9 minute read

RUBENS IVAN FERREIRA GONÇALVES A3 B2 C2 D2 E2 F2 G2

nhos, olhos saltaram das órbitas em direção ao interlocutor, que estava sentado ao meu lado. Não consegui segurar a risada e ouvi a resposta: – “Sei, isso mesmo, era você e o risonho ao seu lado, pulando de árvore em árvore.

Aliás, continuem lá fora, os dois”. E lá fomos nós, nos escondendo do Sargento Monitor.

Advertisement

AA Pinent

| TIRO AO ALVO

Terceira série ginasial, Turma C3, aula de francês, momento de leitura de texto, o aluno 120 esqueceu o livro em casa e sentou-se junto comigo para acompanhar a aula. Na nossa frente, o aluno 396 fazia a leitura de uma passagem do livro.

Nós brincávamos, sem maldade alguma, apenas uma salutar brincadeira de colegas, que a pronúncia do leitor estava muito ruim, que ele estava dizendo palavrão. Nossas carteiras eram aquelas de levantar o tampo, madeira de lei, forte.

Sem que notássemos, o 396 pegou um compasso, o qual seria usado naquela manhã, pois teríamos aula de desenho, abriu o instrumento, totalmente, e aguardou o momento certo. O Professor se deu por satisfeito, ou não, com a leitura e passou a incumbência para outro colega. Ao sentar, acho que se sentindo magoado com as brincadeiras, o leitor dispensado girou o braço, com o compasso na mão em direção a nós.

Por instinto de sobrevivência, levantei o tampo da carteira, que recebeu a ira do atacante, ficando o compasso cravado na madeira. Ao Comandante da Companhia, afirmamos que tínhamos combinado um teste de tiro ao alvo…

AA Pinent

| A PESCARIA E O RANCHO

Nós tínhamos aquele horário de descanso depois do almoço e me recordo que, naquelas tardes de inverno, saíamos para passear na Redenção.

Eu havia preparado, em casa, um cordão com anzol na ponta, com a intenção de, quando pudesse dar uma saída, ir lá na Redenção para tentar pegar um peixe no lago, aquele central, que hoje foi aterrado. Era o lago mais baixinho, retangular, que, naquela ocasião, tinha algumas carpas. Naquele dia, peguei um pedaço de pão no rancho, que me serviu de isca.

O anzol, um prego dobrado, que, também, fiz em casa. Coisa de guri. E fui para o parque, direto para o lago. Joguei aquela linha (cordão) dentro da água para brincar de pescar. E não é que, realmente, consegui pegar um peixe? Uma carpa grande, com uns 35 centímetros de comprimento. Peguei aquele negócio e me perguntei: – Vou fazer o que com este peixe? Mas

Lago da Redenção

a gente já tinha uma ideia, uma predisposição para a carpa: iríamos usá-la como uma moeda de troca e, para isto, tínhamos que levá-la para o Colégio.

E como passar, com uma carpa viva, pelo corpo da guarda, instalada no portão de entrada do Colégio? Resolvi botar o peixe embaixo da pelerine e encarei o corpo da guarda. O receio de ser apanhado era grande, pois aquela carpa viva se debatia nas minhas pernas, mexendo com a pelerine, mas consegui entrar, o que foi muito divertido. Após esta façanha, tínhamos que atingir o nosso objetivo, ou seja, levar aquele peixe até o rancho. Fomos, então, com bastante sigilo e com bastante cuidado para não chamar a atenção. Lá tinha o Cabo Machado, que era um pouco nosso amigo, e nós propusemos para ele: – “Nós pescamos esta carpa e queremos te dar. Em troca, queremos que seja fornecido um bife a mais na nossa mesa amanhã no rancho”. Após esta façanha de entrar com o peixe vivo no Colégio e a negociação com o Cabo do rancho, fomos cumprir as atividades previstas para o turno da tarde, como o estudo extraclasse. Como era inverno, tive que ficar com aquela pelerine fedendo a peixe até o final do dia, fato que não passou despercebido pelos demais colegas, pois o fedor era insuportável. A gozação foi muito grande e divertida.

