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Caso arquivado

CASO ARQUIVADO

Iasmin Santos de Jesus

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A manhã no colégio foi cheia. Eu e meu melhor amigo estávamos chegando na nossa quebrada e, como ainda era cedo, decidimos sentar na calçada para bater um papo. Estávamos conversando sobre o jogo do Bahia, torcemos para o mesmo time, até nisso ele é meu parceiro.

Do nada, ouvimos um barulho de tiro e não entendemos o que estava acontecendo. Quando olhei para o lado, o Júnior estava caído com a bala na cabeça. — Socorro, alguém me ajuda!

O desespero em minha voz fez com que as pessoas que estavam em suas casas saíssem. Ali, naquele momento em que vi meu melhor amigo caído no chão, foi como se algo em mim tivesse morrido.

O pai do Júnior estava chegando do trabalho e a primeira coisa que viu foi o corpo do filho estirado no chão. Sem saber o que fazer, tentou acordar o filho de todo jeito, mas já era tarde… não tinha mais vida. Apenas um segundo para mudar tudo, uma bala para acabar com a vida de uma pessoa do bem.

O pior de tudo isso é saber que a bala que acertou Júnior podia ser pra mim, poderia ter sido eu no lugar dele e quem deveria nos proteger está nos matando. A bala saiu da arma de um policial, fardado como pessoa de bem, sem saber o mal que causou para uma família inteira.

Minha mãe me mandou entrar e eu fiz o que ela pediu. Ainda estava desnorteado com tudo que aconteceu. Parece uma brincadeira do destino, meu amigo morto como se fosse um bandido, é impossível acreditar no que acabei de ver. Só conseguia chorar, tentando colocar pra fora tudo aquilo que estava em meus pensamentos. Chorei como se a bala estivesse presa em mim, gritei tentando por para fora o que estava sentindo, raiva, tanta raiva presa em apenas um grito.

A noite passou e eu não consegui dormir. No dia seguinte foi o enterro, fiz questão de ir ao lado do caixão. A mãe e o pai de Júnior estavam desolados, e eu não estava diferente. Enterrei meu amigo e, olha que não somos bandidos…

Ele sonhava em ser jogador pra dar uma vida melhor aos pais, queria jogar no Bahia. Eu torceria por ele na primeira fila, pena que tudo isso foi interrompido. O sonho do meu amigo se apagou e na delegacia eles falaram: “mais um caso arquivado”.

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