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Preta demais
PRETA DEMAIS
Sued Nunes
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ninguém vai entender quando pedirem silêncio e eu continuar falando é que hoje eu sei quem comeu minha língua e antes fosse o gato!
a geografia do silêncio a matemática de se dividir aos pedaços a previsão que sempre apontou pro meu olho chover
conheço!
ciências que me viram animal e eu me vi canibal ao engolir o que mais tinha vida minha voz
contas que nem foram pagas já que nem foram calculadas não acredito num total mais certeiro que seus cortes
não vou me convencer de que não fere mais mas que posso ferir mais olhar de cima machuca.
fiz minhas economias e gastei o tempo de limpar o chão limpando o tempo pra estar limpo pra mim
não vai chover!
e eu não vou desabar
mesmo tendo construído minha (c)asa em um lugar não apropriado: solo genocida
tudo que se colhe tem os juros parcelas não quitam o custo minhas dores estão parceladas
de tudo que perdi não me devolvo o silêncio mas quando eu falar quero todo mundo de boca calada
o tom de voz mais alto as mãos que mais fazem me viro em cem e os outros quinhentos (anos) a memória não esquece
vocês tatuaram!
mas também não vão me esquecer porque minha boca é ameaça já que sou tudo que vocês nunca disseram: a fonte.