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Osmusiké Teatro
from OsmusikéCadernos 1
by osmusike
Emília Ribeiro e Madalena Antunes
emiliaribeirospaio@sapo.pt; lenaantunes11@gmail.com
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Osmusiké Teatro tem escrito uma belíssima história cultivando a afetividade, o apreço pela vida, rompendo laços de solidão e vendendo sonhos nas escolas do 1.º Ciclo, Jardins de Infância e Lares de Idosos. Nas várias peças apresentadas, os diálogos, o toque, o guarda-roupa, o cenário... criavam uma esfera mágica e enriqueciam a emoção, bem como resgatavam o sentimento da vida. Este Grupo de Teatro nasceu por vontade de quatro professoras aposentadas, que decidiram recrear a história do “Capuchinho Vermelho” dos Irmãos Grimm e adaptada por João Xavier de Carvalho, com o intuito de a apresentar nos Infantários Nuno Simões e Santa Estefânia, no início do ano letivo de 2008/2009. O feedback e a repercussão no meio escolar foram de tal modo positivas, que surgiram pedidos de atuação de diversas escolas EB 1/JI do Concelho. A estes juntaram-se outros da Pediatria do Hospital do Vale do Ave, da EB 1/JI dos Sininhos, Vila do Conde, do Colégio do Vale do Ave e do Colégio do Campo da Feira. No final deste primeiro ano de atividade, o elenco do grupo já contava com oito atrizes. Com este elenco expandido, resolveram levar a cena uma adaptação da história da “Gata Borralheira” de Charles Perrault, criada com a junção de canções populares portuguesas e êxitos musicais de várias épocas. O espetáculo foi construído com a colaboração de todas, por forma a suplementar hipotéticas limitações individuais. Durante o ano letivo 2009/2010, percorreram as Escolas do Primeiro Ciclo e Jardins de Infância do Ensino Básico e Lares de Terceira Idade do Concelho; o Agrupamento de Escolas do 1.º Ciclo Dr. Flávio Gonçalves, da Póvoa de Varzim; os Agrupamentos de Escolas 1.º Ciclo de Celorico de Bastos e Vizela.
Paralelamente, prepararam e executaram o teatro de fantoches sobre a história da “Carochinha e do João Ratão”, uma adaptação das histórias de António Torrado e Luísa Dacosta, que levaram aos alunos do Infantário Nuno Simões, à Pediatria do Hospital do Vale do Ave, à Escola EB 1/JI de Cruz d’Argola e ao Colégio do Campo da Feira.
Para o ano letivo 2010/2011, produziram a peça “Salada de Contos...Era uma vez” a partir das seguintes obras de referência: As Fadas, de Antero de Quental; As Fadas Verdes, de Matilde Rosa Araújo; e as Histórias Tradicionais - Branca de Neve; Gata Borralheira; Carochinha; Capuchinho Vermelho e Alice no País das Maravilhas.

A Feira Afonsina, em 2011, trouxe uma nova dinâmica ao grupo. A convite de Paulo Leite, responsável pela organização da mesma, participaram com a performance “As Regateiras”. Tal significou a expansão do grupo, quer em elementos, quer no campo de atuação. Usufruíram de formação em teatro de rua, que muito enriqueceu todos os envolvidos. Desde então, a participação na Feira Afonsina tem sido ininterrupta, com a adaptação de um texto anual, seguindo o fio condutor da primeira performance.
O ano de 2012 foi, por excelência, o momento de viragem do grupo. O CAR (Círculo de Arte e Recreio) convidou as Associações Vimaranenses a envolveremse na Programação da Capital Europeia da Cultura. Osmusiké Teatro aceitou a proposta surgida na sequência do convite do Programa Tempos Cruzados – “Aqui nasceu Portugal…”, um projeto vocacionado para as artes cénicas protagonizado pelos grupos de teatro amadores e por grupos de teatro escolar de Guimarães. O projeto

