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KLEBER SILVA DOS SANTOS A1 B4 C3 D3 E3

quando chegava era farinha de bolacha encharcada no leite derramado das jarras.

Os aspectos lúdicos estavam sempre presentes, descendo para o rancho, felizes iam os internos, em muitos momentos, a cantar músicas próprias para o momento, tais como:

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“Bate sino, pequenino Sino do jantar Pra chamar a macacada Pra se envenenar Hoje a boia é boa Tem arroz queimado Sola de sapato E tomate estragado E para sobremesa Sopa de angu Mocotó de lesma E doce de urubu”.

Atenciosos e colaborativos com o Sargento de Dia, a exigência de silêncio total, ao formar para o rancho, era cumprida ao “pé da letra”, inclusive, no deslocamento, ninguém batia o pé durante a marcha para não desobedecer o nobre monitor.

Enfim, a melhor hora do dia, o “passeio higiênico”, plagiando uma peça publicitária da época: “que hora tão feliz”. Saiam para passear fora do Colégio, num circuito delimitado, mas era o suficiente para manter a sanidade da rapaziada.

Era hora de namorar, comer um farroupilha com batida de banana no Bar do Beto, que iguaria, a pipoca quentinha do Seu Filandro, a melhor de Porto Alegre; ir ao mercado comprar material de higiene, na livraria buscar um caderno novo, uma caneta, aos bares comprar cigarro, produto proibido aos ginasianos, uma revista, um gibi, os mais ousados adquiriam uma Playboy, ou Ele e Ela, que entrava escondida.

Às19h, todos no alojamento, para a “revista”, nos presídios isto é chamado de contagem, depois, de imediato, estudo obrigatório, sob a vigilância do Sargento de Dia ou de um aluno monitor, aluno do 3º ano Científico, destacado para cuidar da gurizada, homenagem aos monitores de 1966: Adão, Castilhos, Moleda e Zito.

Neste nobre tempo, se dedicavam a importantes assuntos: colocar em dia a correspondência familiar e amorosa, alguns escreviam diários registrando as peripécias dos dias enclausurados, jogatinas infantis como “forca” e “batalha naval”, pela lenda, ali foram afundados mais navios que em toda história da humanidade; resolver “palavras cruzadas” ou “caça palavras” no livreto comprado ou no almanaque apanhado no balcão da farmácia, durante o passeio higiênico; os mais aculturados se dedicavam à literatura, as obras mais “estudadas” eram as do mestre Carlos Zéfiro, grande educador dos adolescentes brasileiros. Estudar? Ah, sim, nas vésperas das provas.

Literatura muito preferida... Obras de Carlos Zéfiro

Às 21h, as celas, ops, salas de aulas eram liberadas, seguiam para a ceia noturna, corriam para uma última partida de ping-pong ou para conseguir um bom lugar na frente da TV, podiam assistir a série até o final se o humor do Sargento estivesse bom ou, 22h em ponto, a TV era desligada. Vale lembrar que era grande o número de garotos que só tinham visto TV ao chegarem no Colégio.

Com a heterogeneidade dos internos, era constante socialização (voluntária ou não tanto) de experiências gastronômicas, fruto de visitas às casas paternas. Os oriundos da fronteira traziam algumas mercadorias das terras dos “hermanos”.

Depois, dormir. Antes, claro, fazer uma inspeção na cama para ver se ela não havia sido desarmada e preparada para “desmanchar” quando fosse utilizada, os descuidados acabavam no chão, amanhã seria mais um dia maravilhoso de conquistas e aprendizado.

AA Pinent, AA Leitune, AA Dubois

| “CAUSOS” DO INTERNATO

“Causo” 1

Sempre ao entardecer e, após o jantar, os alunos internos formavam pelotão por Companhia para a revista (confirmar presença) e instruções. Certa feita, na 2ª Cia, durante a confirmação de presença e palavras de orientação do Sargento, cansado de ser chamado pelo apelido “MARRETA”, penalizou o grupo com ordem unida, proibindo chamá-lo pelo apelido. Eis que uma voz sorrateira e alvoroçada do pelotão, acredito que foi o “Cabeção”, gritou: “Tá bem, MARTELO”. A gargalhada foi geral e o Sargento mais quente ficou.

“Causo” 2

Pelo ano de 1971, já no científico e na 2ª Cia, os internos tinham mais liberdade para sair e chegar ao CMPA. Para não ficar um grande alojamento, a Cia dividia a área em quartos, utilizando fileiras de armários justapostos, com aproximadamente sete/dez camas de um lado e sete/dez camas no outro lado. Assim, ficava um pequeno corredor entre a cabeceira da cama e os armários, e um grande corredor entre os pés das camas.

Em um desses quartos, o Pafiadache foi meu vizinho. Como um número de alunos retornava tarde da noite, algumas pegadinhas eram preparadas, como: • As camas de ferro, de encaixe, eram desmontadas e armadas fora dos encaixes. Quando o aluno ia deitar a cama desarmava e o barulho acordava muita gente. • Os armários eram trocados/virados entre os quartos e o aluno não conseguia abrir o cadeado. Passava a noite procurando.

“Causo” 3

Próximo às férias de verão, a grande maioria dos internos começava a deixar crescer os cabelos, tentando burlar a regra dos cortes. “Um, dois ou três ZEROS” e aí entrava a “brincadeira”: as cabeças mais cabeludas eram selecionadas e, no dia seguinte, o aluno acordava com os cabelos colados com pasta de dentes.

O distúrbio era geral e as noites mal dormidas, pois, muitas vezes, as luzes do alojamento tinham que ser ligadas.

Teve um que acordou com a cama no banheiro pela manhã.

“Causo” 4

O DIÓ, Deoclécio, se queriam encontrá-lo? Era só ir ao banheiro: estava sempre lustrando

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