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RAUL AZAMBUJA CONDOTTA A3 B1

A Saudade

Aos meus amigos e colegas do colégio militar de Porto Alegre

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Desde a última reunião pela internet, em 10 de janeiro deste ano de 2022, que eu pude participar, o Aita e outros colegas, lá, falaram em escrever ou fazer um áudio sobre a impressão desse período no Colégio Militar de Porto Alegre, que marcou tanto a vida da gente.

Naquele momento, fiquei interessado e cheguei a anotar num papel para não esquecer. Eu estava tentando fazer uma coisa estruturada, arrumada, mas cheguei à conclusão que era melhor não deixar passar muito tempo e fazer logo um registro breve. Claro que é o que eu estou tentando aqui. É tanta coisa que eu gostaria de falar, mas não posso porque eu não lembro mais, mas tenho no meu íntimo, e acredito que vocês também, aquela sensação de que muita coisa aconteceu e que marcou a nossa vida para sempre aqui nessa Terra.

Comecei no colégio quando tinha feito 13 anos e saí com 18. Cheguei um pouquinho depois, transferido de Curitiba, embora seja de Porto Alegre, porque o meu pai passou um período lá.

Tem uma parte visível, assim, mais objetiva, e uma mais subjetiva do que foram esses anos. Da parte mais, vamos dizer, visível, objetiva, tem a boa formação. No meu caso, principalmente, a parte de Matemática e Filosofia marcou muito a minha vida toda, com um pensamento mais científico. Aprendi muito. Fui muito desobediente, lá, mas acabei aprendendo o valor da hierarquia, do respeito às autoridades, o valor das amizades, do coleguismo permeado, assim, com muito humor, que eu até sinto falta. A minha esposa, que me conheceu ainda no tempo do Colégio, praticamente no final do período no Colégio Militar, ela lembra que eu era muito bem-humorado e acho que ainda sou, mas perdi muito daquela coisa que tinha lá, na adolescência, e eu lembro, com muito carinho, como me divertia, como era bom estar com os amigos, com os colegas e, como eu falei, tem tantas histórias que que gostaria de lembrar que já não lembro, mas sei que foram muitas experiências.

No lado invisível, vamos dizer, subjetivo, tem a questão do caráter, que me ajudou muito a aprender o certo e o errado, o bem e o mal, que ao longo da vida foi sendo aperfeiçoado, comigo, com vocês. Também o pensamento fora da caixa, vamos dizer assim. Um pensamento mais aberto, mais amplo, que eu reporto a esse período de Colégio Militar, que me ajudou a furar aquelas amarras da educação, da cultura e a pensar longe, além disso. Acho que eu consegui um pouquinho e, ainda, tenho buscado e acho que essa palavra busca, para mim, talvez seja a mais importante.

Enfim, já encerrando, foi lá, no Colégio Militar, que eu comecei a buscar o sentido maior da minha vida, da minha existência, da nossa existência nesse planeta e era uma inquietude que eu não revelava, muitas vezes, nas brincadeiras, nas salas de aula, mas eu sofria, vamos dizer assim, na minha intimidade, tentando me posicionar nesse contexto todo. Eu estava procurando ver, entender, sentir e viver numa dimensão assim e fui...

Então, para mim, a palavra com que eu encerro esse meu depoimento, aqui, é de gratidão! A Deus, que eu creio, criador soberano de todas as coisas, independente de religião; aos meus pais, que me cuidaram, incentivaram e me colocaram no Colégio Militar; ao meu irmão, que foi aluno, também muito rebelde, e acabou saindo, mas que se tornou um incentivo para mim; e aos meus professores, os nossos professores, tantos instrutores; e aos meus amigos, até hoje, e colegas do Colégio Militar de Porto Alegre. Então, gratidão muito grande, de coração!

Espero que esses minutinhos, já alongados, possam ser resumidos numa frase ou outra para colocar nesse registro que está sendo feito por essa comissão a quem eu, também, sou grato. Leitune, Aita, Pinent e tantos outros que, desculpa, não estou lembrando o nome de todos. Um grande abraço, até o próximo encontro e Deus abençoe vocês e suas famílias.

AA Reneu

Antigo Aluno ou Ex-Aluno?

Com o passar do tempo, muitos alunos, que já se formaram no CMPA têm questionado o Colégio sobre a designação “ex-aluno”, sob o argumento de que o prefixo “ex” é excludente e lhes retira o sentimento de nunca terem deixado de se sentir como integrantes do Velho Casarão da Várzea.

Sensível ao fato, o CMPA foi buscar na tradição portuguesa – origem dos Colégios Militares – uma outra designação mais justa, encontrando-a no Instituto dos Pupilos do Exército, um colégio militar português, então com 106 anos de história, e com quem o CMPA possui um Protocolo Internacional de Geminação.

Esse educandário lusitano, quando aqui esteve por vez primeira em 2012, levou para Portugal a denominação “Batalhão da Saudade”, que foi, imediatamente, abraçada com carinho por seus integrantes de todos os tempos.

