SONETO AOS URUBUS Ananias Serranegra
Logo quando a noite amanhecia De mim toda aflita em sussurros Segredos escondidos pelos muros Perdi, quem da vida me valia. Roguei prece em coro, Ave-Maria! Dedos que no terço rezam urros Pra ver se lá dentro desses mundos A mãe da vida escute a romaria. Dos corpos que seguem essa via Pretas almas caminham no silêncio No vão dos passos da saudade. Meu grito é choro que geme no cio Sem força para seguir a abasia De quem no peito sente a crueldade Eu-mãe quantas vezes pedi à Trindade -Abençoe, Santo meu, a casa nossa Ali sentada na cadeira no meio da prosa -Proteja meu menino de toda maldade. Mas é curral de preto na porta do céu É curral de gente gemendo no asfalto É pedido de justiça rangendo bem alto É procissão de cor seguindo ao léu. É despedida sentida com gosto de fel É missa rezada sem corpo presente É coroa de flores na cor da lembrança 42