Sophia Abe Roveda
fumaça já tomava conta do cômodo e eu ficava cada vez mais desesperada. Foi aí que acordei, completamente tensa.
Cândido Neves
Tentava dormir de novo, mas não conseguia. Levantei-me da cama e fui passar o café. O dia
Eu poderia imaginar mil maneiras para
seguiu sem grandes mudanças e eu estava cada vez
ficar com meu filho. Eu e minha mulher
mais ansiosa para o baile. Coloquei o lindo vestido
poderíamos ficar sem comer para
branco que tinha feito e uma sapatilha um pouco velha. Chegando no local, encontrei algumas amigas
poder dar a ele o que comer, mas aí nós
e fiquei conversando com elas. Em certo momento,
morreríamos de fome e deixariamos
fui pegar uma bebida e vi um homem alto, com barba
nosso filho órfão. Eu poderia começar
e que estava fazendo todos em sua volta rirem. Me
a roubar e vender os itens furtados
aproximei e vi como contava suas histórias e piadas
para poder comprar comida, mas isso é
de maneira tão faceira. Percebi que ele me lançava
imoral e se eu fosse pego seria morto,
olhares de desejo e eu os retribuía. Nunca tinha sentido aquilo, uma paixão tão imediata e intensa. Depois
assim deixando minha mulher e meu
de certo tempo, ele me tirou para dançar e foi ali
filho sem comida. Poderíamos pegar
que perguntei seu nome, era Cândido Neves. A partir
dinheiro emprestado e quando as coisas
daquela dança eu sabia que aquele seria o homem
melhorassem pagaríamos aquilo que
com quem me casaria.
ficaremos devendo, mas e se as coisas só piorarem? Eu poderia arranjar mil soluções! Porém nenhuma delas iria dar certo, todas resultariam em fome ou morte. Não há nada que eu possa fazer para manter meu filho comigo. Tia Mônica já falou que eu devo deixá-lo na Roda dos enjeitados o mais breve possível. Se não o menino morreria de fome mas não consigo imaginar isso como uma boa escolha, é impossível gostar da ideia de deixar seu filho único e amado num lugar onde um estranho qualquer pode o pegar e levá-lo para longe ou pior: meu filho acabe ali esquecido pensando que nós não o amamos o suficiente e deixamos-lo lá por não ser digno do amor de uma
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