Assim, trilhando o caminho inverso, o CMPA trouxe de lá, em 2013, a denominação “Antigo Aluno – AA”, que é como eles chamam todos os que, em qualquer tempo, estiveram em seus bancos escolares. Tal denominação começou a ser usada no CMPA em 2016 e, de lá para cá, passou a ser corrente nas matérias publicadas.

O título “Antigo Aluno” (AA) contribui para solidificar e reforçar o sentimento de pertencimento que há entre os alunos do passado e a Instituição onde estudaram na infância e/ou na adolescência, subtraindo a negação que o prefixo “ex” traz embutida.

No caso presente, pertencimento, ou o sentimento de pertencimento, é a crença subjetiva na origem comum que une indivíduos distintos, que pensam em si mesmos como membros da coletividade representada pelo Velho Casarão da Várzea, na qual símbolos objetivos e/ou subjetivos expressam valores, aspirações, recordações e saudade.

O indivíduo se reconhece e é reconhecido como pertencendo à Escola Preparatória ou ao Colégio Militar de Porto Alegre. Ao mesmo tempo, sente que esse lugar também lhe pertence, gerando, assim, uma poderosa e subjetiva simbiose sentimental que tem o poder de avivar e destacar características culturais e emocionais comuns, capazes de criar uma identificação positiva entre os indivíduos e destes com a Instituição.

Tal como o IPE, o CMPA também faz questão de grafar as primeiras letras do título em maiúsculas, em justa homenagem aos seus antigos alunos.

Via de regra, procura-se publicar também o ano de formação do AA ou seu último ano no Colégio, caso seja conhecido, a fim de melhor situar o leitor no tempo. Ex: Antigo Aluno (AA 1921) Quintana.

Como curiosidade, o Exército Brasileiro, dentro da mesma ideia, também aboliu as expressões “ex-comandante”, “ex-chefe” e “ex-diretor, substituindo-as por “Antigo Comandante”, “Antigo Chefe” e “Antigo Diretor”.

AA Araujo

Aita: o Aglutinador

No tempo de colégio, é muito comum a formação de pequenos grupos, que se identificam por algumas características, interesses, empatias que, normalmente, resultam naquilo que chamamos de “panelinhas”.

Na Turma Sesquicentenário não foi diferente: tinha a “panelinha” do futebol, a “panelinha” dos internos, a “panelinha” dos integrantes da banda, e mais outras diferentes “panelinhas”. Mas, apesar destes diferentes interesses, a turma se caracterizava pela sua elevada consciência de grupo, que veio a se manifestar de uma forma mais forte no cientifico, hoje denominado 2º Grau.

Passaram-se os anos, mais precisamente 30 anos, e surgiu um cara que levantou um dia da cama e disse: “Vou reunir a Turma Sesquicentenário da Independência”.

Este cara chama-se Renato Aita.

Em 2001, após o aniversário do CM, reuniram-se cinco colegas de turma, liderados pelo Aita, em nosso tradicional Bar do Beto – foi um evento casual e sem planejamento, aproveitando o encontro no desfile do Batalhão da Saudade.

Neste momento, Aita vislumbrou que poderia promover confraternizações mais frequentes e, com certeza, se fossem organizados com antecedência, teriam mais sucesso.

Foi uma agradável iluminação. O silêncio que durava três décadas foi despertado pelo Aita.

O Aita definiu um critério para identificar os integrantes da Turma Sesquicentenário da Independência: 1. Fariam parte do grupo todos os Antigos Alunos que, em algum período, tivessem estudado com a turma de 1966 a 1972. 2. Nos eventos / atividades da turma, não é permitido que alunos de outras turmas participem. E, a partir deste critério, ele saiu a localizar os 244 potenciais alunos habilitados a integrar o grupo, com o objetivo de promover o reencontro da turma após 30 anos de escuridão. Ao perguntar ao Aita como ele conseguiu localizar mais de oitenta colegas, a resposta é a que se segue:

“A dificuldade para fazer contato e promover aquela festa dos 30 anos, em 2002, foi intensa, desde a identificação e localização dos colegas, até cientificação e chamamento, providenciado por ofício pelo correio, telefonemas e contatos pessoais. A tecnologia, aos poucos, facilitou a mobilização para as subsequentes. Em 27 de dezembro de 2011, criei o grupo do Facebook designado Grupo de relacionamento “Turma Sesquicentenário da Independência” do CMPA. Administrador, iniciador, coordenador ou coisa que o valha, vocês, amigos, carinhosamente me chamam:” COMANDANTE”. Não vejo como bullying, mas um agradável elogio. Aceitei! Enfim...”.

O Aita é um artesão da amizade, no sentido que, como um artesão com uma agulha e linha, junta pedaços de retalhos dispersos e, com paciência e determinação, vai costurando até que surja uma única linda tapeçaria, moldada na paciência, no amor e na persistência de realizar uma arte.

Aita, nossa eterna gratidão e fique certo de que somos muito honrados de sermos os retalhos desta tua linda arte.

A Turma Sesquicentenário da Independência

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