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A urgência do convite

A URGÊNCIA DO CONVITE

Jaisy Cardoso

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Quando a poesia teceu as linhas Entre eu e minhas ancestrais E eu reconheci a minha ingenuidade Em acreditar nas histórias de submissão Tomei nas mãos O controle da minha própria narrativa

Feito mãe feroz Que alimenta o filho com o seio sob os seus olhos Para que ele não esqueça que o primeiro alimento Seu [e do mundo] Escorreu de uma mulher de cor.

Quando Beyoncé me diz black is king E me convida para amar a minha beleza Eu me recordo da minha avó, penteando meus cabelos em frente [ao espelho

Entoando cantigas para Yemanjá.

E se posso me ver corpo que enuncia A potência de tantas existências Sob as íris encharcadas de quem plantou para eu colher E se posso ser árvore fecunda e bonita Que só existe neste tempo com a permissão sagrada das outras

É porque entendo a urgência do convite Daquela voz que sussurra no meu ouvido Me ordenando: coragem!

Me dizendo para não temer ser imensa

Que não encaixo numa essência Que me estigmatiza, me reduz Que me tira toda multiplicidade.

Eu aceito seu convite, senhora De ser mais do que os olhos enxergam De ser além das dores que carrego De ser maior do que os medos que me impuseram

E agora eu sei, minha senhora Que o seu convite é para que eu reine Para que eu brilhe Para que eu viva Cada dia mais certa do que sou

Porque sou Ninguém menos Que uma das suas herdeiras E te honro!

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