organizou-se em quatro ações: Fórum Permanente de Teatro, que decorreu em parceria com a FPTA (Federação Portuguesa de Teatro Amador); Aqui Nasceram Histórias e Estórias; Aqui nasceu Gil Vicente e Aqui Nasceu Afonso Henriques. As três últimas usufruíram da coordenação artística e orientação dramatúrgica de Hélder Costa. As referidas ações tiveram como linha orientadora o elogio das figuras identitárias de Guimarães, tanto à escala local como nacional, desde a valorização de lendas e histórias locais, passando por Gil Vicente – “Pai do Teatro Português” – até à incontornável figura de D. Afonso Henriques. O desenvolvimento foi feito através da promoção de espaços e tempo de formação e aprendizagem.
A peça “As aventuras e desventuras do Gato das Botas” foi criada, produzida e apresentada com dramaturgia original, inserida nos objetivos da ação [Aqui Nasceram Histórias e Estórias – Mostra Concelhia de Teatro de Amadores]. Inspirada na vida local, suas histórias, estórias, lendas, tradições e/ou personalidades, emana da fusão entre a expressão "Guimarães esfola gatos e mata cães" que faz alusão às indústrias de curtumes e cutelarias, e a conhecida obra “O Gato das Botas” de Charles Perrault. Nesta nova versão, a criação foi enriquecida por um guardaroupa inspirado nos trajes regionais e animada por uma seleção de músicas populares e adaptações do cancioneiro tradicional. Durante este ano o convite da TVI levou-nos a Lisboa com esta peça. Foi uma experiência única. Falamos na “Tarde é Sua" sobre o grupo, o voluntariado e a nossa aposentadoria e a associação Osmusiké.

No dia 20 de dezembro, o Grande Auditório do Centro Cultural Vila Flor recebeu o espetáculo “Aqui Nasceu Afonso Henriques”, dramaturgia e coordenação de Hélder Costa com encenação de Romeu Pereira. Seguiram-se mais duas apresentações: uma no Salão da Junta de Freguesia de Silvares e a outra no Auditório de Brito, em 28 e 29 de dezembro.
No ano seguinte de 2013, Osmusiké Teatro criaram, produziram e apresentaram “O Reflexo da Estátua”, um espetáculo em que o teatro e a música se fundem no campo das artes performativas. Esta obra fantasiou o
encontro de personalidades históricas dos primórdios da Nação, incluindo o confronto entre versões da mesma figura histórica, construídas com base nas linhas mestras estilísticas dos seus criadores plásticos (Soares dos Reis e Cutileiro). O espetáculo itinerou por agrupamentos de escolas e outras associações culturais e recreativas.
Inserido na programação das comemorações dos 40 anos do 25 de Abril da Fábrica das Associações, foi criado, produzido e apresentado o espetáculo “Portugal Amordaçado” a mais de mil crianças, em cinco sessões. Paralelamente, levou-se a efeito o concurso “O 25 de Abril visto pelas crianças”, cujo produto esteve exposto na Casa da Memória juntamente com a exposição de cartazes, discos de vinil, cromos e documentos do CICP. O resultado superou as expectativas.
O projeto “A Estrela e o Pequeno Grão de Areia”, foi a criação seguinte do grupo. Um espetáculo inspirado na lenda do surgimento das estrelas-do-mar, relatando a história de um pequeno grão de areia que ousa sonhar e conquistar o amor de uma estrela que se encontra a anos-luz de distância. A peça destacou-se principalmente pela mensagem da superação das limitações, trabalho coletivo, luta pelos sonhos e aceitação das diferenças de cada um. A estreia aconteceu a 16 de dezembro de 2014, no Auditório Nobre da Universidade do Minho, com duas sessões. Decorria ainda o ano de 2014, quando a pequena atriz Sofia fez uma Homenagem às avós Teatreiras no programa “Agora Nós” da RTP.

O desafio seguinte foi “O Rei da Helíria”, um espetáculo baseado no texto de Alice Vieira “Leandro, Rei da Helíria” e inspirado na história de tradição popular “…Quanto a comida quer o sal…”. Esta peça abordou a história de um rei que tinha três filhas e, um dia, quis saber quanto as filhas gostavam dele... Uma história onde se fala de amor, de ingratidão, de sonhos, de remorsos, de longas viagens de aprendizagem, e de como se faz e desfaz um rei, ou seja, do que acontece a um rei quando a coroa lhe cai da cabeça. O espetáculo itinerou pelos agrupamentos de escolas e associações culturais e recreativas do concelho de Guimarães. Esteve ainda no Teatro de Felgueiras e no Colégio em Vila das Aves.

