A SEMANA É QUASE SANTA Juliana Santos de Santana
Anotações mentais sobre a importância de contar a história do jeito certo. Em qualquer igreja se diz: que diferença faz se Jesus era negro ou branco? Para eles, afinal, o que vale são os seus ensinamentos. Esquecendo de contar com o fato de que a cor do Cristo tem importância fundamental para quem sempre foi massacrado. Para quem sempre foi subestimado e violentado, colocado em papéis infames. Porque é mais fácil fingir que as Pirâmides do Egito estão na Europa, ou foram construídas por alienígenas. Afinal de contas, os negros não devem ser capazes de realizar grandes feitos. E quem diria que a cor de um homem seria determinante? Que não obstante, acredito que diante de tanta inverdade, o cara que é a própria luz e o caminho, seria o responsável por uma mulher preta não ser considerada digna de carinho? Alguém explica para Jesus porque as histórias que aconteceram dentro do solo negro estão sempre pintadas de branco. A Cleópatra da novela brasileira é branca, mesmo tendo nascido e vivido em um lugar que era mais sol que qualquer outra coisa. E o menino Jesus também. O homem passou mais de um mês no deserto e voltou com os cabelos lisos e a pele mais clara que papel. Convenhamos, alguém depois de caminhar no deserto, por mais branco que seja, estaria num tom de vermelho alaranjado que toda mana do biquíni de fita conhece. Não precisa ser um cientista para saber. Aí a gente olha para a história que nos contam. A gente olha para o filme que passa na TV, todo ano, na semana santa. A gente vê aquela peça teatral da paixão de Cristo onde Jesus é branco, de cabelo liso e olhos azuis, e não tem como se perguntar: o que realmente vale? Supondo que Jesus foi um homem negro – sendo ele a repre106