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A casa

Firmino Mendes

firminomendes@gmail.com

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A casa: lugar intenso, umbigo do mundo onde a avó navega entre animais, terra e vegetais. Tudo ali sossega e adormece: o cântaro de barro e a sua porosidade, a humidade transparente da argila humedecida, o ninho dos gatos, o berço permanente.

A casa: eu sei, a casa era o centro do mundo e agora está vazia as telhas caídas, as traves apodrecidas, a cozinha negra e fria.

Eu sei: tudo agora é memória, espaço antigo, infância parada numa imagem que já foi de riso e movimento e agora é quase nada.

Lá fora, também é casa: o quintal aberto às aves e aos animais perdidos.

Ali, aconteciam as estações: as primaveras cantantes, os verões ardidos os outonos brandos, os invernos de terra mansa, gerando, adormecidos. Assim a descoberta: a casa tem dentro e fora, sol e nuvens, chuva e vento e, sobretudo, tem aquelas qualidades que esquecemos: sangue, sentimento, relâmpagos, luminescências e o silêncio todo do mundo, agora em movimento.

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