Quando cheguei em casa, quase apanhei dos meus pais, porque eles perguntaram: – “Que cheiro horrível é este? Cheiro de peixe, horrível! Por onde tu andaste? No mercado público? Que história é essa”? Bem, não tive outra alternativa a não ser contar a verdade. Meus pais me recriminaram por pescar um peixe em lugar público e proibido.

AA Madaleno

| INAGÉ, A VINGANÇA

Eu recordo que na revista da Hyloea, a da nossa formatura, consta lá a minha vergonha, passada por ter comentado sobre a leitura da revista Life, logo no começo do curso de inglês e sobre o sal de cebola. Estes fatos ocorreram ao mesmo tempo em que o meu pai voltou de Suez e trouxe uma porção de novidades. Naquela época, eu fiquei muito envergonhado, porque não me deram a oportunidade de esclarecer.

Quando meu pai veio de Suez, e isto é verídico, ele trouxe um produto de tempero que era basicamente sal, cebola e alho, é claro que desidratado, e na embalagem falava sal de cebola. Mas como o pessoal não conhecia aqui no Brasil, eu fui levado como piada.

A outra parte é da revista Life. No meio de uma das primeiras aulas de inglês, eu comentei que já lia a Life. Também não me foi dada a oportunidade para dizer que era com o auxílio

Revista Life Inage Indio - fonte: pinterest.com

de um dicionário, inclusive um dicionário velho, que o pai tinha usado para fazer o exame do Estado Maior. Eu lembro que ele não tinha nem a capa. Mas, também, naquela oportunidade não me foi dado tempo para esclarecer, totalmente, as minhas afirmações. Portanto, fica aí marcada a minha vingança por aqueles que riram de mim, claro tudo no bom sentido, e que hoje devem estar encarando esse tipo de história com um pouco mais de zelo.

AA Índio

| O MILAGRE DOS PÃES

Era o ano de 1971. Sob um sol do meio-dia e em formação, aguardávamos a ordem de debandar para entrar no rancho. Vínhamos de uma instrução do CFR e a fome era MUITO grande! Para mim, que não era interno, almoçar no rancho não era comum, mas já acontecera ao longo daqueles seis anos de CM.

Ordem dada, correria para pegar os pratos e entrar na fila. Mas, tão logo entrei, senti aquele cheiro inconfundível de algo que meu estômago não gostava. Sim, lá estavam os panelões cheios de dobradinha, mondongo, tripa gorda, bucho ou o nome que quiserem dar para aquela gororoba. O vapor que saía das panelas destampadas invadia todo o recinto do rancho e deixava os azulejos das paredes com uma umidade pegajosa.

Os olhos viram, o nariz sentiu e o estômago refugou, mas a fome desesperadora pedia por alguma coisa. Minha vez de encher o prato chegava... Desespero! Sem outra alternativa, lembro-me de ter pedido ao soldado: – “Carrega no molho!”

Mas seu preparo para seguir um padrão fez com que despejasse no meu prato fundo aquele monte de tripas e outras coisas, assim como fazia com todos os demais da fila, não tomando o menor conhecimento do meu pedido.

Procurei um lugar na mesa entre os colegas que já se lançavam ávidos àquela “iguaria”, colherada após colherada. O nariz tentava não respirar, os olhos repugnavam, o estômago também, mas a fome já não falava alto, gritava!

Foi, então, que olhei para o pãozinho e uma luz iluminou minha mente atormentada. É isso, pensei! Pão molhado no molho! Salvação, já não morreria de fome.

Antes que os colegas devorassem seus pães, iniciei uma negociação que, tenho certeza, arrancaria um elogio do meu conceituado professor da cadeira de “Negociação” do curso de MBA, da Fundação Getúlio Vargas, que faria muitos anos depois. O negócio era trocar pão pelo conteúdo, digamos assim, sólido do meu prato. Eu despejava uma poção de mondongo no prato de um colega e recebia seu pão em troca (às vezes, só meio pão...). Feito! Negociado isso com dois ou três, e lá estava eu, novamente, pronto para a vida, pronto para as atividades que a tarde nos reservava.

AA Cylon

••• | O DIA EM QUE A BANDA SUMIU

Nos idos dos anos 70, duas grandes orquestras eram de conhecimento público no Rio Grande do Sul: A OSPA (Orquestra Sinfônica de Porto Alegre) e a OSSO (Orquestra Sinfônica do Sargento Onofre).

O Sargento Onofre era o mestre e regente da Osso, figura cordata e muito pacienciosa. Em função deste temperamento, não era muito respeitado ou temido pela gang de maliciosos e preguiçosos elementos que adentram à banda em busca de dispensa de ordem unida e menos

atenção a itens como cabelo cortado, fivela do cinto brilhante, coturnos engraxados e camisa para dentro das calças.

Os ensaios eram sempre feitos na sala de música, onde eram passadas e repassadas as partituras das marchas militares e alguma música da moda que pudesse ser adaptada ao nosso ritmo.

Quando a música fluía aceitável, com todos sentados, íamos para o Parque da Redenção para treinar, tocar e marchar ao mesmo tempo.

Uma bela tarde, antes da dispensa do dia, fomos marchar na Redenção com o Sargento na testa da tropa, com movimentos de batuta de cima para baixo, com o fim de marcar a cadência que era dada pelo bumbo.

A tarde era de um calor insuportável e marchar e tocar ao mesmo tempo ficou um suplício. Foi quando, ao entrarmos nas áreas arborizadas, iniciamos um movimento orquestrado (desculpem a redundância) e começamos a debandar um a um, partindo das fileiras da retaguarda com os metais (cornetão, clarim e piston), já que estávamos apenas no ritmo da percussão (surdo, caixa, tarol e bumbo).

O movimento continuou silencioso até sobrar apenas o bumbo! O Sargento, que ficava de costas para o grupamento, apenas se fixou na batida do bumbo, mas, lá pelas tantas, deve ter estranhado a falta da caixa e do tarol. Então, de cima de toda a sua autoridade, ordenou: – “Banda, Alto!”. E se virou...

Imaginem a cara de espanto por notar que somente o bumbo não tinha desertado!

No dia seguinte, a nossa punição, já que sua alma bondosa não deu “parte” dos vagabundos dos seus músicos, foi:

Ensaio sábados pela manhã por um mês!

AA Grossi

| BAILE DA SAUDADE – NÃO DEU PRA TI

Acabei lembrando de uma das histórias que marcaram meu período de CM e não mais a esqueci. No Baile da Saudade, em dezembro de 1972, nós, de calça garança e túnica branca, com botões dourados e golas azuis, verdadeiros príncipes de cabelo cadete em busca de um par perfeito para a grande noite. Conjunto ao vivo, tocando Renato e seus Blue Caps, inspirava os bailarinos.

À época, eu era meio prejudicado, verticalmente, com meus 1,58-1,60m, e visualizei uma beldade, languidamente sentada, com certo ar de enfado. Pensei: “É porque ninguém teve coragem ou deve ter dado o bolo em vários colegas”. Me enchi de coragem e imaginei que, comigo, certamente seria diferente!

Respirei fundo e iniciei a marcha atlética até a mesa da deusa.

Chegando lá, olhei firme e disparei a pergunta de praxe: – ‘‘Vamos dançar?’’.

Ó suprema realização, ela olhou para mim e levantou!

E não parou mais de levantar. Para meu desespero, ela devia ter uns 1,80m e eu dava abaixo do pescoço dela!

De cima do décimo andar, ela olhou para baixo e, com um sorriso complacente, disse: – “Acho que não vai dar, né?“.

AA Grossi

This article is from: