ENTRE A EMERGÊNCIA E A CALAMIDADE José Matos zematos2@sapo.pt Acordamos no meio de um pântano sem divisarmos uma saída possível. Fechamos escolas, fábricas, restaurantes, cinemas, centros comerciais, igrejas e recolhemo-nos em casa. Lá fora o vírus era uma ameaça invisível cuja propagação através do contacto social tornara-se rápida e mortífera.
racionado e não racionalizado, sempre com o mesmo cheiro das árvores ou das flores da vizinhança.
Assim, fomos obrigados a ficar em casa, alterar toda a rotina diária como convívios, idas ao café, cinema, visitar a família, conversar com os amigos. A vida torna-se numa prisão domiciliária quando lá fora o céu azul convida a viver de forma expressiva e urgente o tempo da esperança e da alegria, deixar para trás ressentimentos, experiências menos conseguidas e sonhar com um mundo perfeito que só existe nos contos de fadas.
Caminho pelo apartamento, escrevo, leio e releio o que escrevi, encho o ambiente de música e procuro sonhar com aquele mundo perfeito como se fosse um pássaro livre a voar nas asas do sonho e do desejo.
Eu, espetador da varanda do meu apartamento, pergunto-me que crime pratiquei para ficar aqui isolado a respirar o ar que entra pela janela,
O mundo parece-me ainda mais pequeno do que é na realidade. Às vezes falta-me coragem para enfrentar as normas do confinamento.
Hoje é um daqueles dias em que me sinto triste. parece que tudo entrou de quarentena: o sorriso, o bom humor, a ironia. Escrevo como se cumprisse o dever de alguma conta que tenho para pagar e o prazo está quase a expirar. Lá fora o ambiente não é convidativo. 120