1 minute read

Preta demais

Next Article
Meu corpo forjado

Meu corpo forjado

PRETA DEMAIS

Sued Nunes

Advertisement

ninguém vai entender quando pedirem silêncio e eu continuar falando é que hoje eu sei quem comeu minha língua e antes fosse o gato!

a geografia do silêncio a matemática de se dividir aos pedaços a previsão que sempre apontou pro meu olho chover

conheço!

ciências que me viram animal e eu me vi canibal ao engolir o que mais tinha vida minha voz

contas que nem foram pagas já que nem foram calculadas não acredito num total mais certeiro que seus cortes

não vou me convencer de que não fere mais mas que posso ferir mais olhar de cima machuca.

fiz minhas economias e gastei o tempo de limpar o chão limpando o tempo pra estar limpo pra mim

não vai chover!

e eu não vou desabar

mesmo tendo construído minha (c)asa em um lugar não apropriado: solo genocida

tudo que se colhe tem os juros parcelas não quitam o custo minhas dores estão parceladas

de tudo que perdi não me devolvo o silêncio mas quando eu falar quero todo mundo de boca calada

o tom de voz mais alto as mãos que mais fazem me viro em cem e os outros quinhentos (anos) a memória não esquece

vocês tatuaram!

mas também não vão me esquecer porque minha boca é ameaça já que sou tudo que vocês nunca disseram: a fonte.

This article is from: