O CORPO DE UM ESCRAVIZADO Albert Elias Gertrudes
Meu corpo atravessou o mar Nos porões de um navio Meu corpo sobreviveu às noites duras de frio Alguns dos meus corpos não puderam aguentar Eu vejo esses corpos cansados Lançados no fundo do mar. Em meu corpo não tinha mais água E eu nem conseguia chorar Me acolhi no colo de minha mãe E eu já nem sei onde ela está. Meu corpo foi arrancado De onde ele aprendeu amar Da terra sadia, para um futuro sem vingar Queimaram minhas memórias E eu tive que assistir Me prenderam em correntes Que ainda sinto em mim Ninguém sarou minhas feridas E elas insistem em reabrir Meu corpo atravessou o mar Nos porões de um navio, Meu corpo sobreviveu às noites duras de frio Alguns dos meus corpos não puderam aguentar Eu vejo esses corpos cansados, Lançados no fundo do mar. 23