2 minute read

Isabel Bersou Ruão Parto

Isabel Bersou Ruão

Parto

Advertisement

Quando a primeira contração veio, imediatamente senti medo, iria apenas pari-lo para logo deixá-lo. Tentei ignorar uma felicidade que crescia em mim por acreditar que teria um filho para amamentar, cuidar, ver crescer.

Por mais que minhas razões fossem boas, não podia impedir o parto. Lembro de Tia Mônica chegar e me ver encurvada, me apoiando em uma cadeira enquanto eu segurava minha barriga durante uma contração dolorosa. Ela me ajudou a chegar até a cama, pegou lençóis, subiu minha camisola, passou um pano com água fria em minha testa. Encorajava-me a empurrar e parecia não se incomodar com meus gritos de dor. Mas eu não queria parir, deixar meu filho sair de meu ventre, onde estava seguro ao alcance de meu abraço.

Quando ele finalmente nasceu comecei a chorar e a rir, não acreditava que agora havia vindo ao mundo o bebê de quem eu era mãe. Mas, então, Tia Mônica pegou uma tesoura e cortou o cordão umbilical. Me bateu um súbito desespero, parei de chorar e rir, nada mais me ligava àquela criança.

Tia Mônica levou-o até mim para que eu o amamentasse. Peguei meu filho com os dois braços e o aconcheguei junto de meu peito. Fechei os olhos ao beijar sua delicada cabeça e inspirei seu cheiro. O cheiro de meu filho, o calor de meu filho. Senti uma mãozinha tocar a maçã do meu rosto, coloquei minha mão sobre a dele, querendo nunca soltar.

Ele amamentou-se sem nem abrir os olhos deixando uma de suas mãos apoiada em meu seio. Amamentar era… desconfortável, doeu um pouco no começo, mas era incrivelmente gostoso. Porém, a cada mamada que meu filho dava, eu me sentia cada vez mais fria.

Vi meu filho recém-nascido ser tirado de meus braços, colocado nos do pai, que o levaria para longe, sem nada a garantir que vingaria. Cândido abriu a porta e o vento gélido os acolheu, vi os pequenos olhos de meu garotinho tremerem com o súbito frio, minha única vontade era pegá-lo em meu colo novamente e deixar que se esquentasse no calor junto ao meu seio. Cândido não olhou para mim quando saiu.

Senti meus braços pesarem como se estivessem sem vida ao meu lado. O lençol sujo de sangue ainda estava na cama, emaranhado em minhas pernas. Estas, por sua vez, estavam nuas, com minha camisola erguida até o quadril. Meus seios cheios de leite tocavam o tecido fino da roupa, sem a chance de poderem se acostumar com a boca de uma criança. Meus cabelos molhados de suor grudavam em meu pescoço. Nada disso me incomodava, apenas o fato de meus braços estarem vazios sem meu bebê para dar sentido à cena.

Não tinha lhe dado um nome.

Inesperadamente, senti meus olhos secos.