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Os Nossos Afonsinhos
from OsmusikéCadernos 1
by osmusike
Ana Maria Oliveira
anamiroliveira@hotmail.com
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Esta história começa em 2011, altura em que a Câmara Municipal de Guimarães decide organizar a primeira Feira Afonsina, inspirada na história da nossa cidade e no nosso primeiro Rei D. Afonso Henriques, fundador de Portugal. Sendo a nossa associação OSMUSIKÉ um grupo proativo em práticas amplamente conhecidas de participação em toda a vida cultural da cidade, não quis deixar de viver, uma vez mais, memórias da nossa história. Mas de que forma poderíamos participar? Teatro? Poesia? Música? Sim, em todas estas vertentes poderíamos fazêFotografia da Tenda dos Mercadores em 2011 lo já que, fazem parte das nossas atividades culturais, mas queríamos algo inovador e que, adequado ao momento histórico, nos transportasse ao ambiente da época. Designou-se então um grupo de trabalho para ponderar de que forma “OSMUSIKÉ “poderiam participar. Concluiu-se que a doçaria conventual poderia enquadrar-se neste projeto. A par da certeza, surgem as dúvidas: Quem seria a doceira? Que tipo de bolo? Que formato? Enfim, um rol de questões inerentes à novidade do projeto. Alguém me sugeriu e ‘fui eleita’ a doceira responsável. Quanto ao bolo, seria de criar um doce “Nosso” que marcasse a presença d’OSMUSIKÉ na doçaria conventual da Feira. Não temendo desafios, propus-me aceitar a tarefa. Tarefa de responsabilidade, já que a nossa cidade é afamada pela tradição de doçaria, legado deixado pela primazia das freiras Clarissas do convento de Santa Clara, ao povo de Guimarães. O nome surgiu de imediato: AFONSINHOS. Por que não?
Se a Feira é uma recriação da época afonsina, o nome seria muito adequado. E assim ficou…Afonsinhos. Chegávamos ao segundo passo: que tipo de bolo? Procurei nos meus baús e encontrei uma receita de família cujos ingredientes preenchiam os requisitos necessários para ser denominada doçaria conventual: ovos, gila e amêndoa. Depois de várias tentativas de adaptação da receita a um doce enquadrado na época no seu aspeto e sabor, decidi adicionar-lhe uns pós de magia com um sabor a mistério e muito carinho. Os Afonsinhos ficaram prontos para ser aprovados. Não esqueço o deleite dos participantes nessa reunião. Tínhamos Afonsinhos! Assim, ao longo de todo o ano, tenho a tarefa de preparar os ingredientes para confeção dos ditos doces: adquiro gilas, descasco, cozo e faço cerca de trinta quilos de doce. Descasco, seco e moo outro tanto de amêndoa, para podermos presentear a feira com cerca de mil Afonsinhos durante os três dias de duração. Os doces em forma de queque, estão envolvidos em papel, ao qual, o forno dá um tom sépia, muito próprio do usado na época. A cobertura de açúcar refinado dá-lhe um toque misterioso. Inspirado no tema da feira, complementamos cada queque com a bandeira que representa o estandarte usado por D. Afonso Henriques nas lutas pela independência, cujo símbolo representava uma cruz azul em campo de prata. São vendidos na zona dos mercadores por elementos da valência “Cantar Guimarães” trajados à época. A apresentação da tenda tem a configuração estipulada pela organização da Feira com decoração por nós escolhida: toalhas de linho, castiçais à época, abóboras de gila e amêndoas. Os licores fazem-nos companhia… De laranjinha e pêssego, estes licores são de confeção caseira e muito apreciados. São apresentados em pequenas garrafinhas envolvidas em tecido artesanal ou, vendidos ao copo. Assim, temos o orgulho de poder participar em mais este evento, que atingiu um tal grau de aceitação que nos levou a Registar a Patente “Afonsinhos”.
A tenda d’OSMUSIKÉ tornouse um lugar de encontro e convívio, não só para os elementos do grupo mas para o todo o tipo de visitantes que encontram na nossa companhia, não só o desfrute dos Afonsinhos regados com um bom licor, como um ambiente de lazer e uma alegria natural, que levam a manter a tradição e à visita obrigatória à tenda d’OSMUSIKÉ. Por tradição, a feira termina em festa: todos os elementos que durante estes dias se entregaram a manter a nossa história viva se recolhem junto à tenda e com o grupo de teatro, cantamos o nosso hino: o hino d’OSMUSIKÈ.
