Revista Nó na Palavra - 2021

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REVISTA DIGITAL - 9O ANO - 2021


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Nó na palavra, nona palavra. A palavra do nono ano. A voz que baixa o tom até o chão da sobriedade. A fuga da resposta imediata, do grito oco, da conclusão veloz. A luta do pensamento para achar a sua forma: Atar e desatar, tecer, refazer, ponderar, reavaliar. A juventude e seu lugar. As juventudes e seus lugares. Arte, política, comportamento, educação. A casa, a rua, a escola, a cidade. A ciência e o desejo. A opinião construída e em construção. A palavra do nono ano sobre si e, principalmente, sobre os Outros: Eis o nó.

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SUMÁRIO Ana Carolina Barbosa Nunes

Gravidez na adolescência e a evasão escolar................................................................... 10

Alex Franco Falbo Mansur

Escola para quê?........................................................................................................................ 10

Antonio de Castro Prandini

“Escola para quê?” e os jovens que não estudam nem trabalham ........................... 11

Arthur Lopes Brandão Takahashi Pandemia, juventude e escolas............................................................................................ 12 Caio Henrique Palomo Lemos

Qual é a função da escola?..................................................................................................... 12

Caíque Prall Sitchin

Escola para quê?........................................................................................................................ 13

Danilo de Oliveira Conceição

Escola para além dos estudos............................................................................................... 14

Dora Bontempi

Evasão Escolar é um Problema Social................................................................................ 15

Elis Nunes Ferreira

Escola para quê?........................................................................................................................ 16

Eva Doberti Suarez

Desigualdade Escolar............................................................................................................... 17

Felipe Fanhais Siqueira

Escola para quê?........................................................................................................................ 17

Gabriela Burza Barbera

O significado da escola na vida de gestantes adolescentes....................................... 18

Gustavo Penteado Gobe

Problemas na educação refletem o Brasil........................................................................ 18

Iolanda Magalhães Blanco

Escola para quê?........................................................................................................................ 19

Isabel Bersou Ruão

Para além da educação........................................................................................................... 20

João Vitor Dente

Qual é o papel da escola?........................................................................................................ 22

Lara Greger Tavares Rocha

A escola prepara para a vida?................................................................................................ 22

Laura Martins Beatrice

Escola para quê?........................................................................................................................ 25

Lívia Dantas

Educação em uma sociedade mal educada....................................................................... 26

Luana Rayol

A educação nas escolas públicas......................................................................................... 28

Lucas Watanabe A. P. Litvin

Escola para quê?........................................................................................................................ 28

Luiza Varanda de Mattos

Evasão e motivação escolar.................................................................................................. 29

Maria Luísa Barbosa Nunes

Desigualdade educacional brasileira................................................................................... 30

Maria Luiza De Toledo Calil

Nem-Nem.................................................................................................................................... 31

Mariana Magalhães Furtado

Escola e seus papéis................................................................................................................ 31

Pedro Martins Ayoub Fernandes Escola para quê?........................................................................................................................ 32


Peter Gabriel Martyn Ganns

Escolas precárias....................................................................................................................... 33

Rafael Barros

Papéis desconhecidos............................................................................................................. 33

Rafael Djigov Cavalcanti

Educação: a grande arma........................................................................................................ 34

Ricardo Chrispim C. de Albuquerque Escola para quê?........................................................................................................................ 35 Ryhan Santos dos Anjos

Escola para quê?........................................................................................................................ 36

Sophia Abe Roveda

Os “nem nem”............................................................................................................................ 37

Sophia Casolari Landell Balbino Escola para quê?........................................................................................................................ 38 Sophia Martins e Galiano

Evasão Escolar .......................................................................................................................... 39

Theo Rocabado Zapella Andrade Escola pra quê(m)?.................................................................................................................... 40 Vicente Detoni Franzini

Escola para quê?........................................................................................................................ 41

Ana Carolina Barbosa Nunes

Mãe contra pai........................................................................................................................... 46

Danilo de Oliveira Conceição

Felicidade x Trabalho................................................................................................................ 48

Dora Bontempi

Mãe e filho................................................................................................................................... 50

Elis Nunes Ferreira

Pai contra mãe........................................................................................................................... 52

Eva Doberti Suarez

Pai contra mãe reinventado................................................................................................... 53

Francisco Priolli Xavier

A busca......................................................................................................................................... 55

Gabriela Burza Barbera

Sem pai nem mãe..................................................................................................................... 57

Gustavo Penteado Gobe

Pai contra mãe........................................................................................................................... 59

Iolanda Magalhães Blanco

Pai contra mãe........................................................................................................................... 61

Isabel Bersou Ruão

Parto.............................................................................................................................................. 62

João Vitor Dente

A mãe sem filho......................................................................................................................... 63

Lara Greger Tavares Rocha

Capitães da areia outro fim.................................................................................................... 64

Laura Martins Beatrice

Ele contra mim........................................................................................................................... 65

Lívia Dantas

Enjeitado?.................................................................................................................................... 66

SUMÁRIO - CONTINUA NA PÁGINA 6 E 7


Luana Rayol

O passado da mãe..................................................................................................................... 68

Lucas Watanabe A. P. Litvin

Pai contra mãe........................................................................................................................... 70

Luiza Varanda de Mattos

Dora, Dora................................................................................................................................... 71

Maria Eduarda Santos Costa

Um pai sem mãe........................................................................................................................ 73

Maria Luísa Barbosa Nunes

Mães sem filhos........................................................................................................................ 75

Maria Luiza de Toledo Calil

Eu contra eu mesma................................................................................................................ 77

Mariana Krausz

Pai contra mãe........................................................................................................................... 79

Nina Schnaider Redondo

Estado contra mãe.................................................................................................................... 80

Rafael Coutinho Talocchi

Mãe contra o pai........................................................................................................................ 82

Rafael Djigov Cavalcanti

Duas e scolhas um final........................................................................................................... 84

Rafael Barros

O dinheiro manda...................................................................................................................... 85

Ricardo Chrispim C. de Albuquerque Pai contra mãe reinventado .................................................................................................. 88 Ryhan Santos dos Anjos

Cândido Neves........................................................................................................................... 89

Sofia Colasanto Gonzales

Clara.............................................................................................................................................. 91

Sophia Abe Roveda

Cândido Neves........................................................................................................................... 92

Sophia Casolari Landell Balbino A fuga de Arminda.................................................................................................................... 94 Sophia Martins e Galiano

Pai contra mãe - Cândido Neves.......................................................................................... 95

Vicente Detoni Franzini

Remetente: Cândido Neves................................................................................................... 9 9

Ana Carolina Barbosa Nunes

Eu juventude............................................................................................................................ 102

Caio Henrique Palomo Lemos

Na minha época...................................................................................................................... 103

Danilo Oliveira Conceição

Juventude, ela é uma complicação.................................................................................... 104

Davi Henning Generoso Feresin Juventude.................................................................................................................................. 105 Dora Bontempi

Refração.................................................................................................................................... 106

Elis Nunes Ferreira

Juventude.................................................................................................................................. 106


Enzo Thalenberg Di Domenico

Voz.............................................................................................................................................. 107

Francisco Priolli Xavier

Pensamentos de Chico: um cérebro bipolarizado ....................................................... 108

Frederico Leoni Zucker

Feio............................................................................................................................................. 110

Gabriela Burza Barbera

Eu jovem................................................................................................................................... 111

Gustavo Penteado Gobe

Quadrinha do fim da infância.............................................................................................. 111

Iolanda Magalhães Blanco

Eu juventude............................................................................................................................ 112

Isabel Bersou Ruão

Não sou o seu jovem............................................................................................................ 113

Lara Greger Tavares Rocha

Minha juventude, minha música........................................................................................ 114

Laura Martins Beatrice

Sozinha...................................................................................................................................... 115

Lívia Yano Dantas

Ser adolescente é................................................................................................................... 116

Lorenzo Pagani Legat

Fundo do poço........................................................................................................................ 117

Lucas Watanabe A. P. Litvin

Período de insegurança....................................................................................................... 118

Luiza Varanda de Mattos

Esboço....................................................................................................................................... 118

Maria Eduarda Santos Costa

Eu juventude............................................................................................................................ 119

Maria Luiza De Toledo Calil

Maturidade.............................................................................................................................. 120

Mariana Figueiredo Krausz

Criação de identidade............................................................................................................ 120

Mariana Magalhães Furtado

Minha história é o que eu tenho pra dar......................................................................... 121

Nina Schnaider Redondo

Calor........................................................................................................................................... 122

Pedro Martins Ayoub Fernandes A juventude.............................................................................................................................. 122 Rafael Coutinho Talocchi

Juventudes............................................................................................................................... 123

Rafael Djigov Cavalcanti

Liberdade na juventude para quem?................................................................................ 124

Rafael Fonzaghi Barros

O problema dos outros sempre parece menor............................................................. 125

Ryhan Santos dos Anjos

Eu juventude............................................................................................................................ 125

Sophia Abe Roveda

Ver o tempo.............................................................................................................................. 126

Sofia Colasanto Gonzales

O caos de dentro.................................................................................................................... 127

Sophia Casolari Landell Balbino Soneto da decadência........................................................................................................... 128 Theo Rocabado Zapella Andrade História...................................................................................................................................... 129


ARTIGOS DE OPINIÃO



Ana Carolina Barbosa Nunes

Gravidez na adolescência e a evasão escolar

A

escola ocupa em nossas vidas um espaço de formação, com a intenção de promover a construção ética e moral, criando um cidadão para a sociedade. O mais célebre educador do Brasil, Paulo Freire, defende que o objetivo da escola é ensinar o aluno a “ler o mundo” para poder transformá-lo.

No entanto, muitos jovens

abandonam a escola por questões familiares, trabalho e gravidez. No caso das meninas, a maior taxa de abandono é por questões da gravidez. Segundo o G1, 75% das adolescentes com filhos estão fora da escola no Brasil. Isso só em 2013 entre meninas de 15 e 17 anos. Mais de 257 mil delas não estudam nem trabalham. Para essas garotas que engravidam precocemente, a gravidez é vista como algo negativo do ponto de vista emocional e financeiro, mudando drasticamente suas vidas.

A adolescência é uma fase que

marca a transição entre a infância e a vida adulta. A gestação vai demandar muita maturidade dessas meninas, elas vão ficar impossibilitadas de viver sua adolescência e obrigadas a se tornarem adultas. Sendo que a prioridade da vida delas vai deixar de ser a escola

e ter um futuro bom para elas mesmas e vão ter como prioridade dar um futuro para seus filhos. Por isso muitas delas abandonam os estudos para dedicar exclusivamente filhos, aumentando o risco de desemprego e a dependência econômica de seus familiares.

Um estudo sobre a evasão

escolar feito colaborativamente entre o Ministério da Educação, a Organização dos Estados Ibero Americanos (OEI) e a Faculdade Latino-Americana de Ciências (Flacso), perguntou aos jovens de 15 a 29 anos porque pararam de estudar e o que os havia motivado a fazer. Cerca de meninas 18,1% falaram que a gravidez foi o principal motivo, já entre os meninos, apenas 1,3% falaram que interromperam seus estudos pela mesma razão.

Para ilustrar tal questão a edu-

cadora e oficineira independente Érica Guerra evidencia como a sociedade joga sobre as mulheres a responsabilidade sobre seus filhos: “É ela quem para de estudar para cuidar da criança e não o pai. Isso é cruel porque cria um ciclo que afasta as mulheres da escola e de outras perspectivas de vida”.

Essas jovens brasileiras nem

sempre vão poder contar com a ajuda de seus familiares e o pai da criança. É questionável se uma criança tenha capacidade

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de cuidar de outra. Toda essa responsabilidade vai tradicionalmente para a mãe. O pai escolhe se vai assumir a criança ou não, se escolher que não quer, ele paga uma pensão de apenas 20%. Para essas meninas, infelizmente o aborto não vai ser uma opção em casos de gravidez indesejada, uma vez que há criminalização desta prática. Alex Mansur

Escola para quê?

O tema: “escola para quê?” é

um tópico de discussão muito importante no Brasil. Ainda mais considerando a grande diferença entre escolas públicas e privadas ou a quantidade de jovens que abandonam os estudos e seus diversos motivos ou o acesso à educação.

É importante mencionar os di-

versos motivos pelos quais jovens saem da escola antes de concluir seus estudos como: precisar de mais tempo para ajudar a família, precisar trabalhar, não ter meios de chegar na escola, gravidez precoce, desinteresse e entre outros…

Muitos alunos acabam abando-

nando a escola também por não entenderem o motivo de estarem lá, o que também nos faz refletir sobre qual é a real função da escola na vida de um aluno e se os alunos conseguem enxergar isso.


As escolas não conseguem se

adaptar aos tempos modernos já que o pensamento das juventudes vai mudando cada vez mais rápido, com o questionamento do porquê de estarem fazendo atividades e como seriam inseridos no mercado de trabalho após sua formatura. Sem falar que existem jovens que vão estudar enquanto trabalham nas horas livres, o que também os limita a não descobrir outros hobbies e paixões além do que eles veem nos estudos.

Por tanto, não existe um jeito

exato de como melhorar o sistema educacional, mas ele também não está bom ou acessível para todos. Não por culpa da escola, mas sim por conta da pressão que muitos adolescentes sentem de serem inseridos cedo no mercado de trabalho e abandonar os estudos. Antonio Prandini

“Escola para quê?” e os jovens que não estudam nem trabalham

Algo muito debatido nos tempos

atuais é “Escola para quê?”. Esse é um tópico muito recorrente. Para entender melhor precisamos analisar mais profundamente os tópicos que levam a essa discussão, como exemplo, os “nem-nens”. Jovens que não estudam e nem trabalham, um conceito que é conhecido por

pesquisadores a mais de uma década.

Para o Banco Mundial eles

representam cerca de 11 milhões (20% dos jovens) de pessoas na faixa dos 15 aos 29 anos. Dados de 2015 da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad), do IBGE, um a cada cinco jovens não estão na escola, em treinamento ou trabalhando.

Algo que temos que ressaltar é

que isso não acontece por escolha desses jovens. Segundo o estudo “Se já é difícil, imagina para mim”, existem diversas coisas que deixam esses jovens chamados de “nem-nens”.

A primeira delas é o que as

autoras chamam de barreiras à motivação interna, ela consiste na falta de aspiração e predisposição para voltar aos estudos ou ao trabalho. Nesse motivo, o principal grupo encontrado são as mulheres casadas e com filhos pequenos, vivendo sob normas que reforçam o papel de “cuidadoras” nesta sociedade, esse papel que restringe as oportunidades econômicas. Em 2013, 59,1% dos “nem-nens” eram representados por mulheres de 15 a 17 anos.

O segundo “grupo” que as

autoras citam, estão os jovens que querem voltar a estudar ou trabalhar, mas não tomaram providencias por falta de recursos e ferramentas. Muitos dos jovens

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entrevistados se inscreveram no Enem ou enviaram currículos, mas não deram continuidade.

E para finalizar temos os jovens

que embora tenham se esforçado para retomar estudos ou achar um trabalho, desistiram por barreiras técnicas, como, desafios de conciliar um emprego e a sala de aula, poucos recursos financeiros ou qualificação e até mesmo falta de transporte público seguro para locomoção.

No final desta pesquisa,

após ouvir as frustrações e necessidades desses jovens, as pesquisadoras recomendaram ações de política pública para aumentar a capacidade desses jovens levarem adiante os objetivos e projetos de vida.

Segundo as autoras, para con-

seguir elevar a oferta de cursos técnicos com o objetivo de viabilizar a participação desses jovens no mercado de trabalho, é preciso facilitar o acesso a informações sobre oportunidades e como elas podem mudar vidas, criar um sentimento de pertencimento e preparação nesses jovens que acreditam que essas oportunidades não são disponíveis para eles e por último, oferecer programas de mentoria para que esses jovens consigam lidar com as dificuldades associadas ao cumprimento de objetivos.

Após tudo que foi apresentado e


discutido, sabemos que é preciso ajudar a incluir esses jovens no mundo do trabalho, retomando os estudos e fazendo cursos técnicos. Isso pode dar grandes benefícios para os jovens que são os futuros trabalhadores, trazendo grandes mudanças para o futuro do país. Arthur Lopes Brandao Takahashi

Pandemia, juventude e escolas A Covid-19 tem sido um grande desafio para diversas áreas de trabalho. Já se passou mais de um ano desde o início da pandemia causada por esse novo vírus. Doença que matou mais de 600 mil pessoas, só no Brasil! Muitas massas foram afetadas, porém um grupo foi, sensivelmente, mais afetado: os jovens. Eles sofreram imensas consequências e os problemas mentais e físicos que a pandemia trouxe para a juventude fez com que a vida escolar apresentasse vários efeitos negativos. As dificuldades físicas que a pandemia trouxe ao ensino geraram resultados prejudiciais na educação, criando estresse nos jovens. Essas barreiras fizeram com que eles tivessem dificuldades de se organizar, impossibilitados de ficar em um ambiente de sala de aula, necessário ao estudo. Uma pesquisa realizada pelo Conselho

Nacional da Juventude entre abril e junho de 2020, em que foram entrevistados 33.688 jovens de 15 a 29 anos mostra que 82% têm dificuldades para se organizar, 80% não conseguem tirar dúvidas ou acham difícil tirá-las online. Muitos também afirmam ter dificuldades para ter um ambiente confortável e tranquilo para estudar. Ter um ambiente tranquilo é essencial para estudar e uma vez não tendo isso, o estudante pode ter problemas de se organizar, problemas para tirar dúvidas, já que a casa poderia estar barulhenta e poderia provocar e agravar sérios problemas mentais. O aspecto emocional fragilizado foi o efeito negativo desta pandemia que mais intensificou o desempenho escolar. Na mesma pesquisa mostra-se que 70% dos jovens notaram que seu estado emocional se agravou e 73% disseram que sofrem com redução de atividades de lazer e cultura. Com relação ao emocional, destaca-se que 63% sofre de ansiedade, 57% tédio, 52% sobrecarga, 51% tristeza, exaustão 50%, 48% insegurança. Por esses variados motivos, cerca de 28% desses mesmo jovens pensaram em não voltar às aulas O impacto do ensino online sobre suas emoções originou um problema maior, a evasão escolar. Um dos grandes causadores da evasão escolar seria o sufoco, a fragilidade

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emocional. Os estudantes que não participam das aulas costumam ter auto estima baixa, o que dificulta a sua volta às aulas e a comunicação com os professores. Certamente, as emoções fragilizadas foram de grande impacto aos jovens em suas vidas escolares. As frustrações geradas pela incapacidade do ensino online e o ambiente à sua volta fez com que a juventude fosse impactada fortemente. A pandemia não passou e certamente não acabará tão rapidamente e atender esta geração de estudantes deveria ser certamente uma prioridade para que não aconteça outro efeito negativo na vida escolar. Devemos socorrê-los antes que seja tarde demais. Caio Henrique Palomo Lemos

Qual é a função da escola?

A escola e a educação são muito

importantes para a nossa sociedade, o papel delas seria para o desenvolvimento cognitivo e afetivo dos indivíduos para que pudessem se tornar cidadãos, participativo na sociedade em que vivem. A importância da escola na juventude é que ela ajuda na convivência dos alunos, que fazem trabalhos de integração, a escola também é importante para o desenvolvimento intelectual dos jovens, muitas vezes a falta da


escola pode trazer sérios problemas para os indivíduos.

Quando falamos de abandono

escolar temos que olhar o motivo do mesmo, muitas vezes vem da necessidade de entrar cedo no mercado de trabalho, para ajudar suas famílias que passam por crises financeiras. Segundo psicologia.pt, é possível elencar alguns fatores que provavelmente irão ajudar na evasão escolar, como, preconceito em relação a aprendizagem, a linguagem, a hábitos, a condição socioeconômica, entre outros.

Segundo a PNAD, no Brasil a taxa de abandono do ensino médio entre jovens de 14 a 29 anos é de 20,2%, seja por terem abandonado a escola, seja por nunca a terem frequentado. Isso traz consequências para esses jovens como a dificuldade de entrar no mercado de trabalho, por causa disso são criados programas governamentais que ajudam as pessoas que não conseguem se inserir no mercado de trabalho e acabam tendo salários muito menores do que os estudantes que completam os estudos.

Segundo o Semesp a média

salarial de quem concluiu o Ensino Superior é de R$ 6.072,00. Já a média salarial dos brasileiros que concluíram apenas o Ensino Médio é de R$ 2141,00. A média é ainda menor quando falamos

dos brasileiros que pararam os estudos no Ensino Fundamental, o grupo tem uma média salarial de R$ 1892,00.

Portanto, é muito importante

que as escolas trabalhem com os alunos para conscientizá-los e mostrá-los como a permanência na escola pode ajudar a reverter essa situação, como proporcionar melhores oportunidades de emprego futuramente.

Caíque Prall

Escola para quê?

É inegável que, toda criança/

adolescente já se fez a pergunta: escola para quê? Responder isso até é fácil se formos pensar de uma maneira clichê. Temos que aprender para poder fazer faculdade e se tornar um profissional de sucesso. Mas será que é só isso?

Com o fim da pandemia cada vez mais próximo e tudo voltando ao “normal”, se fizermos um pequeno esforço, conseguiremos reconhecer o quanto a escola nunca foi e nunca será somente o aprendizado. Aprender a aprender, a convivência (muitas vezes com gente que você não gosta) e a responsabilidade são algumas das coisas que somente a escola presencial ensina. Falo isso como um estudante que vem “reaprendendo” a viver.

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Ao mesmo tempo, temos uma

realidade triste e sombria que é muitas vezes ignorada ou subestimada pelo próprio povo. Segundo dados do IBGE, somente 27,4% das população com mais de 25 anos no Brasil, completaram o Ensino Médio. Além disso, segundo dados desse mesmo levantamento, as chances de que um trabalhador com nível superior completo continue empregado cinco trimestres após a pesquisa é de 95,3%. Entretanto, esse percentual cai para 87,4% quando se analisa os profissionais com Ensino Fundamental completo e Ensino Médio incompleto. O que isso tudo quer dizer, afinal, é que quanto maior o seu nível de escolaridade, maiores serão as suas chances de manter seu trabalho por longos períodos e de competir em pé de igualdade pelas melhores oportunidades do mercado.

Temos somente 17,4% de

brasileiros que completaram o Ensino Superior. Isso quer dizer que 82,6% da população não tem o preparo adequado para, não só a sua carreira profissional, como para questões da vida que somente um ambiente como a escola pode te ensinar. Isso tudo se dá, principalmente, pelo pouco investimento público e pela desistência de alunos pela carência financeira.


O Brasil investiu em 2020

cerca de 42 bilhões de reais na educação, segundo o site oficial do governo federal. Se formos comparar com um país como o Canadá, por exemplo, que investe 330 bilhões de reais por ano, segundo a BBC, este número fica mais absurdo ainda. Resultado: o Brasil tem cinco vezes mais analfabetos que o Canadá.

A realidade é que só com mila-

gres, existe vida bem sucedida sem educação básica. Enquanto esses números não mudarem, continuaremos sendo um país extremamente desigual, com um potencial enorme desperdiçado nas mãos de quem não se preocupa nem um pouco com o vendedor ambulante da 25 de Março que sonhava em ser um advogado de sucesso. Danilo de Oliveira Conceição

Escola para além dos estudos

A merenda escolar é uma algo

essencial para alunos de baixa renda, segundo a tese feita por Auremary Nazareth Gomes Fonseca e José Carlos, da UFMA, o governo Federal no intuito de oferecer uma merenda escolar de qualidade aos alunos das escolas públicas indica aos órgãos competentes repensarem o cardápio adotado a fim de contribuir para a obtenção de um rendimento

escolar mais significativo e ainda manter a saúde. A escola para muitos alunos de baixa renda, além de oferecer formação acadêmica, serve para oferecer uma alimentação diária.

Muitos alunos só vão à escola

para receber essa alimentação diária, segundo o site “diplomatique”. Sem aulas, os alunos das redes públicas municipal e estadual ficaram sem merenda, que, para muitas crianças e adolescentes, representa a principal, e, às vezes única, refeição do dia. Muitos alunos, por conta da quarentena, deixaram de receber a alimentação diária oferecida nas escolas. Na rede estadual, 3 milhões de refeições por dia deixaram de ser fornecidas por conta da suspensão das aulas.

O governador Dória anunciou

um programa emergencial para 700 mil alunos da rede estadual, ou 20% do total, considerados de baixa renda ou vivendo na extrema pobreza, cujas famílias vão receber o valor de R$ 55,00 ao mês por estudante, com efetivação prometida para abril. Ele alega que esse valor corresponderia a uma cesta básica, o que não procede.

De acordo com o Departamento

Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), a cesta básica em São Paulo, em fevereiro deste ano,

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custava R$ 519,76. Portanto, o valor que o governo estadual pretende pagar por aluno é cerca de 10% do custo dos alimentos básicos. Sem falar que, por força de uma lei federal, 30% dos alimentos consumidos nos estabelecimentos de ensino devem ser provenientes de agricultura familiar e orgânica, o que certamente não ocorrerá nessa situação em que as famílias ficarão encarregadas de comprar os produtos. Dessa forma, a refeição dos alunos perderá valor nutritivo no período em que perdurarem as medidas de contenção da pandemia.

A pandemia do Covid-19 mos-

trou como muitos alunos de baixa renda dependem da escola, que sem ela muitos estudantes passaram fome. Isso nos mostra também como as famílias provenientes de auxílio governamental, são tratadas com total descaso pelos seus governantes. Um relatório de duas agênc ias da ONU revela que o fechamento das escolas, devido à situação pandêmica, gerou uma grande crise nutricional pelo mundo.

Segundo o estudo “Covid-19,

perdendo mais que as aulas”, numa tradução livre, mais de 370 mil crianças foram afetadas. Muitas delas dependem da merenda escolar para sobreviver. O relatório foi compilado com o


apoio do Instituto Innocenti, do Unicef, e do Programa Mundial de Alimentos, PMA.

Também pode-se destacar, que

esse problema não resultou apenas no Brasil, mas foi de ordem mundial. Desde o fechamento das escolas, em março passado, mais de 39 bilhões de merendas deixaram de ser distribuídas em todo o globo. A chefe do Unicef, Henrietta Fore, disse que, apesar das provas contundentes de que as escolas não são um centro de transmissão da Covid-19, milhões de crianças continuam fora das salas de aula. E, para os alunos que só comem no colégio, o fechamento representa mais do que perder o ensino, as crianças deixam de receber a nutrição para crescerem.

Fore afirmou que, à medida em

que se espera a vacina e se discute a reabertura das instituições de ensino, é preciso priorizar a merenda escolar. Ela defende mais investimento na higienização com fornecimento de sabão e água limpa em cada escola ao redor do mundo.

Um motivo de preocupação

para o Unicef é o êxodo escolar. Com a pandemia, 24 milhões de alunos correm o risco de desistir da educação, o que causaria um retrocesso no aumento do número de matrículas, obtido nas últimas décadas.

O diretor-executivo do Programa

Mundial de Alimentos, David Beasley, disse que a perda da merenda escolar prejudica o futuro de milhões de crianças pobres pelo mundo. E o risco é para uma geração inteira.

Durante a pandemia, houve uma

redução de 39% na cobertura de serviços de merenda escolar incluindo programas de micronutrientes em países de rendas baixa e média.

Além disso, os projetos de

combate à má nutrição infantil também foram prejudicados. Com o fechamento do ano passado, em alguns países, toda a merenda escolar foi suspensa.

Podemos concluir, então, que

a merenda escolar é essencial para muitos estudantes, e que a escola, além de ensinar crianças e jovens, serve para que muitos dos alunos de baixa renda consigam ter uma alimentação diária. Por conta desses alunos que dependem da merenda, o governo fez com que as escolas públicas tenham que oferecer a merenda de acordo com o número de estudantes. Outra observação é que a pandemia fez com que muitos alunos não conseguissem uma alimentação diária por conta da suspensão das aulas.

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Dora Bontempi

Evasão Escolar é um Problema Social

A escola tem como papel a for-

mação conteudista, de ensinar o conhecimento de diferentes áreas visando [a] preparar os jovens para a vida adulta profissional. Além disso, o papel social da escola é extremamente importante: o desenvolvimento como indivíduo em relação ao outro, ter visão do coletivo e aprender a viver em sociedade. Porém, há várias barreiras que podem impedir essas funções de serem cumpridas e de fazerem sentido. Um forte indício disso é a evasão, um sintoma da falência educacional brasileira, cujas causas vão além da qualidade da escola e formação de professores. A evasão é um problema social.

O primeiro fator que determina

o abandono escolar é a baixa renda. Dados do IBGE mostram que o percentual de abandonos dos estudantes pobres, de 15 a 17 anos, sem concluir o ensino médio, é de 11,8%. Esse percentual é oito vezes maior do que os ricos (1,4%). Isso se dá pela necessidade imediata de geração de renda para apoiar a família e[,] além disso, a razão psíquica é um fator importante. A falta de conexão dos estudos com os desejos e interesses dos estudantes e também a consciência da mínima


oportunidade de emprego no futuro. A desigualdade social leva os jovens ao desinteresse pela escola.

Isso muitas vezes pode levar

ao tráfico, um meio de ganhar renda mais eficiente e a curto prazo. Diante das perspectivas de trabalho futuro relacionadas à formação escolar[,] essa possibilidade aparenta ser mais atraente. De acordo com o site OPovo, “A falta de acompanhamento e oportunidades, a baixa autoestima e a atração pelo “dinheiro fácil” são fatores considerados por especialistas”.

A gravidez precoce também é

um fator determinante, entre as meninas, para a evasão escolar. De acordo com um estudo da Fundação Abrinq, 13,7% das adolescentes que estão fora do ambiente escolar, não tiveram filhos. Mas quase 30% são mães e não concluíram o ensino fundamental. Cuidar de uma criança é uma enorme responsabilidade que passa a ser prioridade. Assim, para serem mães, as meninas sacrificam os estudos.

Além disso, dados da Síntese

de Indicadores Sociais apontam que a evasão é maior entre pretos (8,4%) do que brancos (6,1%). Além da questão econômica, a discriminação e o racismo estrutural nas escolas são causas relevantes. Assim como

o abandono escolar de jovens LGBT+, uma vez que a permanência do indivíduo na escola está relacionada às interações sociais positivas que estabelece dentro dela.

Todos esses são fatores sociais

que influenciam diretamente na evasão e[,] consequentemente, no cumprimento do papel da escola. Dessa forma a escola reflete a estrutura social do país, as desigualdades, portanto cumpre também a sua função de forma desigual. Elis Nunes Ferreira

Escola Para quê?

Em uma sociedade na qual

a desinformação está muito presente em tudo que fazemos, a educação e o ensino são essenciais para as pessoas conseguirem ingressar nela. A escola tem uma grande ligação com os índices de pobreza e de violência. Mesmo que investir na educação não mude esses índices drasticamente, é algo que vale a pena considerar. Além disso, é fácil perceber que o acesso à informação é diretamente proporcional ao IDH, e países com índices de escolarização baixo tem o Índice de Desenvolvimento Humano baixo também. Sabendo disso, é possível entender que todos devem ter escolarização e serem alfabetizados para o melhor

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funcionamento de um país.

Há jovens no Brasil que são ape-

lidados de nem-nem, são pessoas que se encontram fora da escola e também desempregados. É um problema muito grave, considerando que 20% da população de 15 a 29 anos está nessas condições e, de acordo com a UERJ, 70% dessas pessoas estão entre as 40% mais pobres. A desocupação se dá por dois motivos principais: o desinteresse pela escola e a falta de oportunidade. Além disso, 66% dessas pessoas são mulheres, e 57% das meninas de 15 a 17 que têm filhos abandonaram a escola. Olhando esses dados[,] é possível ver claramente que a desocupação é causada por dificuldades ligadas ao gênero e a pobreza.

Um dos motivos de as garotas

estarem nessa situação está diretamente ligada a gravidez indesejada, a maioria das mulheres consideradas nem-nem tem um ou mais filhos. Hoje em dia a maioria das pessoas tem a postura de dizer que foi culpa da menina e que ela deve sofrer as consequências, porém isso resultará na garota saindo da escola e tendo que criar uma criança quase sem recursos em vários casos. Então acredito que o que deveria ser feito é aceitar que a gravidez adoloscente acontece não importa o que fizermos, e aceitar essas garotas grávidas no ambiente escolar.


Considerando tudo o que men-

cionei, um bom jeito de diminuir o número de pessoas que estão fora da escola seria providenciar suporte e aceitação para as pessoas que são discriminadas e se sentem marginalizadas no ambiente acadêmico. E também deveríamos providenciar e espalhar as informações aos jovens em relação às possibilidades infinitas que a escola oferece. Isso porque a educação é extremamente importante e deveria ser para todos, não importa a classe social, cor, gênero ou sexualidade.

Eva Doberti Suarez

Desigualdade escolar

A função da escola é garantir

o desenvolvimento dos seres humanos, trabalhar as habilidades consideradas essenciais como escrita, matemática, artes, ciências; também é um lugar para socializar com pessoas da mesma idade, preparar as crianças e as juventudes para a sociedade. Mas será que a escola é igualmente fundamental para todos? Por que será que, de acordo com o IBGE, 11,8% dos jovens mais pobres abandonam a vida escolar sem completar o ensino médio, mas somente 1,4% dos jovens mais ricos abandonaram-na?

Geralmente, no 9 Ano é quando começa a evasão escolar dos

estudantes de escolas públicas; a maioria do Norte e Nordeste (9,2%). Os jovens pobres abandonam os estudos, normalmente, para ir trabalhar e sustentar suas famílias, porém também existe a falta de interesse em uma boa ou básica educação, ou até em uma futura boa ou razoável profissão por que, de acordo com o YAHOO, quanto mais os estudantes se afastam das escolas, mais desqualificação profissional vamos encontrar. O que a escola poderia fazer para manter esses jovens na trilha acadêmica? O que pode chegar a ser atraente para eles lá?

“Idealmente, o sistema de

ensino deveria oferecer igualdade de oportunidades para todos, independentemente da origem, para que a pessoa pudesse desenvolver seus potenciais. Mas ele reflete a estrutura social do país. Estudos mostram que quanto mais igual o país menos desigual o ensino”, disse a analista do IBGE Betina Fresneda. Como em muitas coisas da nossa vida, é um reflexo da sociedade do país, não é diferente com as escolas; na nossa sociedade, existe uma grande desigualdade entre classes sociais, mas será mesmo possível igualar a nação? E igualar o ensino?

Como acabar com a desigualdade através da escola? Se, de acordo com El País, o acesso à educação para todos os cidadãos brasileiros

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não acabar com a desigualdade no Brasil.[?] Podemos ver que a educação não é distribuída igualmente, e nem mesmo vista com o mesmo interesse. Mas será que os jovens que abandonam a escola têm as mesmas oportunidades profissionais e condição de vida que teriam se terminassem a escola? Felipe Fanhais Siqueira

Escola pra quê?

Para que a escola serve na juven-

tude das pessoas? Bom, a escola não só tem o papel de ensinar, como também tem um grande papel na formação de alguém como pessoa. Mas porque as pessoas saem tão cedo da escola? Seria necessário uma reforma nos métodos de ensino, afinal há muitos relatos de pessoas falando que não usufruem de grande parte do que aprendem na escola.

Muitos jovens que não traba-

lham ou estudam, são chamados de “nem-nem” e eles agora representam 11 milhões (20%) de pessoas dos 15 aos 29 anos. Apesar de que o número de anos de ensino aumentaram, a produtividade dos trabalhadores não. A taxa de desocupação entre pessoas com 14 a 17 anos é de 39% e de 18 a 24 anos 25,3%.

O desemprego, que hoje atinge

11,8% da população ativa, é maior


entre jovens, mulheres e trabalhadores sem nível superior. Sem mencionar o fato que a maioria é negra. Os brasileiros fora da escola e do mercado de trabalho estão presos a barreiras relacionadas à pobreza e ao gênero. (Uerj), confirma que 70% dos nem-nem estão entre as famílias representadas dentro dos 40% mais pobres.

A escola serve para ajudar as

pessoas a entrar em alguma universidade e conseguirem um trabalho. Mas as condições de algumas pessoas acabam as desmotivando e por isso elas saem da escola e não conseguem um trabalho. Gabriela Burza Barbera

O significado da escola na vida de gestantes adolescentes

A gestação precoce ocorre por

diversos motivos, como a falta de acesso a métodos contraceptivos e a desinformação sobre a gravidez. Uma gestação na vida de uma adolecente pode causar diversos impactos para essa jovem, como levá-la a evasão escolar.

A evasão escolar atinge milhares

de jovens, ocorrendo por diversos motivos. No caso das meninas, a gravidez precoce talvez seja a principal causa para esse acontecimento.

Em uma sociedade com uma

estrutura tradicional patriarcalista,

as responsabilidades do cuidado de uma criança são normalmente atribuídas à figura materna, e, muitas vezes, as jovens que engravidam são incentivadas a deixar a escola. A coordenadora de uma pesquisa sobre evasão escolar feita em parceria com Ministério da Educação, a Organização dos Estados Ibero Americanos (OEI) e a Faculdade Latino-Americana de Ciências (Flacso) afirma “Na parte qualitativa da pesquisa percebemos que um percentual razoável das meninas saíram da escola por pedido ou sugestão do namorado ou marido”. Essa pesquisa com jovens entre 15 e 29 anos aponta que, entre as meninas, 18,1% indicaram a gravidez como o principal motivo para a evasão escolar. Já entre os meninos da mesma faixa etária, somente 1,3% declararam que interromperam os estudos pela mesma razão.

Ao engravidar, as prioridades

na vida dessa jovem são suprir e cuidar de seu filho, e, muitas vezes, é a única responsável pelo cuidado integral da criança. Ter que continuar frequentando a escola se torna um fardo, e a vergonha, dificuldades de saúde e estruturais podem fazer com que a adolecente deixe de frequentar o local. Uma pesquisa feita pela Fundação Abrinq mostrou que quase 30% das mães adolescentes, com até 19 anos, no

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Brasil, não concluíram o Ensino Fundamental.

Mesmo depois do período de

gestação, a falta de suporte, não ter onde deixar o filho durante o período das aulas e às vezes a falta de apoio dos pais impede que essa jovem volte para a escola e complete o ensino obrigatório. “Depois que ele nasceu, esperei ele sair mais ou menos do peito e tentei voltar a estudar, só que aí ele ficava chorando muito para mim não poder ir para a escola e eu parei de novo”, contou Stefanie Sampaio Batista, mãe do Bryan, de 3 anos.

Na sociedade em que vivemos,

na qual o cuidado com os filhos é normalmente incumbido às mulheres e a estas não é oferecido nenhum tipo de suporte, as jovens grávidas não têm condições de cuidar de seus filhos e continuar frequentando a escola.

Gustavo Penteado Gobe

Problemas na educação refletem o Brasil

“Ensinar não é transferir conheci-

mento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção.” Paulo Freire

Antes da quarentena eu achava

a escola importante, mas não tanto como hoje. Eu acreditava que eu só ia para a escola porque


isso fazia parte da minha rotina e nada mais. Mas, hoje, é diferente. Durante o tempo [em] que ficamos sem aulas presenciais percebi o quanto ela é importante. Não apenas para transmitir conhecimento, mas também para conviver com colegas e professores. Como disse Paulo Freire, um dos maiores pensadores sobre educação no Brasil, eu acredito que esse contato com colegas, professores e outros profissionais da escola nos ajudam a criar mais conhecimento e nos transformar.

Nesses últimos meses de

quarentena[,] percebi melhor também que no Brasil o acesso à educação é muito desigual, como todo o restante das coisas do país. Segundo uma pesquisa realizada pelos sociólogos Marcelo Medeiros, do Instituto de Pesquisas Econômica Aplicadas (Ipea), Rogério Barbosa, da Universidade de São Paulo (USP), e Flávio Carvalhes, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), em 2017, o Brasil era o nono país do mundo com a maior desigualdade de renda, segundo o coeficiente de Gini. O mais desigual do continente americano.

O Brasil é também um dos países

com o maior número de habitantes sem diploma do ensino médio do mundo. De acordo com a Organização para a Cooperação

e Desenvolvimento Econômico (OCDE), 52% dos adultos entre 25 e 64 anos não possuem esse nível de formação. E apenas 15% da população brasileira tem curso superior.

Para os estudiosos, para o Brasil

reduzir a pobreza para menos da metade, seriam necessárias enormes melhorias, como, por exemplo, garantir formação superior para todos. Uma mudança mais realista, segundo os pesquisadores, seria a de garantir que ninguém saísse da escola sem o ensino médio completo.

Mas os alunos mais pobres, em

geral negros e moradores das regiões menos desenvolvidas do país, acabam desistindo da escola antes de terminarem o ensino médio porque precisam trabalhar e ajudar as famílias. Isso acaba fazendo com que esse ciclo de pobreza continue. Porque[,] segundo estudo feito pelo pesquisador Sergio Firpo, professor do Insper, um trabalhador com diploma de ensino superior pode ganhar até 5,7 vezes mais do que os profissionais com outros níveis de ensino.

Além da pobreza levar os jovens

a desistir de estudar, também vemos que muitas escolas públicas e das regiões mais pobres não tem condições sanitárias boas nem mesmo material e professores. Isso também desanima os

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estudantes a irem para a escola.

Na minha opinião, são muitas

coisas que precisam mudar na educação no Brasil e eu não tinha noção disso antes. Eu não tenho as respostas do que precisa ser feito, mas sei que tem muita coisa que não está certa. Uma boa maneira de começar a ajudar a melhorar a educação no Brasil é termos uma melhor política para valorizar as escolas e os professores.

Iolanda Blanco

Escola para quê?

Se você perguntasse para

qualquer aluno de qualquer série como é a sua escola dos sonhos, ele provavelmente diria que desejaria uma escola sem lições de casas, sem incontáveis exercícios, sem provas e com mais tempo de recreio. É claro que a escola é uma peça fundamental para a educação, mesmo assim ela é vista como um símbolo de opressão para a juventude, onde jovens passam horas sentados em carteiras enfileiradas de frente para uma lousa, dentro de um sistema monárquico em que a figura de autoridade é o professor.

Há décadas que a escola

segue o mesmo modelo de ensino, claro que houve mudanças, mas a sala de aula


atual é a mesma que na época da revolução industrial, por isso que os jovens que não estudam nem trabalham já estão em 11 milhões no Brasil.

No final do ano a única coisa

importante para a escola são as suas notas, que você obtém fazendo inúmeras provas onde tudo que importa é quantas fórmulas, datas, espécies, pronomes e tipos de rochas você consegue memorizar antes de sentar em uma carteira e colocar o máximo de informações que você conseguir se lembrar em um papel em 1 hora.

Se a escola realmente real-

mente explorasse o potencial dos estudantes, a criatividade seria tão importante ser incentivada como a matemática. O Brasil tem aproximadamente 21 milhões de estudantes do 6° ano até o 3° do médio e sua grande maioria são ensinados da mesma forma. Cada indivíduo tem suas próprias inseguranças, problemas, dificuldades e mesmo assim são educados de uma maneira genérica que não se importa se um aluno é bom escrevendo ou lendo enquanto outro se expressa melhor com músicas e arte.

“Todo mundo é um gênio.

Mas, se você julgar um peixe por sua capacidade de subir

em uma árvore, ele vai gastar toda a sua vida acreditando que é estúpido.” Essa é uma frase de um dos maiores pensadores da história, Albert Einstein, e descreve perfeitamente a educação atual. Milhares de jovens passam a vida toda pensando que são burros e um fracasso simplesmente por não conseguir resolver um problema de matemática, o papel da escola deveria trazer o melhor dos alunos e não reprimi-los.

problemas globais com criatividade e inovação. O tempo passou e a escola não mudou, se ela continuar da maneira que é hoje as consequências podem ser desastrosas no futuro. Cabe à escola formar um cidadão intelectual mas também artístico, criativo, crítico e inovador.

A escola vem preparando alunos para o mesmo futuro por mais de 100 anos, no começo da revolução industrial preparava os alunos para trabalhar em fábricas, assim como melhor ensiná-los do que enfileirar dezenas de crianças sentadas em cadeiras, dar a eles uma breve pausa para comer e voltar para uma caixa de concreto copiando textos de um quadro negro. Talvez esse modelo tenha funcionado na época, mas se passaram séculos, o mundo evoluiu e a educação precisa evoluir também. Senão vamos ficar presos no tempo até ser tarde demais.

ma do Brasil é a educação, é extremamente comum, porém equivocado. O problema da educação precisa ser encarado de múltiplos âmbitos, é insuficiente investir na educação pensando que isso por si só irá diminuir a desigualdade.

No futuro um bom funcioná-

rio não será o que consegue seguir ordens e decorar fatos, mas sim saber resolver os 20

Isabel Bersou Ruão

Para além da educação

O discurso de que o proble-

Um estudo feito pelos soció-

logos Marcelo Medeiros (Ipea/ UnB), Flávio Carvalhaes (UFRJ) e Rogério Barbosa (Centro de Estudos da Metrópole – USP), mostra que, se a partir de 1994, início do Plano Real, tivéssemos um sistema educacional “perfeito” (aquele em que todas as crianças e adolescentes do país estão matriculadas regularmente, não repetem de ano, não evadem da escola e após se formar no ensino médio conseguem emprego), a desigualdade no país em 2018 seria


apenas 2% menor.

“É fundamental que a desi-

gualdade no Brasil caia. Só que isso é pouco [2%] diante do grande esforço educacional que nós teríamos feito. É pouco diante do grande desafio que a gente tem de combater a desigualdade e a pobreza. A conclusão disso é que nós precisamos de educação e algo mais para combater desigualdade e pobreza. O discurso ‘basta investir em educação que o problema será resolvido’ é um discurso errado”, pondera Marcelo Medeiros.

Se fosse garantido que ninguém

deixasse o sistema de ensino sem um diploma universitário, em que todos os alunos tivessem conseguido um diploma semelhante ao de formação de professores e Ciências da Educação (uma das profissões mais mal pagas do mercado)[,] a desigualdade teria recuado 4%.

Se[,] desde 1956, todos os

alunos tivessem concluído o ensino médio ou tivessem o ensino superior incompleto, a desigualdade não teria caído nem 10% em 2018. Apenas[,] se[,] há mais de 60 anos, o ensino superior tivesse retornos financeiro equivalentes aos proporcionados por um diploma em medicina (uma das carreiras mais bem pagas do

país) é que[,] então, a diminuição da brecha poderia chegar a um patamar substancial: 18%. Porém, o estudo ressalta que oferecer educação de elite para toda a força de trabalho é algo irrealista.

Medeiros ainda aponta que

a educação pode apenas ser vista como uma alternativa em um prazo muito longo e[,] além disso, uma possível solução seria o Brasil massificar o acesso à universidade para[,] então, ter um melhor resultado na queda da desigualdade.

Na visão do pesquisador

Rogério Barbosa, o estudo comprova que é preciso deixar de lado a ideia de que a educação é a solução para os nossos problemas, “A educação é mais que necessária, é um requisito de cidadania, que possui inúmeros bens sociais. Mas hoje não é ela a credencial que vai te fazer ganhar mais. Os aumentos do salário mínimo, por exemplo, foram a principal política distributiva na década de 2000. Muito mais rápida e efetiva do que a educação”.

Hoje em dia as mulheres

possuem uma mão de obra mais qualificada que a masculina e mesmo assim possuem 21

uma remuneração menor em mesmas funções,[.] de acordo com dados da Organização Internacional do Trabalho (OIT), em 2019, a desigualdade salarial entre homens e mulheres que desempenhavam a mesma função era de 15%, podendo chegar a 35%. Podemos pegar esse caso como exemplo de que não basta melhorar a qualidade e extensão do ensino, se problemas em outros campos sociais também não forem combatidos. Um dos mecanismos para diminuir a desigualdade é inserir a mulher na educação, por consequência[,] no mercado de trabalho. A inserção na educação foi feita, porém o impacto na redução da desigualdade não foi tão grande. Isso se dá pelo fato de que a desigualdade entre homens e mulheres no mercado de trabalho tem como causa mais intensa, o machismo, não a educação.

É ineficiente e insuficiente

apenas investir na educação e aumentar a oferta de cursos técnicos com o objetivo de aumentar a população ativa no mercado de trabalho, se não houver intervenções em outras áreas sociais.


João Vitor Dente

Qual é o papel da escola?

Escola para quê? A escola

ocupa um papel de muita importância na nossa sociedade. Entretanto, seu papel e sua finalidade ainda são incertos para grande parte da população brasileira. A escola introduz um ganho econômico na sociedade, mas isso eventualmente oculta o ganho social e cultural da escola, que são vitais para o ser humano.

É fato que a mão de obra

qualificada e as indústrias e empresas que se formam a partir da formação da população, trazem benefícios para a economia do país. Um exemplo que indica isso é a prova do PISA, um exame anual realizado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) que visa a analisar o desempenho de países em diversas matérias. Os resultados indicam que os países que ficaram nas colocações mais altas de educação, como Japão e Finlândia, apresentam também um desenvolvimento econômico estável.

Todavia, a educação não deve

ser um serviço do país. Ela é um direito de todo cidadão e sua função é maior que

apenas um ganho econômico. As escolas são de suma importância para a construção da subjetividade do indivíduo. É durante a escola que ocorre a parte mais significativa do nosso crescimento, que se inicia na educação infantil. Segundo o Comitê Científico Núcleo Ciência Pela Infância, a fase dos 0 aos 6 anos é um período crucial onde estruturas e circuitos cerebrais são desenvolvidos, assim como habilidades base para o futuro. Isso indica que desde do início da educação precisamos ter atenção em todas as pluralidades do crescimento humano. Esse desenvolvimento da mente não acaba aos 6 anos e percorre toda a adolescência. Algumas áreas do cérebro se completam somente após os 21 anos. Por isso é importante termos escolas que ofereçam uma rede de apoio para o desenvolvimento de todos os jovens.

interativa encoraja a aprendizagem de todos e incentiva a percepção de que a criança está inserida numa comunidade e que deve estar sempre atenta para fazer sua parte”.

É por meio do ensino que

afinal? A escola prepara os alunos para quê? Essas são questões com inúmeras respostas. Geralmente quando é perguntado qual o motivo que os leva a irem para a escola, alguns respondem que é para se formar e fazer faculdade, outros respondem que é uma obrigação, outros que para aprender, mas o que todas as

aprendemos a nos comunicar e nos entendemos como indivíduos. A convivência com outras crianças da mesma idade é fundamental para nosso desenvolvimento. Assim diz a psicopedagoga especializada em neuroaprendizagem Maria Irene Maluf que afirma que “trabalhar de uma maneira 22

Contudo, a formação social

não é a única que precisa ser levada em consideração. Adquirimos muita cultura por meio das escolas, como por meio da literatura, por exemplo. Uma pesquisa realizada com alunos da 7a série em uma escola pública de Teresina indica que 5 de 35 alunos leem quatro livros anualmente, 13 leem 2 livros por ano, cinco leem apenas 1 e quatro alunos não leem livro algum. Logo, é necessário manter espaços para que a leitura seja cada vez mais possível. Lara Greger Tavares Rocha

A escola prepara para a vida?

Para que serve a escola


respostas dadas revelam, é que dentro da nossa sociedade ir à escola é considerado essencial, mas por quê? A resposta comum dada aos jovens é que, dentro da nossa sociedade, aqueles que não estudam não vão ser inseridos no mercado de trabalho, mas a função única de uma escola não é, e não deveria ser apenas essa.

A estrutura de uma escola

comum na atualidade é a de que jovens de idades parecidas sejam separados por turmas, e assim sejam ensinados usando os mesmos métodos, sendo que são indivíduos completamente diferentes, todos em carteiras enfileiradas dentro de uma sala de aula, e vem sendo assim desde muito tempo. É possível avaliar alguém corretamente dessa forma? Não necessariamente uma prova vai dizer se um aluno é inteligente ou não, pois existem tipos diferentes de inteligência com diferentes propósitos. Muito potencial intelectual acaba sendo desperdiçado dessa maneira, há uma grande preocupação apenas com o conteúdo do vestibular, o que também dificulta que a escola ensine coisas baseadas no dia a dia do aluno.

A educação teria resulta-

dos mais efetivos, se essas

inteligências e formas de pensamento fossem exploradas de outra forma? O educador Paulo Freire, é muito conhecido justamente por criar um método, em que os alunos não precisassem aprender tudo da mesma forma, a educação para ele deveria ser na prática, se existisse um aluno que a família trabalhasse em uma padaria, por exemplo, ele não ensinaria o alfabeto por uma cartilha, mas sim relacionando as letras com as palavras de seu cotidiano lá. Existem algumas escolas que procuraram explorar essas diferentes formas de ensino, e algumas delas são apresentadas no documentário “Quando sinto que já sei”.

O documentário “Quando

sinto que já sei” tem como objetivo mostrar que o modelo de ensino que vem sendo usado, já se tornou ultrapassado e que há formas melhores e diferenciadas de aprendizagem. Para isso, foram apresentadas algumas escolas no Brasil criadas com essa lógica de ensino inovadora, a maioria em pequenas comunidades, ou cidades pequenas, muitos profissionais da área educacional e alunos foram entrevistados no documentário também. A maioria dos discursos dos educadores fala sobre esse atraso no modelo de educação, como 23

no discurso de Simone André, coordenadora de educação do Instituto Ayrton Senna, onde ela faz a seguinte reflexão: “Se um cirurgião for para uma sala de cirurgia do século 21, ele consegue operar? Não, ele não vai nem saber o que fazer, mas e se um professor do século 20 ou 19, viesse dar aula numa escola no século 21, ele conseguiria? Sim, ele ia ver a mesma estrutura, carteiras enfileiradas, um giz, uma lousa, a lista de chamada, uma sala de aula igual a sua, a única coisa diferente seria a cabeça dos alunos”.

Parando para pensar, isso é

uma reflexão bem plausível. Sim, o nosso sistema educacional ainda possui a mesma estrutura de aprendizado, porém o pensamento e a cabeça dos jovens de hoje em dia mudou muito, eles querem ser ouvidos e querem expressar sua opinião, isso mudou devido a uma menor repressão social em relação a eles. A tecnologia também mudou a sala de aula e os alunos, pois ela mostrou aos jovens novas formas de obter conhecimento. A internet e as outra redes sociais deram abertura para milhares de novas formas de aprendizado, cursos online, tutoriais, vídeo aulas, entre outros, mas, ao


mesmo tempo que esses meios são inovações, eles não podem substituir a experiência trazida por um educador, o educador pode tratar de um indivíduo em especial e direcioná-lo para o aprendizado, ensinar não só a matéria, também ensinar ao aluno com experiências de vida.

O educador, quando inserido

dentro do sistema, acabou por perder um pouco desse lado afetivo, o trabalho do professor passou a ter um grande peso burocrático, uma responsabilidade enorme. O designer de fluxos de conversação, Luiz Algarra, comenta sobre isso: “1 pessoa para lidar com 20, 30, esse é o modelo industrial, é uma equação simples, é um educador vivendo todo seu espaço de angústia, de desejo, de medo, de segurança, de vontade, de insegurança, sendo responsabilizado por uma instituição, para criar um espaço de aprendizagem com 40 crianças, como é que ele consegue?”. Isso é algo que pode ser mudado, inclusive algumas das escolas citadas no documentário conseguiram proporcionar esse lado não burocrático.

A primeira escola que foi

abordada é o Projeto ncora (Cotia SP), nasceu como uma

iniciativa de assistência social e em 2012 conquistou o status de escola do ensino fundamental em período integral. Lá não há divisão dos alunos nas salas por séries ou idade, não é necessário aprender dentro da sala de aula, pois na escola existem espaços livres de aprendizagem, além de ter uma forte integração com a comunidade onde a escola está inserida. Alguns alunos expressaram gostar dessa grande diversidade de espaços de aprendizagem. A aluna Julia Basilio afirmou: “Pelo menos eu, quando estava em outras escolas, me sentia muito presa dentro de uma sala de aula, aqui não, aqui você pode sentar na grama, fazer uma lição com um colega, dá um certo ar de liberdade”. As atividades, vêm da autonomia e interesse por aprender de cada aluno, a partir de livros didáticos. Eles escolhem quais exercícios querem fazer, e têm sempre um professor à disposição para tirar dúvidas, também existem tutores, com quem os alunos podem compartilhar o conhecimento e expressar suas opiniões.

Uma escola como essa[,]

que torna o aprendizado mais prazeroso, é rara, mas não deveria ser, porque não mudar o método de ensino!? para 24

que serve a escola como conhecemos hoje? ela prepara os alunos para a vida realmente? Um youtuber chamado Prince Ea[,] fez um vídeo chamado “What is school for?” em que, ele conta sobre o que aconteceu com ele depois que se formou e o que ele percebeu: “Eu passei 16 anos indo para a escola, e eu ainda não sei, quando eu terminei não sabia como pagar minhas próprias contas, comprar uma casa, ou solicitar um empréstimo, eu não sabia nada sobre investimentos, construir crédito, ou arrumar um emprego...todas as coisas que me ensinaram de verdade eu esqueci...e não sou sou só eu, todos os estudantes “cantam a mesma música” quantos de vocês, evitam contato visual com o professor para tentar não ser chamado? Com medo de levantar a mão, por medo de estar errado...o que você espera quando a pergunta mais comum em sala é, Isso vai cair na prova?, veja, se a escola colocasse aprendizagem ao invés de testar e memorizar, como o padrão superior, então a letra f não significaria fracasso, e se a escola estivesse mesmo interessada no nosso sucesso acadêmico, os estudantes acordariam mais tarde, teriam mais liberdade,


e bem menos, lição de casa, e isso não é minha opinião, isso foi cientificamente provado por estudos...o que eles fazem é colocar informação na sua cabeça, e depois de obrigam a vomitar em uma prova, isso não é educação, isso é bulimia, e quanto mais bulímico você é mais você se sai bem nas avaliações...a escola ensina você pontos, mais a verdadeira educação deveria mostrar como conectá-los… Algumas coisas são justificáveis, precisamos saber ler, escrever, e alguma aritmética, isso é justo, mas você está me dizendo, que rochas metamórficas e ígneas são mais importantes que autocuidado?! Se o suícidio é a terceira causa principal de morte entre pessoas de 10 à 24 anos e estudos de Harvard sugerem, que o maior preditor de sucesso é autocontrole e saúde emocional, então por que, não somos ensinados a lidar com o estresse, bullying, ou rejeição, ansiedade e depressão, habilidades que precisamos para o resto da nossa vida…”.

O que ele diz é válido, e

prova[,] que a resposta para a pergunta[,] “a escola prepara os jovens para a vida?” é não,[.] além de não adquirirmos conhecimentos essenciais, como cozinhar, defesa pessoal, administrar nosso dinheiro,

lidar com o bullying, aprender a lidar com[,] depressão, ansiedade, rejeição, os alunos ainda passam por estresse e um cansaço absoluto, o estresse e problemas que muitos jovens enfrentam na vida[,] tem relação com a vida escolar, ou são consequência de algo que não lhes foi ensinado. Nem por isso devemos abandonar a escola, o que devemos fazer como sociedade é o questionamento do modelo e estrutura escolar, para que[,] assim, possamos ter uma educação diversificada, uma que pense no individual, uma em que não só o conteúdo de uma prova faça parte do aprendizado, mas que também faça parte, experiências para a vida, uma escola onde a troca de conhecimento seja prazerosa. Laura Martins Beatrice

Escola pra quê?

Talvez você já tenha acordado

de manhã e tenha pensado “escola para quê?”, ou, talvez, já tenha escutado pessoas reclamando do sistema escolar, das matérias, ou, pessoas falando que o único problema do Brasil é a educação. Eu sinceramente já me fiz a primeira pergunta zilhões de vezes, mas depois que entramos nessa quarentena percebi que escola 25

não é um lugar só de aprendizado de professor para aluno, e sim uma instituição de acolhimento para todos os jovens, principalmente os de pior situação financeira. O triste é saber que os problemas principais da escola não podem ser resolvidos por ela, e sim por sistemas de fora, e é uma pena saber que para eles a educação não é uma prioridade.

Muitas pessoas acreditam

que o único problema do Brasil é a educação, e elas não estão erradas mas também não estão certas. Até porque para ter um estudo de qualidade é preciso dormir bem, comer, ter o material escolar, saneamento básico, estrutura familiar, entre outras coisas, podemos concordar que grande parte dos jovens não tem isso, sem contar os que têm que trabalhar para ajudar no sustento da família. Para a educação ser o principal problema do Brasil falta muito ainda como por exemplo: melhorar os espaços escolares e os materiais doados pelo governo, melhorar a distribuição de renda para que o filho possa se dedicar à escola sem se preocupar com a renda familiar ou se vai ter dinheiro para comer, dar motivos para o estudante se manter na escola, melhorar o saneamento básico, incluindo por exemplo


a distribuição de absorventes e camisinhas, garantir comida na mesa (o que algumas escolas já têm), etc.

Muitos especialistas acredi-

tam que o sistema de educação do Brasil é falho, e infelizmente temos muitos dados que comprovam isso, como por exemplo; esse estudo que saiu no site exame.com, dizendo que alunos de em média 14 e 15 anos tem desempenho matemática irelevantemente estagnado[,] tendo uma variação média de 0,8 em relação a 2015, também temos muitas crianças e adolescentes que não estão matriculados em escolas, segundo o anuário brasileiro da educação básica, e alguns dos motivos são: baixa renda familiar, trabalho infantil / iformal, domicilios em areas rurais, isoladas ou de risco, entre outras (site: noticiasconcursos.com.br), e não podemos esqueser de um dos principais motivos: a falta de investimento. Esses são só alguns dos exemplos entre centenas deles.

A escola tem um papel super

importante em nossas vidas, é ela que vai nos impulsionar para o nosso futuro, é ela que nos guia, é ela onde passamos em média 18 anos da nossa vida, e é uma pena que nem todos os jovens possam ter

essa experiência completa, temos que lutar para cada vez mais a escola fique acessível para todos, tanto para pessoas com alguma deficiência física ou mental, tanto para meninas que engravidaram cedo, tanto para pessoas mais velhas que não conseguiram estudar na infância… a escola é um lugar para todos. Acho que agora já podemos responder a questão de pra que serve a escola. Lívia Dantas

Educação em uma sociedade mal educada

Em um país de economia

ascendente e órgãos públicos precários como o Brasil, é comum a crença de que apenas a educação pública e o investimento governamental nessas instituições poderá salvar o nosso país de suas dificuldades socioeconômicas. Para suportar tal ideia, se usa como exemplo países europeus super desenvolvidos, que apresentam altos índices de escolaridade e mão de obra de ponta, com PIB e IDH altos. Contudo, existem também nações como a Argentina, que,apesar dos problemas socioeconômicos e PIB mediano, apresenta altos índices de alfabetização dignos de potências globais, com 99,51% de seus 26

jovens alfabetizados em 2018. Isso evidencia que uma melhoria na escolarização não está necessariamente relacionada ao crescimento econômico de um país, pelo menos não a curto prazo, como defende o artigo “Apenas acesso à educação não é suficiente para reduzir desigualdade no Brasil” por Heloísa Mendonça, publicado no El País.

Adicionalmente, as condições

de vida precárias em nosso país impossibilitam o aproveitamento pleno da escola por diversos jovens. Segundo uma pesquisa publicada no site da UOL em 2020, 116,8 milhões de brasileiros sofriam algum grau de insegurança alimentar. Há outras questões que dificultam ou se tornam prioridades frente aos estudos, como a falta de transporte para a escola, de apoio familiar e a moradia precária contribuem para menores taxas de escolarização. Tais elementos revelam que, para uma educação funcional que influencie positivamente a economia, é necessário o desenvolvimento coletivo de uma base social consistente, promovendo a melhora da infraestrutura e a compreensão das juventudes.

Ao projetarmos instituições

de ensino visando [a] um


futuro crescimento econômico, desencadeamos uma das mais fortes características dos métodos de ensino brasileiros: o conteudismo. Termo este utilizado para classificar algo estritamente teórico, que valoriza o conteúdo em detrimento da forma. Fenômeno evidenciado quando a capacidade de um aluno é medida por sua habilidade de reproduzir as informações que lhe foram passadas. De forma a qualificar o jovem como um mero receptor ao invés de um ser crítico e pensador. Tal metodologia sobrecarrega os estudantes, fazendo com que não se sintam pertencentes ao ambiente escolar. Como podemos observar em relatos de alunos e professores no documentário “Pro dia nascer feliz” de João Jardim.

Apesar de a escola ser vista

como uma instituição de preparação para o mundo do trabalho, a necessidade de auxiliar na renda familiar é uma das principais causadoras da evasão escolar no Brasil. Foi estimado pelo instituto Datafolha que cerca de 4 milhões de estudantes na faixa de 6 a 34 anos deixaram os estudos no ano de 2020, sendo mais da metade deles das classes D e E. Mesmo com iniciativas como o Bolsa

Família, a pobreza no Brasil ainda afeta diversas famílias, colocando outras necessidades como a obtenção de alimento e moradia acima da educação. Esses dados alarmantes explicam a inserção precoce desses jovens no mundo do trabalho informal.

Para muitos, a escola, ainda

que precária, é vista como um abrigo. A violência doméstica e a fome tornam-se incentivos para diversos jovens, principalmente de áreas periféricas, frequentarem o ambiente escolar. Porém, a hostilidade presente no ambiente escolar também é um forte causador de desmotivação entre as juventudes. A adoção de sistemas de ensino antiquados e pouco plurais, que posicionam o professor como um ser superior “inimigo” dos alunos, dificulta sua aproximação com a matéria, impactando negativamente seu desempenho escolar, muitas vezes gerando constrangimento, tristeza e raiva. Ao tornarmos a escola um ambiente tão intolerável quanto o mundo externo, sem nenhum atrativo ou razão pela qual o aluno deva ficar, perdemos os jovens que necessitavam daquele abrigo, expondo-os, à criminalidade, diversos tipos de violência, abusos e trabalhos 27

exploratórios. O documentário “Quando sinto que já sei” de Antonio Sagrado, Raul Perez e Anderson Lima, problematiza a perversidade em nosso sistema educacional e retrata escolas que seguem diferentes metodologias, optando pela não diferenciação de séries, a não utilização de salas de aulas e adoção de diretrizes não convencionais.

Para que as instituições de

ensino promovam melhorias que impactem as condições socioeconômicas do nosso país, são necessárias diversas mudanças no modo como enxergamos e tratamos a educação. Os métodos de ensino repressores, ainda muito comuns no Brasil, desmotivam as juventudes. Estes, pensados para a formação de uma mão de obra em massa, reduzem o jovem a um receptáculo, sem opiniões e, consequentemente, voz. A pobreza e a falta de acesso a condições básicas de vida são outros fatores que prejudicam a escolarização. Para o avanço educacional, é indispensável a luta coletiva pelo exercício pleno dos direitos básicos e pela formação de ambientes seguros e plurais dispostos a tratar as juventudes como seres pensantes da sociedade.


Luana Rayol

A educação nas escolas públicas

Existe uma grande desigual-

dade social entre as escolas públicas e as particulares? É claramente notável que a precariedade no sistema educacional brasileiro vem crescendo ao longo dos anos. Isso é perceptível pois a maioria dos alunos de escolas públicas não tem uma condição financeira tão boa iguais aos de escolas particulares.

A escola desempenha dois

papéis básicos na sociedade, a socialização e a construção moral, ética e psicológica dos alunos. As escolas públicas brasileiras passam por diversos problemas que refletem diretamente na qualidade de educação, essas questões são geralmente estruturais e afetam instituições em todo o país. Portanto, a questão da educação pública não envolve apenas a desvalorização das instituições de ensino e dos profissionais. Ela percorre em questões sociais mais amplas, como a fome, desemprego e a pobreza.

Alguns dos principais pro-

blemas em escolas públicas são a escassez de materiais didáticos, desvalorização de professores, indisciplina

de alunos, falta de recursos essenciais e infraestruturais, etc. A diferença mais marcante entre o ensino particular e o ensino público certamente é a estrutura oferecida pela escola, o acolhimento aos alunos e a manutenção de áreas e materiais.

Por mais que os alunos se

esforcem e os professores deem o conteúdo corretamente, de alguma maneira a rede privativa sempre vai estar à frente. No meu texto eu quis falar diretamente o meu ponto de vista sobre a desvalorização do ensino público e como ele infelizmente está sendo deixado de lado por muitos. Lucas Watanabe Almeida Prado Litvin

Escola pra quê?

Eu, Lucas como estudante do

ensino fundamental II de uma instituição particular da zona oeste de São Paulo, acho a escola muito importante, pois na minha opinião a esse ambiente não é só estudar para ser alguém na vida, a escola também te ajuda a socializar, fazer amigos e aprender a lidar com certas questões que, com certeza quando estiver na vida adulta serão importantes.

A função social da escola 28

é o desenvolvimento das potencialidades físicas, cognitivas e afetivas do indivíduo, capacitando seus alunos a se tornar um cidadão, participativo na sociedade em que vivem. A escola também tem a sua função básica que é garantir a aprendizagem de conhecimento, habilidades e valores necessários à socialização do indivíduo, trazendo bons modelos e conteúdos culturais básicos da leitura, da escrita, da ciência das artes e das letras, sem estas aprendizagens dificilmente o aluno poderá exercer seus direitos de cidadania, porém não são todos que conseguem cursar numa boa instituição de uma maneira boa e educativa.

Um bom exemplo de citar isso

são as crianças de comunidade e de baixa renda, como estudam? Morando em um pequeno lugar, com barulho e também sem ter o apoio necessário,sem ter acesso a livros e etc.

Nesse sentido, a educação,

para o Brasil, deve ser vista como uma política social, como um compromisso básico para a garantia dos direitos dos cidadãos, e mesmo a escola deve assumir um novo papel na sociedade, ou seja, prover ações para os cidadãos.

Eu cheguei a conclusão que


a escola exerce dois papéis fundamentais na sociedade: socializar e democratizar o acesso ao conhecimento e promover a construção moral e ética nos estudantes. Esses dois papéis compõem a formação de pessoas conscientes, críticas, engajadas e com potencial de transformação de si mesmas e da sociedade.

Cabe à escola formar alunos

com senso crítico, reflexivo, autônomo e conscientes de seus direitos e deveres.

