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Isabel Bersou Ruão Para além da educação

atual é a mesma que na época da revolução industrial, por isso que os jovens que não estudam nem trabalham já estão em 11 milhões no Brasil.

No final do ano a única coisa importante para a escola são as suas notas, que você obtém fazendo inúmeras provas onde tudo que importa é quantas fórmulas, datas, espécies, pronomes e tipos de rochas você consegue memorizar antes de sentar em uma carteira e colocar o máximo de informações que você conseguir se lembrar em um papel em 1 hora. Se a escola realmente realmente explorasse o potencial dos estudantes, a criatividade seria tão importante ser incentivada como a matemática. O Brasil tem aproximadamente 21 milhões de estudantes do 6° ano até o 3° do médio e sua grande maioria são ensinados da mesma forma. Cada indivíduo tem suas próprias inseguranças, problemas, dificuldades e mesmo assim são educados de uma maneira genérica que não se importa se um aluno é bom escrevendo ou lendo enquanto outro se expressa melhor com músicas e arte. “Todo mundo é um gênio. Mas, se você julgar um peixe por sua capacidade de subir em uma árvore, ele vai gastar toda a sua vida acreditando que é estúpido.” Essa é uma frase de um dos maiores pensadores da história, Albert Einstein, e descreve perfeitamente a educação atual. Milhares de jovens passam a vida toda pensando que são burros e um fracasso simplesmente por não conseguir resolver um problema de matemática, o papel da escola deveria trazer o melhor dos alunos e não reprimi-los. A escola vem preparando alunos para o mesmo futuro por mais de 100 anos, no começo da revolução industrial preparava os alunos para trabalhar em fábricas, assim como melhor ensiná-los do que enfileirar dezenas de crianças sentadas em cadeiras, dar a eles uma breve pausa para comer e voltar para uma caixa de concreto copiando textos de um quadro negro. Talvez esse modelo tenha funcionado na época, mas se passaram séculos, o mundo evoluiu e a educação precisa evoluir também. Senão vamos ficar presos no tempo até ser tarde demais.

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No futuro um bom funcionário não será o que consegue seguir ordens e decorar fatos, mas sim saber resolver os problemas globais com criatividade e inovação. O tempo passou e a escola não mudou, se ela continuar da maneira que é hoje as consequências podem ser desastrosas no futuro. Cabe à escola formar um cidadão intelectual mas também artístico, criativo, crítico e inovador.

Isabel Bersou Ruão

Para além da educação

O discurso de que o problema do Brasil é a educação, é extremamente comum, porém equivocado. O problema da educação precisa ser encarado de múltiplos âmbitos, é insuficiente investir na educação pensando que isso por si só irá diminuir a desigualdade. Um estudo feito pelos sociólogos Marcelo Medeiros (Ipea/ UnB), Flávio Carvalhaes (UFRJ) e Rogério Barbosa (Centro de Estudos da Metrópole – USP), mostra que, se a partir de 1994, início do Plano Real, tivéssemos um sistema educacional “perfeito” (aquele em que todas as crianças e adolescentes do país estão matriculadas regularmente, não repetem de ano, não evadem da escola e após se formar no ensino médio conseguem emprego), a desigualdade no país em 2018 seria

apenas 2% menor. “É fundamental que a desigualdade no Brasil caia. Só que isso é pouco [2%] diante do grande esforço educacional que nós teríamos feito. É pouco diante do grande desafio que a gente tem de combater a desigualdade e a pobreza. A conclusão disso é que nós precisamos de educação e algo mais para combater desigualdade e pobreza. O discurso ‘basta investir em educação que o problema será resolvido’ é um discurso errado”, pondera Marcelo Medeiros.

Se fosse garantido que ninguém deixasse o sistema de ensino sem um diploma universitário, em que todos os alunos tivessem conseguido um diploma semelhante ao de formação de professores e Ciências da Educação (uma das profissões mais mal pagas do mercado)[,] a desigualdade teria recuado 4%. Se[,] desde 1956, todos os alunos tivessem concluído o ensino médio ou tivessem o ensino superior incompleto, a desigualdade não teria caído nem 10% em 2018. Apenas[,] se[,] há mais de 60 anos, o ensino superior tivesse retornos financeiro equivalentes aos proporcionados por um diploma em medicina (uma das carreiras mais bem pagas do país) é que[,] então, a diminuição da brecha poderia chegar a um patamar substancial: 18%. Porém, o estudo ressalta que oferecer educação de elite para toda a força de trabalho é algo irrealista.

Medeiros ainda aponta que a educação pode apenas ser vista como uma alternativa em um prazo muito longo e[,] além disso, uma possível solução seria o Brasil massificar o acesso à universidade para[,] então, ter um melhor resultado na queda da desigualdade.

Na visão do pesquisador Rogério Barbosa, o estudo comprova que é preciso deixar de lado a ideia de que a educação é a solução para os nossos problemas, “A educação é mais que necessária, é um requisito de cidadania, que possui inúmeros bens sociais. Mas hoje não é ela a credencial que vai te fazer ganhar mais. Os aumentos do salário mínimo, por exemplo, foram a principal política distributiva na década de 2000. Muito mais rápida e efetiva do que a educação”. Hoje em dia as mulheres possuem uma mão de obra mais qualificada que a masculina e mesmo assim possuem uma remuneração menor em mesmas funções,[.] de acordo com dados da Organização Internacional do Trabalho (OIT), em 2019, a desigualdade salarial entre homens e mulheres que desempenhavam a mesma função era de 15%, podendo chegar a 35%. Podemos pegar esse caso como exemplo de que não basta melhorar a qualidade e extensão do ensino, se problemas em outros campos sociais também não forem combatidos. Um dos mecanismos para diminuir a desigualdade é inserir a mulher na educação, por consequência[,] no mercado de trabalho. A inserção na educação foi feita, porém o impacto na redução da desigualdade não foi tão grande. Isso se dá pelo fato de que a desigualdade entre homens e mulheres no mercado de trabalho tem como causa mais intensa, o machismo, não a educação.

É ineficiente e insuficiente apenas investir na educação e aumentar a oferta de cursos técnicos com o objetivo de aumentar a população ativa no mercado de trabalho, se não houver intervenções em outras áreas sociais.