1 minute read

Fragmentos Lunares

FRAGMENTOS LUNARES

Ináira Gomes de Oliveira

Advertisement

Hoje, senti que era pintura de uma só cor, da natureza Revirados, todos os sentimentos e as entranhas em turbulência Senti um poder imenso e, também, fraqueza.

A lua no céu magnetiza O que dentro de mim goteja E puxa pra fora o que não pode mais ser colheita. Os ventos vieram avisar: você, mulher, é feita de fogo a trepidar E agora vai entender Porque esse sangue que jorra quente, Limpa tudo de dentro e seu corpo vai transformar.

A primeira vez não se esquece Toda a família é informada Bota um pano entre as pernas E esconde essa calcinha manchada. Tratam o assunto com muito nojo Dizem que fede e a mulher fica sem amor Deixam a menina isolada, sem entender Porque menstruar causa tanto pavor.

A ida ao ginecologista é outro sufoco A menina chega a ficar envergonhada Para falar que do seu corpo Sai algo que te deixa assustada.

É verdade que os hormônios deixam tudo bagunçado Mas somos feitas de ciclos e reviravoltas Ter um acolhimento se faz necessário Somos como maré, é a lua quem nos toca.

Acolha seu ciclo e aproveite Para nutrir a terra com a sua água morna Fazer crescer medicina Plantando sua natureza feminina. Adulta se torna. A criatividade aflora e a intuição é intensa Libido se apresentando, onde outrora era inocência.

Não há pecado em ser mulher Ser portal e nutrir a vida neste planeta Flores que se abrem ao tempo Permitindo que a estrutura genealógica seja refeita.

Temos que seguir por onde caminharam nossas ancestrais, Colhendo pelo caminho as folhas sagradas Que vão desintoxicar nossos corpos e curar nossos ventres Vão ser nossas aliadas Companheiras de jornada Nos potenciando mais.

A chama foi acesa e estou me derretendo em lava Peço às deusas feiticeiras Para não queimar tudo pela estrada.

Mulheres que por aqui lutaram E muito sangraram Permitam que hoje possamos plantar Nosso sangue para regar as sementes Que na terra deixaram.

O amor tudo conforta E o cuidado sempre nos foi negado A conversa virou tabu e nosso corpo objetificado. Se está brava é porque sangra, come açúcar que passa Dizem os tolos que não sabem O poder que tem uma mulher-lava.

This article is from: