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João Vitor Dente A mãe sem filho

João Dente

A mãe sem filho

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A vida que eu tinha sempre foi muito difícil. A tortura de ser uma escrava no Brasil era talvez o maior sofrimento que se podia ter. Passava por diversas torturas, ferros aos pés e ao pescoço, máscaras que impediam a alimentação e muitas chicotadas. Eu, como uma mulher grávida, precisava permanecer em pé, mesmo que todas aquelas atividades fossem interminavelmente exaustivas e dolorosas.

O bebê que estava em minha barriga me trazia repugnância, era o fruto do maior abuso que sofri em minha vida, o qual não pretendo contar novamente. Aquele feto, ainda que me causasse entojo, fazia-me compadecer por suas inúmeras dores que sentiria em sua vida.

Um dia que estava na senzala, meu senhor distraiu-se, dando-me a possibilidade de escapar daquele lugar. Eu sabia que se fosse capturada o que aconteceria comigo seria muito pior, mas não havia muito caminho para tal acontecimento. Por isso aproveitei o único sopro de esperança que eu ainda tinha e saí correndo com todas as minhas forças. Cortei-me com arames e bati muitas partes de meu corpo, não era uma fuga fácil mas eu continuei. Sabia que estava escapando por mim e por aquela criança pois a força que surgiu dentro de mim não era de uma pessoa só. amigável. Claro que não se importariam com uma mulher escrava, mas as mudanças no país haviam surtido algum efeito. Eu ainda estava muito ferida de minha fuga, e precisei comprar alguns remédios em uma farmácia próxima. Eu tinha apenas alguns trocados que havia encontrado, então não deu para comprar muita coisa, ainda mais com a má vontade do vendedor. Quando estava saindo, percebi os anúncios de meu antigo senhor colocando um preço para quem me capturasse. Eu recolhi os anúncios que consegui, sem parecer suspeita, mas já sabia que algo de ruim estava para acontecer.

Um dia, um homem me encontrou tentando pegar outros remédios que faltavam, quando percebi a sua intenção de receber a recompensa por minha captura. Tentei fugir outra vez e aquela força dentro de mim havia voltado. Apesar de tudo que passei ainda tinha vontade de viver e ver meu filho crescer. Mas daquela vez não foi possível escapar.

O homem me capturou. Nessa hora, sabia que voltaria à posse de meu antigo senhor. Minha última medida desesperada foi apelar para o lado pessoal, contei-lhe de meu amor por meu filho, mas o homem estava destinado a pegar a recompensa por minha captura. Portanto, o que eu temia se tornou verdade, ele me levou para o senhor de escravos. De volta àquele pesadelo fui punida com forte tortura, o que causou a morte de meu filho.

O vazio se instaurou em minha alma e aquela esperança que surgia dentro de minha havia se esvaído. Nas manchetes, bradavam o fim da escravidão, mas sabia que eu nunca seria livre. Estaria sempre presa no momento da morte de meu filho. Depois desse dia, mesmo com a abolição da escravatura, a saudade tirou a disposição que vivia dentro de mim.