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SÉRGIO ALBANO DE MELLO A2

| O RETORNO

Entrar para o CMPA foi um sonho acalentado de minha infância, vivida no meu inesquecível 12º RC, acompanhando meu pai nas manobras a cavalo, aos sábados, levando os cavalos de polo para banhar no arroio Bagé, assistindo, extasiado, o carrossel noturno, com archotes nas lanças na Carriere. Ver um Regimento com seus cinco esquadrões hipo, (três de fuzileiros, um de comando e um de petrechos), deslocando-se em marcha, ou fazendo transposição de curso da água, ou realizando a manobra retroativa, recuando pelotão a pelotão.

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As ações de 1964. Entrar no portão do CM foi a realização de um sonho. Na quarta série ginasial, não consegui passar em desenho Geométrico com o Cel. Vinholo, sempre fui burro para as Ciências Exatas. A vergonha de ser repetente me fez pedir desligamento do CM. Fiz exame na matéria em fevereiro no IPA (desenho) e passei com 9,8.

Eu que não consegui mais de 5 com o Cel. Vinholo. Em março, no primeiro dia de aula, em um ambiente totalmente diferente, o professor entrou em aula e eu, instintivamente, tomei posição de sentido, sobre o olhar curioso dos novos colegas. Era um peixe fora d’água, com sabor de derrota! Minha mãe percebeu que eu me encerrava no quarto para chorar. Ela me perguntou: – “Tu queres voltar”? Eu disse que sim! Ela foi falar com o Cel. Túlio, que respondeu: – “Ele que corte o cabelo, se farde e, amanhã, se apresente para mim”! No outro dia me apresentei e o Cel. disse: – “Estou te recebendo de novo, não me decepciona”! (Tenho certeza que não o decepcionei, meu grande chefe).

A satisfação de voltar ao meu mundo, mesmo repetindo ano, foi maravilhosa. E, naquele ano, foram instituídas as armas no CFR e eu consegui ser voluntário na Cavalaria, onde vivi três anos maravilhosos de minha vida.

Eu saí do CM e do Esquadrão, mas o CM e o Esquadrão nunca mais saíram de minha vida. Agradeço a Deus de ter tido a honra de ser aluno do CMPA.

AA Cantão

| É DE PEQUENO QUE SE TORCE O PEPINO

Entrei no CMPA em 1966, através de concurso de admissão. Meu pai também deve ter feito concurso, pois, neste mesmo ano, foi transferido do 18º BI para o CMPA. Não sei o que foi mais difícil, se era a vida do CM ou ter o pai no meu pé. Se não passava marchando direito na formatura, levava um “esporro” quando chegava em casa.

Durante os sete anos, fui punido uma vez por ter brigado com um companheiro. Não me lembro bem o tipo de punição, acho que fiquei final de semana no CM.

Quem escreveu a parte foi meu pai, que estava de Oficial de Dia na ocasião em que briguei. Só não achei justo ser punido em casa, também pela mesma falta. Naquele tempo, não sabia que existia STF. O CMPA foi, extremamente, importante na minha vida, quer pelo ensino, preparação para a vida, pelos companheiros, pela primeira namorada, que conheci em um dos disputados bailes, e por ter me possibilitado ter ingressado na AMAN.

AA Gomes

| O “AUTORAMA”

Em 1967, eu fazia parte de uma banda com colegas do Colégio Militar de Porto Alegre. A gente tocava Roberto Carlos, Renato & Seus Blue Caps, enfim, o iê iê iê da Jovem Guarda da época. Foi assim que um outro legionário da 1Cia convidou a nossa banda para a festa de 15 anos de sua namorada.

O aniversário foi divertido, num apartamento no bairro Gasômetro. À época, bebia-se muito cuba, o bom e velho coquetel à base de rum, Coca-Cola e rodela de limão. É claro, a gente não podia ficar fora da moda. Por isso, tomamos alguns copos, ou melhor, vários copos de cuba. Quando se é adolescente, se esquece de contar os copos.

O nosso passeio festivo só foi interrompido quando passamos na frente de um quartel da PE, que havia na esquina da Duque com a avenida João Pessoa. Os soldados não gostaram do que viram e nos detiveram.

