meio do retão ou ao adentrarmos o P3M, nosso colega Rolla proporcionou uns momentos de gozação: a sua mala sanfonada arrebentou os ti rantes e espalhou todo o enxoval (camisa branca de manga comprida, sem colarinho, seis cuecas brancas e todos os outros trecos, que a maioria não usaríamos. A relação do enxoval há algum

• O Vestibular

Talvez pudéssemos classificar os alunos da nossa turma em três categorias, do ponto de vis ta de pretensões profissionais pós Colégio Militar: os que seguiriam a carreira militar, e que sempre quiseram isso, os que seguiriam a carreira civil, também por convicção, e os indecisos. É bem verdade que conviver com um ambiente militar por sete anos balançava a cabeça daqueles que não tinham uma convicção tão forte de seguirem a carreira militar e muitos acabavam mudando suas pretensões.

O fato é que o Colégio nos preparara para tudo, e muito bem!

Para aqueles que seguiriam a carreira civil, restava ainda um grande desafio a ser transpos to: os temidos exames vestibulares, estreita porta de entrada para as universidades. Assim, o último ano no Colégio passou rápido, com as atividades escolares sendo compartilhadas com exaustivos estudos, não raro avançando noites adentro, com muitos ainda achando espaço na agenda diária para frequentarem os disputados, e caros, Cursi nhos Pré-Vestibulares.

tempo não era atualizada). E lá estava o Rolla, com raquete de tênis, bola de vôlei, aloprando e xingando todo mundo. Só vendo a cara dele...

Na 3ª Cia, fui para o apto 110 e recebi o armá rio e cama nº 3.

Ao entrar, já estavam o Queiroz e o Ugo. Depois foram chegando: Simões, Rodrigues.

No início da noite, chegaram os oriundos do EsPCEx: Boccia, Saurim, Rigotti, Sanfelice, Tadeu, Mauro. No outro dia, o Dutra.

Assim, entramos no período de adaptação, até o dia de 17 de fevereiro de 1973, quando cru zamos o portão de entrada dos novos cadetes e recebemos o Título de Cadete.

Chega o fim do ano e, com ele o vestibular da UFRGS, seguido do vestibular da PUC e outras universidades. Duras provas, vagas em cada cur so muito limitadas e aquela expectativa de ver o nome listado entre os aprovados, ou de ouvi-lo, com um enorme sabor de vitória, na rádio, no dia de divulgação dos resultados. Nada muito di ferente do que tinha acontecido sete anos atrás, quando disputamos uma vaga no concorridíssi mo exame de admissão ao Colégio Militar. Ape nas que, agora, a responsabilidade aumentava, por tratar-se de uma decisão sobre a vida profis sional que cada um teria dali para a frente.

Nossa turma, como era de se esperar, saiu -se muito bem em mais essa batalha e a grande maioria obteve o ingresso no curso que almejava, com aquela respeitável e querida instituição de ensino entregando à sociedade médicos, bacha réis em Farmácia, advogados, administradores, engenheiros e outros.

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O Reencontro e os Encontros

De 1966 a 1972, geramos amigos! Como um todo, construímos uma confraria espiritual, uma propriedade (minha turma, nossa turma) e, acima de tudo, união de sentimentos incomuns!

Desde 1972, sempre tive em mente que o ver dadeiro espírito de corpo se forjou dentro do am biente das salas de aula, compartilhando alegrias e tristezas, sucessos e quedas.

Observei que era comum as reuniões de An tigos Alunos (AA), rememorando saudosos tem pos. No entanto, eram, simplesmente, reuniões dos conhecidos baleiros, eventos, extremamente, heterogêneos. A grande maioria dos participan tes não se conhecia, porque pouco compartilha va em sala de aula.

• O Reencontro Após 30 Anos

Planejamento e preparação aconteceram desde junho de 2002, para realizar o evento dia 14 de dezembro. O Miranda (Adido do Exército no Reino da Espanha) telefonou às duas da ma drugada para o Aita, lembrando que o “Glorinha” (AA 266 Nelson Gonçalves Gloria) também fora da turma. O sucesso deste primeiro passo foi fan tástico, com descerramento de placa alusiva pelo AA Gozzini (Salvador), palavras alusivas do Fabio,

Imaginei algo que, posteriormente, fosse in dividualizado numa turma fechada, que congre gava somente aqueles que, em algum tempo, no período entre 1966 e 1972, estudaram na mesma turma de 1972.

O principal fator que tem me incentivado a prosseguir promovendo as diversas atividades da turma é a felicidade que cada um dos co legas manifesta, participando dos eventos de confraternização, me emprestando um reconhe cimento de coração e propondo novos encontros. Vários colegas me auxiliaram, a quem presto minha continência.

nosso orador, palestra sobre o CMPA século XXI proferida pelo Araujo (sete anos como aluno e 27 como profissional), fotografia oficial dos partici pantes do evento e buffet dançante no Círculo Militar. Vários alunos fizeram uso da palavra após as palavras do Araujo, depoimentos carregados de emoção, o que levou a várias interrupções. Como manifestações pessoais, ao final do evento do Círculo Militar, foi aberto um espaço para que

AA
Aita

todos os colegas discorressem sobre o que fora suas vidas após a saída do CM.

Texto da Placa Comemorativa aos 30 Anos de Formatura

Cá estamos, frutos e sementes de uma mes ma árvore. Germinamos e perpetuamos; al guns não estão mais entre nós… embora possamos ter tomado caminhos diversos, sabemos que, em nosso interior, levamos a mesma men sagem transmitida neste casarão, onde bebe mos na mesma seiva impregnada de coragem, companheirismo honestidade e amor.

Dezembro de 2002.

• Encontro para Descerramento da Placa alusiva aos 40 anos de Formatura em 2012

Quarenta anos após, retornamos ao casarão da várzea para reencontrar velhos amigos e rever o centenário CMPA, nosso berço escolar.

Já não tão jovens e bem mais experientes, reafirmamos aqui os laços de amizade que, por indissolúveis, unem todos os integrantes da turma Sesquicentenário da Independência.

Porto Alegre 15 de dezembro de 2012.

• Encontro dos 50 anos de Ingresso no CMPA

Em 2016, completamos 50 anos do ingresso no CM. Cruzamos o Portão das Armas dia 18 de fevereiro, sexta-feira.

Comemoramos a data com um belo churrasco na Fazenda São João Catanduva, em Glorinha, pro priedade do AA 388, Fabio “Trator”. Foi possível reu nir 50 colegas nas primorosas instalações do Fabio.

Nosso anfitrião recebeu como lembrança uma placa metálica, um trator em miniatura e a famosa faca do renomado cuteleiro Don Cassio Selaimen, um verdadeiro luxo, também, anual mente, presenteada aos ginetes campeões do “Freio de Ouro”.

Muito surpreendido, eu também recebi uma joia destas.

Para facilitar o deslocamento para o churras co dos 50 anos de ingresso de Ginásio, em 27 de

novembro de 2016, foram disponibilizadas duas VANs para transporte dos que desejassem ficar mais à vontade no consumo da bebida – dois carros de 15 lugares, lotados. Colocamos como acompanhamento um barril de chope. Uma equipe de fotógrafos e cinegrafista foi contratada para a cobertura do encontro. O material produ zido, que foi de excelente qualidade, eternizou aqueles alegres momentos gravados em um pen drive.

Vanderson, o colega que veio de mais longe (Houston / Texas / EUA), entregou ao Fabio, em nosso nome, uma bela faca Don Cassio Selaimen, além do que não poderia deixar de ser, a miniatura

Aponte a câmera de seu celular para o QR-Code ao lado e acesse o material comemorativo. ou, se preferir, acesse diretamente clicando no botão abaixo.

de um “TRATOR”, apelido com que é conhecido no colégio. Foi o evento que reuniu maior efetivo, cinquenta colegas. Fiquei agradecido pela mani festação de apreço dos colegas, que também me presentearam com a famosa faca artesanal feita a mão.

Além destes três eventos acima relatados, muitos outros ocorreram nestes últimos 20 anos, tais como:

• Depoimento do Reneu no Churrasco do Fábio (50 anos)

Fui convidado para dar uma palavra nesse dia tão especial, da nossa vida do Colégio Militar de 66 a 72. Não treinei nada e quando a gente fala do coração não precisa treinar, então, é assim que eu estou fazendo esse registro. Devo dizer que é uma alegria indescritível estar revendo tan tos amigos, pessoas que fizeram a diferença na minha vida naquele período, em que estávamos formando os grandes conceitos da vida, na ado lescência.

Eu acredito que foram anos marcantes para toda a eternidade. Acredito que para cada um de nós, aqueles que puderam estar aqui hoje e os que não puderam, sei que há vários amigos espa lhados em vários lugares que não puderam estar aqui. É um privilégio enorme e o sentimento é de gratidão por termos passado juntos aquele tem po na escola, para seguir, cada um, os caminhos da sua vida, os mais variados, em diversos lugares. E quanta história! Cada um poderia escrever um livro.

É sempre um privilégio podermos nos en contrar, podermos agradecer pelo que passou e podermos expressar a expectativa de dias melho

• Vários almoços na Churrascaria Roda de Carreta no 35 CTG;

• Churrasco na Churrascaria Zequinha do Esporte Clube São José;

• Festa, à noite, no Pub Londrino Sgt. Peppers com colegas de fora;

• Feijoada na casa do Scipião;

• Três Churrascos por conta do Fábio na Fazenda São João Catanduva;

• Almoços Festivos no Aniversário do CMPA;

• Almoços Festivos de Final de Ano;

• Encontros Mensais de Aniversariantes (EMA) nas primeiras quintas de cada mês;

• Lives periódicas;

• Lives de orações e pensamento positivo pelo reestabelecimento de colegas;

• Colaboração financeira com a AACV em atividades beneficentes;

• Participação ativa em eventos oficiais do CMPA.

res, ainda nesse mundo tão complicado. Acredito que mais complicado do que o que a gente viveu naquela época. É tão difícil viver hoje em qual quer lugar e nos abraços, nos carinhos, de certa maneira, podemos acreditar, aqui, que nem tudo está perdido. Que podemos esperar as melhores coisas para a vida individual, das nossas famí lias, do nosso país e do mundo que a gente está vivendo.

Queria, assim, agradecer e deixar registrada minha profunda gratidão ao Aita, que tem co ordenado esse grupo. Aita continua! Que mara vilhosa coisa reunir pessoas! Queria agradecer ao Fábio, pela abertura de podermos estar aqui nesse lugar tão especial, tão bonito e agradecer a cada um de vocês que fez parte da minha histó ria. Vocês que vão ver esse filmezinho, obrigado, obrigado pela parcela de contribuição que vo cês deram. E que o bagunceiro que eu fui, vários lembram que eu era um dos mais “da pá virada”, devo dizer que eu mudei e que bom que a gente muda na vida e me arrependo das coisas erradas que eu fiz. Sei que tudo tem um propósito e é importante a gente querer consertar.

Na vida da gente, sempre é tempo de mudar e quero dizer para cada um de vocês, aí, que con

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AA Aita
Churrasco comemorativo ao Jubileu de Ouro do ingresso no CMPA Fazenda Catanduva - 2016.

tinue perseverando nesse propósito, de reconhe cer o que precisa ser mudado e ir em frente.

Eu costumo dizer, e sei que vários de vocês dizem isso também, que os melhores dias estão por vir e que possamos ter outros momentos. Não pode demorar muito... Parece que tem uma reunião em março.

Que possamos nos encontrar muitas vezes ainda, agradecendo o que passou e esperando mesmo por esses dias tão maravilhosos que te mos pela frente.

Obrigado aos entrevistadores, filmador e toda essa equipe que está proporcionando estarmos aqui nesse dia. Obrigado, um beijo a vocês.

Aniversários do Colégio

Em conversa com alguns amigos Antigos Alunos do CM, não lembrávamos, o que não é qualquer novidade, das comemorações dos ani versários do CM no período em que estávamos ali estudando.

Também não lembro qual foi o primeiro ani versário do CM que participei após minha saída, mas, com certeza, muitos anos após, possivel mente já neste século.

Aquelas solenidades comemorativas que, certamente, não tinham uma importância maior, tanto que não nos trazem lembranças, foram transformadas em uma grande festa em que o espírito do Casarão da Várzea se renova em cada um dos Antigos Alunos ali presentes.

Há, sem dúvida, um grande número de AA idosos, de meia idade, mas um número expressi vo de jovens, muitos jovens. Estamos falando de mais de 2000 participantes.

Não há, em qualquer colégio de Porto Alegre, um movimento semelhante ao Aniversário do Colégio Militar de Porto Alegre, que inclusive faz parte das comemorações oficiais do aniversário da cidade de Porto Alegre.

O que nos leva todos os anos ao CM para comemorar o aniversário do colégio e desfilar no Batalhão da Saudade? Certamente não é ter mos convivido durante sete anos em um colé gio que ministrou um bom aprendizado formal. O que faz com que jovens de 19, 20 anos retor nem para um colégio que, em uma sociedade com valores tão diversos, foi tão disciplinador e exigente? Certamente não é pela beleza de seu fardamento. Nestes aniversários, fica claro, para todos, o verdadeiro espírito de reconhecimento de todos nós, Antigos Alunos, aos valores de ca maradagem, lealdade e fidelidade que ali nos foram incutidos. O que nos leva a estes aniversários é a oportunidade de agradecer, não a excelente educação formal, mas sim aos valores que ali nos foram ensinados.

Nada disto tem de militar ou de civil, tem a ver com valores morais.

Memórias da Turma Sesquicentenário da Independência | 115

Este é o verdadeiro valor do Colégio Militar e é o que comemoramos todo ano em seu aniversário. Acordamos, quando iniciamos a elaboração desta revista, em não personalizar os eventos, para que injustiças não fossem cometidas. Injustiça maior seria não saudarmos aqui nosso AA Leonar do Araujo (Coronel Araujo), incansável trabalhador em prol do CM e grande responsável pelo engran decimento deste evento: Aniversário do CM.

O Batalhão da Saudade

O ano de origem se perdeu no tempo, mas, a cada cerimônia de aniversário do CMPA, seus antigos alunos desfilam no pátio em um grupa mento batizado de “Batalhão da Saudade”. A par

No CMPA, o Batalhão da Saudade entra em forma por décadas de formatura, em ordem cro nológica da mais antiga para a mais moderna, tendo à frente um aluno com a placa da década.

Via de regra, o Comandante do Batalhão é o antigo aluno militar mais antigo, ladeado pelo an tigo aluno de maior precedência etária.

tir de 2006, por iniciativa deste autor e do Cel. Jú lio Bandeira (então Presidente da AACV), passou também a desfilar no Dia da Pátria, integrando o grupamento das associações em desfile, com seu efetivo incorporando os antigos integrantes (professores, militares e funcionários civis), pais e amigos (AACV-APM) que quisessem desfilar.

No Dia da Pátria, a comando do mais anti go, os antigos alunos entram em forma e desfi lam emassados, como um dos grupamentos das associações de veteranos.

116 | Memórias da Turma Sesquicentenário da Independência
AA
Araujo

A Saudade

Aos meus amigos e colegas do colégio militar de Porto Alegre

Desde a última reunião pela internet, em 10 de janeiro deste ano de 2022, que eu pude par ticipar, o Aita e outros colegas, lá, falaram em es crever ou fazer um áudio sobre a impressão desse período no Colégio Militar de Porto Alegre, que marcou tanto a vida da gente.

Naquele momento, fiquei interessado e che guei a anotar num papel para não esquecer. Eu estava tentando fazer uma coisa estruturada, ar rumada, mas cheguei à conclusão que era me lhor não deixar passar muito tempo e fazer logo um registro breve. Claro que é o que eu estou tentando aqui. É tanta coisa que eu gostaria de falar, mas não posso porque eu não lembro mais, mas tenho no meu íntimo, e acredito que vocês também, aquela sensação de que muita coisa aconteceu e que marcou a nossa vida para sem pre aqui nessa Terra.

Comecei no colégio quando tinha feito 13 anos e saí com 18. Cheguei um pouquinho depois, transferido de Curitiba, embora seja de Porto Ale gre, porque o meu pai passou um período lá.

Tem uma parte visível, assim, mais objetiva, e uma mais subjetiva do que foram esses anos. Da parte mais, vamos dizer, visível, objetiva, tem a boa formação. No meu caso, principalmente, a parte de Matemática e Filosofia marcou muito a minha vida toda, com um pensamento mais científico. Apren di muito. Fui muito desobediente, lá, mas acabei aprendendo o valor da hierarquia, do respeito às autoridades, o valor das amizades, do coleguismo permeado, assim, com muito humor, que eu até sinto falta. A minha esposa, que me conheceu ain da no tempo do Colégio, praticamente no final do período no Colégio Militar, ela lembra que eu era muito bem-humorado e acho que ainda sou, mas perdi muito daquela coisa que tinha lá, na adoles cência, e eu lembro, com muito carinho, como me divertia, como era bom estar com os amigos, com os colegas e, como eu falei, tem tantas histórias que que gostaria de lembrar que já não lembro, mas sei que foram muitas experiências.

No lado invisível, vamos dizer, subjetivo, tem a questão do caráter, que me ajudou muito a aprender o certo e o errado, o bem e o mal, que ao longo da vida foi sendo aperfeiçoado, comigo, com vocês. Também o pensamento fora da caixa, vamos dizer assim. Um pensamento mais aberto, mais amplo, que eu reporto a esse período de Colégio Militar, que me ajudou a furar aquelas amarras da educação, da cultura e a pensar longe, além disso. Acho que eu consegui um pouquinho e, ainda, tenho buscado e acho que essa palavra busca, para mim, talvez seja a mais importante.

Enfim, já encerrando, foi lá, no Colégio Militar, que eu comecei a buscar o sentido maior da mi nha vida, da minha existência, da nossa existên cia nesse planeta e era uma inquietude que eu não revelava, muitas vezes, nas brincadeiras, nas salas de aula, mas eu sofria, vamos dizer assim, na minha intimidade, tentando me posicionar nesse contexto todo. Eu estava procurando ver, enten der, sentir e viver numa dimensão assim e fui...

Então, para mim, a palavra com que eu en cerro esse meu depoimento, aqui, é de gratidão! A Deus, que eu creio, criador soberano de todas as coisas, independente de religião; aos meus pais, que me cuidaram, incentivaram e me colo caram no Colégio Militar; ao meu irmão, que foi aluno, também muito rebelde, e acabou saindo, mas que se tornou um incentivo para mim; e aos meus professores, os nossos professores, tantos instrutores; e aos meus amigos, até hoje, e cole gas do Colégio Militar de Porto Alegre. Então, gra tidão muito grande, de coração!

Espero que esses minutinhos, já alongados, possam ser resumidos numa frase ou outra para colocar nesse registro que está sendo feito por essa comissão a quem eu, também, sou grato. Leitune, Aita, Pinent e tantos outros que, descul pa, não estou lembrando o nome de todos. Um grande abraço, até o próximo encontro e Deus abençoe vocês e suas famílias.

Memórias
da Independência | 117
da Turma Sesquicentenário
AA Reneu

Antigo Aluno ou Ex-Aluno?

Com o passar do tempo, muitos alunos, que já se forma ram no CMPA têm questionado o Colégio sobre a designação “ex-aluno”, sob o argumento de que o prefixo “ex” é excludente e lhes retira o sentimento de nunca terem deixado de se sen tir como integrantes do Velho Casarão da Várzea.

Sensível ao fato, o CMPA foi buscar na tradição portuguesa – origem dos Colégios Militares – uma outra designação mais justa, encontrando-a no Institu to dos Pupilos do Exército, um colégio militar português, en tão com 106 anos de história, e com quem o CMPA possui um Protocolo Internacional de Ge minação.

Esse educandário lusitano, quando aqui esteve por vez pri meira em 2012, levou para Por tugal a denominação “Batalhão da Saudade”, que foi, imediata mente, abraçada com carinho por seus integrantes de todos os tempos.

Assim, trilhando o caminho inverso, o CMPA trouxe de lá, em 2013, a denominação “An

tigo Aluno – AA”, que é como eles chamam todos os que, em qualquer tempo, estiveram em seus bancos escolares. Tal deno minação começou a ser usada no CMPA em 2016 e, de lá para cá, passou a ser corrente nas matérias publicadas.

O título “Antigo Aluno” (AA) contribui para solidificar e refor çar o sentimento de pertenci mento que há entre os alunos do passado e a Instituição onde estudaram na infância e/ou na adolescência, subtraindo a ne gação que o prefixo “ex” traz embutida.

No caso presente, pertenci mento, ou o sentimento de per tencimento, é a crença subjetiva na origem comum que une in divíduos distintos, que pensam em si mesmos como membros da coletividade representada pelo Velho Casarão da Várzea, na qual símbolos objetivos e/ou subjetivos expressam valores, aspirações, recordações e sau dade.

O indivíduo se reconhece e é reconhecido como pertencen do à Escola Preparatória ou ao

Colégio Militar de Porto Alegre. Ao mesmo tempo, sente que esse lugar também lhe pertence, gerando, assim, uma poderosa e subjetiva simbiose sentimen tal que tem o poder de avivar e destacar características culturais e emocionais comuns, capazes de criar uma identificação posi tiva entre os indivíduos e destes com a Instituição.

Tal como o IPE, o CMPA também faz questão de grafar as primeiras letras do título em maiúsculas, em justa homena gem aos seus antigos alunos.

Via de regra, procura-se pu blicar também o ano de forma ção do AA ou seu último ano no Colégio, caso seja conhecido, a fim de melhor situar o leitor no tempo. Ex: Antigo Aluno (AA 1921) Quintana.

Como curiosidade, o Exérci to Brasileiro, dentro da mesma ideia, também aboliu as expres sões “ex-comandante”, “ex-che fe” e “ex-diretor, substituindo -as por “Antigo Comandante”, “Antigo Chefe” e “Antigo Diretor”.

118 | Memórias da Turma Sesquicentenário da Independência

Aita: o Aglutinador

No tempo de colégio, é muito comum a formação de pequenos grupos, que se iden tificam por algumas caracterís ticas, interesses, empatias que, normalmente, resultam naquilo que chamamos de “panelinhas”.

Na Turma Sesquicentenário não foi diferente: tinha a “pane linha” do futebol, a “panelinha” dos internos, a “panelinha” dos integrantes da banda, e mais outras diferentes “panelinhas”. Mas, apesar des tes diferentes interesses, a turma se caracterizava pela sua elevada consciência de grupo, que veio a se manifestar de uma forma mais forte no cien tifico, hoje denominado 2º Grau.

Passaram-se os anos, mais precisamente 30 anos, e surgiu um cara que levantou um dia da cama e disse: “Vou reunir a Turma Sesquicentená rio da Independência”.

Este cara chama-se Renato Aita.

Em 2001, após o aniversário do CM, reuniram-se cinco colegas de turma, liderados pelo Aita, em nosso tradicional Bar do Beto – foi um evento casual e sem planejamento, aproveitando o encontro no desfile do Batalhão da Saudade.

Neste momento, Aita vislumbrou que pode ria promover confraternizações mais frequentes e, com certeza, se fossem organizados com ante cedência, teriam mais sucesso.

Foi uma agradável iluminação. O silêncio que durava três décadas foi despertado pelo Aita.

O Aita definiu um critério para identificar os integrantes da Turma Sesquicentenário da Inde pendência:

1. Fariam parte do grupo todos os Antigos Alunos que, em algum período, tivessem estuda do com a turma de 1966 a 1972.

2. Nos eventos / atividades da turma, não é permitido que alunos de outras turmas partici pem.

E, a partir deste critério, ele saiu a localizar os 244 potenciais alunos habilitados a integrar o grupo, com o objetivo de pro mover o reencontro da turma após 30 anos de escuridão.

Ao perguntar ao Aita como ele conseguiu localizar mais de oitenta colegas, a resposta é a que se segue: “A dificuldade para fazer contato e promover aquela festa dos 30 anos, em 2002, foi intensa, desde a identificação e localização dos colegas, até cientificação e chamamento, providencia do por ofício pelo correio, telefonemas e conta tos pessoais. A tecnologia, aos poucos, facilitou a mobilização para as subsequentes. Em 27 de dezembro de 2011, criei o grupo do Facebook designado Grupo de relacionamento “Turma Ses quicentenário da Independência” do CMPA. Ad ministrador, iniciador, coordenador ou coisa que o valha, vocês, amigos, carinhosamente me cha mam:” COMANDANTE”. Não vejo como bullying, mas um agradável elogio. Aceitei! Enfim...”.

O Aita é um artesão da amizade, no sentido que, como um artesão com uma agulha e linha, junta pedaços de retalhos dispersos e, com pa ciência e determinação, vai costurando até que surja uma única linda tapeçaria, moldada na pa ciência, no amor e na persistência de realizar uma arte.

Aita, nossa eterna gratidão e fique certo de que somos muito honrados de sermos os reta lhos desta tua linda arte.

A Turma Sesquicentenário da Independência

Memórias da Turma Sesquicentenário da Independência | 119

Araujo: um Pedaço de Nós que Permaneceu no CM

Toda Turma tem uma ou vá rias referências pessoais, a nossa não é diferente, temos algumas referências que se consolidaram com a convivência no passar do tempo. Uma, em especial, se des taca por seu trabalho e dedica ção à Turma e ao Colégio Militar de Porto Alegre, o nosso Colégio.

Leonardo Roberto Carvalho de Araujo, o 49, nasceu em Ca choeira do Sul, em 27/05/1954. Aluno do CMPA de 1966 a 1972. O nosso amigo “Bibico”, “Ababi” que aprendeu a tocar violão para, cantando, treinar a peculiar dificuldade na fala. As arcadas do Velho Casarão têm muita história para contar.

O Araujo é aquela pessoa que possui múlti plas ferramentas pessoais – antigo aluno, militar da reserva, professor, escritor, eterno assessor do comando do CMPA, orientador de alunos e pro fessores, conselheiro de chefes e subordinados, entre outras competências! Mas, acima de todas

e de tudo: amigo de seus amigos e um cultivador de amizades.

Tal reconhecimento não vem apenas da nossa Turma, mas de todas as turmas de alunos, de professores e de gestores do CMPA, que tiveram a honra de privar com ele.

Todo nosso grupo da edição dessa revista, quando precisava de uma informação, perguntava ao incansável e sempre prestati vo Araujo, o 49, o “Bibico”!

Araujo, Bibico, Ababi, fica registrado nosso fraternal abraço diante de todo teu esforço, dian te dessa faina de 50 anos, voltando-se para o pró ximo, para o ser humano, para os seus amigos, para a sua vida, para o ensino e para o CMPA, sua casa, sua paixão!

Obrigado por tudo.

O Ano do Cinquentenário

Cinquenta anos é uma marca que a tradição fixou como a ser comemorada, saudando a pas sagem do tempo e o que isso representa para aqueles que viveram e usufruíram dos fatos a serem comemorados. Para nós, comemorar o cinquentenário da Turma Sesquicentenário da In dependência do Brasil foi deixar nova marca, a se juntar a tantas já existentes na nossa história no Colégio Militar de Porto Alegre.

Os preparativos dos eventos das comemora ções do nosso cinquentenário começaram cedo, desde 11/2020, quando ocorreram as primeiras tratativas com as ideias surgindo. No início de

2021, foi formado o núcleo do que viria a ser a Comissão Organizadora.

A ideia original era a preparação de uma “re vista comemorativa”, novas ideias se somaram e o projeto foi ampliado com a realização de outros grandes eventos.

O primeiro evento que levou a chancela de comemorativo do Jubileu da Turma, foi a cam panha da japona, na qual alcançamos êxito histórico, como destacado pelo Comando do CMPA e diretoria da AACV – Para servir de exem plo às demais Turmas, recolhemos o valor de R$ 4.135,00, entregues, à Diretoria da AACV, em au

diência com o Coman dante do CMPA, em 30 de novembro de 2021.

Fomos, ainda no final do ano de 2021, home nageados pelo Colégio Militar de Porto Alegre, com a inauguração de uma mostra de fotos his tóricas da nossa Turma, referente ao nosso perío do no Colégio. Iniciativa que emocionou a todos.

Um dos banners, gentilmente oferecido pelo Colégio, à turma Sesquicentenário da Independência

Ponto alto das co memorações foi o “Ani versário do Colégio”. Cedo, começou a mobilização para a presença da nossa gente, no dia 26 de março de 2022, dia marcado para as comemorações, depois de dois anos de interrupção determinada pela pandemia.

Algumas negociações preliminares, peque nos ajustes, e lá estávamos nós em bom número.

A alegria do reencontro era uma realidade, sor risos, abraços, gargalhadas pelas lembranças das histórias naquele quadrilátero de saber e, agora, de saudade.

Mais uma vez, fomos homenageados pelo Colégio, a Turma do Sesquicentenário formou a parte, à frente do grosso do Batalhão da Sauda de, identificada com placa própria e anunciada, pela locutora oficial do evento: “Desfila nesse mo mento, à frente do Batalhão da Saudade, a Turma do Sesquicentenário da Independência do Brasil, que comemora neste ano, os seus 50 anos de for matura”. E, assim, passamos nós, sob os aplausos dos atuais alunos e familiares, com o maior garbo que a idade ainda nos permitia.

Depois de refeitos da emoção do desfile, nos dirigimos à Sede da Sociedade de Engenharia, onde ocorreu o almoço de confraternização, mais sorrisos, mais abraços, mais gargalhadas, mais estreitamento de uma amizade mais que cinquentenária.

AA Pinent Nossa parceria com a AACV

HOMENAGEM PÓSTUMA

RequiemAeternam Aos Colegas que já nos Deixaram

Quando meu pai tinha a idade que tenho hoje, eu costumava ouvi-lo dizer, a cada vez que um ex-colega morria:

– “Estão chamando a turma de 1949!”.

Essa era a sua turma na AMAN, e eu me lembro de perceber que ele dizia isso com um misto de ironia, talvez por ainda não ter sido chamado, mas também e, principalmente, com muita tristeza.

Passados tantos anos, vejo-me hoje na mes ma situação do meu velho pai. Emociono-me com pequenas coisas, já não dou tanta importân cia a outras e volto a ser criança quando encontro meus velhos companheiros de Colégio Militar.

Também, hoje, entendo melhor aquela ex pressão que meu pai usava quando perdia um colega, afinal, muitos dos nossos colegas já tom baram e o tempo continua implacável. Cada tris te notícia que chega traz junto um sem fim de recordações dos momentos vividos juntos. Traz, também, um forte sentimento de arrependimen to, com o coração dizendo por que não procurei mais vezes o fulano, por que não estive mais ve zes com o ciclano? Mas o tempo não para...

Às vezes, me pego pensando no sentido da perda de cada um deles, então agarro-me no en sinamento que isso pode ter, como se cada um

que partisse, deixasse para nós, que ficamos, uma mensagem, um alerta para vivermos mais inten samente, para vivermos com mais leveza, com mais alegria, com mais amor. Às vezes, me soa como um aviso: curte mais os teus momentos! Ah, se conseguíssemos escutar essa mensagem! Sinto muita falta dos queridos colegas que já se foram e que levaram junto um pedaço da nossa história e da nossa existência. Sou capaz de me lembrar de alguma passagem com cada um deles. Sinto uma saudade doída dos colegas que ainda irão. Sinto saudades de mim...

Como diz a música de Chico Buarque e Francis Hime:

“Ó pedaço de mim Ó metade exilada de mim Leva os teus sinais Que a saudade dói como um barco Que aos poucos descreve um arco E evita atracar no cais...”.

Colegas, juntemo-nos aos familiares dos nossos queridos colegas que já partiram, que honram e perpetuam as suas memórias para, em silêncio, dispararmos uma surda salva de tiros!

122 | Memórias da Turma Sesquicentenário da Independência

O Final da Nossa Jornada

• Mensagem de Encerramento

Prezados professores, alunos, militares e civis dos idos do CMPA de 1966 a 1972!

O tempo passou e deixou vivências e experiên cias, umas mais leves outras mais difíceis, mas todas serviram como sementes plantadas naquela época, que geraram nossas fortalezas, nossos comporta mentos, que ornam, hoje, as nossas personalidades.

Foi com esse espírito que tentamos recuperar fatos, ocorrências, alterações e alguns momentos hilariantes, muito peculiares à nossa turma! Nem tudo aqui relatado é a pura expressão da verdade, mas, certamente, está baseado em fatos reais!

Decorridos cinquenta anos, qual é a razão do nosso orgulho pelo CMPA?

O que nos faz retomar aqueles tempos?

O que conseguimos na vida devemos, em grande parte, à nossa passagem pelo Colégio Militar, pelo estímulo que tivemos, não apenas aqueles dados pelos professores, mas também do grupo, da cultura, dos valores que nos foram ensi nados. Para se resolver um problema, o primeiro passo é entender o problema. Para valorizar de terminadas questões, posturas, comportamentos morais e éticos, a gente tem que perceber, estu dando sozinho ou sendo estimulado. E o CMPA aproveitou o nosso potencial para nos ensinar es

ses valores, nos preparar para a vida, para crescer intelectualmente, para nos tornarmos homens dignos e honrados. Somos gratos ao CMPA por tudo isso!

Foram anos marcantes, para toda a eternida de! Aprendemos o valor da hierarquia, do patrio tismo, da liderança, do respeito às autoridades, da lealdade, do caráter, do valor das amizades, do coleguismo permeado de muito bom humor. É sempre um privilégio poder agradecer pelo que passou e poder expressar a esperança por dias melhores nesse mundo, talvez mais complicado do que vivenciamos naquela época.

Deixamos aos nossos sucessores, aos nossos familiares e amigos, o registro de algumas expe riências vividas relacionadas ao amado Colégio Militar de Porto Alegre.

O tempo não apagou e nem apagará nossas memórias!

“NA NOSSA ESCOLA FORJA-SE A GRANDEZA... SALVE O BRASIL! CMPA!”.

Esta mensagem foi baseada em textos e de poimentos dos Antigos Alunos (AA): Zanotta, Reneu, Fábio, Borges Fortes, Pedro Paz, Zimmer mann e Campello. Ela sintetiza o pensamento da Turma Sesquicentenário da Independência.

Turma Sesquicentenário da Independência

123 | Memórias da Turma Sesquicentenário da Independência

AGRADECIMENTO ESPECIAL

Por obra do destino, para nossa sorte e honra, foram colocados, em nosso caminho, quando da longa e dura jornada que se constituiu a preparação desta Revista Comemorativa e das comemorações do nosso cinquentenário de formatura, pessoas especiais que em muito facilitaram o nosso intento.

Parceiro de primeiro momento, desde que lhe apresentamos o projeto, o Coronel Marcelo Dutra, presidente da AACV, mas acima de tudo, um amigo. Teve um trabalho incansável, sempre disponível, incentivador, abriu portas e portões, vibrou com cada momento da nossa caminhada.

O Tenente Coronel Rafael Augusto Paes Lima Rocha, comandante do Corpo de Alunos, que em apenas uma conversa entendeu e atendeu a nossa solicitação para que a Turma Cinquentenária formasse na frente do Batalhão da Saudade, demonstrando o acolhimento do CMPA aos seus antigos alunos.

O Coronel Saul Marques Machado Jr., então comandante do CMPA, abriu as portas dos arquivos para as nossas pesquisas, apoiador do projeto, sempre à disposição para colaborar.

O Coronel Itálo Mainieri Jr, atual comandante do CMPA, acolhedor e facilitador, prestador de colaboração imensurável na realização do projeto.

A todos estes e a cada um deles, em especial, o nosso mais carinhoso e reconhecido muito obrigado.

EXPEDIENTE
Coordenador Geral: Jayme Luiz de Souza Pinent Cooordenador Administrativo: Renato Dias da Costa Aita Coordenador Operacional: Cylon Rosa Rodrigues de Freitas
Flávio Eichenberg Campello Homero José Zanotta Vieira Itacyr Omar Leitune Leonardo Roberto Carvalho de Araujo Márcio Baldino Karam Ricardo Fogliatto Madaleno Sérgio Luiz Duarte Zimmermann Data da Edição: 11/2022 Impressão: Gráfica Pallotti, Santa Maria (RS) Jornalista Responsável: Erika Hanssen Madaleno - Registro Profissional 4728 MTB Designer Gráfico: Juarez Rodolpho dos Santos Revisão: Dizy Ayala Projeto Revista Comemorativa Cinquentenário de Formatura da Turma Sesquicentenário da Independência – CMPA Os
dos escritores não refletem, necessariamente,
espírito ou opiniões dos AA editores. As
publicadas fazem parte do arquivo pessoal dos
Alunos.
Grupo Gestor
Grupo Editorial
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o
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RAUL AZAMBUJA CONDOTTA A3 B1

8min
pages 117-119

HUGO SCIPIÃO FERREIRA JUNIOR A3 B3 C3 D3 E3 F3 G1

9min
pages 120-130

JARBAS THADEU DA SILVA CUNHA A2 B3 C3 D3

8min
pages 113-116

WALTER ANTONIO STAIGER A1 B2 C2 D2

2min
page 109

WILLIAM ROBERTO ENRLICH DE MIRANDA A1 B3 C3 D3 E3 F3 G2

7min
pages 110-112

VANDERSON DE LIMA A3 B1 C1 D1 E1 F1 G2

2min
page 99

SEBASTIÃO LUIZ DE OLIVEIRA A1 B3 C3 D3 E3 F3 G1

2min
page 87

SOLON WAINBERG A2 B3 C3 D3 E3 F3

1min
page 98

SÉRGIO ALBANO DE MELLO A2

20min
pages 88-96

SÉRGIO JOSÉ CORRÊA A2 B4 C3

1min
page 97

RENATO GOMES DA SILVA A2 B4 C3 D3 E2

17min
pages 71-77

RUBENS IVAN FERREIRA GONÇALVES A3 B2 C2 D2 E2 F2 G2

9min
pages 83-86

ROBERTO FANTONI SAURIN A2 B1 C1 D1

12min
pages 78-82

PAULO TUPINAMBÁ BARCELLOS FERNANDES A3 B1 C1 D1

7min
pages 68-70

PAULO ROBERTO GOMES A3 B4 C2 D2 E2 F2 G1

2min
page 67

PAULO FERNANDO RODRIGUES MACHADO A1

2min
page 66

MAURÍCIO DE FREITAS MOTA A1 B2

4min
pages 63-64

PAULO EDUARDO PRATES DE NORONHA A3 B2 C2 D2 E2 F2

2min
page 65

MARCUS ANGHINONI DE SOUZA A1 B1

1min
page 62

MÁRIO JORGE SILVA DE CASTRO A2 B2

7min
pages 59-61

MÁRIO ANTONIO CASTRO RIBAS A2 B3 C3

2min
page 58

LUIZ CARLOS VELHO SEVERO A3 B3 C3 D3 E3 F3

3min
page 57

LUIZ ANTONIO ROGGIA PITHAN A2 B1 C1 D1 E1 F1 G2

5min
pages 55-56

LUIZ CARLOS GOZZINI DAS NEVES A2 B1 C1 D1 E1 F1 G2

6min
pages 51-52

LUIZ ALBERTO ROGGIA PITHAN A2 B4 C1 D1 E1 F1 G2

1min
page 54

LEONARDO ROBERTO CARVALHO DE ARAUJO A1 B4 C2 D2 E2 F2 G2

5min
pages 49-50

LUIZ FRANCISCO RODRIGUES DA SILVA A3 B2

2min
page 53

JOSÉ MARIA RODRIGUES DE VILHENA A2 B2 C2 D2 E2

4min
pages 43-44

JUNIO MARCELINO DE SOUZA NETO A3 B4 C1 D1 E1 F1 G1

4min
pages 45-46

KLEBER SILVA DOS SANTOS A1 B4 C3 D3 E3

4min
pages 47-48

JOSÉ LUIZ BRANDÃO A3 B2 C2 D2 E2 F2

4min
pages 41-42

JOSÉ EUGÊNIO KOPP JANTSCH A3 B3 C3 D1

2min
page 40

JORGE LUIZ RIBEIRO MORALES A2 B3 C3 D3 E3 F3 G2

7min
pages 36-38

JOSÉ CARLOS LUZ CRIVOCHEIN A2 B1 C1 D1 E1 F1 G1

2min
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JORGE AUGUSTO CORREA A3 B2 C2 D2

2min
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JOÃO SÉRGIO PEREIRA KELLER A2

4min
pages 33-34

JOÃO GASTÃO TELLIER FLORES A3 B1 C1 D1 E1

3min
pages 31-32

JALCIONE PEREIRA DE ALMEIDA A1 B2 C2 D2 E1 F1

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pages 27-30

JADER SALLES BRAUNER A2 B3 C3 D3 E3 F1 G2

5min
pages 25-26

HUMBERTO FERREIRA DUBOIS A1 B1

3min
pages 23-24

EDUARDO FORTES CARPES A2 B4 C3 D3

2min
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DELFIN LUIZ TOROK A2 B3 C3 D3 E3 F3 G2

2min
page 17

CLAUDIO RODRIGUES ALVARES A1 B3 C3 D3

2min
pages 11-12

CYLON ROSA RODRIGUES DE FREITAS A3 B4 C2 D2 E1 F1 G1

2min
page 13

DEJAIR OLIVEIRA BOEIRA A1 B3 C3 D3 E3 F3

3min
pages 15-16

DARCI GARATE NICHNIG A1 B1 C1 D1 E1 F1

2min
page 14
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