1 minute read

Eu resisto

EU RESISTO!

Nara Neylaine

Advertisement

Eu resisto! Eu resistirei! Por cada preto que no navio negreiro dormiu amontoado Por cada preto que chorou quando seu irmão morreu do seu lado Eu resisto! Eu resistirei! Por cada preto que morreu no açoite Ou fugiu da senzala no meio da noite Eu resisto! Eu resistirei! Por cada preto que não se calou Que não negou suas origens só porque o branco mandou Eu resisto! Eu resistirei! Por cada preto banhado em lágrimas enquanto apanhava Que chorou nostálgico de sua vida na África Eu resisto! Eu resistirei! Por cada preto que viu sua família ser destroçada na sua frente Que cometeu suicídio só pra não voltar a não ser gente Eu resisto! Eu resistirei! Por cada preto que pediu pro seu orixá Enquanto o branco pensava que era pro santo Que não se converteu à religião imposta pelo branco Eu resisto! Eu resistirei! Por cada preto que lutou capoeira Enquanto o branco pensava que era só brincadeira Eu resisto! Eu resistirei Por cada preto que no quilombo viva Mantendo a esperança de que a liberdade fosse chegar um dia Eu resisto! Eu resistirei! Por cada preto que morreu Por cada preto que chorou Por cada preto que fugiu Por cada preto que lutou

Resisto por Aqualtune Por Carolina de Jesus Por Zumbi dos Palmares Por Dandara Eu resisto pela Mãe África Eu resisto Por meus ancestrais que também resistiram Por meus filhos, que ainda nem nasceram Eu resisto E seguirei resistindo Pela nossa história E para que ela continue existindo

“A casa grande não me ilude: Conheço bem o meu lugar de quilombola”1 .

1 SILVA, Cidinha da. Canções de amor e dengo. São Paulo: Me Parió Revolução, 2016.

This article is from: