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Dicotomia

DICOTOMIA

Lira Queiroz

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Poesia de 2017, autoral, sobre juventude preta, sobre vida, sobre arte, sobre poesia, sobre vivência.

O que me salva da violência do cotidiano Da agressão que se alastra por debaixo do pano Da pressão que sufoca ano a ano É o apoio de um povo que não silencia seu canto É a coragem de um povo que não se entrega ao pranto Porque a cada truculência numa ação policial Há uma jovem negra se formando no colegial Porque enquanto o cabelo liso é normativo Existe luta para deixar o black livre e vivo Enquanto o padrão é enquadrar-se em traços finos É resistência amar negras e negros retintos Enquanto nos empurram embranquecimento e higienização Há mulheres negras que se amam exatamente por quebrar o padrão Enquanto nos resumem apenas a sexualização Homens negros gradualmente rompem com a estigmatização Eles são muito mais do que os seus corpos são Enquanto defendem um político meritocrático e armamentista Jovens negros e negras se orgulham por ser cotistas Se instrumentalizam, combatem discursos racistas Trazem cor a universidade, contrárias a lógica higienista Mesmo com as tentativas de retrocesso golpista Lutamos por reparação do genocídio escravista Enquanto subestimam o poder do empoderamento Jovens negros se fortalecem a partir do tombamento Enquanto fascistas saem na impunidade Saraus de poesia negra se espalham por toda a cidade Assim eu vivo e sobrevivo, nessa dicotomia Porque onde há repressão, há resistência e há poesia

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