Não ficamos muito tempo no quartel. Logo nos identificamos como alunos do Colégio Militar, e os soldados ainda resolveram nos dar uma carona. Colocaram Álvares, Grossi, Lira e eu na traseira de uma caminhonete e nos entregaram no portão da guarda do CM.

Para mim, essa história seguiu adiante.

Anos mais tarde, em 1972, fui a um casamento no Hotel Everest, um dos pontos mais altos da área central da cidade. Olhando a paisagem do alto do prédio, de repente, reconheci aquela imagem lá embaixo.

Depois da festa, saímos em direção ao CMPA. Eu era interno, vinha do Interior, mal conhecia as ruas de Porto Alegre. Mas caminhamos muito. Ainda sob a inspiração das cubas, a gente se divertia e cantava.

Na altura da Rua Duque de Caxias, me chamou a atenção o que parecia ser um gigantesco autorama. A imagem daquele autorama fora do comum ficou na memória. E seguimos pela rua, cantando e rindo de tudo que vinha pela frente.

Antigo quartel da PE na esquina da Rua Duque de Caxias com Av. João Pessoa

Era o tal autorama gigantesco que havia me deixado perplexo em 1967.

Na verdade, era a Avenida Borges de Medeiros, passando por baixo do Viaduto Otávio Rocha. Como falei, foram vários copos de cuba.

AA Dubois

| UM BOI POR UMA PERNA

Aluno de Colégio Militar sempre foi exigido fisicamente, visando otimizar as condições físicas e psíquicas, proporcionando melhor rendimento escolar. As atividades físicas regulares e a faixa de idade, em torno de dezoito anos, nos deixava com a fome em alto nível. Para contornar este fato, surgiam algumas soluções dos criativos baleiros – refeições na casa de algum colega (o mais frequente), de conhecidos diversos, apoio na rede de restaurantes locais, notadamente no agradável “Bar do Beto”, tratado nesta publicação em texto específico. Os radares permaneciam, constantemente, em atividade.

Um tiro de largada aconteceu num domingo de 1970, dia com sol radiante, quando nos reunimos para a incursão de acalmar o estômago “já no espinhaço”.

A recém inaugurada Rodoviária (junho de 1970) possuía uma churrascaria de padrão, apresentando o inédito sistema Espeto Corrido. Era pioneira com esse sistema na capital. Comer à vontade por um preço fixo? Aquilo seria uma solução inimaginável; um verdadeiro pulo do gato.

Nos reunimos, então, em três “assaltantes”: eu, o interno Leitune e o, também interno, meu colega-irmão 87 Sebastião. Este acabava de sair comigo de um estafante treino de Atletismo no Inter, onde éramos sócios-atletas. Nos preparávamos para a II Olimpíada dos Colégios Militares, em Belo Horizonte.

A Ação no Objetivo foi precedida de um minucioso planejamento, desde o jejum no café. Seguimos todos os passos, judiciosamente:

1. Eu e o Sebas saímos do pesado treino. Ele de salto em altura e triplo. 2. Passamos no Colégio, onde o Leitune fazia um “extra” no Curso de Preparação para o Exame de Admissão, do qual éramos monitores. 3. Uns pingos de perfume Lancaster depois e vestindo, orgulhosamente, uma pantalona, 4. Partimos para nosso objetivo de saciar a fome na já famosa “Churrascaria Gauchão”, recentemente inaugurada. 5. E, lá, chegamos às 11h. Fomos os primeiros naquele enorme salão, pleno de motivos gauchescos. Na minha frente, um enorme quadro de um boi Angus Red, que combinamos “comer por uma perna”.

Observação: Lamentável descuido! Em virtude da pressa para sair, não confirmarmos se todas as guaiacas estavam cheias.

Cheiro de óleo diesel dos ônibus Ouro e Prata misturava-se com o aroma vindo da churrasqueira. Na copa, os garçons, ainda destreinados, chegavam atrasados e correndo para pegar os espetos e saciar aqueles vorazes.

As reações foram diferenciadas: o Sebas tossiu duas vezes, acho que meio afogado com a saliva; o Leitune arrastou a barulhenta cadeira para alertar o pessoal da carne e pedi um suco para preparar o combate e “regular a lenta”.

Então, começou uma disputa pelos melhores pedaços que nos apresentavam. Os pedidos de carne se sucediam, para o espanto dos garçons. Fiquei muito à vontade com os colaboradores, vestidos a caráter. Estava na cabeceira mais próxima à churrasqueira. Todos pedidos eram feitos por mim, como se fosse o “mais carente” – fiquei famoso.

A cassata do tipo napolitano estava sensacional, o que nos levou a repetir algumas vezes – sabe-se que em restaurantes a sobremesa é bem dispendiosa.

Próximo às 16h, quando os raros garçons começavam a virar as cadeiras, o colaborador mais afoito, com certo ar de desafio, disse que na próxima cobraria dobrado para não darmos prejuízo. Dirigiu-se, especialmente, a mim e ofereceu um sonrisal.

Foi excelente, mas o final do almoço foi marcado por uma surpresa:

Não tínhamos dinheiro suficiente para a conta, o que o Leitune resolveu com o que recebera na sexta-feira do Primário.

Aprendemos o “caminho das pedras” e com a devida propaganda, reincidimos mais tarde, desta feita em cinco: eu, Sebas, Leitune, Jader e Ari.

Hoje me ocorre que alguém com nosso espírito deve ter frequentado a Churrascaria Gauchão, pois fechou... (risos).

A Rodoviária foi construída na gestão do prefeito Telmo Thompson Flores. Seu governo foi caracterizado por grandes obras, em especial na área dos transportes, desativando o bonde e incentivando o transporte automotivo, com a construção de seis viadutos, a inauguração do “Parcão”, da rodoviária e a construção do Muro da Mauá. Foi sucedido por Villela, em 1975.

O governador do Estado, nesta época, era Peracchi Barcelos.

AA Aita

FRASES QUE FICARAM NA HISTÓRIA

– “Amanhã não harará aula”. (Tenente…) – “…me faz um favor. Fecha a porta da sala… pelo lado de fora”. (João, Louco) – “…faz uma linha reta no quadro, continua, continua… aproveita e fecha a porta…”. (Motorzinho) – “A Maria Stuart? A Maria Stuart era uma p…”. (Teixeira Leite) – “Parecem umas normalistas na passarela”. (Sargento…) – “Um, dois, três, quatro Barriga pra dentro, peito pra fora, Olha pra frente, não olha pra baixo Queixo pra cima, cara de macho. Um. Dois”. (Subtenente Honofre) – “À minha direita, mérito. À minha esquerda, demérito”. (Coronel Túlio Chagas Nogueira) – “Quem pregou o apagador no teto?”. (autor desconhecido) – “Para não esquecer mais, copia 100 vezes, no caderno, o poema “O Mar”, de Casemiro de Abreu”. (Coronel Cairolli) – “Só pra constar”. (Sargento Tavares, tomando nota do número do aluno) – “M… manca”. (autor nem tanto desconhecido) Naquela quarta-feira era almoço obrigatório. Parte da turma entrou em forma de calça cáqui. Outra parte de calça garance. O Sgt. Peter não gostou e, com aquele sotaque do interior, foi bem claro: – “As formaturas para o rancho, nas quartas-feiras, são de calça cáqui! Daqui pra frente ninguém mais me come de calça garance!”.

CURSO PRIMÁRIO

O chamado Curso Primário iniciou as atividades em 1971. Foi resultado de um grande esforço pessoal do Ten. Cel. Constantino, nosso professor de Português, que obteve o apoio do Comandante do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA) o, então, Cel. Túlio Chagas Nogueira. Este curso mantinha duas séries, 4ª e 5ª do Primário, conforme a antiga estrutura educacional nacional. Por ser um curso que, também, preparava para o in-

gresso no CMPA ficou, afetivamente, conhecido como CPREP.

Sob a direção do Ten. Cel. Constantino, o corpo docente era formado por professores convidados, civis e militares, e por alunos do 2º e 3° ano científico que desempenhavam o papel de monitores.

Uma grande parte dos monitores era composta por colegas da nossa turma. Éram jovens em torno de 17/18 anos que assumiram a dignificante missão de transmitir valores, controlar as turmas, mantê-las disciplinadas, bem uniformizadas e até ministrar instruções de Ordem Unida.

Se por um lado éramos disciplinadores, por outro lado tínhamos a grande responsabilidade de servir de exemplo. Valores como correção de atitudes, integridade, disciplina consciente, apresentação pessoal impecável, liderança eram observados em nós pelos nossos alunos.

Tínhamos ciência que éramos referência para eles. Tudo isso contribuiu, também, para a consolidação da nossa personalidade.

AA Campello, AA Karam

| CURSO DE PREPARAÇÃO AO GINÁSIO

Depoimento da Sra. Malena, esposa do Prof. Constantino

O Constantino era, por excelência, um professor, uma pessoa voltada a transmitir conhecimento. Era, também, um tanto quanto apaixonado pela hierarquia e pela disciplina. Ao reunir essas duas paixões no magistério militar, já na qualidade de Tenente Coronel, bem experiente na sua atividade, dispunha de tempo ocioso pelas tardes semanais. Teve vários convites para ministrar aulas em cursos pré-vestibulares e preparatórios ao Colégio Militar.

Tinha um receio, no entanto, perda da disciplina e da hierarquia, e liberalidade de características na vida civil, razões pelas quais nunca aceitou tais convites.

Nesta época em que eu finalizava o curso de pedagogia na Universidade Federal, ele me explanou sua vontade de criar um curso primário de boa qualidade de ensino e que, também, fosse um curso preparatório aos colégios militares. Cumpre ressaltar que, nesta época, mantínhamos, em nossa residência, um curso preparatório, dentro da informalidade, preparando alunos para acessarem o Casarão da Várzea. De pronto, achei a ideia ótima, mas grande demais para a nossa capacidade.

Ele não era homem de desistir e acabou por me convencer. As dificuldades, então, começaram a aparecer: local, nome, autorização da Secretaria de Educação, professores, material, equipamento escolares, pessoal discente e atinências.

Para fortalecer nosso trabalho, nos cercamos de mais três pessoas que se dispuseram a nos ajudar: professora Eneida, professora Eloah e o Sr. Mário. O projeto, que já estava em andamento, deslanchou, e a passos largos, haja vista a Secretaria de Educação autorizar o curso e o currículo, com metodologia criada por ele e com retoques e complementos propostos pelas três professoras Maria Helena, Eloah e Eneida. Também convidados a participar, o Capitão Carvalho e o senhor Mário formularam o projeto da administração, juntando-se a eles, posteriormente, o aluno Leitune.

Vencida toda a parte burocrática, administrativa, a metodologia, currículo, aprovações, razão social, o que demandou mais de ano, encontramos nossa última e maior dificuldade: não tínhamos patrocínio e nem economias para financiar o espaço físico e os materiais e equipamentos necessários para implantar o curso. Nesse momento, aquele que iria ser o nosso genro, o aluno Paulo Dias, ainda que de brincadeira, sugeriu que ocupássemos as dependências do Colégio Militar de Porto Alegre.

Muito otimista como sempre foi, o Constantino tomou a termo a sugestão e consultou o

Capitão Carvalho a respeito, que sinalizou positivamente quanto ao aspecto físico, dependências, diversos equipamentos e assemelhados. Pelas tardes, havia muitas salas ociosas, que podiam ser, perfeitamente, ocupadas no segundo andar, fundos, o pátio e quadras de esporte, além da Redenção.

Numa noite de sábado, convidamos o Coronel Comandante e esposa para um jantar em nossa casa e, após algumas taças de vinho, já bem descontraídos, apresentamos-lhe a nossa proposta e projeto. Extremamente acessível, o Coronel Túlio aceitou a ideia, mas estava muito receoso quanto às consequências disciplinares, responsabilidades e aspectos jurídicos pertinentes. Num ato de coragem, tomou para si os efeitos e autorizou o funcionamento do CPREP, emprestando-nos o nome do Colégio Militar, sua credibilidade, dependências e facilitando tudo quanto foi possível. Esse desapego e coragem não veio a se confirmar nos comandos posteriores, o que nos obrigou a alugar um prédio na Rua dos Andradas onde funcionou o Instituto Educacional Andradas, nos mesmos moldes do primário do CPREP. O corpo discente se compunha, então, pelo Capitão Carvalho, senhor Mário, soldado Victor e aluno Leitune. Como não pudemos dispor dos Sargentos do Colégio Militar, o Constantino convidou vários alunos do segundo e terceiro ano científico, alfa legionários, para monitorar as turmas, remunerando os monitores monetariamente. Professores do próprio colégio foram convidados a ministrar aulas, assim como tantos outros civis.

Criou-se um sonho e o Constantino o fez acontecer, com muito sucesso, prazer e dedicação; deu preocupação, houve problemas, distensões, todavia a positividade, a felicidade e a sensação do dever cumprido prevaleceram.

Ainda hoje, eventualmente, encontro um ou outro aluno que lá estudou e que ingressaram no ginásio do CM depois de uma passagem pelo CPREP.

PREPARAÇÃO PARA A SAÍDA DO COLÉGIO

Basta apenas que seja citado o nome do Colégio para que a sua vocação de formar, ou preparar, alunos para a carreira militar seja, imediatamente, associada a ele. De fato, desde o distante ano de 1807, quando o terreno onde se situa o atual Colégio foi doado para a construção de um quartel, os anos que se seguiram iriam presenciar as mais diversas instituições voltadas para o ensino, todas elas com objetivos militares.

Embora a vocação militar continuasse associada ao nome, a partir de 1961, os alunos formados pela escola já não mais visavam, exclusivamente, seguir a carreira militar. Aparentemente, o objetivo do Colégio era garantir uma formação adequada aos filhos de militares, trazendo a tranquilidade de uma boa educação e a segurança de uma boa escola àqueles que, por força do ofício, eram transferidos de uma cidade para outra com uma certa frequência.

Assim, buscavam o Colégio Militar de Porto Alegre, não apenas os filhos de militares residentes ou transferidos para o Rio Grande do Sul, que pretendiam seguir a mesma carreira do pai, mas buscavam-no, também, aqueles que, almejando

as difíceis e concorridas vagas nas boas Universidades, sabiam da excelência na formação que encontrariam, passaporte certo para os vestibulares.

Interessante observar que o período em que lá estudamos coincidiu com o auge dos governos militares, quando era de se esperar um retorno à prioridade para a formação militar. Paradoxalmente, os comandantes do Colégio, durante esse período, reforçaram, ainda mais, a qualidade do ensino e a ênfase nos valores essenciais para a formação dos futuros cidadãos, embora não se descuidassem da formação militar (hierarquia, respeito, ordem unida etc.). E foram ainda mais longe, trazendo, para o corpo de professores, conceituados professores civis, professores esses que ministravam nos cursinhos pré-vestibulares e nas próprias universidades de Porto Alegre.

No ano de 1972, último ano da nossa turma no CM, o Colégio tomou uma medida inédita e que reforça o que acabamos de comentar, trazendo um grupo de oito estudantes do quinto ano de Psicologia da PUCRS – Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, que, sob a coordenação do Major Simões, da Secção Psicotécnica, aplicaram uma série de Testes Vocacionais e orientação psicológica.

Mas, de fato, a maior prova de que o Colégio, efetivamente, nos preparou para a vida fora das suas arcadas foi o destino daqueles 65 alunos que se formaram em 1972, dos quais, aproximadamente, 35% seguiram a carreira militar e 45% ingressaram nas universidades.

Inesquecíveis as palavras do Comandante do Colégio, Cel. Jonas Correia Neto, dirigidas à nossa turma:

“A Turma Sesquicentenário, que ora deixa o Colégio Militar de Porto Alegre, destacou-se entre as muitas que, ultimamente, tem passado neste histórico quartel-escola. Os professores, os instrutores, os colegas – para quem ela foi exemplar – são unânimes em afirmar as qualidades da Turma, em conjunto e individualmente. Isso é um prêmio ao seu procedimento, que a eleva e vai fazê-la sempre lembrada, com saudade e admiração. É também, principalmente, mais uma garantia do sucesso que terão os seus integrantes, na vida para a qual tão bem se prepararam e que vão enfrentar com capacidade, ânimo e segurança.

Que Deus a todos ilumine e fortaleça, para que saibam escolher o caminho mais conveniente – e através dele vençam. Hão de vencer!”.

AA Cylon

| VISITAS PROPICIADAS PELO COLÉGIO VISANDO NOSSA FORMAÇÃO PROFISSIONAL

As visitas propiciadas pelo CM no nosso último ano, visando proporcionar-nos uma visão dos desafios profissionais que nos aguardavam, me marcaram tanto, que meu primeiro estágio, ainda no primeiro ano da Engenharia Mecânica do UFRGS, foi na Aços Finos Piratini.

