1 minute read

Entre emergência e calamidade

Acordamos no meio de um pântano sem divisarmos uma saída possível. Fechamos escolas, fábricas, restaurantes, cinemas, centros comerciais, igrejas e recolhemo-nos em casa. Lá fora o vírus era uma ameaça invisível cuja propagação através do contacto social tornara-se rápida e mortífera.

Assim, fomos obrigados a ficar em casa, alterar toda a rotina diária como convívios, idas ao café, cinema, visitar a família, conversar com os amigos. A vida torna-se numa prisão domiciliária quando lá fora o céu azul convida a viver de forma expressiva e urgente o tempo da esperança e da alegria, deixar para trás ressentimentos, experiências menos conseguidas e sonhar com um mundo perfeito que só existe nos contos de fadas.

Advertisement

Eu, espetador da varanda do meu apartamento, pergunto-me que crime pratiquei para ficar aqui isolado a respirar o ar que entra pela janela, racionado e não racionalizado, sempre com o mesmo cheiro das árvores ou das flores da vizinhança.

O mundo parece-me ainda mais pequeno do que é na realidade. Às vezes falta-me coragem para enfrentar as normas do confinamento.

Caminho pelo apartamento, escrevo, leio e releio o que escrevi, encho o ambiente de música e procuro sonhar com aquele mundo perfeito como se fosse um pássaro livre a voar nas asas do sonho e do desejo.

Hoje é um daqueles dias em que me sinto triste. parece que tudo entrou de quarentena: o sorriso, o bom humor, a ironia. Escrevo como se cumprisse o dever de alguma conta que tenho para pagar e o prazo está quase a expirar.

Lá fora o ambiente não é convidativo.

ENTRE A EMERGÊNCIA E A CALAMIDADE

José Matos

zematos2@sapo.pt

Está tudo parado, expectante, à espera de dias melhores. Este ambiente faz-me recordar outros dias terrivelmente tristes que vivi na guerra, matando o tempo para ver se passava mais depressa, saturado de ver sempre as mesmas pessoas, confinadas, dentro do arame farpado.

This article is from: