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Desprivilégio
DESPRIVILÉGIO
Lizandra Fernandes
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Eu vou fazer de um jeito diferente Eu tô cansada de abaixar dedo pra essa gente Eu vou le-van-tar Cada dedo de pé vai te denunciar
Levanto um dedo pra você Que se levanta quando eu chego Levanto dois pra você Que muda de calçada ao me avistar
Levanto três para cada nome Que meu cabelo foi apelidado O mesmo dedo fica de pé Para cada traço do meu rosto desdenhado.
O quarto e o quinto, Vão pro lojista que não me atendeu E pro segurança que me seguiu a loja inteira Sem perguntar
O sexto, vai pro homem Que não revelava seu amor por mim.
O sétimo, vai pra porta do banco Que faz questão de travar Até as coisas sabem de que cor eu sou
O oitavo, vai pra quem não me deixa completar a frase E me ignora
O nono, vai para o meu salário Que nunca é igual ao teu no mesmo cargo
O décimo vai pra você Que vê besteira no que listei Tem dedo que vai para quem acha Que só sirvo pra limpar chão Que dedo? Acabaram-se E eu não vou abaixar Eu não vou, não vou
As mãos completaram O racismo continua A desigualdade permanece E as minhas queixas? Crescem!
Dedos para cima É mãos para o alto E eu lembrei E abaixei
Abaixei as mãos, silenciei meus dedos Porque preto de mão pra cima É rendido É bandido E armado em mim Só meu cabelo, em resistência.
Preto luta até sem guarda Estou aqui para existir Estamos aqui para resistir De dedos em pé Resistiremos Existiremos EXISTIMOS Estamos vivos.