AMOR E AUTOCUIDADO Marcus Vinícius de Jesus Reis
Vim decidido a não me utilizar de regras normativas para escrever este texto. Me sinto livre para falar, e como falo de mim mesmo, acho justo que o texto se adapte à minha maneira confortável de fazê-lo. Penso sobre mim a partir de um novo eu, que se valoriza, se admira, se ama. Partindo de uma ideia de si que foi criada pelos seus semelhantes e ancestrais. Me liberto também da obrigatoriedade de utilizar de conhecimentos teóricos (mas talvez use) para contar este pedaço de reconstrução. ADORAR-SE É COMPLEXO. Olhar a imagem mais pura de si no reflexo do espelho, o seu eu mais verdadeiro, e ainda mais, o eu que não lhe é apresentado através da imagem, aquele que te faz orgulhar-se, admirar-se, sentir alívio e felicidade. Agradecer por pertencer àquele corpo, naquele momento, naquele lugar, não é tarefa fácil. Somos atravessados de violências, desde o século XVII (quando se tem registro dos primeiros conflitos de caráter racial). E entendendo o significado da ancestralidade e da espiritualidade, sabemos que tais violências flutuam gerações e se acumulam a partir do primeiro contato do indivíduo com o meio societário. Imaginemos quebrar completamente uma cultura odiosa, amar-se novamente, reaprender a existir. Se tornar sujeito é transcendental, não é possível descrever. Posso dizer que há um perigo narcísico. Para quem nunca experimentou o amor, todo amor não basta. O autoamor não enche, é tudo por si e para si. Porque nunca fomos, nunca tivemos, agora queremos e sabemos o que seremos. Não me curvo à figura do Narciso, me compreendo, me amo e me respeito, e por isso respeito o outro, um respeito que considera a minha existência tão importante quanto a de todo ser vivo, porém, talvez mais útil. 119