Sensível às questões ambientais que assolam a sociedade atual, Osmusiké Teatro procurou dar o seu pequeno contributo. Convidar a comunidade a manifestar-se a favor do meio ambiente cuidando do espaço onde vive, plantando novas árvores, reciclando o seu lixo e aderindo a recursos menos poluidores, foi o pretendido com “A Derrota da Bruxa Poluição”. UM espetáculo sobre a poluição, que itinerou pelos agrupamentos de escolas e associações culturais e recreativas dos concelhos de Guimarães, Braga e Barcelos. A convite da Câmara Municipal foi elaborado o projeto “Guimarães Sítio de Memórias”, que englobou teatro e música. Foi apresentado no dia 13 de dezembro, no Centro Histórico, tendo como objetivo a Comemoração do dia em que a UNESCO classificou esta Urbe como “BEM ÚNICO – Património Mundial”, a 13 de dezembro de 2001 e que o mundo reconhece.

Em 217, teve lugar Húmus – FESTA DO TEATRO. Segundo as palavras do organizador João Pedro Vaz tratouse de “Uma oportunidade única! Todo o teatro de Raul Brandão apresentado numa grande festa que envolve os Grupos de Teatro Amador do concelho, os finalistas de Teatro da Universidade do Minho e os alunos das Oficinas do TO (OTO’s). A festa começa nas salas de ensaio dos grupos, pela cidade e pelas freguesias do concelho, vai às escolas, passa pelo centro histórico e explode no CCVF. Pela primeira vez, toda a família teatral de Guimarães reunida com o seu público para conhecer, discutir, representar e ver o teatro completo de um autor assombrado. “
Neste certame, Osmusiké apresentou “O AVEJÃO”, que mereceu a citação “Um raio de Júpiter que nos fulmina a todos, porque todos nós mentimos à vida e somos falsos a nós próprios” (Teixeira de Pascoaes). A Festa de Teatro não foi só um festival de apresentação, foi todo um projeto de estudo, leitura e trabalho à volta do autor. O grupo encontrou-se com Maria João Reynaud, a maior especialista em Raul Brandão e que fez uma conferência especialmente para os participantes sobre a vida e obra do homenageado. Tal muito contribuiu para a criação artística das personagens de “O Avejão”. Em 2019, Osmusiké Teatro integrou a Programação da Mostra de Teatro de Amadores, com a peça “Maria Parda”, um monólogo de Gil Vicente.

A escolha do texto partiu da proposta apresentada pela Oficina, “Gil Vicente”, mote de 2019, tendo por base o facto de se cumprirem 500 anos do “Auto da Barca da Glória” do autor. Embora a Programação final da Mostra viesse a sofrer alterações, o grupo entendeu manter a candidatura uma vez que a Oficina considerou o ano de atividade como ano zero e o calendário da Mostra como antecessor da semana dos Festivais de Gil Vicente. De modo a levar por diante o espetáculo com uma qualidade superior, o grupo usufruiu do programa formativo contemplado nesta convocatória. Apesar da sua média de idades poder ser alta, o grupo apresentou muita vivacidade e vontade de fazer cada vez melhor. Como recompensa final, foi uma mais valia usufruir das condições físicas e técnicas que o Espaço CCVF possui para o produto final da produção do espetáculo.

“Cinderela Borralheira” foi a mais recente criação de Osmusiké Teatro. Um espetáculo baseado na reinvenção do conto maravilhoso de Charles Perrault. Ocorrendo em algum lugar no tempo, uma grande notícia corre por todos os cantos de uma pacata cidade. O Palácio das Hortas foi supostamente comprado para hospedar a comitiva de um príncipe, que anuncia um baile real com o objetivo de escolher uma noiva para se casar... O espetáculo estreou no Auditório da Universidade do Minho, no dia 5 de dezembro e onde voltou no dia 14. No Dia Mundial da árvore de 2019 foi apresentado no Paço dos Duques de Bragança para mais de seiscentas crianças, em duas sessões. Com um percurso já longo, o grupo considera que tem sido um trabalho desafiante, não só por reforçar a experiência ano após ano, mas também pelo trabalho formativo que envolve (pesquisa, análise e reescrita de textos o mais fiel possível com a época e, ao mesmo tempo, diferenciador dos trabalhos anteriores). Em suma, Osmusiké Teatro conseguiu com trabalho, determinação e muita persistência, aliar a tradição à inovação, seguir em frente e concretizar sonhos.