A URGÊNCIA DO CONVITE Jaisy Cardoso
Quando a poesia teceu as linhas Entre eu e minhas ancestrais E eu reconheci a minha ingenuidade Em acreditar nas histórias de submissão Tomei nas mãos O controle da minha própria narrativa Feito mãe feroz Que alimenta o filho com o seio sob os seus olhos Para que ele não esqueça que o primeiro alimento Seu [e do mundo] Escorreu de uma mulher de cor. Quando Beyoncé me diz black is king E me convida para amar a minha beleza Eu me recordo da minha avó, penteando meus cabelos em frente [ao espelho Entoando cantigas para Yemanjá. E se posso me ver corpo que enuncia A potência de tantas existências Sob as íris encharcadas de quem plantou para eu colher E se posso ser árvore fecunda e bonita Que só existe neste tempo com a permissão sagrada das outras É porque entendo a urgência do convite Daquela voz que sussurra no meu ouvido Me ordenando: coragem! Me dizendo para não temer ser imensa 84