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RENATO GOMES DA SILVA A2 B4 C3 D3 E2

| HISTÓRIAS DO DARCI Uma pescaria desastrada

Sempre depois do almoço, lá no colégio, a gente estava liberado, por uma hora, até a formatura e podia fazer o que quisesse. Então, eu adorava ir para a Redenção passear, ver as árvores, os pássaros e o lago. Um dia estava lá, mexendo com os peixes, e caí dentro do lago, me molhando todo! Resultado: na formatura da tarde, o colégio inteiro de uniforme e eu usando a pelerine num sol escaldante!

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Meus cabelos longos

E a outra que me acontecia seguido, entre a quarta série e o primeiro científico, era que, normalmente, eu andava com o cabelo um pouco crescido, o Cap. Mascarelo andava atrás de mim nas arcadas, me procurando e eu me escondendo dele.

Prêmio merecido

Uma vez, teve um concurso de fotografias no CMPA e eu tirei o segundo lugar, ganhando um livro e não sei mais o quê. Mas, para isso, eu peguei as revistas National Geographic de uma amiga, recortei todas as fotos sobre o Grand Canyon e estraguei toda a revista da guria...

AA Darci

| AS VACINAS

Só de nos lembrarmos delas, já sentimos dor: as “memoráveis vacinas”!

Dia da vacina, na verdade, era um terror! É que nem paraquedista, depois que entra em forma naquela enorme fila, encarando a porta no primeiro piso, a subida da escada e a caminhada para o matadouro no 2º piso, não tinha como refugar. Seria muita vergonha voltar, diante de todo mundo e, claro, que motivo para gozação futura. Além do mais, elas eram obrigatórias... Paraquedista, depois que chega à porta, tem que ir ao sacrifício. Não tem como dizer “– Por que eu inventei de fazer isso?”. Decolou, bailou!

Quando a gente via os colegas levando aquelas agulhadas, uma de cada lado, a perna tremia, ainda mais vendo, na parede, um “Popeye” com uma seringa maior que ele, pingando sangue (era um poster da enfermaria…), aplicadas por aqueles dois “subordinados do Cap. Vilhena” (pai do nosso colega 43), muito disciplinados, que não refugavam “o crime” nem pela nossa, quase desesperada, atitude de recolher o braço para dentro do outro... bem... depois do “assassinato” executado, era a hora de “pagar mistério”, com a cara bem feia. Tinha, ainda, as vacinas aplicadas por pistolas a ar comprimido, um verdadeiro “tiro gelado”, a saciar a índole de combatente dos “enfermeiros”. Essas vacinas eram sempre aplicadas às sextas feiras, porque, invariavelmente, ficávamos fora de combate e com dores nos braços por todo o final de semana. Nosso tempo foi assim, até sofrimento vira história. AA Sebastião, AA Aita, AA Darci e AA Cylon Vacinas- uma pistolada em cada braço

| OS TRAUMATIZADOS PELO CORAL DO CMPA

A saudosa Profª. Dinah Neri Pereira foi uma das mulheres que marcaram a história de Cachoeira e de Porto Alegre.

Quando estava na Capital, notabilizou-se ao reger os Coros Orfeônicos do Instituto de Educação General Flores da Cunha, da Escola Preparatória e do Colégio Militar de Porto Alegre.

No Instituto, foi professora de Elis Regina, iniciando-a na música. Já no Colégio, deixou algumas marcas profundas e traumáticas em alguns alunos:

Fábio: A Professora Dinah Nery me testou para o Coral e disse que a minha voz não se enquadrava em nenhum lugar… Me deixou traumatizado até hoje.

Araujo: Também aconteceu comigo, e fui reprovado de pronto! Foi aí que decidi aprender a tocar violão e cantar... Creio que muitos de nós foram “voluntários” para ir lá fazer o teste no Coral...

Leitune: Eu estou no mesmo time do Fábio, rejeitado no primeiro dia.

AA Araujo

| GUARDA DA PIRA DA PÁTRIA

Acho que foi lá pelos idos de 1970, 1971. Fui escalado para participar da Guarda da Pira da Pátria, ali em frente ao Colégio. Tivemos que, após participar do desfile de Sete de Setembro, nos apresentar no CM, pelas 20h, para dar uma treinada dentro do Colégio.

Ficamos com o último turno da Guarda, quando ocorre a cerimônia de extinção do fogo da Pátria. Saímos do Colégio marchando e nos posicionamos no local. De repente, um colega, que não lembro o nome, (era um magrão) e estava à minha esquerda, dá uma golfada de vômito que saltou longe. Foi tragicômico. Ficamos firmes, como se nada tivesse acontecido. Dentro do CM, demos muitas risadas. O brabo é que não lembro os nomes dos demais colegas. Lembro que houve uma chuva de fogos de artifício e vários “pauzinhos” dos fogos caíram e bateram em nossos capacetes.

AA Brandão

| HISTÓRIAS COM O SARGENTO PEDROSA

Entre o susto e a lição

O Sargento Pedrosa, que era o monitor do Esquadrão de Cavalaria, sentiu cheiro de cigarro no fundo da sala, no intervalo entre as aulas, e perguntou quem tinha fumado. No ginásio, era proibido fumar e, se fosse no interior da sala de aula, pior ainda! Sentimos a aproximação dele e, rapidamente, apagamos e escondemos as baganas.

Mas o cheiro na sala de aula nos denunciou. Ele colocou a turma em sentido e perguntou, novamente, quem estava fumando. Ninguém se acusou.

Então, ele comentou: “Os homens assumem o que fazem”. Se ninguém se apresentasse, toda a turma seria responsável. E saiu. Me senti um guri de merda, medroso, não assumindo meus atos, e a turma fiel, em silêncio, assumindo a culpa. Em posição de sentido, me apresentei para ele, pronto para tomar um fim de semana detido, e disse que eu tinha fumado. Para a minha surpresa, sua resposta foi: – “Parabéns, Cantão, não vou dar parte de ti, foste um homem e te responsabilizaste pelos teus atos e não entregaste os colegas. Assim,

age um homem. Só não fuma de novo no colégio, pois terei que te punir”.

Aquele pequeno homem tornou-se um gigante na minha frente. Tornamo-nos grandes amigos, com bons papos nas horas de folga. E a lição me acompanha na minha vida: sempre assumir meus atos e a verdade acima de tudo. Minha continência à sensibilidade e sabedoria deste mestre. Fomos uma geração privilegiada.

AA Cantão

De monitor a bixo

Quando saí do colégio, fiz vestibular e passei na UFRGS em Ciências Contábeis.

No ano seguinte, quando eu vi, o Sgt. Pedrosa entrou, também, na faculdade e ele era meu bixo... Eheheheh.

Aí eu me aproveitava dele... Dizia para ele: – “Vem cá, bixo, vou te passar um trote…”.

Ele ficava louco comigo.

AA Darci

O Sargento errado na hora errada

A gente tinha horário de estudo e ficava na sala de aula, praticamente, sem fazer nada. Numa destas, um colega falou que ia na cantina comprar um salgado e perguntou se alguém queria alguma coisa. Ninguém quis nada e ele foi até a cantina. Sabendo que ele ia voltar, eu peguei o cesto de lixo coloquei em cima da porta, deixando-a entre aberta, esperando o colega voltar e ver lata de lixo cair na cabeça dele. Mas, nisso, quem voltou foi o Sgt. Pedrosa. Entrou empurrando a porta e aquele cesto de lixo, cheio de papel, casca de banana, bagaço de laranja, cheio de tranqueira caiu e emborcou na cabeça do Sargento Pedrosa.

Não precisa falar muito que todo mundo que estava na sala se mijou de rir, mas eu fui o único que caiu da cadeira... O Sargento não me perdoou... Daí pra frente, eu passei ser o alvo predileto do Sargento... Em toda a revista, ele parava na minha frente, sempre procurando uma coisinha errada...

Sargento Pedrosa, com uma lata de lixo emborcada até o ombro, cheio de papel, casca de banana caindo na cabeça dele... foi uma visão do paraíso... Ahahahah.

AA Falcão

| ANIVERSÁRIO DO PROFESSOR TÚLIO, UM ATO DE CORAGEM!

No CMPA, como era de se esperar, o relacionamento dos professores com as turmas e alunos seguia protocolos disciplinares bastante rígidos. Por outro lado, importante relatar, matemática era das matérias tidas como das mais “duras” em termos de ensino-aprendizagem.

Voltando no túnel do tempo, estávamos no ano de 1967, 2º ano ginasial, a Turma B3. A lembrança era do período da tarde, na sala de aula localizada na parte superior do rancho, onde o CMPA se volta para a Rua Santana.

Ao longo daquele ano, a turma desenvolveu uma especial empatia para com o professor Túlio Paulo Ordovaz Santos, fazendo emergir uma relação de muita consideração e amizade.

Eis que descobrimos o dia do aniversário do Prof. Túlio! Decidimos preparar uma surpresa para ele. Foi comprado bolo, o disco do cantor José Mendes, com a música “Para Pedro” – que ele detestava – e uma flâmula do Internacional,

time que ele torcia, flâmula essa trazida pelo Scipião e assinada por toda a turma.

Naquele dia, Prof. Túlio sentiu um olhar estranho dos alunos em seu rosto. Scipião e Pinent contavam os segundos e se entreolhavam. Morales mordeu o lábio e começou a interrupção. Em determinado momento, eis que Sebastião e o Estancieiro iniciaram a cantar o “Parabéns pra Você”. Foi uma só voz, todos cantavam juntos!

E aí não teve mais aula. Foi levado um toca-discos e a música “Para Pedro” foi repetida várias vezes. O disco, um compacto simples, foi presente, não sabemos se ele quebrou ao chegar em casa! O fato é que ele ficou muito emocionado com a surpresa e o carinho da turma. Foi muito divertido, sem dúvida!

Hoje, pode parecer uma coisa normal. Mas, naquela época, o que fizemos, ao quebrar o protocolo formal de uma aula, foi um ato de coragem, de afeto e camaradagem! Boa lembrança, caro Prof. Túlio!

AA Antunes, AA Zanotta

| O PÔNEI

Em 1971, recebi a missão de buscar, depois de Guaíba, um pônei fêmea, que seria a mascote do Esquadrão de Cavalaria, montada por um aluno do 1º ano do ginásio (meu irmão, o Ronaldo Cantão) no desfile de Sete de Setembro. Recebi um caminhão militar com motorista, uma carta do III Exército de salvo conduto e preferência de travessia da balsa. Eu comandava a viatura e era responsável pelo transporte, embarque e desembarque do equino.

AA Cantão

| OBJETOS VOADORES NAS AULAS DE HISTÓRIA

Nós estávamos na quarta série do ginásio, ano de 1969, na sala D3, aquela mais próxima à sala de reunião dos professores, lá no fundo do colégio, à esquerda, e a aula era do Cel. Teixeira Leite. O assunto era Segunda Guerra Mundial.

Como sempre, o Professor Teixeira Leite mantinha sua didática de escrever no quadro negro a síntese da matéria. Ai do aluno que não mantivesse seu caderno atualizado com a transcrição do conteúdo posto no quadro, aliás, nos quadros negros. Terminava num quadro negro, passava para o outro quadro negro e continuava escrevendo, sem olhar para trás. Pedia para um aluno apagar o quadro antes utilizado, e dá-lhe texto e giz!

Nesse dia, ele já estava no terceiro quadro negro! Repentinamente, para de escrever. Vira-se e observa toda a sala de aula. Todos escrevendo! Olhou para o Scipião, o 120, que, nesse momento, o observa com a mente esparsa em outras coisas. Entrechoque de olhares!

Pergunta o Professor: – Você, diga, Hitler era de direita ou de esquerda?

O Miranda, o 110, que sentava ao lado do Scipião, era um relativo bom aluno de história e gostava do assunto. O Scipião olha para o Miranda pedindo ajuda, que, por sua vez, imagina como auxiliar o amigo. Eis que, num lampejo, Miranda lembra da bandeira com a suástica nazista, quase sempre na cor vermelha. Associa, então, o vermelho e pensa: “Esse cara foi de esquerda”.

Miranda cochicha: – “Esquerda”!

Não deu outra, o Scipião respondeu: – “Esquerda, Professor”!

A surpresa acontece! Professor Teixeira Leite para, vira, apanha o apagador, olha para o Scipião que, por sua vez, pressentindo o perigo do impacto daquele objeto voador, afasta a cadeira

para o fundo e abre espaço para poder se abaixar. Não deu outra! O apagador é arremessado na direção do Scipião, quica na carteira e vai bater lá na parede do fundo da sala.

A seguir, Prof. Teixeira Leite, com a mão branca de giz, apanha seu material na mesa e põe debaixo do braço, coloca o casquete (bibico) na cabeça, olha para toda a turma e diz: – “Hoje eu não dou mais aula, até logo”! E vai embora, terminando a aula na metade.

Outras narrativas dão conta do arremesso de giz com boa pontaria em situações de respostas similares.

Deixamos aqui nossa admiração pelo Professor Teixeira Leite, um excelente professor de história! Todos nós gostávamos dele e o respeitávamos demais!

AA Miranda, AA Zanotta

| MINHA HISTÓRIA COM O PROFESSOR TEIXEIRA LEITE

Me lembro que era da turma A2 e ainda não tinha uniforme, então, usava a roupa civil. Era aula de história com o Prof. Teixeira Leite. Lembro de ele ter pedido para eu subir no estrado. Eu era muito baixinho, um dos menores da turma.

Ao subir no estrado e ficar de frente para os colegas, ele começou a me dar um beliscão e eu não estava entendendo nada. Imagina, eu tinha um metro e meio de altura, acho, ao lado de um Coronel alto e forte. Ele começou a apertar, segurei a onda, e ele me apertava cada vez mais, e eu pensei: “O que esse cara quer?”. Aí ele começou a torcer e eu dei um berro e ele, então, começou a explicar a história em causas e consequências: que o beliscão era a causa e a consequência foi o meu grito. Este fato é um detalhe, mas eu me lembro bem. Até hoje tenho o caderno de história dele e sou um estudioso do tema.

Tenho vários livros de história do Brasil e gosto de ler sobre o assunto, procuro estar bem atualizado. Às vezes, é um beliscão que faz toda a diferença. Até hoje eu adoro e curto história. Me interesso muito.

AA Martini

| EXPULSO DA SALA, AULA DE HISTÓRIA... ADIVINHEM POR QUEM?

Esse mesmo... Cel. Teixeira Leite!

Sempre que encontro o Fábio Gomes, nosso grande parceiro Trator, relembramos esse episódio dando boas risadas.

Vou contá-lo aqui do jeito que lembro! Estávamos lá, na aula de História, assistindo aquela espécie de locomotiva fumegante: escrevendo e fumando, cigarro e mais cigarros. Pior, acendendo um no outro. Nós ali, superconcentrados, tentando acompanhar aquele ritmo alucinante do nosso querido Mestre, mas não era fácil.

Na sequência, ele se sentava saltitante em sua mesa e acendia mais um cigarro. Iniciava, então, sua narrativa empolgante sobre os acontecimentos históricos. Nós acompanhávamos tudo, ávidos de algum fato inusitado, que ele nos trazia de forma brilhante, mas, também, dava uma “travada” no ritmo, nos permitindo dar uma respirada em meio aquele turbilhão de informações e dúvidas sobre o que iria cair no próximo TE, ou TC, vai lá saber!

Na ocasião, a narrativa era sobre as Guerras Cisplatinas e a questão do Gado Bravio, que vagava solto no Pampa trazido pelos Jesuítas. De repente, nosso Mestre cometeu um erro que

passaria despercebido, se não fosse a minha babaquice naquele momento: virei meio pro lado e pra trás, cochichando baixinho, mas com um sorriso “meio” debochado, comentando no grupinho em volta algo sobre o erro do “Teixerinha”. Era assim como nos referíamos a ele!

Pra quê!!! Se alguém lembra, a locomotiva descarrilou na hora. Lá veio ele, cuspindo e bufando pelas ventas pra cima de mim. Me intimidando, perguntou o que eu falara, naquele jeito “tranquilo” dele.

Eu, burro, imagino, ainda, com um resquício do sorriso, respondi: “Professor, o senhor falou, Gado Charrua. Não é Charrua, é Gado Chimarrão (ou Cimarron como diziam os espanhóis. Isso eu pensei, mas não falei. Talvez não estivesse aqui contando se o tivesse feito).

A cena seguinte foi bem forte: ele me jogou um giz e, esbravejando, me expulsou da aula. Até hoje, não lembro o que falou, mas saí o mais rápido que pude!

Aprendi muito, mas muito mesmo, com aquele episódio: ser sempre humilde e respeitoso com os nossos Mestres, em tudo na vida, e também: o espaço de aprendizado é sagrado, pelo saber que nos traz e os conhecimentos que deixam!

Uns dias depois, deixei baixar a poeira do momento e fui pedir desculpas em seu caminho, pelas arcadas, rumo à Sala dos Professores. Ele me olhou com um sorriso, deu uma boa gargalhada e encerramos o episódio reconciliados!

Meus caros colegas e amigos, mesmo com seus pequenos enganos, o Cel. Teixeira Leite foi incrível ao nos ensinar. Ele nos inoculou o vírus da História com todo o seu encanto. Pelo menos em mim, ficou o amor profundo pela História, como saber inestimável e imprescindível para entender melhor o mundo, seus personagens e a civilização!

MUITO OBRIGADO NOSSO GRANDE MESTRE DE HISTÓRIA!

AA Tupinambá

| AS PELADAS DAS QUINTAS

Outra história é no terceiro ano do científico, 1972. Nós tínhamos uma equipe de futebol de salão: era o Alencar no gol, Scipião, Karam, o Kiko Martini, o Pöppl e eu, Miranda.

Toda quinta-feira de manhã, às 10h30min da manhã nós jogávamos futebol de salão contra os instrutores. Pelo horário do jogo, tanto os instrutores como os monitores, que jogavam conosco, sabiam que nós só podíamos estar matando aula para jogar bola.

No entanto, passamos o ano inteiro jogando aquela pelada, na quinta-feira, e nunca ninguém nos reprimiu ou chamou a atenção. Aliás, quem devia chamar a atenção eram os próprios instrutores e monitores: “Vocês, que estão aqui nessa hora, deveriam estar em aula”. Que nada, eles continuavam e a pelada transcorreu o ano

inteiro. Tinha, também, um fato inusitado com o Martini… Ele era da legião de honra, não sei mais que lá, nunca queria matar aula para jogar bola e dizia: “Não, essa aula que vem agora é de química, eu quero assistir... é de matemática”...

O Pöppl ia lá na sala de aula, recolhia os cadernos dele, pasta e tudo, e saía lá para o pátio e dizia para o Kiko: “Não vai assistir aula coisa nenhuma, vamos jogar pelada”. Meio contrariado, o Kiko dizia que seria a última vez que faria isso. Jogou bola conosco o ano todo... Transcorreu o ano inteiro e, desde o Comandante até o Cabo velho do rancho, todos sabiam que nós estávamos matando aula e, no entanto, passamos o ano inteiro jogando bola sem problema algum.

| A BOTA QUEIMADA

A Turma D1 funcionava numa das novas salas voltadas para a Venâncio Aires, próximo da Biblioteca. Era sexta-feira, meados de junho, dia frio, sala fechada, alunos com japona. Aulas de Ciências Físicas e Biológicas, CFB.

O professor, amistosamente, chamado de “João, o louco”, usava roupas da moda, cabelos com corte moderno, meias verde-limão, óculos extravagantes. Dizia que a matéria CFB era tranquila, atual, não reprovaria ninguém.

Na primeira aula, descreveu a biologia ligada ao intestino humano. Explicou que um adolescente/aluno chegava à produção de até 2000 ml de gases intestinais.

Descreveu o famoso pum, cuja composição química tem vários gases, como nitrogênio, hidrogênio, dióxido de carbono, metano, oxigênio e 1% de sulfato de hidrogênio. Esse 1% seria o responsável pelo cheiro. A velocidade média de propagação de um pum chega a 3 m/s!

Fez um célebre acordo com a turma: não soltar gases durante as aulas de CFB. O que foi feito e respeitado! Até que um dia...

Sabe-se que houve, sim, tentativa de segurar ao máximo, porém o infrator não conseguiu reter o cheiroso.

O odor horrível começou, parece, do lado esquerdo. O cheiro insuportável iniciou sua propagação de modo sorrateiro.

As primeiras medidas de proteção eram as mangas das japonas. Começou a efervescência entre os alunos. O mau cheiro empesteava o ambiente de maneira nunca vista!

O professor sentiu o fétido ar ao seu redor! Seus olhos ficaram vermelhos diante da magnitude desagradável do mau cheiro daquela coisa. Tremia, quando disse: – “Ah, isso não pode ficar assim. Vocês quebraram nosso trato”! – “Queimaram uma bota na sala de aula!” – disse ao adentrar à sala do Capitão Cmt. da Cia. de Alunos, e relatou, nervoso, o acontecido.

A turma D1 imaginava que iria ficar detida no fim de semana, quando o Sargento monitor compareceu à cena e deu algumas ordens: – “Viemos investigar a presença de gás mal cheiroso em sala de aula. Turma pra fora, em forma, uma linha em uma fileira! Alinhar, Sentido, Descansar. Preparar para inspeção das botas, quero dizer, dos borzeguins!”.

Um a um os alunos mostraram suas “botas”. Tudo sem marcas ou manchas de queimaduras.

O Capitão explicou a situação e disse: – “Apresente-se, voluntariamente, o culpado!”.

Nada... Não havia transgressão! A turma D1 era muito disciplinada!

Eis, então, que o Capitão e o Sargento se deram conta de que o “queimaram uma bota”, como denunciado pelo professor, significava que alguém havia soltado um pum na sala de aula. Até hoje, não se sabe se a cara de extrema contrariedade que eles fizeram naquele momento era por causa dos alunos ou do professor!

História baseada em fatos verídicos, conforme vários testemunhos!

AA Miranda

AA Zanotta

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