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Desenho do Tempo
DESENHO DO TEMPO
Bruno Machado
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Durante a travessia, dormi e tive um sonho. Estava perdido em um deserto, olhando em volta com a esperança de pedir ajuda, caminhei um pouco e encontrei o Deus Tempo.
Gentil e receptivo, parecia estar me esperando há muito. Logo após o cumprimento, caminhou com seu bastão e se sentou numa rocha em meio às dunas de areia. Ali, ele iniciou um desenho. Linha após linha, o meu destino foi traçado no solo sagrado do deserto.
Enquanto realizava a vagarosa tarefa, aconselhava-me sobre o que viria a seguir. Disse que teríamos que ser fortes, o futuro imediato não nos era promissor, mas que, assim como ele, saberíamos como lidar com tudo e todos.
Por meio de suas palhas, não era possível ver seu rosto, apenas sua voz calma e seu gesto amigável. Parecia que a eternidade estava ali, disposta a ele, dada a vagareza do seu trabalho. O pior é que estava mesmo. Sentei-me ao seu lado e tentei observar o desenho. Sem tirar os olhos do chão, ele disse: —Não olhe. Não estrague a surpresa, já estou terminando.
Então, levantei e senti uma brisa marinha em meu nariz. Sentei dessa vez em sua frente, com o desenho entre nós. Tentei mirar seu rosto e ele me disse: —Se olhar nos meus olhos verá o eterno do tempo, desde o princípio de tudo. A sua incompreensível grandeza pode lhe fazer mal, por isso não olhe.
E pude ouvir um canto de pássaros. Aborrecido e inquieto, lhe perguntei: —Para onde devo olhar, então? Desenha o meu destino de forma tão vagarosa, me diga para onde olhar, o quanto antes eu quero ver o meu desenho! —Não há o que olhar hoje, o agora não será nada bom, mas o amanhã lhe trará a glória perdida.
Despertei. Acorrentados, chegamos do outro lado do Atlântico.
VERDADEIRAMENTE LIVRE
Caléo Meneses Santos
Era uma noite quente, como o habitual em Salvador, apesar de uma fraca chuva cair do lado de fora. Já no final do expediente, o guarda trouxe um jovem negro detido ao recinto da segurança do shopping. Este, apesar de não gostar da situação, não ia de encontro aos os puxões que o guarda fazia. — É sério, Eduardo? Assim você me quebra… logo agora que eu estava de saída – Reclama o chefe da segurança sentado atrás de sua mesa. — Esse rapazinho aqui é diferente, chefia. Ninguém lá no serviço está entendendo a situação do ocorrido. — Não está entendendo? Como assim? Ele foi pego ou não fazendo alguma baderna? — Mais ou menos, chefia. Ele foi encontrado durante a ronda, em uma loja já trancada, lá em baixo. — Então, temos um arrombador! Qual é a dúvida aqui? – Bradou o chefe. — Mas, então… não tinha nenhum sinal de arrombamento na loja, chefia. Muito menos qualquer gravação nas câmeras! – Afirmou o guarda a seu chefe. — O que?! A chuva que podia ser vista da lateral esquerda da mesa começou a engrossar mais ainda, ao mesmo tempo que o vento foi fez esvoaçar algumas folhas de papel pela sala. — Bom, parece que não vou conseguir sair por agora, principalmente com esse toró. Vamos iniciar fazendo esse rapazinho confessar o que roubou – Falou o chefe de segurança fechando totalmente a janela da sua sala e depois apontando para o jovem. — Vamo, pivete, desembucha!
O jovem levantou a cabeça, tinha um olhar de peixe morto, e encarando o chefe, disse: