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PAULO TUPINAMBÁ BARCELLOS FERNANDES A3 B1 C1 D1

OUTRAS HISTÓRIAS NO CASARÃO

| BATALHA DO ROSÁRIO

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Jogo válido pela Copa Cauduro de futebol de salão, Rosário x CMPA, no ginásio deles, os internos liberados para acompanharem o jogo, in loco.

A chegada da torcida do “Militar”, momento apoteótico, todos uniformizados, recebida com uma inflamada e estrondosa vaia, sob os gritos “baleiros, balas!”.

Impassíveis, os disciplinados alunos adentraram ao Ginásio tomando seus lugares nas arquibancadas; alguns mostravam a expectativa do placar com o dedo médio (1x0), outros concordavam com os apupos através do sinal de OK, com a mão direita.

Característica da gentil torcida do CMPA era os alunos, para prevenir problemas abdominais, usarem uma larga e forte cinta de couro, em cor branca, com um discreto fecho metálico, ajustada na cintura, por baixo da túnica.

O Rosário vencia, com tranquilidade, por 2x1. Assim o jogo corria até que: “gol do Militar”, “gol do Fiapo”, guri convocado, às pressas, naquela mesma tarde. Alegria, os “baleiros” comportados, entre apertos de mãos, aplaudiam seu herói com cânticos de louvor; reinício do jogo, nosso inocente craque “Fiapo” retoma a bola, sequência imediata, é “levantado” por um brutamonte adversário, caindo na quadra. A torcida, solidária e preocupada, corre em socorro ao colega abatido; os violentos adversários, num desejo mórbido que o pior ocorresse com o craque caído, se opunham, o que obrigou uma atitude ríspida, mas necessária. Intervenção mal-entendida, que deu origem a gládio generalizado.

Os monitores, de forma gentil e organizada, dirigiram os torcedores para fora do Ginásio, enquanto, a portas fechadas, dentro, os facínoras rosarienses impediam a apresentação das necessárias desculpas pelo mal-entendido. Situação delicada para os nobres cavaleiros que representavam nossa Academia.

Alguns vândalos torcedores do Rosário saíram antes do ginásio e receberam os pacatos “militares”, ou, na linguagem deles, “baleiros”, com pedras. O Capitão Moraes, que orientava a torcida organizada, foi atingido por um desses petardos e teve que ser atendido no Pronto Socorro.

Inconveniente que não podia evitar o necessário pedido de desculpas pelo mal-entendido. Uma fria porta de madeira os distanciava do ato de civilidade.

Vândalos afastados; os torcedores do “Militar”, reagrupados, formaram escalões e, ao comando de um mais antigo, corriam, em grupo, e se jogavam sobre aquela muralha, tentando abri-la. Quando estavam a alcançar o objetivo, surge a Polícia do Exército, preocupada com a possibilidade de ferimentos. No intento de escusas, solicitou, mui educadamente, que pa-

rassem e retornassem ao abrigo do Casarão da Várzea.

Assim foi feito, sob as vistas da escolta protetora; os alunos entraram, marcialmente, no pátio do Colégio, onde foram apresentados ao Comandante do Corpo de Alunos, que se deslocou até o Colégio para recebê-los, aproveitando para passar conhecimentos sobre a vida em sociedade e a importância do fim de semana na vida dos adolescentes, finalizou deixando o grupo aos carinhosos cuidados do Oficial de Dia.

Experiência pedagógica inesquecível.

AA Fagundes, AA Leitune, AA Pinent

| A LENDA DO TÚNEL

Reza a lenda que existiria um túnel no subsolo do colégio que permitiria a entrada ou saída de tropas em caso de necessidade. Alguns chegam a dizer que foi usado durante as diversas revoluções que houve no Brasil, a partir de 1893, e que sua entrada se situaria próxima ao Monumento ao Expedicionário ou na Rua Vieira de Castro.

Na verdade, como o quadrilátero do CMPA é um enorme coletor de águas, o que há é um grande esgoto pluvial com cerca de um metro de altura, que se inicia na Vieira de Castro e passa pelo centro do pátio, prolongando-se em suave declive até 300 metros na Avenida Venâncio Aires. Suas três entradas, hoje bloqueadas, situavam-se na Rua Vieira de Castro, próximo ao Laboratório de Física e próximo ao rancho.

Nos tempos da EsPPA, alguns alunos fugiam à noite, utilizando-se das entradas do Laboratório de Física e a da Rua Vieira de Castro. Outra “rota de fuga” era pela abertura externa do porão existente na ala norte da Avenida José Bonifácio. A propósito, a construção inicial do prédio era do tipo “casa de porão alto”, com porões sob todos os pisos. Tais porões foram sendo aterrados pelas modificações havidas no prédio, até só restar, hoje, uma abertura (escotilha) cumprindo a antiga função de “arejamento”.

