O VERSO QUE NÃO COUBE NO POEMA Ananias Serranegra
Pari pelo cu coisas que desenharam fonemas Saiu a rasgar as pregas, inflamar a dor. Não foi correndo implorar gramas de amor Reteve-se, no tempo imediato dos poemas. Remoeu do cólon a caminho do reto Para dali expelir seus espólios fedidos De devaneios que acumulam perdidos A fugir do canal poluído do inseto. Nasciam de mim, palavras em relevo É a costura da pele que agora habito No hálito sinto o gosto amargo, um grito Da garganta que inflama enquanto escrevo. É que o verso saiu daqui, do erro do português Das palavras que atravessam a avenida. Nasce no furo do peito com a bala perdida Gírias que rasgam teus sonetos, freguês. Não cabem nas bermas de asfalto e mapa Nas gramas regradas das sílabas poéticas. É dado às rimas pobres, às falhas métricas. Não vale o sereno louvor do papa Que também Francisco borda toalha Nas sombras frescas dos quintais. 38