Depois de formado, trabalhei com usinas hidrelétricas (influência da visita ao IPH?) e termelétricas (visita à UT Charqueadas?). Nas festividades dos 50 Anos da Usina Termelétrica de Charqueadas, em dezembro de 2011, tive a oportunidade de discursar, mostrando o artigo que havia escrito para a Hyloea 72. Coincidências...

AA Cylon

A FORMATURA

| A FORMATURA DO ADEUS?

O amanhecer em toda Porto Alegre deixava observar um horizonte bem definido. O sol surgia por trás dos prédios e formava sombras das árvores da Redenção, sempre algo agradável de ser visto. Naquele cenário, logo cedo, em conjunto com as cores do CMPA, constituíam eterna visão a ser perpetuada.

As memórias exatas do que aconteceu são um tanto difusas. Mesmo assim, é possível uma reconstituição do marcante evento, ansiosamente, aguardado. Os alunos da Turma Sesquicentenário, formandos, estavam agitados. Naquele dia 14 do mês de dezembro de 1972, o convite era bem claro: marcava para as 9h30min o início da solenidade. O 4º A (definição do uniforme militar) não era a túnica branca, guardada, que estava, para o Baile do Adeus. Preocupações com a fivela brilhando, posição correta da calça garance, envolvendo a parte de cima do coturno limpo e engraxado, camisa por dentro da calça, posição da boina... Último dia no CMPA, últimos chamados para “entrar em forma”! O dispositivo pronto para a formatura às 9h30min!

À frente, um pequeno palanque com autoridades militares e civis, ladeadas pelos professores e outros militares. Atrás, enchendo as arcadas que ladeavam a biblioteca do Velho Casarão, nossos familiares e convidados.

Essa seria a última vez que buscaríamos um alinhamento com os colegas ao lado, demonstração de disciplina e organização. Não mais ouviríamos aquelas vozes de comando tão familiares e que nos acompanharam pelos últimos sete anos: – “Cobrir! Firme! Descansar! Sentido! Não mexe mais!”.

Os exercícios de Ordem Unida, onde os Sargentos exibiam seus dotes de comando, conduzindo-nos por manobras de “direita volver”, “alto” etc., por vezes fazendo com que os grupos de alunos se entrelaçassem, milagrosamente, sem se chocarem, já iam ficando apenas na memória.

Em silêncio, ouvimos os discursos e prestamos nosso juramento de ex-alunos (mais tarde

denominados de AA Antigos Alunos), assistimos a troca do Porta-Bandeira e desfilamos pela última vez por aquele tão familiar quadrilátero que formava o pátio do Colégio.

Após a formatura, foi a vez de nos reunirmos para o momento do descerramento da Placa da Turma. Nosso colega, Itacyr Leitune, o 384, leu uma mensagem. O descerramento foi feito pelo Cel. Silvio Mussoi, representante do Paraninfo da Turma, Ministro Jarbas Passarinho, infelizmente, ausente das festividades.

Sob um sol, agora mais quente, os Sargentos tiveram dificuldade para reunir, novamente, a

turma, dessa vez, para a foto oficial de formatura. Imagem clássica da Turma, naquela arquibancada, como que relutando em dispersarmos...

A noite chegou e, mais uma vez, lá estava a Turma, distribuída em arquibancadas em frente à Biblioteca, dessa vez, para a solenidade de entrega dos diplomas.

Nosso colega Fábio Gomes, o 388, escolhido orador da turma, proferiu um esplêndido discurso, que viria se mostrar como atemporal, assim como o é a nossa Turma.

Emocionados, escutávamos os nomes de cada um serem chamados e recebíamos o diploma dos, também muito emocionados, familiares.

Neste momento solene, algo inusitado ocorre: um som de uma narração de um gol

saindo de um rádio de pilha, dissimuladamente, guardado no interior do bolso da túnica branca de um dos formandos. Ao longo da solenidade, foram narrados outros quatro gols. O jogo era do Campeonato Brasileiro de 1972, entre Flamengo e Internacional, vencido pelo Inter por 3x1. Esse foi o toque de humor e descontração para aquele momento tão sério e solene. Coisas da nossa turma...

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