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JORGE LUIZ RIBEIRO MORALES A2 B3 C3 D3 E3 F3 G2
– “Pra que lança? Matungo já fazia bom conjunto, já estava bom e em paz” – pensei comigo mesmo.
De nada adiantou. Para o desfile, tinha que estar montado com uma lança.
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Fui adiante e peguei a lança. Lança na mão esquerda, rédea na direita, nada pra se agarrar na sela, pés fincados nos estribos... Matungo percebeu meu vacilo e me lançou um olhar de desdém e um sorriso de sarcasmo!
Corpo pra frente, lança pra fora, puxa a lança, solta a rédea, corpo pra trás. Matungo no passo a passo. Ao trote, lá vai a lança, puxa rédea, Matungo reclama, pé sai do estribo... Enfim, depois de dois ou três treinamentos, o conjunto Zanotta/Matungo/Lança/Rédeas e Estribos se acertou. Ainda tinha a barretina, mas essa não teve problemas. O “sistema todo” até ficou bem.
Lembro que passamos a noite no CPOR. Madrugada cedo, cavalhada foi arrumada, cascos com fita branca. Todos se lembram da velha máxima dos quartéis: o desfile ia iniciar às 10h (por exemplo). O Capitão quer a apresentação às 8h. O Tenente às 7h. O Sargento às 6h. O café seria às 5h. Cavalhada pronta às 4h. Nem precisa comentar sobre para que dormir!
Escuro ainda, lá pelas 5h, iniciamos o deslocamento. Em forma, ali na altura da Borges de Medeiros, na subida, pouco antes do viaduto da Duque. Esquadrão formado, Matungo quieto.
Zanotta e Matungo em forma, na coluna do centro do Esquadrão. Pensei: – “Até que enfim, vou me sair bem!”. Ainda deu tempo de escutar o locutor: – “Senhoras e Senhores, o Sr Governador do Estado do Rio Grande do Sul (acho que era Peracchi Barcelos) passará em revista a tropa do Colégio Militar de Porto Alegre!”.
Foi, então, que iniciou a salva de tiros! Bah! Ao primeiro estrondo, o beiçudo da frente deu um coice, o de trás retribuiu.
No segundo estrondo, Matungo ficou brabo! Atordoado, dava cabeçadas!
Lá se foi a lança, puxei as rédeas!
No terceiro estrondo, os beiçudos todos protestaram! Foi alvoroço pra ninguém botar defeito! O cavalo do lado se remexeu, outro corcoveou, três ou quatro cavalos saíram de forma, puxa daqui, se encosta um no outro. Ainda lembro do cavalo da frente, que balançava o rabo na cabeça do Matungo...
Hoje, parecia que já tinha esquecido, veio tudo à mente, lembranças que nos fazem bem! Dois cavalos campeões de boas memórias!
Boca de Xixi
Tradição, aventura e desbravando novos horizontes, coisas típicas da cavalaria!
Levamos os cavalos da Hípica para o CPOR. Ali ficamos alojados, preparando tudo para o desfile de Sete de Setembro.
Tínhamos que cuidar da cavalhada. A noite seria longa. Nessas ocasiões, sempre rolava a boa e velha canha.
Fizemos um churrasco regado na “canha” e cerveja e nos reunimos para ver a distribuição dos turnos de sentinelas para cuidar dos beiçudos. Para variar, o aluno nada levou e não participou da vaquinha da compra. Já não era a primeira vez.
Combinamos de fazer xixi em uma garrafa e, quando ele fosse pedir para dar um gole, daríamos essa para ele.
A encenação foi tão bem feita que, quando ele pediu para dar um gole, cobramos dele o fato de não participar das vaquinhas e que só daríamos aquela vez, a última!
Eis que ele foi com tudo e deu um baita gole, que não dava pra voltar atrás... Teve que beber tudo e, a partir daí, claro que virou o “boca de xixi”!

AA Zanotta
AA Zanotta
| E NOS BASTIDORES DA INFANTARIA
O Dia em que o Fuzil se Afogou
Acampamento final do Curso de Formação de Reservista, 1971. Exercício militar conjunto com os alunos integrantes de todas as três armas: Infantaria, Cavalaria e Artilharia. O comando geral era do Cap. Chicão. Foi montado, neste acampamento, um campo de concentração; uma barraca para dez homens, lotada de gás lacrimogêneo e cordas trançadas pelo chão, para ser atravessada pelos alunos; cordas entre árvores para fazer falsa baiana; penhasco para fazer rapel; exercício de fuga e apreensão; travessia de rio sem poder molhar a arma e uniforme.
Vou relatar um fato, durante um exercício da Infantaria, ocorrido na travessia do rio. Para atravessar um rio sem molhar a arma e as roupas, só tinha uma maneira: tirar as roupas e colocá-las no interior do capacete e manter a arma fora da água. É verdade que, nesta instrução, foi colocada uma ponte pênsil que ficava sob a água, a uma profundidade de 1m50cm. Teoricamente, todos poderiam atravessar sem problemas… Teoricamente, pois, na prática, o pior aconteceu: um aluno que estava atrás de


Mello, Ari, Antunes e Garcia
mim, quando chegamos no meio do rio, perdeu pé e se agarrou em mim. Na medida em que ele ia subindo em cima de mim, eu ia afundando com arma, capacete e roupas. Para não me afogar, tirei o capacete da cabeça, pois ele me impedia de subir à tona, e deixei cair a arma da mão, que foi parar no fundo do rio. Saí da água somente com a cueca no corpo. Graças a um aluno que tinha o apelido de Índio e ao Jader, os melhores mergulhadores do grupo, foram encontrados, quase que imediatamente, o meu capacete e as roupas, mas a arma não foi possível. O Chicão ficou uma arara de brabo e determinou que a arma tinha que ser localizada de qualquer maneira. Ficamos até tarde da noite mergulhando naquele rio, mas a “porcaria” da arma foi encontrada.
AA Karam

Atravessando Riacho Serraria CFR
Meu Primeiro Rapel
O ano é 1971, Curso de Formação de Reservistas – Infantaria – CMPA, exercício no campo. Adolescentes, 16-18 anos em média, cheios de ideais, grande curiosidade do que iríamos enfrentar. Instrução preliminar, seguida de prática de Rapel em “S”. É uma forma de descida com corda, envolvendo o corpo fazendo um “S”. Enquanto se puxa a parte solta (chicote) da corda, esta desliza pelo corpo, coordenando com saltos empurrando a parede do penhasco. Até aqui tudo é novidade, mistura de apreensão e oba-oba!
Começa a prática!
Um a um vão os alunos descendo, aparentemente sem problemas. Chegou a minha vez! Tomo a posição à beira do barranco, passo a corda pelo corpo, tudo pronto. É chegada a hora de sair da posição em pé, apoiado no solo, para a posição de costas para o abismo, com os pés na parede do barranco, dependendo apenas de si mesmo e da resistência da corda.
O medo do desconhecido, aliado ao espírito de sobrevivência, desencadeia uma taquicardia, suor frio, quase pavor. Vontade enorme de desistir. Eis que escuto: “Pode ir” E agora? O medo é tanto que dá vontade de gritar: “Quero minha mãe”! “Não brinco mais contigo!”.
Mas o menino está se tornando homem e a coragem venceu o medo! A vida é feita de desafios a serem superados! Aos poucos, começo a descida, pernas abertas para dar estabilidade, inicialmente, pequenos e tímidos saltos, sinto a sensação de segurança, a autoconfiança aumenta, começo a gostar do que estou fazendo. Arrisco um salto maior, quero aproveitar a sensação de liberdade e superação pessoal. Que coisa boa esse tal de Rapel! Com a sensação de “quero mais”, aproveitando o momento inédito, chego ao solo. Que pena! “Posso repetir?”. Infelizmente era apenas uma vez. Ao longo da vida profissional, como oficial de Infantaria, tive inúmeras outras oportunidades para praticar e aperfeiçoar a técnica. Ministrei instruções de Rapel, mas, cada vez que chegava o momento de passar do plano horizontal para o plano vertical, me vinha à cabeça o célebre “Pode ir”. Foi uma inesquecível experiência que acrescentou à minha personalidade, ainda em formação, a coragem e a autoconfiança para enfrentar diversos outros obstáculos.
Encerrando, lembro de uma frase que ouvi na Academia Militar num momento, também, de desafio: “Os fracos que fiquem pelo caminho, porque a vanguarda é dos heróis!”.
Salve a Companhia de Operações Especiais CMPA, Infantaria/1971.

AA Campello
“Pausa” no Rapel
Desci do caminhão e logo me deparei com aquela enorme “parede” de pedra. Deveria ter, no mínimo, uns 15m de altura. Alguns instrutores estavam posicionados lá em cima, de onde pendiam grossas cordas. Ali faríamos nosso exercício de rapel, descendo pela face daquela pedreira.
Instrução dada, com um Sargento demonstrando como passar a corda entre as pernas, voltando pelas costas, posição do braço que atuaria como freio na descida e pernas levemente dobradas, lá fui eu para o exercício. E pensar que não havia nenhum esquema de segurança, uma segunda corda presa à cintura...
Logo percebi que o movimento mais difícil era na saída, quando o corpo deveria ficar quase perpendicular à face da pedreira. Passado esse ponto crítico, as pernas já não tremiam e venciam os primeiros metros de descida. Eu até estava achando muito legal.