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O Corpo de um Escravizado

O CORPO DE UM ESCRAVIZADO

Albert Elias Gertrudes

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Meu corpo atravessou o mar Nos porões de um navio Meu corpo sobreviveu às noites duras de frio Alguns dos meus corpos não puderam aguentar Eu vejo esses corpos cansados Lançados no fundo do mar.

Em meu corpo não tinha mais água E eu nem conseguia chorar Me acolhi no colo de minha mãe E eu já nem sei onde ela está. Meu corpo foi arrancado De onde ele aprendeu amar Da terra sadia, para um futuro sem vingar

Queimaram minhas memórias E eu tive que assistir Me prenderam em correntes Que ainda sinto em mim Ninguém sarou minhas feridas E elas insistem em reabrir

Meu corpo atravessou o mar Nos porões de um navio, Meu corpo sobreviveu às noites duras de frio Alguns dos meus corpos não puderam aguentar Eu vejo esses corpos cansados, Lançados no fundo do mar.

Meu corpo produziu suor, Que produziu riqueza Como pagamento, me produziram Infindáveis tristezas. Um dia, meu corpo se negou a resistir E de novo se contrariando, Meu corpo se negou a sucumbir Não havia fontes de força Para meu corpo conseguir se erguer Melhor tentar liberdade do que Engolir o que reservaram pra você.

Meu corpo até hoje resiste Às armadilhas da casa grande. E meus outros corpos desatinam a fugir Mas os donos da fazenda Mal esperam o que vem por aí!

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