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JUNIO MARCELINO DE SOUZA NETO A3 B4 C1 D1 E1 F1 G1

O INTERNATO

| DESMAMANDO

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Ainda guri, meio assustado, deixou a terra natal, Lembra a família, em despedida, na estação, As tias, as manas, a namorada chorando, lenço na mão. Ele, agora teatino, seguia para estudar na capital.

Todos na gare, sorrindo, orgulho no olhar. A namorada, passando a mão no cabelo, disse assim: – Quando cortar, guarda uma mecha pra mim. Ele ia interno para o Colégio Militar.

Para muito poucos reservada esta vitória, Quase um vestibular o tal exame de admissão, Exigia muito estudo, renúncia e até oração, Ser aprovado, uma felicidade, uma glória.

A mãe seguia junto, feliz e contente, Acompanhava o filho, sozinho não podia ir, Nunca, da barra da saia, havia tentado sair. Então, como sempre, protetora, estava presente.

Noite longa, tenta, mas não consegue no sono pegar, O barulho das rodas do trem não ajudava Pela janela, olhar perdido, só escuridão passava E ele, ansioso, contava o tempo, louco para chegar. Carregava, no peito, um susto, um grande medo, Muitas horas, durante a noite, para viajar, Isso se o trem Minuano não atrasar, Se tudo der certo, chega lá, amanhã bem cedo. Um novo estilo de vida ia enfrentar, Novos amigos, estudo com dedicação, Disciplina rígida, mas tudo sua opção, Sempre quis ser aluno do Colégio Militar.

O medo não era maior que a felicidade, Trocou os cabelos longos e as grandes noitadas, Pelo uniforme caqui e as lágrimas pelas arcadas. Ser aluno do CMPA era agora a sua realidade.

Alojamento do internato 2ª Cia AL

AA Pinent

| O DIA A DIA DO INTERNO

O internato era um mundo aparte, a gurizada vinha de todos os cantos do Estado, alguns de outros Estados, era uma miscigenação das boas, um conjunto de tudo, ou quase tudo, filho de General, dos estancieiros abastados da fronteira, dos Sargentos, dos peões das fazendas, uma grande seleção de jovens com inteligência acima da média, isso fica demonstrado pela capacidade de inventar brincadeiras “saudáveis” que só inteligências a serviço do mal poderiam inventar.

Crianças de onze, doze anos chegando em um alojamento para conviver com outros iguais, totalmente desconhecidos, com seus enxovais embaixo do braço. O enxoval tão detalhado que até as cuecas eram padronizadas. O alojamento parecia imenso, tão imenso quanto era a insegurança de cada um. Várias eram as razões para estarem ali afastados de suas famílias, várias eram suas origens, mas todos eram iguais, a única diferença era seu número e o seu nome de guerra.

Já nos primeiros dias, após o reconhecimento do terreno, de seus limites, aqueles garotos, que chegaram sozinhos, passaram a compor um grupo a testar todos os limites, e aí é que começa a verdadeira história de até sete anos de convívio.

Talvez a distância da família lhes provesse de uma certa liberdade de ação, além dos limites patriarcais, mas ao mesmo tempo, lhes gerasse uma responsabilidade, também, além dos limites comuns à idade.

Toda esta diferença existente entre os internos não impediu formar um grupo coeso e muito unido, não faltando, em momento algum, o apoio dos colegas a alguma situação complicada que alguém pudesse estar passando, seja ela externa ou interna ao colégio. Formando um verdadeiro espírito de corpo.

O dia normal do interno era cronometrado, mas nunca era normal. 6h30 Alvorada 7h Rancho (café da manhã) 8h Atividades escolares 12h Rancho (almoço) 13h30 Atividades escolares 18h Rancho (jantar) Passeio Higiênico 19h Revista 19h30 Estudo Obrigatório 21h30 Rancho (ceia noturna) 22h Silêncio

A correria era uma constante para os internos, não havia tempo sobrando, mas conseguiam tempo para tudo, especialmente, para as brincadeiras “inteligentes”.

O toque de alvorada não era a interrupção do sono, era o início de mais um dia de aprendizado, de saudável convivência com os semi-internos e externos. O dia, com seus primeiros raios, trazia a alegria que se espalhava pelo alojamento, correria ao banheiro para os primeiros atos de higiene pessoal, a camaradagem era presente, cada um esperando a sua vez, de vez em quando, algum mais atrasado ou atrapalhado causava algum imprevisto, mas, rapidamente, superado dentro dos melhores sentimentos de companheirismo.

No rancho, isso era repetido, cada um sentado no seu lugar, aguardando, pacientemente, a sua vez, quando em vez, uma caneca de café com leite, um prato com feijão ou molho escorregava e caia sobre o colo de um ou outro, mas um sorriso e um olhar de cumplicidade resolviam tudo, era só voltar ao alojamento e trocar o uniforme, nada demais. Uma rara e repetida vez, algum de nós teve que ser levado à enfermaria para enfaixar a mão espetada por um garfo, na hora de servir o bife, mais comum na hora do almoço, talvez pela presença dos semi-internos menos ajustados à vida comunitária.

Tumulto mesmo ocorria na ceia noturna, não obrigatória, presentes, normalmente, os mais esfomeados, aí, bem, era cada um por si e seja o que Deus quiser. O soldado garçom largava a bandeja com bolachas em cima da mesa e corria do local, isso quando conseguia chegar lá, na maioria das vezes, nem a bandeja chegava,

Alojamento do internato de Companhia

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