5 minute read

Maria Luísa Barbosa Nunes Mães sem filhos

andando sem rumo.

Enquanto chegava ao final da rua resolvi entrar em um dos seus becos, quando cheguei ao seu final e resolvi virar avistei o vulto de uma mulher e quando olhei melhor vi que era a mulata fugida. Quando percebi quem era comecei a segui-la sorrateiramente e enquanto a seguia avistei uma farmácia onde entrei rapidamente e dei meu filho para o farmacêutico pedindo que cuidasse dele e não dando chance para ele responder sai novamente em busca da mulata.

Advertisement

Capturá-la não foi tão difícil, acredito que por ser uma gestante, ela tentou se soltar da corda onde a amarrei mas sem sucesso e quando percebeu que a sua força não ajudaria começou a pedir para que eu a soltasse, o que claramente não fiz. Visto que meu filho recém nascido ainda estava naquela farmácia à minha espera.

Assim que cheguei na casa de seu dono a mulata caiu no chão enquanto seu patrão me dava o dinheiro. Quando fui pago, a mulata que ainda estava no chão começou a ter um aborto.

Eu acabei vendo todo o aborto acontecer e ver aquele feto entrar sem vida neste mundo. Quando tudo acabou eu sinceramente nem me importei com toda a situação e fui correndo buscar o meu filho na farmácia. Assim que cheguei há farmácia peguei o meu filho e fui correndo de volta pra casa, quando cheguei contei tudo para Clara e Tia Mônica o que tinha acontecido e mostrei os cem mil-réis que ganhei com a mulata. Beijava o rosto do meu filho com lágrimas verdadeiras em meus olhos, eu abençoava a fuga e não me importava com o aborto.

— Nem todas as crianças vingam, disse batendo em meu coração. Maria Luísa Barbosa Nunes

Mães sem filhos

Na minha juventude era esperado que eu me casasse, tivesse filhos e cuidasse das tarefas domésticas, isso tudo não era tão ruim, talvez eu até desejasse me casar, porém com alguém especial, que me fizesse sentir saudades. Ao mesmo tempo nunca quis ser acorrentada a um casamento com homens muito mais velhos do que eu e sem amor.

Sou órfã e fui criada pela minha tia Mônica, sendo assim criada sem afeto, mas sempre me esforcei para ser educada aos seus olhos. Conforme cresci percebi que minha tia chamava atenção de diversos homens, se tornando amante de muitos. Mesmo alguém sendo considerada um pouco rebelde, sempre me corrigia, desejava fortemente o meu casamento e que eu cumprisse deveres sendo uma mulher.

Estou com vinte e dois anos e tive diversos pretendentes para namoro, mas não amei nenhum, os homens somente se importavam com a minha beleza, ou me viam como sua empregada. Apesar de aceitar alguns namoros, não desejava me casar com qualquer um deles, e eles também não queriam se casar comigo.

Um dia encontrei um homem chamado Cândido Neves, nos tornamos próximos e apesar de ele não ter nada de especial e nem um emprego vantajoso,

tinha a impressão de que ele me via como sua namorada e como alguém importante para ele. Minha tia Mônica provavelmente preferiria que eu me relacionasse com homens mais bem-sucedidos, mas considerou Cândido aceitável e logo me casei com Candinho.

Tudo que Cândido Neves fazia era apenas sua obrigação como marido, mas acredito que todos os homens deveriam amar, cuidar de suas esposas e as verem como iguais. Eu procurava ter espaço nas decisões de família, tentava dar conselhos a meu marido e mostrar minha importância. Já ele era alguém perdido, percebi que me amava, mas nunca tentou melhorar nosso relacionamento e suas finanças.

A cada dia tinha mais dúvidas sobre meu amor por ele, tentava me distrair pensando que me casei por amor, mas na verdade somente casei pelo mínimo de romance que me despertava e pela ideia de ser amada.

Neves tentava vários empregos diferentes, mas nunca conseguia um trabalho fixo. Até que começou a trabalhar como caçador de escravos, em que caçava os escravos fugitivos e devolvia para seus donos. Após um tempo, esse trabalho ficou comum e não foi mais necessário realizá-lo, como os impostos aumentavam dia a dia, não conseguimos mais nos sustentar como antes. Com isso, comecei a me arrepender de nosso casamento e, ao mesmo que Cândido desejava filhos, não conseguia melhorar nossa condição financeira, eu sendo mulher não podia trabalhar e ainda minha tia me pressionava para não ter nenhum um filho.

Meses se passaram e chegou o momento tão esperado por Candinho, engravidei. Apesar da minha felicidade de mãe, eu sabia que não estávamos com boas condições financeiras para criar um filho, estávamos morando de aluguel, o que complicou ainda mais a nossa situação. Com isso minha tia me aconselhou a deixar meu filho na Roda de Enjeitados. Em parte eu concordava com ela, pois não podia dar uma boa vida para ele, mas a notícia de ter um filho trouxe muita felicidade para mim e meu marido e não conseguimos simplesmente abandoná-lo. De qualquer forma, somente Cândido e minha tia podiam decidir o destino do meu filho, minhas falas nunca importaram naquela casa.

Com o ventre crescendo, a cada dia pensava sobre o nascimento da minha criança, Candinho esperava ansiosamente para ter um filho e eu havia aceitado engravidar. Como pude ignorar minha tia? Sei que precisávamos deixá-lo no orfanato.

O dia do parto chegou, além de passar pela dor física, o pensamento de abandoná-lo me atormentava. Nasceu um menino lindo que se vivesse conosco, não duraria, por isso não dei carinho e meu filho não conheceria o amor maternal, assim como eu.

Passados alguns dias, fomos despejados da casa, Cândido teve que entregar nosso filho a Roda, e demorou para voltar. Após isso ele chegou em casa com muito dinheiro e o nosso filho nos braços. Envolvi-me de alegria e meu parceiro disse que havia conseguido devolver uma escrava ao dono por uma ótima quantia de dinheiro e com isso conseguiu ficar com nosso filho. Duvidei de como conseguiu fazer aquilo em tão pouco tempo e pedi uma explicação, ele me contou que já havia visto a escrava encontrada, disse que ela estava grávida, mas, mesmo com pena, conseguiu entregá-la para o dono e a mulher foi obrigada a abortar.

Acredito que Cândido não teve pena da mulher, assim como me disse, mas a questão era que teve que escolher entre resgatar nosso filho e não capturar a escrava grávida. Meu esposo não se importava