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Despertar

DESPERTAR

João Luas

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Não somos resistência Porque não precisamos resistir Saio de casa sem minha mãe se preocupar Ela tem certeza de que eu irei voltar Nessas ruas, guarda-chuvas não se tornam fuzis Não tenho medo do enquadro desses imbecis Não configuro ameaça pra nenhum segurança Carrego apenas beleza na minha pele E em cada uma das minhas tranças Não sinto medo de assistir ao noticiário Meus irmãos não vão mais morrer nas mãos de outro otário Não me acham maluco por falar de equidade Hoje tem vários pretin no caminho da faculdade Tamo fazendo arte, tamo sendo apenas quem a gente é Não precisamos mais ser melhores duas vezes E, ainda assim, receber um ponta pé Quebramos a porta fechada, não aceitamos o seu não O povo preto abdica dessa nova colonização O padrão não é mais branco, nem loiro, nem europeu Cabelo crespo, beleza cacheada Viva a pele retinta, viva o negro de pele clara Restituímos o amor que nos foi negado Nos enxergamos no espelho e vemos que nada nos foi dado Não queremos nossa imagem a semelhança da tua Vivemos sempre na sua sombra e hoje isso não continua Não aceito o seu deus, não vou para o seu céu Nem Jorge Ben Jor quer mais a Ive Brussel Não somos mais apenas potência, somos realização Se aqui existe justiça, Rafael Braga não foi para a prisão Sem essa história de meritocracia

Senão, já tínhamos dominado o mundo e, de quebra, feito poesia Mas aqui não é desrespeitada a música que vem da nossa quebrada Elza Soares é rainha e o samba é rei Ouvir aquele álbum do Simonal já é de lei Algum instinto me guia até a praia Mergulho contundente nas águas da baía Naquele instante entendi o que é que acontecia A minha mente viaja e me leva a criar Mundos imaginários, pois aqui já não dá mais pra aguentar Levanto da cama e espreguiço o corpo de mais uma fantasia Saio de casa em luta pra que meu sonho não seja só mais uma utopia

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