MOCIDADE
Diana Bispo Ribeiro da Silva
A mocidade me foi arrancada. Para alguns, esse inevitável rito chega cedo demais. Enquanto para outros, chega um pouco mais tarde. De qualquer jeito, a minha mocidade me foi arrancada. Onde a crença e a esperança são semeadas, quando o peito é solo infértil e de terra dura? Para onde o sol vai quando se põe e o que antes era luz se converte em escuridão? A minha mocidade me foi arrancada, não por falta de avisos, nem muito menos por descuido, mas por ter um coração intenso e crente na veracidade do sentir. A desilusão vem lancinante quando o encontro é fundido. Realmente, não é tão difícil chegar a idade adulta sem amigos e com o coração amargurado. A mocidade me foi arrancada e com esse arrebate, começo a internalizar que independente de qualquer coisa, eu tenho a mim mesma e tenho a eles, e isso de alguma forma me conforta, porque eu tenho tudo o que eu preciso. Ao som de melodias fúnebres, caminho na marcha que vai em direção ao meu próprio velório. E por último, olho o meu reflexo nu e cru, através do espelho de minha mãe, e choro em luto: as lágrimas saem secas e inexistentes. Relutei em aceitar o que a vida tem por lei básica. É que ninguém nunca estará preparado para o assalto do seu ouro, mesmo a coleção de joias lhe sendo vasta. Por fim, levanto, olho-me novamente no espelho da minha mãe e reconheço: a minha mocidade me foi arrancada.
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