AA Araujo

| O CORONEL DE BRANCO

Verdadeira lenda do CMPA, o “fantasma” do Coronel de Branco, terror da bicharada interna nos anos 60 e 70, costumava “aparecer” à noite. Esse “fantasma” teve origem no assassinato a tiros do Cel. Galvão do Nascimento Leães, Comandante da EPPA, no dia 22 de março de 1960, perpetrado por um Oficial que havia sido acusado de desvio de dinheiro.

Como, no ano anterior, houvera um incêndio que atingira o Gabinete de Comando e outras dependências próximas, o Comandante passou a despachar no piso inferior da Biblioteca, onde se deu o assassinato. Em consequência, para colocar a fotografia do ex-comandante no Gabinete, teve-se que aproveitar uma em que ele vestia a túnica branca, sendo o primeiro a ter a foto com esse uniforme, daí o nome “Coronel de Branco” (em solidariedade a seu antecessor, o Cel. Saraiva, também, fez sua fotografia com a túnica branca).

Com o reinício do CMPA em 62, os veteranos passaram a aterrorizar a bicharada à noite, contando sobre o fantasma e “representando-o” com um aluno vestido com lençol branco e correndo pelas arcadas escuras.

AA Araujo

O Coronel de Branco no alojamento da Primeira Companhia?

Numa segunda feira do mês de junho de 1966, primeiro ano no Colégio Militar, um frio de “renguiá cusco”, na carona do sopro do Minuano. Fora os trotes normais, os veteranos contavam muitos causos ocorridos no Velho Casarão e, entre eles, o do “Coronel de Branco”. Conta a lenda que ele teria sido morto por um desafeto, nas dependências da Biblioteca. Naquela biblioteca, onde tinha fotos enormes dos que comandaram o CM, e, claro, lá estava o “Coronel de Branco”. Era impressionante, toda vez que precisei ir à biblioteca, lá estava ele me cuidando. Me sentava de costas, mas, quando dava uma olhadinha, com o canto dos olhos, ele estava me olhando atentamente. Trocava de lugar e ele continuava me olhando.

Internos, tínhamos uma rotina rígida, “revista” às 19h e estudo obrigatório até às 21h, sob a vigilância do Sargento de Dia. Bueno estava fazendo os temas quando lembrei que, na terça-feira, na primeira hora, tinha aula de Geografia com o professor Lambari.

Eu precisava resolver o tema e o livro caderno de anotações (comprado na livraria Bayadeira, na Osvaldo) não estava na pasta. Fui ao Sargento Feijó e pedi para ir ao alojamento pegar o livro. Licença concedida, fui. A noite era um breu, as majestosas arcadas, caminho de meu destino, mal iluminadas. Subi as escadas de madeira do alojamento da Primeira Cia, os degraus rangendo a cada passo, as luzes todas apagadas. O medo já estava querendo tomar conta de mim e já comecei a praguejar o maldito livro de Geografia. O alojamento todo escuro e as sombras das luzes da rua, contracenando com o balancear das árvores da Redenção, formavam uma cena um tanto horripilante. Desviei o olhar e liguei as luzes, as chaves de luzes ficavam à direita da grande porta de madeira. Entrei, reparei o quanto era enorme de grande aquele alojamento, parecia não ter fim. Adentrei ao recinto prestando muita atenção se tinha algum barulho diferente. Meu armário ficava pelo meio do alojamento, entre o do Lio e o do Sebastião. Caminhei, lentamente, como um índio no meio do mato que não quer ser ouvido. Pronto, cheguei ao meu armário e era só pegar a chave, abrir o cadeado e pá! Pegar o MALDITO LIVRO DE GEOGRAFIA.

Tornei a olhar em volta, tudo estava normal, só eu no alojamento.

Nesse momento, peguei o “MALDITO LIVRO DE GEOGRAFIA” e... Nossa Senhora das cuecas freadas... Senti um vento gelado, uma mão no meu obro e um “Olá”. Estremeci, achei que o “Coronel de Branco” estava ali. Esqueci livro, armário aberto e, numa louca e cega correria, desci as escadas, voando até a sala de estudo. Entrei, não conseguia falar, ofegante, assustado. O Sargento perguntou: – “O que houve? Fala, guri!”. Os colegas, olhando aquela cena, atentos, curiosos. Quando consegui falar, disse quase gritando: – “O Coronel de Branco”. A sala se dividiu entre gargalhadas, risadinhas e olhos arregalados e sérios, esses deviam ser todos bichos como eu.

O Feijó conversou comigo, me acalmou, fomos com mais alguém ao alojamento, tudo certo, menos pra mim. Fomos para a ceia e, naquela noite, mal dormi. O tema? Colei do colega da A3 aluno 31, João G.T. Flores, momentos antes da aula. E a cueca? Foi para a lavanderia… Juro, era o “Coronel de Branco”!

AA Pedro Paz “Quaraí”, AA Pinent

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