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Elis Nunes Ferreira Pai contra mãe

Elis Nunes Ferreira

Pai contra mãe

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Minha infância foi feliz enquanto durou, o que é muito raro para pessoas na minha situação… meus pais fugiram de uma fazenda de café quando eu ainda não tinha nascido. Então eu cresci em um quilombo perto de um lindo e vasto rio. Minha mãe me deu o nome de Arminda, que significa “mulher do exército” ou “a mulher armada”, porque, de acordo com ela, eu sou uma pessoa muito forte.

Quando eu tinha mais ou menos doze anos de idade, nosso quilombo foi invadido por quase 30 homens, eu ouvi muitos gritos e pedidos de perdão a Deus, mas a maioria não sobreviveu. Eu fui arrastada aos berros e fui levada para ser “vendida”.

Fui então forçada a trabalhar para um moço cruel, junto com outras duas mulheres, Carmen e Tânia. Pouco a pouco minha dignidade foi sendo arrancada de mim, acho que minha força foi permanecer sã em meio a tudo aquilo. Nenhuma pessoa deveria passar pelo que eu passei, mas mesmo assim eu tinha receio de tentar fugir, ouvi coisas terríveis que aconteciam...

Mas assim que eu descobri que estava grávida eu sabia que não poderia ficar ali, queria dar uma chance de vida melhor para minha criança lhe contei- o que você vai fazer?

— Você vai acabar com o bebê, certo? - Carmen perguntou, tentando não ser indelicada. — É claro que não! - eu disse - essa criança é um presente de Deus, preciso dar a ela uma boa vida.

Tânia e Carmen tentaram me convencer a ficar, argumentaram que era melhor realizar um aborto com ervas ou simplesmente criá-la na casa. Mas eu estava já com a ideia presa na cabeça, eu iria fugir, eu nunca iria querer entregar a minha criança a essa vida de tortura. Meu plano era simples, esperar até o senhor ir trabalhar e iria escapar pela janela, para ninguém na rua me ver. Também teria que pegar um pouco de dinheiro para conseguir me virar, o senhor era rico, então nem repararia no sumiço de alguns reis.

Tudo ocorreu conforme planejado, assim que estava livre eu fui para a papelaria do irmão da Carmen, ela havia me dito o endereço logo antes de eu sair. Eu queria fugir daquela cidade o mais rápido possível, mas vi anúncios de procura com minha descrição no jornal, então resolvi ficar quieta até que ele desistisse. Mas depois de algumas semanas percebi que ele não iria desistir, e que ele apenas aumentaria a recompensa até todos na cidade estarem à minha procura. Por isso acordei às seis da matina para ir comprar os tíquetes de trem com o dinheirinho que havia pego do senhor, eu estava andando rapidamente pela rua quando senti as mãos fortes me agarrarem.

Assim que percebi o que estava havendo ele já havia me prendido, eu me remexi e berrei, mas de nada adiantava.

— Estou grávida, meu senhor! Eu exclamei. Se Vossa Senhoria tem algum filho, peço-lhe por amor dele que me solte; eu serei tua escrava, vou servi-lo pelo