E percebi também que a

educação muda vidas, ela representa muito mais do que ir à escola para adquirir conhecimentos. Ela é a base para o desenvolvimento pessoal e profissional. Crianças estimuladas a buscar o aprendizado estarão mais preparadas para os desafios da vida e serão cidadãos mais conscientes e comprometidos. Luiza Varanda de Mattos

Evasão e motivação escolar

Podemos dizer que a escola

é a principal instituição social responsável pelo desenvolvimento de jovens através de conteúdos formais considerados essenciais para a vida dos indivíduos. No entanto, sabemos que o acesso a essas

instituições é desigual e nem todos os jovens conseguem concluir o ciclo do ensino básico. As razões que levam a essa desigualdade são diversas, e englobam desde a falta de interesse pelo processo de aprendizagem, condições financeiras adversas, localização geográfica, falta de material até a necessidade de inserção precoce no mercado de trabalho. Esses são apenas alguns dos fatores que explicam, no Brasil, o alto índice de evasão escolar. A falta de motivação entre os jovens reflete principalmente a incapacidade das escolas de se colocarem no papel definidor de um futuro melhor.

juntamente com a necessidade de trabalhar, um dos principais motivos que incentivam o abandono escolar. Entre as mulheres, a gravidez precoce e as tarefas domésticas costumam ser fatores definitivos para essa evasão. Economicamente, a evasão escolar tem efeitos significativos no país como um todo, estima-se que 35 bilhões de reais ao ano são desperdiçados, uma vez que o investimento gasto em alunos não tem retorno no mercado de trabalho qualificado (valor calculado a partir da renda do trabalho ao longo da vida a partir da conclusão do ensino médio).

De acordo com o portal UOL,

não representa para esses jovens uma ferramenta para a construção de oportunidades melhores no mercado de trabalho. Jovens deixam a escola por considerarem a entrada no mercado de trabalho imediata mais promissora do que a educação formal poderia oferecer-lhes no futuro.

o Brasil tem a terceira maior taxa de evasão escolar (24,3%) entre os cem primeiros países com maior IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) do mundo. Entre os países lationo-americanos, o Brasil também ocupa o terceiro lugar, perdendo apenas para Guatemala (35,2%) e Nicarágua (51,6%). Ou seja, um em cada quatro alunos no Brasil abandonam a escola antes de completar o último ano do ensino médio.

De acordo com o portal

G1, a falta de interesse é, 29

Fica evidente que a escola

Soma-se a esse fator, a

proposta pedagógica e a metodologia da escola. O papel que a escola tem de manter um processo de aprendizagem onde o aluno se sinta pertencente à escola e, de certa forma, protagonista em seu


desenvolvimento é fundamental para a motivação dos jovens estudantes. Porém, por muitas vezes não se adequarem às individualidades e diferenças dos estudantes, acabam incentivando essa evasão.

Segundo um estudo realiza-

do pelo portal Observador, três em cada dez jovens não gostam de frequentar a escola. Ele aponta que, além da insatisfação com o pouco tempo de intervalo, grande parte dos alunos, queixam uma monotonia nas aulas que desmotivam a participação, e a vontade de ir para a escola. Em concordância, um artigo publicado pela Escola Caminhar mostra que uma frustração indigesta é despertada nos estudantes uma vez que outras habilidades que talvez sejam norteadoras para alguns alunos, como música, desenho, dança e etc, não são valorizadas.

Como apresentado, são

muitos os motivos que levam os alunos a perder o interesse no processo de aprendizagem. Analisamos, então, que tornar as escolas um ambiente interessante seria o ideal para uma melhora nos índices de evasão do Brasil. Isso, porém, não soluciona o problema, uma vez que, como mencionado,

a desigualdade de renda, a falta de estrutura familiar, a necessidade de trabalho entre outras, também interferem nas oportunidades desses jovens. A busca por um ambiente escolar mais acolhedor e afetivo talvez preencha as camadas de desinteresse dos alunos, ou pelo menos encurte a distância entre eles e os estudos. Maria Luísa Barbosa Nunes

Desigualdade Educacional Brasileira

O capitalismo no Brasil é um sistema que divide a nossa sociedade, exalta a elite, causa de forma avassaladora a desigualdade da população e de forma direta impacta na educação brasileira.

Uma educação de qualidade

deveria ser um direito para todos, mas isso não ocorre, pelo contrário, a classe com menos privilégios econômicos continua com pouca base para adentrar no mercado de trabalho e isso favorece a permanência da disparidade social.

De acordo com o site futura.

org, 258 milhões de jovens e crianças não têm acesso à uma educação de qualidade, principalmente pessoas com 30

menos recursos financeiros, negros, trans e mulheres, que sofrem com a desigualdade racial e de gênero. Assim essa diferença causa o afastamento do sistema educacional e, consequentemente, a falta de oportunidades para os jovens ingressarem no mercado de trabalho.

Em contrapartida, a escola não

cria situações de motivação e implementação de projetos que de fato ajudem os jovens a descobrir suas habilidades e perspectivas para o futuro.

As instituições escolares,

apesar de promoverem caminhos de acesso ao mercado de trabalho, tem, como principal objetivo, formar intelectualmente os jovens, para serem autônomos, se posicionarem no mundo e receberem mais motivação para continuar nas escolas.

Mas, não há investimento

na escolarização de qualidade para as classes sociais mais carentes, o que reforça o distanciamento de acesso à educação e a repetição de um ciclo vicioso em fortalecer constantemente a desigualdade.

Uma mudança efetiva para

começar a combater a desigualdade educacional brasileira


acontecerá se houver de verdade a inclusão de uma educação justa e igualitária para todos os jovens. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), é preciso enfatizar a importância do investimento da sociedade na educação e na formação dos estudantes.

A qualidade e igualdade nos

setores educacionais pode promover a permanência da juventude na escola e garantir a transformação da juventude e criação de novas oportunidades para adentrar no mercado de trabalho e vislumbrar um futuro. Maria Luiza De Toledo Calil

Nem-Nem

Estudos feitos pelo IBGE

apontam que,inúmeros jovens que não concluíram o ensino médio,tendem a ter muita dificuldade em arranjar empregos no Brasil de hoje em dia. O desemprego no Brasil, hoje, atinge 11,8% da população ativa, os dados coletados apontam que em maioria esse grupo de jovens estão entre os 15 e 29 anos, sendo eles possuidores de uma renda baixa e jovens negros. “De forma geral, os jovens que não concluíram o ensino médio

são em sua maioria negros, com baixa renda familiar e são precocemente direcionados para o mercado de trabalho — quase sempre aquele, informal e precário.”

“Brasileiros fora da escola e

do mercado de trabalho estão presos a barreiras relacionadas à pobreza e ao gênero.” A partir de dados coletados pela Pnad, a situação das mulheres é mais delicada, a população feminina entre 15 e 17 anos é menos da metade, sendo 48,6%, mas dentre aqueles jovens em 2013 que não estudavam ou trabalhavam elas representavam 59,9% do total. Essas meninas passam por diversos desafios, apenas 27,9% dessas mulheres concluíram o ensino médio, e mais ou menos 31,9% já tiveram no mínimo um filho.

De acordo com o Banco

Mundial, um estudo feito apresentou que, os agora chamados “nem-nem” (nem estudam, nem trabalham) já são 11 milhões de pessoas na faixa de 15 aos 29 anos - cerca de 20%.

“Quase 14 milhões de jovens

estudam ou trabalham, mas apresentam atrasos grandes de aprendizagem ou estão em empregos com pouca relevância em termos de competências 31

exigidas pelo mercado, segundo levantamento do Banco Mundial. “Muitas vezes, o primeiro trabalho é determinante para o sucesso da trajetória profissional”” aferiu Wagner Santos, coordenador do núcleo de juventude do Cenpec – Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária.

Com todos os dados apresen-

tados, podemos afirmar, que os jovens que não concluíram o ensino médio, sendo por questões da vida pessoal ou por necessidade, tem uma grande dificuldade de conseguirem vaga no mercado de trabalho, e com isso se traz a grande taxa de desemprego no Brasil. Mariana Magalhães Furtado

Escola e seus papéis

A escola é uma instituição

muito importante dentro da sociedade, ela é múltipla e pode servir para a manutenção das desigualdades sociais, ou pode ser um motor muito importante para modificações estruturais.

As principais funções da

escola são: prover uma rede de apoio e acolhimento quando as famílias não atendem este papel, ou suplementar o apoio


dado pelas famílias; promover um espaço de convívio e troca; preparar os jovens para o mercado de trabalho. Esta última, porém, não deveria ser considerada como única ou como a função principal, como hoje é vista. Este pensamento costuma vir junto com o princípio da meritocracia. Na meritocracia, considera-se que o esforço é o único fator que determina o sucesso, o que já foi provado como falso, pois nem todas as pessoas partem de uma mesma situação social. Desta maneira os mais favorecidos socialmente alcançam bons empregos com mais facilidade, perpetuando a desigualdade social.

A escola também é vista

como a solução para a desigualdade social, mas, segundo o estudo dos sociólogos Marcelo Medeiros, Rogério Barbosa e Flávio Carvalhes, se tivermos uma educação perfeita desde 1994, a desigualdade social e o nível de pobreza só reduziria em 4%. Como foi analisado, houve uma redução mas a educação só pode ser vista como uma alternativa para solucionar as

questões de pobreza e desigualdade social a muito longo prazo, o que não é viável para um problema tão urgente como é no Brasil.

O estudo da Ana Luiza

Machado e Miriam Muller, de 2018, para o Grupo Banco Mundial, mostra que só criar mais cursos técnicos não significa mais pessoas trabalhando, isto porque são necessárias outras mudanças, como ajudar estes jovens a se inserir no mercado de trabalho.

No meu entender, a função

principal da escola é ensinar a juventude a pensar, compreender e criticar o mundo à sua volta. Isto vai levar a população a refletir, e perceber as injustiças da sociedade de que participam, o que um governo opressor e as classes altas não desejam. Assim, precisam manter as classes mais baixas desmotivadas, sem re

cursos críticos e desta ma-

neira sem mobilidade social. Segundo Paulo Freire – o objetivo principal da escola é ensinar o aluno a ler o mundo e assim poder transformá-lo.

32

Pedro Ayoub

Escola pra quê?

A função da escola é muito

complexa, relativa[,] é muito difícil de ser atingida nos dias de hoje. A escola representa uma instituição para socializar os valores, transmitir conhecimentos e valores, desenvolver as potencialidades físicas, cognitivas e emocionais dos indivíduos, a função da escola é garantir o aprendizado para que o indivíduo tenha a capacidade de exercer sua cidadania, conseguir um emprego e participar de maneira efetiva dentro da sociedade.

O sistema educacional no

Brasil é quase o mesmo que no século passado, com alunos sentados em suas carteiras enfileiradas e seus professores dando suas matérias em pé na frente de todos, porém a educação é muito mais do que acontece em uma sala de aula. Atualmente a escola não tem suporte do bom senso e das ciências, é um sistema que não está funcionando.

O nosso sistema educacional pode ser considerado universal, que é realmente muito bom, mas a evasão escolar é muito alta. Alguns estudos indicam que temos uma geração de excluído, que são


chamados de ”nem-nem”, A geração nem-nem se trata de um grupo volumoso de jovens brasileiros que nem trabalham nem estudam. um estudo feito por pesquisadores no início de Março mostra que 11 milhões de pessoas na faixa etária de 11 aos 29 anos se encontram nessa situação, e um dos motivos dessa evasão escolar é a falta de de atrativos e condições para o estudo.

e que segundo o professor Renato Colistete descreve em sua tese. É preciso investimento de qualidade, socializar as ideias, dar voz aos alunos, interagir com os professores, que têm um papel muito importante de facilitador e mentor do conhecimento.

Na tese de livre docência do

A escola é algo que muitas

professor Renato Colistete, ele conta a manifestações dos alunos do sistema público em 2016 contra as mudanças na estrutura do sistema educacional do estado de SP. ele descreve uma demanda de pessoas que não tem voz ( alunos ), recebem um pacote pronto de péssima qualidade que é a educação pública. o professor avaliou que a única chance de melhorar a educação é o envolvimento das pessoas beneficiárias ( alunos ) e ele identificou que esses problemas começaram a surgir desde o século 18.

E como mudar essa situação

em que parte da população se encontra? É preciso criatividade e analisar o contexto em que o jovem vive. solução não é única como o governo de SP impôs aos alunos em 2016

Peter Gabriel Martyn Ganns

Escolas Precárias pessoas já vivenciaram, mas não é um sistema perfeito, principalmente considerando o apoio dado pelo governo, mas mesmo assim, temos que pensar porque devemos participar dele.

O Brasil tem um grande

problema, porque a escola pública é tão impopular que todo mundo na escola particular paga para não ir à escola particular mas não ficar na escola pública, uma suposição feita pela má imagem do apoio governamental.

Muitos de nós frequentamos

escolas públicas, mas para quê? Por ser instável e a segurança ser a mais baixa, por que correr esse risco de não ser considerada uma grande pessoa pela sociedade, considerada como fazendo apenas um milionésimo do básico, mas 33

algumas pessoas se inspiram muito para aprender E nas escolas públicas, o governo vai querer ajudar aqueles que “não têm entusiasmo para aprender” ou economizar dinheiro.

Meu ponto é que talvez

isso não seja um preconceito contra a escola, mas um preconceito contra as pessoas da escola, mas um preconceito contra as pessoas que estudam nela, o que leva à falta de apoio do governo. Rafael Barros

Papéis desconhecidos

Existem muitos motivos pelos

quais vamos para a escola. A principal razão é para adquirir as habilidades e a educação necessárias para viver com autonomia e sucesso. O colégio também nos ensina habilidades sociais que precisaremos em nossas vidas e carreiras futuras. A educação nos ensina como colaborar efetivamente com os outros, porém a escola é muito mais do que isso.

A educação é fundamental

para o futuro do país, porém nem sempre essa educação chega aos jovens, de acordo com site EL PAÍS, 11 milhões de jovens entre 15 e 29 anos não estão nem trabalhando


nem estudando e a partir do ano de 2035 a força de trabalho começará a cair no Brasil. Para reverter isso é necessária uma mobilização do governo e das escolas para inspirar os jovens a voltarem aos estudos. Uma solução proposta pelo site EL PAÍS sugere que se criem programas de apoio ou de mentoria para ajudar esses jovens a lidar com as dificuldades associadas ao cumprimento de objetivos, motivando-os e fazendo com que acreditem que os estudos podem mudar o seu futuro.

A escola não é somente

uma fonte de conhecimento acadêmico, ela tem um papel social, pois para muitos alunos do Brasil a refeição escolar é a única refeição do dia, já que, de acordo com o site UOL, 9% da população brasileira (19 milhões de pessoas) passam fome ou tem insegurança alimentar. O colégio também é um porto seguro para muitas crianças e adolescentes que encontram ali um lugar protegido da violência presente no dia a dia de quem vive em comunidades perigosas.

A escola também é um ótimo

lugar para a convivência em sociedade. Fazer amizades é muito importante. Na convivência com os colegas o aluno

vai criar recursos para compreender essas frustrações, perceber o outro, colocar-se no lugar do outro e construir recursos para lidar com a diversidade. A pandemia ajudou muito a realçar a importância da convivência com pessoas diferentes do seu ciclo familiar. Amizades são essenciais para a saúde mental. Quando passamos por dificuldades, tristezas e inseguranças, muitas vezes os amigos ou professores serão também nosso apoio, inspiração ou exemplo, nos ajudando a seguir em frente mais fortes. Outra coisa importante das escolas é o incentivo ao esporte, que além de ser essencial para a saúde do aluno promove a socialização, o trabalho em equipe e dá a oportunidade aos alunos de entrar em contato com as frustrações relacionadas a vencer ou perder.

Definir o papel da escola é

algo muito amplo que impacta todo o presente e futuro de crianças, jovens e de suas famílias, é a instituição mais importante de um país, é ela que define a qualidade de vida de uma nação, pode minimizar as desigualdades sociais e proporcionar ao indivíduo o sucesso profissional e pessoal.

34

Rafael Cavalcanti

Educação: A Grande Arma

“A educação é a arma mais

poderosa que você pode usar para mudar o mundo”. Uma alusão feita por Nelson Mandela, mostrando que a base de uma nação e sua melhor arma para mudar sua realidade é a educação, que está desde os primórdios de nossa civilização moderna ligada com a escola. A escola tem a imensa responsabilidade de ensinar e moldar os jovens de uma nação que são, por sua vez, o futuro da própria.

A Constituição Federal, emiti-

da em 1988, em seu 6 artigo, prevê que o direito a educação como inerente a todo cidadão brasileiro. Entretanto, em 2019 mais de 1,1 milhões de crianças e adolescentes estavam sem acesso à educação, e com a pandemia este número saltou para 5,1 milhões, segundo o G1. Levando em conta que nos primeiros dois anos do governo atual o seu investimento na educação foi o menor desde 2010, conforme o MEC, sob essa ótica, mostrando que, mesmo com esses dados alarmantes, eles não estão tratando o tema com a seriedade necessária. Porém, esse descaso com os investimentos na educação


existe há muito tempo, pois desde 1807, quando temos os primeiros dados em relação à educação brasileira. Segundo eles, cerca de apenas 6% dos jovens de 5 a 14 anos estão nas salas de aula, já em 1830 ainda tínhamos somente 15% dos jovens nas escolas, alcançando a marca de 50% somente no final do século XX. Nosso começo foi desastroso e decepcionante, de acordo com a pesquisa realizada por Renato Perim Colistete, professor da FIA-USP, mesmo havendo demanda na época, tudo era ignorado. Enquanto o Brasil estava destratando a educação, diversos outros países estavam investindo pesado nessa área e isso resultou em uma imensa disparidade, que nos segue até os dias de hoje.

Levando tudo isso em con-

sideração, é notório, que as tentativas (e a falta delas) de nosso governo se mostraram como um fracasso, entretanto vem crescendo o número de escolas, projetos e institutos que têm um sistema de educação completamente diferente do usual. Ressignificando a escola e a educação, uma educação livre, uma educação de regras que não restringem, uma educação do como e do quando, não da proibição. E como dizia Paulo Freire

“Importante na escola não é só estudar, é também criar laços de amizade e convivência”. Assim, se mostra que há diferentes modos de educar uma criança, que há diferentes formas de criar um cidadão. Um cidadão que tenha empatia, respeito e pensamento crítico, não só uma pessoa que passe no vestibular, vá para o mercado de trabalho e ganhe um grande salário. A escola é também responsável pela formação do ser humano e de como ele interpreta e interage com diferentes situações de sua vida, mostrado na escola Projeto Ancora, frisando que a educação está pouco a pouco mudando para uma forma mais humanizada e consciente, junto de nossa sociedade atual.

Depreende-se, portanto,

sendo extremamente fundamental a adoção de medidas que venham ampliar os investimentos na educação e a instituição de um modelo escolar que privilegie a pluralidade nas formas de ensino. Dessa maneira, cabe não somente ao governo, mas sim a sociedade como um todo, fazer com que todos os jovens tenham acesso à educação e assegurar que ela seja de qualidade, a fim de que nossa realidade mude tanto na sala de aula como também nas ruas de nosso país. Somente 35

assim, usaremos nossa principal arma de mudança para desenvolver intrinsecamente nossa sociedade, desse modo mostrando para que a escola existe. Ricardo Albuquerque

Escola pra quê?

Será que os problemas

estão só dentro das escolas? Principalmente as escolas públicas têm muitos problemas internos, mas para eles acontecerem de onde começa esses problemas? Está na cara que os problemas da educação não são só dentro das escolas, para isto acontecer muitas coisas que estão erradas e mal distribuídas para a população e assim chegar a afetar a educação brasileira. Na minha opinião, o que afeta mais a educação brasileira é a corrupção, desviando dinheiro que seria para a melhoria das escolas, para o saneamento básico, saúde e etc e a desigualdade social.

Por conta dessa corrupção

muitas famílias são prejudicadas, pois a escola, além do aprendizado, serve de abrigo e ajuda para estas famílias, distribuindo merendas e lanches, fazendo com que fique mais fácil para suas mães sustentar seus filhos, porém por conta


dessa imoralidade que muitos na política fazem a educação e a vida dos mais pobres são muito afetadas,. então como podemos melhorar estas questões?.

Segundo o IBGE, a Diretoria

de Pesquisas, Coordenação de Trabalho e Rendimento, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua 2019., O principal motivo para os jovens terem abandonado ou nunca frequentado escola era a necessidade de trabalhar, apontada por 39,1%, seguido pelo não interesse (29,2%). Isso acontece pela falta de distribuição de renda, que deveria ser melhor, e assim os alunos deveriam estudar sem se preocupar com as condições financeiras ou se você terá que trabalhar para alimentar as pessoas que estão na sua casa. Logo em seguida, nós vemos que 29,2% dos alunos acabam largando a escola no ensino médio pela falta de interesse o site (http://portal.inep. gov.br) revela que 68,1% dos estudantes brasileiros, com 15 anos de idade, não possuem nível básico de matemática, o mínimo para o exercício pleno da cidadania. Outro problema que contribui com a educação estar estagnada e ser tão problemática é o desvio de dinheiro, na matéria do site

(https://agenciabrasil.ebc. com.br) mostra que em 2018 a CGU identificou, ao longo das investigações, 65 contratos suspeitos, cujo os valores totais são de R$1,6 bilhões. Assim, afetaram-se milhares de vidas que dependem deste dinheiro para melhorar a educação. Outro problema muito grande para as mulheres é a informação e a distribuição de camisinhas e anticoncepcionais. Na matéria do (https:// agenciabrasil.ebc.com.br.) o segundo maior motivo das mulheres acabarem largando o ensino médio é que 23,8% delas largam a escola por conta da gravidez. Estes são um dos centenas de problemas que temos que estão afetando a educação.

Nós já entendemos que escola é muito importante para nossas vidas e acaba sendo triste pensar que boa parte da população sofre muito quando o tema é educação, por isso que, vendo estes dados, nós todos temos que lutar para acabar com esses exemplos como falta de informação, falta de investimento nas escolas, falta de saneamento básico no país, distribuição de renda, pobreza e etc que estão acabando com o futuro do nosso país que são nossos estudantes e que estão tirando o sentido 36

da escola. A escola é para ser um lugar acolhedor onde não [se] precisa se lembrar dos problemas do mundo de fora e que também todo mundo conseguisse fazê-lo sem preocupações e não deixar de completá-la,também não tendo que ser deixada de lado por algo de extrema importância na sua vida pessoal e sim aprender e socializar. É para isso que a escola serve!. Ryhan Santos dos Anjos

Escola para quê?

No Brasil as escolas há muito

tempo tem tido problemas, como a falta de material, violência, falta de merenda, falta de reformas, falta de professores e salários atrasados para os funcionários.

As escolas quase não rece-

bem investimentos. Muitos jovens saem em busca de emprego para ajudar a família em casa, mas às vezes não conseguem, pois grande parte dos empregadores procuram funcionários que tenham pelo menos acabado o ensino médio.

Segundo o site El País, 11

milhões de jovens de 15 a 29 anos não estão estudando nem trabalhando. É um


contingente enorme que estará fora do mercado de trabalho por um bom tempo.

Desta forma não ajudando o

pib brasileiro aumentar, assim as escolas vão continuar recebendo pouco e nem recebendo investimentos.

Um estudo recente mostrou

que se o Brasil tivesse uma educação de qualidade por um tempo razoável não seria suficiente para melhorar os salários e impactar na distribuição mais igualitária de renda do trabalho no país. A pesquisa foi realizada pelos sociólogos Marcelo Medeiros, do Instituto de Pesquisas Econômica Aplicadas (Ipea), Rogério Barbosa, da Universidade de São Paulo (USP), e Flávio Carvalhes, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

As escolas do país devem

ter conteúdos e atividades que chamem a atenção dos alunos, para que eles se interessem pelas matérias e assim contribuir na aprendizagem e diminuir a vontade de sair da escola, e que tenham cursos profissionalizantes para caso ele saia tendo experiência na área.

Sophia Abe Roveda

Os ”nem nem”

Um dos maiores problemas

da educação no Brasil é a evasão escolar. Por conta da educação formal não ser atrativa para jovens de baixa renda, muitos acabam largando a escola e vão à procura de trabalho. Mas[.] por não serem formados e muitos trabalhos oferecidos a esses jovens oferecerem condições precárias, a maioria acaba não fazendo nenhum dos dois, assim sendo chamados de “nem nem”.

Segundo a Revista Educação,

em um estudo recente apresentado em Brasília no início de março, os jovens reconhecidos como “nem nem” (nem trabalham e nem estudam) representam 11 milhões de pessoas na faixa etária dos 15 aos 29 anos (cerca de 20%). É um percentual enorme de pessoas que provavelmente estará fora do mercado formal por muito tempo, comprometendo muito a mão de obra brasileira e assim perpetuando que as famílias continuem com baixas condições financeiras.

Mas por que os jovens largam a escola? Segundo a Revista Educação, de 16 de maio de 2018, os jovens abandonam o estudo por não haver um 37

atrativo na educação, e[,] ao invés de estar estudando, estão em busca de emprego ou trabalhando em condições precárias. Essa reportagem nos mostra dois exemplos: o primeiro é de um jovem chamado Vítor, que tem 19 anos, não terminou o ensino médio e por isso ficou mais difícil arranjar um emprego. O segundo exemplo é de uma menina chamada Carla, de 17, que teve de largar os estudos para cuidar de seu bebê, ela não consegue trabalhar e vive na casa da mãe.

O ponto em comum nessas

histórias é o fato dessas duas pessoas serem jovens de baixa renda, que não conseguem uma saída para a falta de estudos e consequentemente ao desemprego e acabam se encontrando em uma situação de vulnerabilidade social.

Para que os problemas de

evasão sejam evitados, a escola precisa se tornar um ambiente atrativo e preparatório, para manter os alunos interessados. A escola deve orientar esses alunos no segmento universitário e profissional, assim abrangendo assuntos importantes para que no mínimo esses estudantes tenham em mente a importância da busca pela formação e como isso os afeta no mercado de trabalho.


Sophia Casolari Landell Balbino

Escola pra quê?

A escola é uma grande rede

de proteção, principalmente quando se trata de colégios públicos, pois normalmente alunos dessas instituições são pessoas de baixa renda, que têm menos acesso a alimentos, higiene, educação... Por isso, nesse caso seu papel é oferecer apoio e conforto, mas na maioria das vezes isso não acontece.

Na minha opinião, um dos

principais deveres escolares é exercer uma função social. Ou seja, ter contato com as pessoas, formar amizades... Por isso, com a chegada da pandemia do COVID-19 houve uma grande fragilização da mentalidade de crianças e adolescentes.

Além disso, a educação é

uma tentativa de salvação da economia do país, que prepara jovens para terem uma ótima inserção no mercado de trabalho e formar pessoas conscientes e alfabetizadas, mas é um plano que não apresenta eficácia devido a muitos motivos. “Em termos globais, a educação já não é mais uma grande solução para os problemas de pobreza e desigualdade no Brasil. Ela pode ser vista

como uma alternativa apenas num prazo muito longo”, diz o sociólogo Marcelo Medeiros. Mas uma boa pergunta a se fazer é “se a escola é uma tentativa de salvação da economia, então por que não investem nela?”.

No site do governo brasileiro

na matéria do Ministério da Educação, afirma-se que “se o estado ou município não investir no mínimo 25% do seu orçamento total em manutenção e desenvolvimento do ensino, o FNDE envia, automaticamente, um comunicado aos tribunais de contas estaduais e ao Ministério Público informando o não cumprimento da legislação.”

“Quem não cumprir o prazo

ou não conseguir comprovar que investiu 25% do orçamento em educação passa a ser considerado inadimplente no Serviço Auxiliar de Informações para Transferências Voluntárias (Cauc) do governo federal. Com isso, deixa de receber recursos de transferências voluntárias da União e fica impossibilitado de firmar novos convênios com órgãos federais.” Ou seja, mesmo com severas legislações o governo não investe a quantidade necessária de dinheiro nas escolas. A explicação de 38

Marcelo Medeiros diz que “ ter um ensino médio é pouco para combater as diferenças de renda. O Brasil precisa massificar o acesso à universidade para ter um resultado melhor na queda da desigualdade. Nas últimas décadas, o ensino superior foi expandido, mas ainda precisa ser muito mais”

Algo extremamente importan-

te a ser citado é que as escolas públicas e privadas apresentam grandes diferenças, o que faz as pessoas serem levadas para caminhos opostos com grande desigualdade. No documentário “Pro dia nascer feliz”, uma professora de escola pública afirma que os professores de ensino público não estão preparados para ensinar tal tipo de adolescentes. Ao longo do documentário, múltiplos professores descrevem problemas como a falta de respeito dentro da sala de aula, mas essa não é a principal dificuldade e sim os conflitos agressivos, assassinatos, venda de drogas… Isso deixa claro que a escola pública precisa de transformações. Com professores preparados, mais segurança e melhor estrutura.

Um caso grave que infeliz-

mente acontece no mundo inteiro são os “Jovens nem nem”. De acordo com o site “El


País”, no Brasil, 11 milhões de jovens, quase um quarto da população entre 15 e 29 anos, nem estudam nem trabalham. Existe um estudo chamado “Se já é difícil, imagina para mim…”, que diz que esse problema ocorre principalmente por questões financeiras e de gênero, e afeta principalmente mulheres, sendo elas 66% dos nem-nens. Os jovens nem-nens possuem algumas razões por estarem nessa situação como: falta de motivação para retomar os estudos; os que têm alguma iniciativa mas não têm as ferramentas precisas; não conseguem trabalhar e estudar ao mesmo tempo…

Com isso, podemos concluir

algumas coisas. Que o ensino remoto fragilizou intensamente a saúde mental de alunos e atrapalhou o ensino; que a educação deixou de ser uma solução para a desigualdade no Brasil devido aos números extremamente baixos de alfabetização; que mesmo a escola sendo um lugar para acolhimento não investem o dinheiro necessário nela; que existe um grande desequilíbrio entre as escolas privadas e públicas e que infelizmente um quarto da população Brasileira nem estuda nem trabalha.

Sophia Martins e Galiano

Evasão escolar

É inegável que, ao nos per-

guntarmos por qual motivo nos dirigimos ao colégio, ainda na infância, o discurso pouco muda. Frequentamos esse espaço para nossa formação profissional para vida adulta, garantindo o básico da aprendizagem de conhecimento, habilidades e valores necessários à socialização. No entanto, a conscientização de grande parte da população não coincide com a evasão escolar, sendo a maior parte das escolas públicas. Afinal, o que leva esses jovens estudantes a deixarem a escola? Todavia, o espaço escolar público é extremamente oposto e desigual em suas condições se comparado ao particular.

Os diversos motivos para

deixar os estudos não são poucos, isso vindo de diversas camadas sociais, porém, muito mais de classes sociais mais baixas. É preciso ter em mente que jovens geralmente no ensino médio podem estar passando por pressão familiar ou até mesmo sentimento pessoal. Em determinada faixa etária, esses indivíduos têm como preocupação maior se 39

inserir cedo no mercado de trabalho, devido à dificuldade financeira vivida pela família já de muito tempo.

No próprio contexto atual e

pandêmico, isso tem sido forte preocupação para jovens de baixa renda. Só no primeiro ano de pandemia do coronavírus, por exemplo, mais de 172 mil alunos deixaram de frequentar a escola, segundo a OMS, entre seis e dezessete anos de idade. Esse número tem apenas aumentado conforme os anos, e a pobreza populacional só é mais um dos colaboradores para esse problema.

Levando em consideração

esses aspectos, concluímos que o principal fator para essa evasão ainda no primeiro ano do ensino médio é principalmente a crise de valores na sociedade moderna. É possível pontuarmos outras variadas circunstâncias que estão associadas ao desinteresse dos estudantes, por falta de acesso ao básico. E ainda esse sendo um dos principais problemas sociais no Brasil, muito pouco abordado para discussões, a educação não decola como uma preocupação para o Estado.


Theo Rocabado Zapella Andrade

Escola pra quê(m)?

Já há algum tempo, em um

cenário global, um dos principais requisitos para a formação de uma sociedade que tenha oportunidades de empregos razoáveis, acesso à informação, melhor qualidade de vida e participação de indivíduos em seus âmbitos sociais, é uma boa estrutura educacional. No Brasil, o processo de formação das instituições de ensino público ao longo dos séculos passou por diversos empecilhos devido à falta de investimento e ampliação do acesso ao estudo. Isso gerou consequências que perduram até hoje em nossa sociedade e acaba fazendo com que uma jornada educacional qualificada seja inacessível a uma grande parcela dos jovens brasileiros. Sendo assim, o Brasil acabou formando seu processo educacional de uma maneira excludente e desigual que impacta sua juventude até os dias atuais, por isso, o problema da educação brasileira é um fator histórico.

É na instituição escolar que

ocorre a formação em conhecimentos gerais - desde o letramento até disciplinas mais avançadas -, desenvolvimento

do caráter moral e ético e capacitação para uma vida em sociedade e para o mercado de trabalho, além de ser também um lugar de convívio social e, para alunos de uma condição de vida mais difícil, um refúgio de suas realidades precárias ou situações desagradáveis no ambiente familiar. São esses e outros motivos que fazem da educação um direito de todos, desde a infância até o final da juventude. Porém, com a desigualdade de ensino do Brasil, esse direito não é assegurado para grande parte dos jovens brasileiros.

Tendo em vista o problema

do atraso educacional do país, é preciso ter um panorama histórico do papel do ensino até os dias atuais. No início do processo de formação da educação brasileira, existia um grande descompasso em relação a outros países, que possuíam estruturas econômicas e sociais semelhantes. Uma das hipóteses para tentar justificar esse atraso era que talvez “não houvesse demanda” da população, já que o Brasil era um país muito agrário e rural, constituído predominantemente por núcleos familiares pobres e escravos libertos.

Entretanto, o professor da

Faculdade de Economia, 40

Administração e Contabilidade da USP, Renato Colistete, em uma análise de manuscritos antigos, concluiu exatamente o contrário. Ele estudou abaixo-assinados realizados entre os anos de 1830 e 1919, que contavam com pedidos de providência da população de baixa renda por escolas e professores para suas crianças e jovens. O professor também pôde constatar que muitas das assinaturas eram escritas “a mando” de alguém, já que muitos - e em alguns casos, a maioria - dos que participavam das petições e iniciativas eram iletrados. Colistete também pontuou que “De fato, as petições, sozinhas, não representam um movimento generalizado de demanda [...] mas são o indício de algo que pode ser mais generalizado do que a gente imagina”.

A solicitação por instituições

de ensino da população de classes sociais mais baixas daquela época não é uma surpresa, já que, por muito tempo, a educação era acessível unicamente a homens e meninos brancos de elite, fazendo com que a parte majoritária dos brasileiros fosse impossibilitada - até proibida - de aprender. A negligência do Estado naquele período causou um grande impacto


na sociedade atual. Hoje, a parcela mais prejudicada com o problema estrutural da educação brasileira são pessoas de classes sociais baixas, negros e mulheres. Pode-se então afirmar que, desde sua origem, o “ensinar” brasileiro sempre foi construído de uma forma desigual.

Hoje, a falta de investimento na educação pública e a dificuldade de acesso a um currículo educacional básico completo impacta[m] e continuará afetando a população e juventude do país. Segundo dados da PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) de 2019, 51,2% das pessoas de faixa etária igual ou superior a 25 anos não completaram a educação básica. Além disso, dentre os 50 milhões de brasileiros de 14 a 29 anos, 20% - equivalente a 10 milhões -, não completaram alguma etapa da escolaridade até o ensino médio, e dentre esses 10 milhões, 71,7% são negros ou pardos. Em 2020, a evasão escolar foi

ainda mais impactada e acentuada pela pandemia, e 5,5 milhões de jovens e crianças entre 6 e 17 anos não tiveram acesso à educação por falta de recursos, e 1,38 milhão abandonaram as instituições

de ensino, já que as escolas públicas não têm condições e investimento suficiente para providenciar ferramentas essenciais para o estudo e aprendizado à distância, de acordo com dados da PNAD de 2020.

A educação é - ou deveria ser

- um direito de todos, porém, como apontam os dados e a história, isso nunca ocorreu no Brasil. É necessária uma reparação no processo educacional do país, e, para isso acontecer, toda a bagagem histórica de séculos de desigualdade, exclusão e negação de direitos teria que ser reconhecida e levada em conta. Portanto, o ensino só cumprirá seu verdadeiro e real papel quando finalmente conseguir abranger todas as plurais juventudes brasileiras, constituídas de jovens pobres e ricos, brancos e negros, homens e mulheres e mais outras diversas e múltiplas realidades. Vicente Franzini

Escola para quê?

Desde a Independência

Brasileira e anteriormente, o debate sobre a Educação nacional existiu, com focos diferentes, como “O governo deveria financiar escolas públicas?”, no Século 19, para 41

“Como fazemos uma escola?”, no século 20 e, até hoje em dia, quando o debate virou “Escola para quê?”.

A escola em uma sociedade

utópica serviria, principalmente, para trazer informações necessárias para a integração funcional da pessoa na sociedade, além de criar uma personalidade, formar caráter, etc. Essas seriam importantes ferramentas para o processo de amadurecimento do indivíduo, além da eventual entrada no mercado de trabalho da pessoa, mas não vivemos em uma utopia.

Ao invés disso, temos um país

como o Brasil, onde a adesão em escolas pela população em massa só ocorreu no Século 20, enquanto em outros países desenvolvidos esse mesmo patamar já tinha sido alcançado quando entramos nesse século.

Mas, até mesmo hoje em

dia, não temos grande adesão nas escolas. De acordo com o Anuário Brasileiro da Educação Básica, em 2018, 90% dos alunos concluíram o Ensino Fundamental 1, 76% o Fundamental 2 e apenas 64% o Ensino Médio.

O porquê desses níveis

abismais de completude do


currículo escolar completo? Por quê os jovens decidem abandonar as escolas? Para o que servem as escolas? Podemos começar a responder essas perguntas vendo estatísticas de quem são essas pessoas que decidem sair das escolas.

De acordo com o IBGE, em

2017, aproximadamente 91,1% dos alunos elegíveis dentre os 25% mais ricos do país estavam matriculados, enquanto esse mesmo dado para os 25%

menos ricos estava em 57,3%, mostrando uma relação direta entre a classe social de uma pessoa, e suas chances de estar matriculado no ensino médio.

Algo que vários alunos na

faixa etária da transição do 9° ano do EF e 1° ano do EM se perguntam, com a dificuldade das matérias evoluindo, e menos aparente o uso real do conteúdo aprendido, em geral é se desestimulado a vontade de aprender dos alunos, que

42

contribui à evasão escolar, sendo esse o segundo principal motivo do fenômeno.

Esses problemas mostram

uma clara necessidade de uma reforma escolar, mas como ela deveria parecer e como executaremos-a?

Para fazermos uma reforma

decente precisamos sobretudo não apenas ensinar o aluno o que está no livro e na lousa mas precisamos ensiná-lo a pensar por conta própria, criar sua própria perspectiva sobre


o mundo, sem influências externas, além de ensinar ao aluno sobre outros tópicos que ele provavelmente precisará no futuro, como por exemplo o Mercado Financeiro, impostos, contas e etc.

Além disso, para consertar-

mos de vez o problema da evasão escolar, temos várias soluções, todas que precisam de uma reestruturação maior do que exclusivamente escolar, com projetos como, por exemplo, dar auxílios a pais de

alunos matriculados, para que, mesmo com dificuldades, os pais consigam dar ao filho uma educação garantida.

E, por fim, precisamos melho-

rar o ensino para ele ser mais cativante aos alunos, proporcionando um ambiente mais agradável e educativo, com um melhor treinamento de professores e coordenadores sobre esses assuntos serem de grande importância.

Então, voltando a pergunta

inicial, “Escola para quê?”, a

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escola Brasileira têm grandes falhas, uma delas sendo a existência e prevalência da pergunta acima, mas pode ser consertada, pode chegar em um nível próximo ao nível descrito no início do texto de uma sociedade utópica, mas para isso precisa de trabalho, esforço e dedicação do Governo Brasileiro mas, também do Povo Brasileiro, tendo uma melhor visão do professor, da escola, do que ela representa e do que podemos fazer para melhorá-la.




Ana Carolina Barbosa Nunes

maravilhada com tudo aquilo. Até que voltei à realidade, se ficasse muito tempo ali as pessoas poderiam me notar, precisava de um abrigo e comida. Antes de dormir me veio à mente de novo, as piores

Mãe contra pai

lembranças que passei com o repugnante pai da

Sei o que vai acontecer comigo se des-

fosse um objeto, os momentos em que me deixava

cobrirem o que eu fiz… Mas não queria

dias sem comer, me castigava e o pior deles, que

minha criança, quando me comprou como se eu

me violentou. Lembro exatamente do dia em que fui

voltar para aquele lugar em que me mal-

jogada, arrastada para aquele quartinho minúsculo às

tratam, me humilham, castigam e sou

escondidas. E agora uma parte daquele homem que

obrigada a satisfazer o desejo de meu

mais odeio, está dentro de mim. Ele nunca vai aceitar

senhor. Tenho muito medo e esse medo

a coisa que está dentro de mim e vai matá-lo e me culpar por tê-lo. Comecei a chorar, dormir com os

aumentou quando descobri que estava

olhos cheios d’água.

grávida.

Conforme o tempo, minha barriga foi crescendo e eu

No início não acreditei que estava com um ser

a odiando cada vez mais, tinha pensado em deixar

dentro de meu ventre, vi os sinais, mas neguei a

em uma porta do orfanato, mas quem iria querer

mim mesma. Aquilo não poderia estar acontecendo

uma pessoa negra para criá-la e tratá-la como filho!?

comigo! Depois que tudo aconteceu, não ia suportar

Foi aí, que me deparei com o seguinte pensamento,

mais essa. Comecei a tremer e entrar em pânico e

ele não teria ninguém, somente a mim e eu só teria

agora o que ia fazer? Pensei em matá-lo, mas a co-

ele. Poderíamos ser uma família e ter um ao outro

vardia venceu, tinha que pensar e rápido. Foi quando

para cuidar. Minha mãe e meu pai já morreram, faz

ouvi outros escravos falando que iam fugir do nosso

muito tempo que estou sozinha e durante os meus

senhor, eu criei coragem de fugir junto e consegui

pensamentos percebi que não estava mais com ódio

escapar. Mesmo assim, não consegui sentir felicidade,

ao ver minha barriga. Senti esperança ao saber que

pelo contrário, fiquei angustiada, com medo de ser

meu filho não seria escravo e não iria deixar ninguém

pega e me entregarem.

machucá-lo. O ser que está dentro do meu ventre é

Depois que me acalmei comecei a reparar na cidade

igual a mim, não tem nada a ver com o monstro do

ao meu redor, durante toda a minha vida só conheci o

seu pai, vai nascer de uma escrava e não vai ter os

casarão e a senzala, não sabia que existia um mundo

mesmos direitos de seu pai.

além do que conhecia e que ficava a poucas distâncias

Vou conseguir um lugar estável para meu filho, pois

de onde passei a minha vida toda. São tantas pessoas

não poderia ficar mais com aquelas lembranças do

circulando para lá e pra cá e lugares tão diferentes

passado, ele ia continuar me forçando a tais ações,

para conhecer. Fiquei um bom tempo olhando e

46


branco do que para negro. Ele me agarrou e foi aí que

nada e ninguém ia fazer ele parar.

compreendi o que tentava fazer. Queria gritar, mas

Choro muito quando penso no meu passado e fico

logo sabia que ninguém ia socorrer uma escrava.

aflita quando penso no meu futuro. Peço todo dia para Oxalá, para que eu consiga criar meu bebê longe

Tentei explicar para ele que estava grávida, para ter

daqui.

piedade de mim, que seria sua escrava, mas nada adiantou, vi nos seus olhos que estava decidido.

Por um bom tempo consegui me alimentar de restos

Mesmo assim falei que meu senhor era muito mau e

de comida, mas sempre ficava mais esfomeada, pois

que me castigaria, eu ia lutar e lutar pela vida do meu

tinha dias que achava mais restos e dias que não

filho, nem que precisasse ajoelhar e ir arrastada.

achava nada.

Infelizmente não adiantou, caí no chão aos prantos

Comecei a ficar desesperada ao ver folhetos por toda

e relembrei novamente o rosto da pessoa que mais

a parte com meu rosto e com uma oferta de grande

desprezo em toda minha vida, meu dono. Ele deu cem

quantia para quem me capturasse viva e levasse de

mil réis para o mestiço, depois me olhou e deu aquele

volta para meu patrão. Não queria nem pensar em

sorrisinho de lado, sinalizando que aqueles sofrimen-

quais torturas ele me faria, se eu voltasse. Aquele

tos, castigos, estupros iam continuar e que nunca ia

carrasco faria de tudo para me ter de volta. Odeio

me deixar fugir de novo.

minha vida, a única força que tinha, para não fazer nada precipitado é meu filho, só por ele que ainda

Apesar de relutar, não consegui segurar meu filho

continuei aqui, ele é a minha luz.

e abortei. Chorei muito… foi como se todas aquelas esperanças de criar um futuro com meu filho desa-

Tem dias que olhei para minha barriga e solto um

bassem por completo, comecei a tremer, eu paralisei.

sorriso e existem dias que isso me fazia lembrar o

Senti como se eu fosse a culpada por meu filho estar

horror do ato brutal que passei, isso me fazia vomitar

morto em minha frente e meu corpo começava a

e ficar nervosa.

jorrar muito sangue, parecia que eu tinha perdido meu

Foi quando me lembrei de que minha mãe tinha uma

corpo por completo. Comecei a negar a mim mesma,

amiga que morava longe daqui, em uma casa na zona

aquilo não poderia estar acontecendo comigo. Meu

rural e eu poderia criar meu filho lá e trabalhar para

pior pesadelo se tornou realidade, minha criança

pagar a hospitalidade. Tomara que eu consiga chegar

estava morta, meu patrão estava na minha frente

lá e que ela me aceite, tive uma sensação que nunca

segurando um chicote na mão.

senti antes, precisava chegar rápido, pois havia cada vez mais folhetos espalhados sobre mim e também capturadores de escravos, não podia ficar nem mais um segundo ali. Foi quando escutei meu nome: — Arminda! — uma voz grossa falava meu nome. Olhei e vi que era um homem mestiço, mais para

47


Danilo de Oliveira Conceição

disse que se tivéssemos um filho morreremos de

Felicidade x Trabalho

Mesmo com nossa vida pobre não descartamos o

Meu nome é Clara, eu sou órfã, moro

grávida comecei a medir fraldas, costurar roupinhas

fome. Mas disse a ela que nossa senhora nos dará de comer. desejo de ter um filho. Quando percebi que estava junto com minha tia, mas fazia com má vontade. A

com minha tia chamada Mônica, que

notícia se espalhou rapidamente pela a vizinhança.

costurava junto comigo. Eu não costura-

Minha tia continuava falando da vida ruim que nós

va tanto ao ponto de não namorar, mas

teríamos, falando também que as crianças nascem

os namorados apenas queriam matar

e acham sempre alguma coisa certa que comer,

o tempo; não tinham outro empenho.

ainda que pouco. Perguntei o que ela quis dizer com

Passavam às tardes, olhavam muito

“certa”. Ela disse que certa, um emprego, um ofício, uma ocupação, mas em que é que o pai dessa infeliz

para mim, e eu para eles, até que a noite

criatura que aí vem gasta o tempo? Pois candinho não

a fazia recolher para a costura. O que eu

conseguia ficar em nenhum emprego.

notava é que nenhum deles me deixava

Candinho, quando soube da advertência que minha

saudades nem me acendia desejos.

tia fez a ele, foi ter com ela , não áspero mas muito menos manso que de costume, e lhe perguntou se já

Eu queria casar, naturalmente. Era, como dizia minha tia, um pescar de caniço, a ver se o peixe pegava, mas

algum dia deixaria de comer.

o peixe passava de longe; algum que parasse, era só

Ele perdera já o ofício de entalhador, como também

para andar à roda da isca, mirá-la, cheirá-la, deixá-la e

abriu a mão de outros muitos, melhores ou piores.

ir a outras.

Pegar escravos fugidos trouxe-lhe um encanto novo.

O amor traz sobrescritos. Quando vi Cândido Neves,

Não obrigava a ficar longas horas sentado. Só exigia força, olho vivo, paciência, coragem e um pedaço

senti que era este o possível marido, o marido ver-

de corda. Ele lia os anúncios, copiava-os, metia-os

dadeiro e único. O encontro deu-se em um baile, o

no bolso e saía às pesquisas. Tinha boa memória.

casamento fez-se onze meses depois, e foi a mais

Fixados os sinais e os costumes de um escravo

bela festa das relações dos noivos. Eu tinha 22 e ele

fugido, gastava pouco tempo em achá-lo, segurá-lo,

30 anos.

amarrá-lo e levá-lo.

Eu e Candinho, que era como eu chamava-o, querí-

Havia mãos novas e hábeis. Como o negócio

amos um filho, mas minha tia, logo que chegamos

crescia, mais de um desempregado pegou em si

à casa pobre em que nos abrigamos depois do

e numa corda, foi aos jornais, copiou anúncios e

casamento, nos avisou dos possíveis filhos. Ela me

deitou-se à caçada. No próprio bairro havia mais de

48


um competidor. Quer dizer que as nossas dívidas

de escravos fugidos. As gratificações pela maior parte

começaram a subir, sem aqueles pagamentos pron-

eram promessas, algumas traziam a soma escrita e

tos ou quase prontos dos primeiros tempos. A vida

escassa. Uma, porém, subia a cem mil-réis. Tratava-

tornou-se difícil e dura. Comíamos fiado, mal e tarde.

se de uma mulata, vinham indicações de gesto e de

O senhorio mandava pelo aluguéis.

vestido. Candinho andara a pesquisá-la sem melhor fortuna, e abriu mão do negócio.

Eu não tinha sequer tempo de remendar a roupa do meu marido, tanta era a necessidade de coser para

Eu ficava muito agoniada em pensar em ter que levar

fora. Tia Mônica me ajudava, naturalmente. Quando

o meu filho para a roda. Candinho voltou para os

ele chegava à tarde, via-se-lhe pela cara que não

cômodos tristes, e encontrou Tia Mônica já com meu

trazia vintém. Jantava e saía outra vez, à cata de

filho pronto para ser levado à roda. Quando ele veio

algum fugido.

me consultar estava resignada. Candinho foi obrigado a cumprir a promessa; me pediu que eu desse ao meu

Após oito meses que o meu filho estava crescendo

filho o resto do leite que ele beberia da mãe. O peque-

dentro de mim, minha tia deu a horrível ideia de levar

no adormeceu, o pai pegou dele, e saiu na direção da

o meu filho para a roda dos enjeitados. Candinho ficou

Rua dos Barbonos.

muito bravo e deu um soco na mesa quando ouviu a ideia. Eu tentei acalmá-lo, dizendo que minha tia não

No momento em que Candinho saiu com o meu filho

tinha dito aquilo por mal, mas ela continuou falando

nos braços eu fiquei desnorteada e tonta, parecia que

que aquilo seria o melhor para nós e saiu. Minutos

eu tinha morrido, até que meu lindo marido apareceu

depois o dono da casa bateu na porta falando que

em casa com o meu filho nos braços e os mil-réis no

se não pagássemos o aluguel em cinco dias ele nos

bolso.

colocará para a rua.

Quando eu vi meu marido de volta, junto com o meu

Assim se passaram os cinco dias e fomos colocados

filho, foi uma sensação de ter nascido de novo, na

para fora da casa, fomos para os aposentos que

hora eu fiquei sem palavras, a única coisa que eu

minha tia havia arrumado no fundo da casa de uma

pensava era no meu filho. Eu o peguei rapidamente

senhora velha e rica. Dois dias depois nasceu o meu

do colo de Candinho e não o soltava mais, agora

filho lindo, meu marido ficou muito feliz e triste ao

sabia que viveria mais feliz e sem peso nenhum na

mesmo tempo. Tia Mônica insistiu em dar a criança à

consciência.

Roda: — Se você não a quer levar, deixe isso comigo; eu vou à Rua dos Barbonos. Candinho pediu que não, que esperasse, que ele mesmo a levaria. Nós desejamos um menino e o nosso desejo foi atendido. Naquela noite meu marido reviu todas as suas notas

49


Dora Bontempi

a possibilidade de me ligar verdadeiramente a alguém.

Mãe e filho

com a possibilidade de que no futuro eu pudesse ter

Eu estava grávida daquele sórdido do

fui esquecendo esse pensamento. Hoje esse futuro

meu senhor, que havia me obrigado a

estava quase palpável. Envolvi minha barriga com a

dormir com ele, certa noite. Cansada

mão. Dar à luz e cuidar de uma criança traria sentido à

Lembrei-me de que, quando eu era menina, sonhava um filho, porém sempre esteve longe do meu alcance,

minha existência. Eu seria a pessoa mais importante

de tanto ter resistido e com hemato-

na vida de um ser. Meu filho seria um verdadeiro alívio

mas doloridos pelo meu corpo e dores

de amor.

musculares nas coxas, deitei de lado e

O senhor aparentava não se importar. Olhava-me

suspirei. Não tinha força para me mover.

com um olhar de desgosto e indiferença. Eu sabia que

Que ódio, eu nunca havia sido violentada

ele não sentiria a menor culpa ao me bater. Era isso

de tal maneira! Sempre fui obrigada a

que eu temia. Todos esses anos eu pude aguentar

aguentar chicotes, mas isso era algo que

a dor, porém meu filho não poderia. De fato, eu não

eu não esperava. Como se não bastasse

poderia viver mais nenhum dia naquela casa, estava

o momento traumático, descobri depois

decidida a fugir. Esperei a noite, quando o senhor

a minha gravidez. Passei dias vivendo

adormeceu, para sair cuidadosamente pelos fundos.

com o peso de ter que aguentar uma

Pulei a mureta de trás da casa e saí correndo sem

gestação contra a minha vontade.

fazer barulho.

Meu ventre ia crescendo a cada dia mais, e eu ia per-

Vagava eufórica pelas ruas, muitos pensamentos

cebendo as mudanças do meu corpo, a menstruação

corriam pela minha cabeça na velocidade dos meus

havia parado há um tempo, meu peso ia aumentando,

passos. Eu estava ciente do risco, havia possibilidade

a fome também e às vezes sentia cólicas. Certa vez,

de eu ser capturada por alguém no meio do caminho

eu tropecei em um buraco e por reflexo coloquei a

e se fosse entregue ---de volta sofreria consequên-

mão na barriga. Esse gesto involuntário se repetia

cias torturantes. Mas também pensava na esperança.

também quando eu apanhava. Estava começando a

Finalmente estava fugindo e poderia nunca mais

me identificar com meu corpo, ele era meu e o feto

precisar viver submetida àquele homem, nunca mais

dentro dele também. Depois de tantos rompimentos

apanharia. Também projetava e sonhava com o

e muito tempo de solidão, estava me deparando com

momento em que veria meu filho nascer. Ainda não havia conseguido pensar em como me sustentaria

50


e cuidaria da criança ou para onde iria. O medo me

castigaria com açoites - coisa que, no estado em que

possuía, mas estava, de certa forma, aliviada por ter

eu estava, seria pior de sentir. Com certeza ele me

conseguido escapar.

mandaria dar açoites.

Passei alguns dias vendendo alimentos com outras

O homem culpou-me por estar grávida, julgando-me

escravas fugidas, encontrava-me na rua. Um dia,

irresponsável e continuou me arrastando em direção

ia descendo a rua de S. José quando senti alguém

à Alfândega, onde residia meu senhor. Eu tentei

aproximar-se.

resistir por todo o caminho, com grande esforço, inutilmente. Cheguei, enfim, arrastada, desesperada,

— Arminda! — ele me chamou.

ofegante. Ainda ali ajoelhei-me, mas de novo, em vão.

Virei-me, por reflexo. Ele, tirando um pedaço de corda

O senhor estava em casa, acudiu ao chamado e ao

da algibeira, agarrou os meus braços com força. Eu

rumor. Ouvi seus passos se aproximando, senti o suor

tinha sido pega. Tentei fugir, mas o homem, com suas

escorrendo pelo meu rosto. Mais preocupada do que

mãos robustas, atava-me os pulsos e dizia que eu

comigo, eu pensava no meu filho, que com certeza

andasse. Eu não podia voltar, comecei a suar e entrar

não resistiria aos açoites.

em desespero. Quase gritei, mas depois de soltar um

— Aqui está a fujona. - disse o estranho.

curto grunhido percebi que ninguém viria libertar-me, pelo contrário. Pedi então que me soltasse pelo amor

— É ela mesma.

de Deus.

— Meu senhor!

— Estou grávida, meu senhor! — exclamei na es-

— Anda, entra…

perança de fazê-lo ter piedade de livrar-me. — Se

Caí no corredor. Ali mesmo meu senhor abriu a cartei-

vossa Senhoria tem algum filho, peço pelo amor de

ra e tirou os cem mil-réis de gratificação e entregou

Deus que me solte; eu serei sua escrava, vou servi-lo

ao moço. Ele guardou as notas na carteira enquanto

pelo tempo que quiser. Me solte, meu senhor moço!

novamente me dizia que entrasse. No chão, onde eu

Não adiantou.

jazia, fechei os olhos quando vi o açoite.

— Siga!

Levada de medo e de agonia, após algum tempo de

— Me solte!

luta, senti uma dor abdominal. Meu sonho de liberdade escorrendo por entre as pernas, manchando meu

— Não quero demoras; siga!

vestido de vermelho.

Houve aqui luta, porque eu, sem saber mais o que fazer, gemia arrastando-me e ao meu filho. Alegava que o senhor era muito mau, e provavelmente me

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Elis Nunes Ferreira

lhe contei- o que você vai fazer?

Pai contra mãe

— É claro que não! - eu disse - essa criança é um

— Você vai acabar com o bebê, certo? - Carmen perguntou, tentando não ser indelicada. presente de Deus, preciso dar a ela uma boa vida.

Minha infância foi feliz enquanto durou,

Tânia e Carmen tentaram me convencer a ficar, ar-

o que é muito raro para pessoas na

gumentaram que era melhor realizar um aborto com

minha situação… meus pais fugiram

ervas ou simplesmente criá-la na casa. Mas eu estava

de uma fazenda de café quando eu

já com a ideia presa na cabeça, eu iria fugir, eu nunca iria querer entregar a minha criança a essa vida de

ainda não tinha nascido. Então eu cresci

tortura. Meu plano era simples, esperar até o senhor

em um quilombo perto de um lindo e

ir trabalhar e iria escapar pela janela, para ninguém

vasto rio. Minha mãe me deu o nome

na rua me ver. Também teria que pegar um pouco de dinheiro para conseguir me virar, o senhor era rico,

de Arminda, que significa “mulher do

então nem repararia no sumiço de alguns reis.

exército” ou “a mulher armada”, porque,

Tudo ocorreu conforme planejado, assim que estava

de acordo com ela, eu sou uma pessoa

livre eu fui para a papelaria do irmão da Carmen, ela

muito forte.

havia me dito o endereço logo antes de eu sair. Eu

Quando eu tinha mais ou menos doze anos de idade,

queria fugir daquela cidade o mais rápido possível,

nosso quilombo foi invadido por quase 30 homens, eu

mas vi anúncios de procura com minha descrição no

ouvi muitos gritos e pedidos de perdão a Deus, mas a

jornal, então resolvi ficar quieta até que ele desistisse.

maioria não sobreviveu. Eu fui arrastada aos berros e

Mas depois de algumas semanas percebi que ele não

fui levada para ser “vendida”.

iria desistir, e que ele apenas aumentaria a recom-

Fui então forçada a trabalhar para um moço cruel,

pensa até todos na cidade estarem à minha procura. Por isso acordei às seis da matina para ir comprar os

junto com outras duas mulheres, Carmen e Tânia.

tíquetes de trem com o dinheirinho que havia pego

Pouco a pouco minha dignidade foi sendo arrancada

do senhor, eu estava andando rapidamente pela rua

de mim, acho que minha força foi permanecer sã em meio a tudo aquilo. Nenhuma pessoa deveria passar

quando senti as mãos fortes me agarrarem.

pelo que eu passei, mas mesmo assim eu tinha receio

Assim que percebi o que estava havendo ele já havia

de tentar fugir, ouvi coisas terríveis que aconteciam...

me prendido, eu me remexi e berrei, mas de nada

Mas assim que eu descobri que estava grávida eu

adiantava.

sabia que não poderia ficar ali, queria dar uma chance

— Estou grávida, meu senhor! Eu exclamei. Se Vossa

de vida melhor para minha criança

Senhoria tem algum filho, peço-lhe por amor dele

— Nossa senhora! - Tânia exclamou, assim que eu

que me solte; eu serei tua escrava, vou servi-lo pelo

52


— Siga! repetiu Ele.

emprego fixo, mas é o que conseguiu por enquanto.

Eu estava em pânico chutando e retorcendo enquanto

Estávamos sem casa, sem comida e com um bebê

tempo que quiser. Me solte, meu senhor moço!

para nascer, mas graças a Deus minha tia Mônica

ele me arrastava pela rua até a casa do homem que

arranjou um quarto no porão de uma casa para nós.

me violentou. Eu não entendia por que ninguém fazia

Ela já fez tanto por mim e foi a única pessoa que

nada.

sempre esteve do meu lado, minha única família

— Você é que tem culpa. Quem lhe manda fazer

antes do Candinho e não tenho como retribuir. A tia

filhos e fugir depois? perguntou o moço.

Mônica não gosta muito do Cândido, ela acha que eu mereço alguém melhor, provavelmente um homem

Não consegui responder ele, eu estava lutando para

rico e branco, que não deixe nossa situação financeira

não ser puxada, mas não era possível. A porta do

chegar aonde estou agora.

senhor abriu, não parei de lutar, eu não aguentaria

Uma manhã, comecei a entrar em trabalho de parto,

viver se o futuro do meu filho acabasse sendo o

mas o bebê demoraria para chegar. As contrações

mesmo que o meu. Meu corpo cedeu ao estresse e

pararam por um tempo antes do Candinho sair; ele

houve um aborto, o fruto que eu cultivei entrou sem

tinha voltado muito tarde ontem então não tinha

vida nesse mundo.

falado com ele, então perguntei: — Cândido, preciso de dinheiro para comer antes de parir.

Eva Doberti Suarez

— Me desculpe Clara, ontem não consegui nada. — Candinho respondeu. — Então o que está fazendo? vá agora e não se atreva a voltar com os bolsos vazios — Eu disse

Pai contra mãe reinventado

tentando dar uma má motivação para que ele consiga algo para comer, mas ao mesmo tempo em um tom

Como a maioria das mulheres da minha época, sempre quis ter um filho, cuidá-lo, mas nunca desejei que seja na pobreza que me encontro agora. Meu marido, Cândido Neves é um bom homem, ele fica o dia todo fora de casa atrás de escravos fugitivos, não me orgulho do trabalho que tem, eu preferia que ele trabalhasse em algum

de medo de que ele ficasse bravo e me deixasse. Depois do Cândido sair, a tia Mônica olhou para mim e disse: — Clara, quando Cândido voltar vou falar seriamente com ele, para ele repensar a ideia de ir deixar o bebê na Roda dos enjeitados. Para ser sincera, aquilo me aliviou e me deixou pensando ao mesmo tempo. Se o nosso filho fosse

53


deixado na Roda dos enjeitados, ele teria uma

e sim na Roda dos enjeitados. Mas, quando acordei,

melhor condição de vida que nós não temos como

a primeira coisa que eu vi foi o bebê engatinhando

oferecer-lhe. Mas, ao mesmo tempo, a tia Mônica

pelo chão e olhei assustada e infeliz para o Cândido,

deixou a escolha de levar o bebê ou não nas mãos

que estava com um enorme sorriso no rosto que foi

do Candinho, não com a minha ajuda. E Cândido já se

se desmanchando ao ver minha decepção estam-

decidiu, ele não quer levá-lo e sinto que não posso

pada no rosto. Quando percebi que estranhou meu

falar nada para fazê-lo mudar de opinião, mesmo que

rosto, voltei com o meu rosto normal, sem emoções.

eu tenha carregado aquele bebê por nove meses com

Calmamente, perguntei:

o mínimo de comida que um ser humano precisa para

— O que aconteceu? Por que o bebê não está na

viver. Quando Cândido chegou, sem nada no bolso, eu

Roda dos enjeitados?

gritei com uma enorme dor:

— Peguei uma escrava e ganhei uma boa grana, não precisamos mais deixar nosso filho lá- Respondeu

— O BEBÊ ESTÁ NASCENDO AGORA!

Cândido, voltando com um enorme sorriso.

O bebê nasceu depois de longas horas, mas tia

— Como conseguiu? Como foi? - Perguntei como

Mônica foi rápida e disse:

costumava, fingindo me importar com o trabalho de

— Se não levar esse bebê amanhã de manhã para a

Candinho, de que não gostava.

Roda dos enjeitados, eu mesma o levarei!

Não gosto de violência, não sou contra nem a favor da

— Depois falamos sobre isso, não se passaram

escravidão, não opino, estou acostumada a somente

nem duas horas desde o nascimento do meu filho,

seguir a maioria, não contruir uma opinião própria;

deixe-me aproveitar — Respondeu o Cândido,

somente sei que racismo é algo estruturado e não

calmamente.

posso mudar isso, e, graças aos escravos fugitivos

Conseguia pensar somente no tempo. Quanto tempo

que o Cândido devolve para seus donos, ainda não

precisaria esperar para poder ter um pouquinho de

morri de fome.

paz? Qual seria o futuro do meu filho se ele fosse

— Uma fugitiva burra estava simplesmente andando

para a Roda dos enjeitados? Eu, tendo vivido na pele

pelas ruas e, quando peguei-a, começou a usar a

a sensação de não saber o porquê de meus pais não

desculpa de gravidez, é cada coisa que falam para

terem me querido… Como podia odiar ou amar tanto

fugir de suas obrigações! - Cândido explicou.

alguém, sem mesmo conhecê-lo? Com tudo que

— É — Respondi pensativa.

estou vivendo agora, acho que finalmente entendi

Fiquei pensativa, não sei se era verdade ou não; mas

meus pais, eu quero que meu filho tenha uma boa

essa mulher, imagino que estivesse lutando pelo seu

vida e sei que não posso lhe dar isso, talvez, só talvez,

filho, e eu, não. Decidi dar uma chance para esse bebê,

minha mãe pensasse do mesmo jeito.

não está indo uma maravilha mas também não uma

Depois de vinte e quatro horas em trabalho de parto,

porcaria; na pior das ocasiões acabo morrendo de

estava exausta, então fui dormir cedo, com o pecado

fome ou pior, perco minha essência e eu mesma no

de ir dormir esperando acordar sem o bebê pela casa,

caminho.

54


Francisco Priolli Xavier

de ter de cuidar de mim e de meu filho sozinha. Optei por esperar, e finalmente, minha vez havia chegado. — Estou livre, meu Deus do céu. -bradei por muitas vezes sozinha.

A busca

Por dias me mantive escondida nesse enorme silvei-

Senti o sangue escorrendo pelas minhas

ro. Estava agora na hora de ir ver meu amado, seu

pernas, e me lembrei de como cheguei

nome era Ajagunã, era alguém lindo, alto e forte com o coração maravilhoso, um homem doce e corajoso

até aqui. Amedrontava-me a sensação

que finalmente conheceria seu filho. O tal pequenino,

de ter tudo aquilo que foi conquistado

passava dias e noites esperneando e chutando diver-

sumindo, sendo de maneira tão inespe-

sos lugares em minha barriga.

rada. Tudo corria bem, mas de repente

— Quanto amor sinto por essa criança Deus, algo

e tragicamente, meu chão desabou,

indescritível.

e agora vinha a escassez de qualquer

— Decidi então que no dia seguinte caminharia em

mínima gota de esperança.

direção à cidade, e procuraria meu marido.

Depois de dias vivendo esta incessante fuga, estive

— Será amanhã então. Disse em voz alta e me pus a

pela primeira vez acompanhada de paz e tranqui-

dormir entre folhas e galhos.

lidade, é claro que não deveria me dar por vencida

Acordei com o sol batendo em minha cara durante a

pois, para viver uma vida de fugitiva, a necessidade

alvorada, levantei e decidi que já era hora de procurar

de manter o foco, os olhos abertos e a atenção me

Ajagunã pela cidade.

cobria da cabeça aos pés. Qualquer desleixo poderia

Quando a escuridão já estava quase tomando conta

me custar muito.

da paisagem por completo, avistei descendo por uma

Pensava sozinha, finalmente poderei reencontrar meu

longa rua, um cartaz com a silhueta de um homem

marido, homem este que plantou um pedacinho de

parecido com meu marido. Quem dera me tivessem

Deus em minha barriga. O pai de meu filho já havia

ensinado a ler, não entendia o que aquilo significava.

conseguido fugir do repugnante ser que, por cerca de

Mas uma voz me dizia que isso não era um bom

uma eternidade, nos prendia e maltratava. Ele pensou

sinal, acredito que fosse meu filho. Esse pensamento

em um plano, para que nós dois saíssemos daquele

fazia bastante sentido, dado ao fato de que já havia

lugar hediondo, infelizmente o plano não permitia

passado por vários outros cartazes, sempre com

uma saída simultânea, era preciso que um saísse de

números e silhuetas de pretos. Mantive a procura e

cada vez. Meu marido insistiu para que eu fosse a

agora já estava exausta. Me imaginei tendo de fazer

primeira a sair. Mas assim que descobri minha gravi-

isso todos os dias, pois o objetivo me parecia muito

dez, imaginei que não seria capaz de lidar com o fato

distante. Foi quando magicamente escutei uma voz

55


mesmos aparentavam já estar cientes da ocorrência

doce, vinda de trás de mim, e ela repetia:

que estava em andamento.

— Arminda, Arminda! —

Falhei na tentativa de explicar como meu senhor era

— Será que teria terminado minha procura? Será que

maldoso, um homem horrível e que quando chegasse,

havia encontrado Ajagunã?- pensei comigo mesma.

sem sombra de dúvidas seria recebida com uma

E no momento que me virei de costas caí em uma

porção de açoites.

desilusão, era um homem desconhecido, mas que exalava através de seu olhar, uma sensação de alívio

— Você é que tem culpa. Quem lhe manda fazer

e gratificação.

filhos e fugir depois?

Foi então que o miserável sacou uma corda de sua

Preferi nem responder a esta pergunta, apenas con-

algibeira, e amarrou meus pulsos uns aos outros, e

tinuei caminhando, e no momento em que reconheci

manteve para si um pedaço da corda, usado para me

uma parte do terreno, me desesperei, a ficha nunca

arrastar. Quando finalmente compreendi a situação,

havia caído com tanto impacto. Minha cabeça foi a

cai em mágoas e desespero, estava sendo levada

mil, tantos pensamentos, lembranças e sentimentos,

para meu senhor. Tentei correr, mas já não tinha

foram capazes de me dar uma última força, apoiei

energia nem força para cumprir essa tarefa. Nesse

meus pés em uma parede, e com muito esforço tentei

momento, dei-me por vencida, e entendi que a única

puxar a corda, de nada adiantou, apenas prolonguei o

opção seria implorar, implorar por minha vida e pelo

tempo até minha chegada.

meu sentimento de liberdade. Eu gritei, tentei, mas

Finalmente estava lá, arrasada, e desesperada, o

logo percebi que ninguém viria me ajudar, pedi pelo

homem bateu a porta, e contra minhas expectativas,

amor de Deus, mas mesmo assim, o homem me

meu senhor a atendeu. Quando vi sua imagem, minha

mantinha presa, e me forçava a caminhar.

pressão caiu, não conseguia entender sequer uma

— Estou grávida, meu senhor! Se Vossa Senhoria

palavra que fosse dita ao meu redor, ouvi alguns

tem algum filho, peço-lhe por amor dele que me

murmúrios mas não dava atenção, estava mais

solte; eu serei tua escrava, vou servi-lo pelo tempo

preocupada comigo, e com meu filho. Passando pelo

que quiser. Me solte, meu senhor moço! -tentei por

corredor, pouquíssimo tempo depois, desabei no

mais uma vez, porém assim como anteriormente, tive

chão, olhei para cima e vi a imagem embaçada, de

como resposta um puxão de corda e uma frase de

dois porcos, trocando não só uma, mas duas vidas por

discordância.

dinheiro.

— Siga! -o homem exclamava.

Por mais alguns momentos, escutei murmúrios, e me dei ao trabalho de me levantar, uma tarefa quase que

— Me solte! -disse enquanto fixava meus pés no

impossível. Senti muita dor, e muito sangue escorren-

chão.

do, me dei conta da situação, meu filho estava vindo

— Não quero demoras; siga!

ao mundo, porém vinha sem vida.

Via os olhares que observavam a situação, mas os

56


Gabriela Burza Barbera

com as costas doendo, e no dia seguinte quase não tinha força para levantar da cama. Podia ver pela expressão no rosto de Cândido quando ele chegava em casa que não tinha conseguido nenhum dinheiro.

Sem pai nem mãe

Mas ele não parava. Logo depois de jantar, saía de novo em busca de um escravo fugido.

Eu estava grávida. A criança que eu e Candinho tanto queríamos finalmente viria. Esperei meu marido chegar em casa e contei a notícia para ele, que a recebeu com grande felicidade. Logo em seguida, contamos à tia Mônica que ficou desorientada. Ela pensava que não conseguiríamos cuidar da criança, mas

As coisas continuaram a não melhorar. Tia Mônica dizia que Cândido precisava achar outro ofício, um que garantisse dinheiro. Ele já teve muitas oportunidades de conseguir algum trabalho melhor, mas não se manteve em nenhum deles. Conforme o tempo ia passando, eu podia sentir minha barriga crescendo, o bebê ficando cada vez mais pesado e a quantidade de comida diminuindo.

eu sabia que iríamos.

Candinho mal parava em casa e, quando voltava, o dinheiro ainda era muito pouco. O que iríamos fazer?

— Deus nos há de ajudar, titia.

Faltavam poucos meses para nosso filho nascer e mal

Comecei a trabalhar com mais vontade, tendo que

conseguíamos nos manter. O desespero tomou conta

fazer as costuras encomendadas e o enxoval do meu

de meu corpo conforme pensava no que poderia

filho, além de medir fraldas. Tia Mônica ajudava, mas

acontecer com nosso bebê se continuássemos desse

com má vontade, sempre reclamando do ofício de

jeito. Será que ele sobreviveria?

Cândido, que não estava rendendo muito dinheiro.

Mais um mês tinha se passado, o que significava

Candinho ficou bravo quando descobriu o que tia

que o bebê poderia nascer a qualquer momento. Fui

Mônica falou e discutiu com ela, dizendo que minha

até a cadeira que estava perto dos meus materiais

tia nunca tinha ficado um dia sem comer. Além disso,

de costura e ao me abaixar para pegá-los senti uma

insistiu que nós seríamos perfeitamente capazes de

coisa molhada descendo pelas minhas pernas. O bebê

cuidar de nosso filho e que logo tudo melhoraria no

estava vindo. Tia Mônica veio correndo e me levou

seu ofício.

para o quarto, deitando-me na cama. Logo em se-

Os dias que se seguiram não foram muito bons. A

guida, chamou algumas mulheres da vizinhança para

porção de comida estava ficando escassa e as dívidas

ajudar com o parto.

de Candinho estavam aumentando. Eu praticamente

Depois de um tempo, finalmente peguei meu filho

não tinha tempo de cuidar da roupa do meu marido,

no colo e minha alegria não poderia ser maior ao ver

pois a necessidade de fazer costuras para fora era

que era um menino. Ah! Candinho ficaria tão feliz com

muito maior. Todo dia, eu terminava muito cansada

57


aquilo. A criança era um menino, exatamente o sexo

filho? Mas será que ele viveria melhor lá, já que nem

que queríamos.

casa nós tínhamos?

Ouvi o barulho da porta de casa e sabia que era o

Os cinco dias acabaram. Estávamos nos preparando

Cândido. Chamei-o e ele apareceu no quarto logo em

para sair da casa. Não sabia o que iríamos fazer

seguida. O sorriso no rosto do meu marido só aumen-

quando saíssemos daqui, mas tia Mônica nos surpre-

tou, principalmente quando mostrei a ele o menino.

endeu, contando que tinha arrumado um lugar para

Mas minha felicidade foi, aos poucos, diminuindo

ficarmos, e me senti totalmente grata à minha tia por

quando as perguntas e preocupações que tive duran-

isso. Ao chegar no lugar, arrumamos nossas poucas

te a gravidez me atingiram novamente.

coisas no espaço, e descansamos.

Duas semanas se passaram, com muita agitação.

Passadas algumas horas, o bebê começou a chorar e

Cândido estava ficando ainda mais tempo fora

isso fez com que tia Mônica, novamente, nos dissesse

de casa em busca de escravos fugidos, mas sem

para mandar o menino para a Roda dos Enjeitados.

sucesso. Um dia, durante o jantar, a tia Mônica nos

Daquela vez, como nenhuma outra solução tinha

aconselhou a levar nosso filho para a Roda dos

aparecido, Candinho concordou. Ele me pediu para

Enjeitados, mas a ideia não foi bem recebida por meu

amamentar nosso filho, e percebi que era a última vez

marido, rejeitando-a na hora.

que iria segurá-lo no colo. Quando terminei, ele pegou o menino no colo e saiu, fazendo-me entender que

— Titia não fala por mal, Candinho - disse, na tentati-

eu nunca mais veria meu filho. Sem força para mais

va de fazê-lo se acalmar.

nada, me encostei na poltrona e dormi com um sono

— Por mal? - replicou tia Mônica - Por mal ou por

agitado.

bem, seja o que for, digo que é o melhor que vocês

Não sei por quanto tempo fiquei daquele jeito, acor-

podem fazer. Vocês devem tudo.

dando somente com o barulho da porta sendo aberta.

Não era mentira. As coisas estavam muito difíceis em

Alívio percorreu meu corpo quando vi Candinho

casa e… Meus pensamentos foram interrompidos por

entrando com nosso filho no colo e dinheiro na mão.

uma batida na porta. Era o dono da casa.

Não prestei atenção na história que ele contou,

— Venho pelos aluguéis vencidos. Não posso mais

somente na sensação de ter o meu filho nos braços

esperar. Eles devem ser pagos dentro de cinco dias ou

novamente.

todos vocês irão dormir na rua. Ao dizer isso, o homem saiu, e, logo em seguida, Candinho também. Fui para nosso quarto e me preparei para dormir. Ao sentar na cama, o pânico me atingiu e pensei no conselho da tia Mônica. Mandar meu filho para a Roda dos Enjeitados. Como eu poderia fazer tal coisa? Como poderia abrir mão do meu

58


Gustavo Penteado Gobe

Mônica, que logo nos falou: — Vocês, se tiverem um filho, morrem de fome. — Nossa Senhora nos dará de comer, dizia Clara. Mas isso não nos desanimou e um dia engravidamos.

Pai contra mãe

A notícia correu de vizinha a vizinha. Clara trabalhava

Há meio século, os escravos fugiam com

agora com mais vontade, e assim era preciso, uma

frequência. Eram muitos, e ninguém

vez que, além das costuras pagas, tinha de ir fazendo

gostava de ser escravizado. Quem perdia

com retalhos o enxoval da criança.

um escravo por fuga dava algum dinhei-

Tia Mônica não parava de nos atormentar e dizia

ro a quem o levasse. Punha anúncios

para deixar a criança na roda dos rejeitados quando

nas folhas públicas, com os sinais do

nascesse. Cada vez com mais dívidas eu procurava

fugido, o nome, a roupa, o defeito físico,

escravos em todo lugar, mas eram escassos. A natureza ia andando, o feto crescia, até fazer-se

se o tinha, o bairro por onde andava e a

pesado à mãe, antes de nascer. Chegou o oitavo mês,

quantia de gratificação.

mês de angústias e necessidades, menos ainda que

E eu, que vivia sempre com fome e sem dinheiro,

o nono, cuja narração dispenso também. Melhor é

acabei entrando para o ofício de pegar escravos

dizer somente os seus efeitos. Não podiam ser mais

fugidios. Não era nobre, mas garantia comida. Já tinha

amargos.

trabalhado em tipografia, em cartório, em loja, mas

— Não, tia Mônica! dizia para a Tia Mônica, recusando

nada durava e eu voltava a passar fome. Quando me

o conselho que me custa escrever, quanto mais ouvi-

apaixonei por Clara, que tinha 22 anos e morava com

-lo. Isso nunca!

uma tia, Mônica, e cosia com ela. Não cosia tanto

Se isso não fosse pouco, um dia o dono da casa,

que não namorasse o seu pouco, mas os namorados

credor de três meses de aluguel, veio em pessoa nos

apenas queriam matar o tempo; não tinham outro

ameaçar.

empenho. Queria casar, naturalmente. Era, como lhe dizia a tia, um pescar de caniço, a ver se o peixe

— Cinco dias ou rua! repetiu, metendo a mão no

pegava, mas o peixe passava de longe; algum que

ferrolho da porta e saindo.

parasse, era só para andar à roda da isca, mirá-la,

A situação era aguda. Não achávamos casa, nem

cheirá-la, deixá-la e ir a outras.

pessoa que nos emprestasse algum lugar. Foi Tia

Clara viu em mim o amor que esperava. E eu também

Mônica quem conseguiu um aposento para nós três

me apaixonei por ela. Nos casamos onze meses

em casa de uma senhora velha e rica, que lhe prome-

depois numa linda festa. Fomos morar na casa de Tia

teu emprestar os quartos baixos da casa, ao fundo da

59


cocheira, para os lados de um pátio.

– Você é que tem culpa. Quem lhe manda fazer filhos

Assim, mudamos e dois dias depois nasceu a crian-

e fugir depois? eu disse.

ça. Fiquei muito feliz e ao mesmo tempo triste. Tia

O senhor estava em casa, acudiu ao chamado e ao

Mônica insistiu em dar a criança à Roda. “Se você

rumor.

não a quer levar, deixe isso comigo; eu vou à Rua dos

– Aqui está a fujona, eu disse.

Barbonos.”

– É ela mesma.

Decidi que eu mesmo a levaria. Na noite que resolvi

– Meu senhor!

levar, queria passar o maior tempo possível com meu

– Anda, entra...

filho e fui andar pelas ruas da cidade. E sem querer vi uma escrava fugida, que ofereciam 100 réis pela

Arminda caiu no corredor. Ali mesmo o senhor da

captura.

escrava abriu a carteira e tirou os cem mil-réis de gra-

– Arminda! gritei, conforme a nomeava o anúncio que

tificação. Guardei as duas notas de cinquenta mil-réis,

tinha lido.

enquanto o senhor novamente dizia à escrava que entrasse. No chão, onde jazia, levada do medo e da

Arminda voltou-se. Foi só quando peguei em seus

dor, e após algum tempo de luta a escrava abortou.

braços que ela compreendeu e quis fugir. Era já

O fruto de algum tempo entrou sem vida neste

impossível.

mundo, entre os gemidos da mãe e os gestos de

– Estou grávida, meu senhor! exclamou. Se Vossa

desespero do dono.

Senhoria tem algum filho, peço-lhe por amor dele que me solte; eu serei tua escrava, vou servi-lo pelo

Voltei à farmácia onde tinha deixado meu filho,

tempo que quiser. Me solte, meu senhor moço!

agradeci depressa e mal, e saí às carreiras. Não para a Roda dos enjeitados, mas para a casa de emprés-

– Siga! repeti.

timo com o filho e os cem mil-réis de gratificação.

– Me solte!

Tia Mônica, ouvida a explicação, perdoou a volta do

– Não quero demoras; siga!

pequeno, uma vez que trazia os cem mil-réis.

Houve aqui luta, porque a escrava, gemendo, arrastava-se a si e ao filho. Quem passava ou estava à porta de uma loja, compreendia o que era e naturalmente não acudia. Arminda ia alegando que o senhor era muito mau, e provavelmente a castigaria com açoites, – coisa que, no estado em que ela estava, seria pior de sentir. Com certeza, ele lhe mandaria dar açoites.

60


Iolanda Magalhães Blanco

“também quem mandou engravidar em primeiro lugar

Pai contra mãe

semanas atrás. Para que uma criança vivesse, outra

“. Essa frase ficou ecoando em minha cabeça, ela estava grávida. Grávida como Clara estava algumas teve que sucumbir.

Estávamos todos reunidos, alegres, Clara

A imagem de um feto sem vida agora nítida na minha

tinha nosso filho em seus braços, chorava

cabeça, será que eu sou tão diferente de Arminda?

de felicidade pois não teria que se despedir

Quem sabe, a sua fuga, era nada mais nada menos,

do mesmo. Abraçava-o com vigor, as lágri-

que uma tentativa para ver a sua criança crescer, beijá-la, guardá-la, vê-la rir, crescer, engordar, pular....

mas contornando o nariz, sem conseguir

Assim como eu e Clara.

conter a emoção, apertando-o quase como

“Estou grávida, meu senhor! exclamou. Se Vossa

se quisesse espremer aquela pequena cria-

Senhoria tem algum filho, peço-lhe por amor dele

tura de amor. Sabia que essa euforia toda

que me solte; eu serei tua escrava, vou servi-lo pelo

seria passageira, logo o dinheiro da captura

tempo que quiser. Me solte, meu senhor moço!”, sua

de Arminda se esgotaria, e tia Mônica esta-

voz me assombra, como um grito de uma criança que

ria no meu ouvido novamente, dizendo que

nunca nem sequer iria nascer, por minha culpa.

o menino teria que ir.

Mas eu precisava do dinheiro, para que a minha criança crescesse, beijasse, risse, engordasse, pulasse. Fiz

Mônica não estava totalmente errada, precisáva-

o que precisava ser feito, meu trabalho capturar os

mos recuperar a casa e eu devia trazer o mínimo

escravos fujões, já o havia feito milhares de vezes,

de estabilidade para a minha família. Meu filho, mal

os avistava, seguia os negros e mulatos por um

havia chegado nesse mundo e já quase tivera que

período de tempo e em seguida os agarrava. Depois

me despedir dele, nem nome ele tinha ainda. Graças

de amarrados só deveria os levar para o lugar em que

ao bom Deus o dinheiro chegou a tempo, já estava

deveriam ficar, recebia a gratificação e ia embora. Por

a procura de Arminda a alguns dias, quando eu a vi

que desta vez foi diferente?

uma esperança pareceu se acender no meu peito. Os acontecimentos ainda vividos na minha memória,

Não sei, realmente não sei.

a mulata contorcendo-se no chão, o homem me

— Venha, Cândido, venha celebrar com seu filho, ouvi

entregando duas notas de cinquenta mil-réis, logo

Clara dizer.

em seguida o aborto. O fruto de algum tempo que

Olhei em sua direção, recebi meu filho com a mesma

entrou sem vida neste mundo, me lembrei da frase

fúria com que pegara a escrava fujona de há pouco,

dita apenas alguns momentos atrás, “nem todas as

fúria diversa, naturalmente, fúria de amor.

crianças vingam.”

Mas no fundo do meu coração senti algo, algo

De relance consegui ver Clara abençoando a fuga

diferente, remorso e culpa. Nem todas as crianças

da escrava, tia Mônica, que agora se encontrava

vingam, me bateu no coração.

com a criança nos braços, estava julgando a escrava,

61


Isabel Bersou Ruão

cheiro de meu filho, o calor de meu filho. Senti uma

Parto

Ele amamentou-se sem nem abrir os olhos deixando

Quando a primeira contração veio,

era… desconfortável, doeu um pouco no começo, mas

imediatamente senti medo, iria apenas

era incrivelmente gostoso. Porém, a cada mamada

mãozinha tocar a maçã do meu rosto, coloquei minha mão sobre a dele, querendo nunca soltar.

uma de suas mãos apoiada em meu seio. Amamentar

pari-lo para logo deixá-lo. Tentei ignorar

que meu filho dava, eu me sentia cada vez mais fria.

uma felicidade que crescia em mim por

Vi meu filho recém-nascido ser tirado de meus braços, colocado nos do pai, que o levaria para longe,

acreditar que teria um filho para ama-

sem nada a garantir que vingaria. Cândido abriu a

mentar, cuidar, ver crescer.

porta e o vento gélido os acolheu, vi os pequenos

Por mais que minhas razões fossem boas, não podia

olhos de meu garotinho tremerem com o súbito frio,

impedir o parto. Lembro de Tia Mônica chegar e me

minha única vontade era pegá-lo em meu colo nova-

ver encurvada, me apoiando em uma cadeira enquan-

mente e deixar que se esquentasse no calor junto ao

to eu segurava minha barriga durante uma contração

meu seio. Cândido não olhou para mim quando saiu.

dolorosa. Ela me ajudou a chegar até a cama, pegou

Senti meus braços pesarem como se estivessem

lençóis, subiu minha camisola, passou um pano com

sem vida ao meu lado. O lençol sujo de sangue ainda

água fria em minha testa. Encorajava-me a empurrar

estava na cama, emaranhado em minhas pernas.

e parecia não se incomodar com meus gritos de dor.

Estas, por sua vez, estavam nuas, com minha cami-

Mas eu não queria parir, deixar meu filho sair de meu

sola erguida até o quadril. Meus seios cheios de leite

ventre, onde estava seguro ao alcance de meu abraço.

tocavam o tecido fino da roupa, sem a chance de

Quando ele finalmente nasceu comecei a chorar e a

poderem se acostumar com a boca de uma criança.

rir, não acreditava que agora havia vindo ao mundo

Meus cabelos molhados de suor grudavam em meu

o bebê de quem eu era mãe. Mas, então, Tia Mônica

pescoço. Nada disso me incomodava, apenas o fato

pegou uma tesoura e cortou o cordão umbilical. Me

de meus braços estarem vazios sem meu bebê para

bateu um súbito desespero, parei de chorar e rir, nada

dar sentido à cena.

mais me ligava àquela criança.

Não tinha lhe dado um nome.

Tia Mônica levou-o até mim para que eu o ama-

Inesperadamente, senti meus olhos secos.

mentasse. Peguei meu filho com os dois braços e o aconcheguei junto de meu peito. Fechei os olhos ao beijar sua delicada cabeça e inspirei seu cheiro. O

62


João Dente

amigável. Claro que não se importariam com uma mulher escrava, mas as mudanças no país haviam surtido algum efeito. Eu ainda estava muito ferida

A mãe sem filho

de minha fuga, e precisei comprar alguns remédios em uma farmácia próxima. Eu tinha apenas alguns

A vida que eu tinha sempre foi muito difícil.

trocados que havia encontrado, então não deu para

A tortura de ser uma escrava no Brasil era

comprar muita coisa, ainda mais com a má vontade

talvez o maior sofrimento que se podia ter.

do vendedor. Quando estava saindo, percebi os

Passava por diversas torturas, ferros aos

anúncios de meu antigo senhor colocando um preço para quem me capturasse. Eu recolhi os anúncios que

pés e ao pescoço, máscaras que impediam a

consegui, sem parecer suspeita, mas já sabia que algo

alimentação e muitas chicotadas. Eu, como

de ruim estava para acontecer.

uma mulher grávida, precisava permanecer

Um dia, um homem me encontrou tentando pegar

em pé, mesmo que todas aquelas ativida-

outros remédios que faltavam, quando percebi a sua

des fossem interminavelmente exaustivas e

intenção de receber a recompensa por minha captura. Tentei fugir outra vez e aquela força dentro de mim

dolorosas.

havia voltado. Apesar de tudo que passei ainda tinha

O bebê que estava em minha barriga me trazia re-

vontade de viver e ver meu filho crescer. Mas daquela

pugnância, era o fruto do maior abuso que sofri em

vez não foi possível escapar.

minha vida, o qual não pretendo contar novamente.

O homem me capturou. Nessa hora, sabia que vol-

Aquele feto, ainda que me causasse entojo, fazia-me

taria à posse de meu antigo senhor. Minha última

compadecer por suas inúmeras dores que sentiria em

medida desesperada foi apelar para o lado pessoal,

sua vida.

contei-lhe de meu amor por meu filho, mas o homem

Um dia que estava na senzala, meu senhor distraiu-

estava destinado a pegar a recompensa por minha

-se, dando-me a possibilidade de escapar daquele

captura. Portanto, o que eu temia se tornou verdade,

lugar. Eu sabia que se fosse capturada o que acon-

ele me levou para o senhor de escravos. De volta

teceria comigo seria muito pior, mas não havia muito

àquele pesadelo fui punida com forte tortura, o que

caminho para tal acontecimento. Por isso aproveitei

causou a morte de meu filho.

o único sopro de esperança que eu ainda tinha e saí

O vazio se instaurou em minha alma e aquela espe-

correndo com todas as minhas forças. Cortei-me com

rança que surgia dentro de minha havia se esvaído.

arames e bati muitas partes de meu corpo, não era

Nas manchetes, bradavam o fim da escravidão, mas

uma fuga fácil mas eu continuei. Sabia que estava

sabia que eu nunca seria livre. Estaria sempre presa

escapando por mim e por aquela criança pois a força

no momento da morte de meu filho. Depois desse

que surgiu dentro de mim não era de uma pessoa só.

dia, mesmo com a abolição da escravatura, a saudade

Por fim, cheguei à uma cidade minimamente

tirou a disposição que vivia dentro de mim.

63


Lara Greger Tavares Rocha

vontade de participar também. Era um chamado, ele

Capitães da Areia outro fim

então chegaram João de Adão com seu companheiro

Quando Pedro Bala e os Capitães da areia

o grupo dos furadores de greve e Pedro ficou muito

queria aquilo mais do que tudo, pertencer àquela luta assim como seu pai um dia havia pertencido. Eis que Alberto e chamaram os capitães da areia para conter entusiasmado. Essa seria a oportunidade perfeita

resgataram Dora e a levaram para o trapi-

para que ele lutasse pela liberdade ao lado dos

che, eles perceberam que ela estava com

grevistas.

febre bem alta. Logo eles chamaram a mãe

Ele vai até o trapiche e conta a todos sobre o que João

de santo Don’Aninha para cuidar dela. Com

de Adão havia dito e junto com Professor ele bola um

o tempo ela começou a recuperar aquele

plano para conter os furadores de greve. Eles iriam

seu mesmo semblante alegre e rosado de

de madrugada onde se dividiram em três grupos, um chefiado por ele, outro por Professor e outro por João

sempre, não estava mais triste e nem aflita

Grande, levando o máximo de armas que tinham.

como quando estava no orfanato. Voltou a

— Se eu não voltar, é Dora quem vai chefiar vocês

ser a Dora que todos conheciam, Dora mãe,

ouviram bem!? - Pedro Bala disse com muita con-

irmã, e a tão amada noiva de Pedro, todos

fiança na coragem de Dora, e assim o plano seria

estavam felizes com sua volta.

executado na madrugada.

Passado muito tempo, com a volta de Dora, alguns

Estavam todos se preparando para ir quando Dora

membros do grupo começaram a buscar suas am-

disse a Pedro:

bições. Volta Seca com o apoio da mesma se tornou

— Obrigada por confiar em mim, mas por favor diga

um dos membros do bando de Lampião, Gato decidiu

que tu vai voltar, assim poderemos nos casar ainda

ir para Ilhéus junto com Dalva, Pirulito virou padre

um dia, tenho fé em você - ao ouvir isso ele apenas

com a ajuda do Padre José Pedro, Boa Vida virou um

depositou um curto beijo nos lábios dela e respondeu:

malandro conhecido nas ruas da Bahia. Tudo estava sendo encaminhado e os que continuavam no tra-

— Volto sim! - .

piche, Professor, João Grande, estavam sempre ao

Os fura greves atacaram e numericamente eles

lado de Pedro Bala, assim como Dora. O único que

estavam com uma vantagem muito maior que os

não havia encontrado nenhum caminho ou saída, era

Capitães da areia, mas, mesmo assim, os três grupos

o Sem-Pernas todo o ódio já o consumia, não havia

avançaram bravamente e lutaram. Pedro Bala lide-

lugar para ele. Ele deveria acabar com esse sofri-

rava o que ia na frente, abateu muitos do grupo dos

mento, dando um fim a sua vida, era o que ele estava

fura greves, até que, de repente, o líder dos furadores

determinado a fazer.

pegou Pedro Bala desprevenido com um tiro.

A greve havia começado na cidade, o barulho, os

Assim que os Capitães da areia viram que Pedro havia

protestos, tudo aquilo despertava em Pedro Bala a

sido atingido, avançaram com muita força para poder

64


Laura Martins Beatrice

vencer a batalha. No fim acabaram por afugentar os furadores. Professor e João Grande foram à procura do corpo de Pedro Bala no meio de tudo, assim como Dora. Quando o encontraram ele já estava morto, não

Ele contra mim

havia nada que pudesse ser feito. Como seu pai ele havia morrido defendendo a liberdade. Dora chorava desesperadamente, não conseguia acreditar naquilo, todos os Capitães da areia também choravam pela

Esta história começa quando eu conheci Cândido

morte de seu líder.

Neves, o homem pelo qual me apaixonei. Eu o conheci

No saveiro do Querido D-Deus o corpo do grande

em um baile, senti que ele poderia ser meu possível

capitão Pedro Bala sumia no meio do mar, morrera

marido. Cândido trabalhava pegando os escravos

por todos, por algo em que acreditava. orgulhou-se

que fugiam de seus donos, esse não era um trabalho

disso até o fim e, agora, os Capitães da areia teriam

estável, tinha vezes em que ele não conseguia pegar

uma nova chefe, Dora a quem Pedro havia depositado

os fujões, e outras nas quais ele voltava com muitos

toda confiança. Ela não sabia se teria forças para isso,

réis no bolso. Embora eu e minha tia Mônica preferís-

mas teria de fazê-lo. Ele confiou na coragem de sua

semos que ele fosse trabalhar com algo mais seguro,

amada e ela deveria deixá-lo orgulhoso.

ele disse que não conseguia.

Dora, mãe, irmã e ex noiva de Pedro Bala era agora a líder dos capitães da areia, cuidaria deles e os prote-

Logo depois do casamento ele veio morar com a

geria com sua vida. seu coração mandava-a cumprir

gente, tenho quase certeza de que minha tia não

com essa palavra e, para isso, ela sempre tinha a

estava confortável com ele ali, mas o que poderíamos

ajuda de Professor e João Grande, aqueles que a

fazer? Não tínhamos dinheiro, ela sabia disso, por isso

ajudaram desde o começo, Professor principalmente,

ela estava o tolerando. Quando estava tudo se encai-

pois seu amor por Dora ainda prevalecia. Ele a apoiava

xando dentro daquela casa, quando eu descobri que

em tudo, estava sempre lá para ela, e com o tempo

estava grávida, foi um misto de emoções, minha tia

isso foi o motivo para que Dora percebesse que não

estava preocupada com o fato de não termos como

via professor como apenas um irmão. Ela o amava, e não poderia mais esconder, já era passado muito

sustentar aquela criança, já meu marido não queria

tempo que havia amado Pedro e desde então seus

saber de mais nada ele só pensava em seu futuro

sentimentos por Professor vieram à tona.

filho. Eu estava dividida entre as duas opiniões, eu já

Quando ela os confessou, Professor se sentiu imen-

amava aquele filho com todo o meu coração, mas por

samente feliz, ser correspondido por Dora foi o que

outro lado eu sabia que não tínhamos dinheiro.

ele sempre quis, e faria o necessário para estar ao

O tempo foi passando e minha barriga crescendo, a

lado dela e cuidar dela sempre. Dora tornou-se uma

chegada do bebê estava se aproximando, e nesse

líder amada por todos.

meio tempo Cândido não tinha conseguido nenhum trabalho. Quando sentamos à mesa para jantar

65


Lívia Y Dantas

àquela noite, a minha tia deu a ideia de levarmos o nosso filho para a roda dos rejeitados. Cândido começou a brigar com a minha tia no mesmo segundo, eu

Enjeitado?

comecei a chorar, só de pensar que meu filho, minha maior paixão, ia ser tirado de mim, aquilo me dava

Lembro-me de quando casei-me com

pânico, não consegui mais ficar na mesa de jantar, me

Candinho, tia Mônica me alertara sobre

retirei e fui deitar torcendo para quando acordar não

sua fama de vadio mas não dei ouvidos,

lembram daquele ocorrido.

o desejo de casar era maior. Na época em

A tia Mônica não tirava a ideia de colocar a minha

que o conheci estava para fazer 22 anos,

criança na Roda dos rejeitados, ela dizia que devíamos

quase certa de que nunca me tornaria

deixar esse filho para trás, e, assim que tivéssemos dinheiro, teríamos um novo filho. Teve uma deter-

noiva, mãe. Porém, no baile de nosso

minada hora que ela parou de implorar e começou

primeiro encontro soube que ele se ca-

a ameaçar, cada vez ameaças maiores. Depois de

saria comigo, agarrei-o então com todas

sermos muito pressionados decidimos dar o bebê

as minhas forças. Na época ele arranjou

para a Roda dos rejeitados.

um emprego de entalhador para pedir a

O grande dia chegou, o dia em que ia ver a carinha do

minha mão, apesar da aparente insatis-

ser que eu mais amava no mundo, mas era também o

fação tia Mônica não deu palpite, aceitei

dia que iam arrancar o meu bebê de mim.

a proposta com imensurável satisfação. A

A dor era suportável mas muito forte, depois de meia

festa foi boa, as primeiras semanas foram

hora de muito esforço ele nasceu: era um menininho,

as mais felizes de minha vida até então.

meu maior amor. Pena que não consegui ficar admi-

Queríamos um filho, tia Mônica não gostou da ideia e

rando-o por muito tempo, minha tia o arrancou dos

dizia que uma criança só traria fome, principalmente

meus braços, e deu-o para Cândido levá-lo.

depois que Cândido deixou o ofício de entalhador. Além disso, os meses passavam e eu acabara de completar 23 anos, a ideia de não poder engravidar me aterrorizava constantemente. Sabia que antes da criança nascer ele deveria ter um emprego certo, como dizia titia. Não gostava da ideia de meu marido ser um caçador de escravos, um ofício tão violento, cruel, mas o que poderia fazer? Era o único ofício que aguentava e precisávamos do dinheiro. Quando descobri a gravidez tive medo, mas devo

66


ao certo por que me deixaram.

admitir um breve alívio. Uma criança, eu pensava, um sucessor para Candinho, um ser que seria amado e

De minha mãe, lembro de seu doce rosto, de seu

cuidado por pai e mãe. Animada, contei a notícia para

colo seguro e das cantigas que murmurava em meu

titia, ela, amarga, soltou premonições pessimistas.

ouvido quando eu chorava. Recordo menos ainda de

Não pude acreditar, como ela podia ser tão seca e

meu pai, não posso formar uma imagem nítida de seu

tão insensível? Me convenci de que era apenas uma

rosto. Sei que contava para meus irmãos histórias

maneira de extravasar o fato de nunca ter conseguido

sobre meu avô, que fugiu de seu senhor e conseguiu

ser mãe. Candinho, por outro lado, ficou encantado.

ganhar a vida na vila. Ao relembrar disso, confesso

Assim como eu, ele sabia que agora teria de trabalhar

que senti um pouco de vergonha de ser esposa de

mais do que nunca, então começou a passar mais

Candinho, mas não há nada que pudesse fazer agora,

horas longe de casa. Eu trabalhava incessantemente,

a barriga era grande e o tempo escasso.

tentando economizar tecido e retalhos para o enxoval

A cada dia que passava, sabia que estava mais

do bebê. Os meses se passavam e a barriga crescia,

próxima de perder meu filho. Sabia que se o medo

nossa situação piorava. Admito que em certas noites

se concretizasse, perderia Cândido e ele a mim. Tia

o medo de que o trabalho se revelasse inútil me

Mônica manteve-se, ou pelo menos parecia, firme

assombrava. Desse modo, me punha a trabalhar mais

dizendo que ela mesma levaria o rebento à roda.

e mais, se não para o meu filho, para o marido, eu

Como ela poderia levar uma criança a um lugar sem

pensava.

amor, onde ela não teria lar e precisaria trabalhar duro

Agora faltava pouco para o nascimento da criança.

desde cedo? me perguntava inconformada.

Passávamos fome, havíamos perdido a casa e Candinho

Certa tarde no celeiro emprestado, enquanto cosia, senti

incansavelmente procurava por anúncios de escravos

a criança, ela estava para chegar. Neste momento o de-

fugidos. Ele estava aflito, deixara de rir como antes, fora

sespero se apossou de meu corpo e se já não estivesse

humilhado. Eu, tola, não pensei nas consequências de

sentada, teria caído. Por longos segundos a respiração

uma gravidez. Estava tão preocupada em não acabar

me foi tomada. Tia Mônica, trabalhando ao meu lado,

como a tia Mônica, sozinha...fui egoísta. Mas seria

olhou-me séria e, calmamente, pôs-se a preparar as

mesmo tão ruim querer uma criança para amar como eu

coisas para a chegada da criança.

nunca havia sido? Pensava,enquanto cosia.

Continuei ali imóvel, meu filho está indo embora,

Titia dizia que teríamos de levar a criança para a roda

pensei. Como poderia chamá-lo de meu se antes

dos enjeitados, para que esta não sofresse por nossa

mesmo que pudesse conhecê-lo seria tirado de mim.

miséria. Mas como poderíamos, Candinho faria tudo

Como um reflexo, um pensamento cruel passou por

em seu alcance para evitar isso e a simples ideia de

minha mente ainda atônita, não quero que ele chegue.

meu filho crescer sem pai nem mãe me era repug-

Ao repetir essas palavras em minha cabeça fui

nante, um destino cruel. Fui criada por tia Mônica e

tomada por vergonha, raiva, era o meu filho e vê-lo vivo

muito poucas são as memórias de meus pais. Não sei

e saudável seria uma benção, deveria me conformar.

67


Luana Rayol

Quando dei por mim, tia Mônica ainda preparava-se para o parto e Candinho, que porventura encontrava-se em casa, olhou-me incrédulo, apreensivo. Por que não

O passado da mãe

pude segurar mais alguns dias? Me perguntava. Cândido poderia até ter arranjado algum dinheiro…

Aos dez anos de idade perdi meus pais,

As dores do parto já se anunciavam, porém tudo foi muito rápido. Minutos antes estava cosendo uma

foi um sentimento muito incomum para

fralda e agora olhava, nos braços de tia Mônica, a

mim, uma criança. Achava que já havia

criança mais bela que já vira e que jamais teria a

presenciado dores grandes como essa,

chance de usá-la. Ouvi seu choro, um alívio. “É um

mas claramente estava errada. Antes de

menino”, disse titia entregando-o em meus braços cansados. O apreciava envolvido em meu colo, ele se

os meus pais falecerem de tuberculose,

acalmara, seus olhos fechados e sua minúscula mão

eu trabalhava em uma fazenda de trigo

repousava em meu seio. Enquanto lágrimas escor-

para ajudar a manter a casa com eles,

riam pelo meu rosto, já molhado de suor, tive certeza de que admirava a coisa mais preciosa desse mundo.

não era remunerada o suficiente, mas

Dava de mamar enquanto Candinho e tia Mônica

pelo o menos ganhava o necessário para pôr comida na mesa.

acompanhavam atentamente cada movimento do bebê. Sabia que, quando aquele momento acabasse,

Depois que meus pais morreram minha tia chamada

um deles o levaria de mim. Apertei-o com mais força,

Mônica ficou com a minha custódia, já que ela era

mas não adiantou, ele adormeceu. Logo o senti

minha parente mais próxima, não era o que eu bem

sendo levado dos meus braços, seu peso diminuía

queria ou esperava, mas naquela época eu não esco-

mas a força que fazia para tentar mantê-lo perto

lhia nada, só aceitava.

de mim aumentava. Sabia que precisava deixá-lo ir, que poderia o machucar, mas não conseguia. As

Minha Tia não era exatamente aquela pessoa

lágrimas me bloquearam parte da visão e os soluços

adorável que aparentava, ela conseguia ser bem

me fizeram fraca. Senti um braço sobre meus ombros

inconveniente às vezes, nunca apoiou nenhum dos

que me impedia o movimento. Ouvi a porta do celeiro

meus relacionamentos e um de seus piores medos

bater, seu barulho ecoou no cômodo e pela minha

era descobrir que eu havia engravidado, ela sempre

cabeça só passava a imagem das malignas mãos

me falava que, se em algum dia eu engravidasse,

que o tomaram de meu colo. Reconheci, então, a voz

por mais que ela gostasse de crianças, ela iria me

de tia Mônica que sussurrava ao meu lado que tudo

expulsar de casa, não só pelo trabalho de cuidar de

ficaria melhor. Logo compreendi, fora Cândido quem

um recém-nascido, mas sim pelos altos custos de

tomara a criança de mim.

68


despesas que iriam ser necessárias para cuidar do

informou que eu deveria levar o meu filho para um or-

bebê.

fanato, e ainda falou isso com o meu marido. Depois disso nunca mais relatei nada da minha gravidez a ela.

Desde os 14 anos eu comecei a procurar pelo meu futuro marido. Sempre que trazia algum menino para

Nove meses depois, meu filho nasceu, foi uma alegria

a casa minha Tia ou reclamava ou perguntava sobre a

imensa em minha vida, a razão do meu viver. Já, para

fortuna dele. Eu tive vários namorados mas nenhum

Cândido, ele era só mais uma criança, nunca entendi

realmente durou, eu nunca conseguia sentir afeto o

o problema de afeto que meu marido tinha com seu

suficiente por eles, às vezes nem sequer me lembrava

próprio filho.

como se chamavam, isso talvez porque eu apenas os

Até que um dia durante meu sono, acordo com a

usava para preencher o vazio dentro de mim.

porta batendo, era Cândido, ele estava muito ofe-

Segui minha vida assim até conhecer Cândido Neves

gante e agitado, perguntei o que havia acontecido e

aos meus 20 anos, um homem que sobrevivia de

quando ouvi as palavras dele, desabei. Cândido estava

pegar escravos fugitivos. Ele não tinha um emprego

contando que não tinha escolha, uma questão de vida

fixo, e não ganhava bem, mas assim que o conheci

ou morte, ele havia levado meu filho para o orfanato.

percebi o quão importante ele iria ser para mim, con-

Passei dias deitada chorando me lamentando onde

versamos durante dois meses, namoramos durante

que eu errei, foi o mesmo sentimento de perder meus

4 meses e nos casamos depois de 2 anos. Por mais

pais, a vida que eu esperei nascer durante 9 meses

enfrentassemos dificuldades, nosso amor era maior,

tinha se ido em menos de 1 ano. Isso partiu meu

era tudo para mim e tudo para ele.

coração de tantas maneiras que nem conseguia mais olhar para Candido.

Depois de dois meses de casamento eu engravidei, não sabia se reagia bem ou mal, pensava na felicidade

Então, alguns meses depois juntei minhas coisas e

que traria em nossas vidas, mas pensava muito no

saí de casa em busca de uma vida melhor, abandonei

que minha tia me contava, que as despesas e o tra-

meu marido pois não aguentava mais olhar para ele

balho iriam me consumir e eu não saberia mais o que

e lembrar de meu filho. Até hoje penso nos dois e me

pensar. Assim que contei a notícia a Cândido ele teve

lembro dos poucos, mas na maioria, bons momentos

uma reação muito questionável, ele me falou:

que tivemos.

— Por mais que eu te ame muito, nós temos que pensar nas grandes despesas que essa criança trará, eu iria a amá-la, mas terei que passar mais tempo ausente para conseguir mais dinheiro. Já a minha tia , como esperado, chorou e falou que minha vida havia acabado, imediatamente, me

69


Lucas Watanabe A. P. Litvin

sempre me ajudava. No final da minha gravidez, tia

Pai contra mãe

Candinho perguntou:

Mônica veio conversar comigo e Candinho. Disse que deveríamos levar a criança à Roda dos enjeitados.

— Enjeitar o quê?

Trabalho e moro com a minha tia Mônica.

Candinho arregalou os olhos e até deu um soco na

Nós somos costureiras e pelo fato de

mesa de tanta raiva que ficou.

tanto trabalharmos, nem tenho tanto

Eu falei:

tempo para namorar. Minha tia sempre

— Titia não fala por mal, Candinho.

implicou com os meus namorados, às

Tia Mônica replicou. Por mal ou por bem, seja o que

vezes ela nem sabia o nome deles.

for, digo que é o melhor que vocês podem fazer. Vocês

Até que um dia eu vi um homem, estávamos num

não têm dinheiro e querem aumentar a família, ela

baile ele se chamava Cândido Neves, senti na hora

terminou a frase com um gesto de ombros, deu as

que ele poderia ser o meu marido, um marido verda-

costas e foi para o seu pequeno quarto.

deiro, único. Nessa época eu já tinha os meus 22 anos

Eu fiquei meio chocada, pois ela sempre insinuava que

e ele 30.

eu não deveria ter o bebê, mas dessa vez ela foi cruel.

Nos casamos uns 11 meses depois, mesmo com os

Dei a mão a Candinho, para ampará-lo e ele fez uma

meus amigos e minha tia achando que ele não era

careta e chamou a tia Mônica de maluca.

homem para mim. Só porque Cândido era um homem

Até que bateram na porta de casa. Era o dono da

pobre, cheio de dívidas e ele pegava escravos fugidos.

casa, veio cobrar os três meses de aluguel atrasado.

Mas é que ele era tão apaixonado por mim…

Ele veio receber os aluguéis vencidos, como não

Mesmo depois de casados, a tia Mônica não era

tínhamos o dinheiro ele falou que se, em cinco dias

a favor da nossa relação. Ela sempre implicava e

não pagássemos, teríamos que deixar o imóvel.

ainda dizia que se um dia eu tivesse um bebê que ele iria passar fome. E foi assim que aconteceu, eu

— Cinco dias ou rua! Ele repetiu e foi embora.

engravidei.

Candinho tentou de tudo, mas não conseguiu nenhum

Cândido também continuava o mesmo, sem um

dinheiro e os dias foram passando. A situação era

emprego, só ficava tentando e tentando arrumar algo,

aguda.

mas sempre voltava para casa sem um vintém.

Tia Mônica conseguiu arrumar um lugar para ficarmos,

Trabalho bastante, tem dias que nem tenho tempo

só que ela danada que é, não falou nada até o dia de sairmos da casa, para que Candinho se agilizasse. A casa

de remendar as roupas de Cândido, mas a tia Mônica

70


Luiza Varanda

emprestada era de uma velha senhora rica. Dois dias depois, meu filho nasceu e a tia Mônica insistia em dar meu bebê. Naquele mesmo dia

Dora, Dora

Candinho olhou todas as suas notas de escravos fugidos, para ver se conseguia alguma quantia. Não achou

Depois de dolorosos meses no orfanato,

nada que o ajudasse e ficou muito triste. Lembrou do

Dora com a ajuda dos meninos do tra-

tempo que morou no albergue.

piche foi capaz de fugir. Pedro Bala, que

Não tinha mais o que fazer, eu e Candinho decidimos

junto com os garotos pensou no plano

levar a criança. Meu bebê dormiu e meu marido levou

para salvá-la, não foi capaz de executá-

ele embora.

-lo, já que se encontrava muito doente

Num dos becos que andava, Candinho acabou avis-

depois de ser exposto às condições

tando um vulto de uma mulher. Percebeu que era

tortuosas no tempo em que viveu no

uma escrava fugida, a Arminda. Nisso, ele entrou numa farmácia e pediu ao farmacêutico que cuidasse

reformatório.

da criança que ele já viria buscá-la.

Dora chegava no trapiche quase sem conseguir

Candinho não pensou duas vezes, foi atrás da mulher

conter a ansiedade que transbordava dentro de si. Via de longe, Pedro Bala no fundo do trapiche.

e a pegou pelos braços. Foi arrastando a escrava pela

Aumentava a velocidade dos passos, e correu em

rua, em direção à rua da Alfândega, onde morava o

sua direção. Ela parou, frente a frente com Pedro. O

senhor da escrava.

rapaz se encontrava fraco, magro, pálido, quase sem

Chegando lá, Candinho entregou a escrava que foi

vida. Pedro Bala sentia a dor da morte arder pelo

reconhecida pelo senhor, e esse o gratificou com duas

corpo, mal conseguia andar. Mesmo assim, estava

notas de cinquenta mil-réis.

feliz por rever Dora, feliz como nunca estivera antes.

Ele voltou à farmácia, para buscar seu filho. Ao chegar

Não continha o sorriso que contagiava Sem-Pernas,

não o viu. Ficou desesperado, mas o farmacêutico

Pirulito e Professor.

disse que ele estava com sua família. Candinho pegou

O brilho nos olhos de Dora, ao reencontrar seu

seu filho de volta e foi para casa com os cem mil-réis

marido, quase iluminava o trapiche. Estava feliz. Os

no bolso.

dois se abraçaram, e Dora percebia nos olhos de Pedro uma dor sem fim, uma necessidade de paz. Um desejo de descanso, e de liberdade. Liberdade da dor. Ela sabe. Pedro já sentia dor nas pernas, e logo se sentou no chão, ao lado de Dora. Ele não conseguia se mover,

71


não tinha forças para dizer tudo o que desejava. Mas

observando a vela diminuir seu brilho, até apagar.

não era necessário. Dora entendia, era como se ela

Tudo fica escuro. Um silêncio profundo toma conta do

pudesse ouvir a voz de Pedro através dos olhos, que

trapiche. Dora se deixa sentir dor e chora. Não deixa,

agora úmidos deixavam cair lágrimas. Os meninos do

porém, que Pedro perceba. Chora silenciosamente, e

trapiche os deixaram sozinhos, procurando algo para

se controla para não deixar a dor ser maior que ela,

comer.

continuando em silêncio.

Iluminados por uma única vela que já chegava ao fim,

-Você vai ser uma boa médica- sussurra Pedro Bala.

Pedro chorou,. Os braços de Dora o envolviam na

Os dois dormiram de mãos dadas em meio às

tentativa de confortá-lo. Ela não demonstra senti-

lágrimas.

mento algum.

Dora acordou pouco tempo depois. Percebe a ausên-

— Tô doente, muito doente, sabe?-Diz Pedro Bala

cia dos suspiros de Pedro. Seus dedos estavam frios,

entre lágrimas.

assim como os pés. Ela sentou, e, na escuridão, tocou

Dora não responde. Continua sem expressão, como

o rosto dele, que estava gelado. Seu coração não batia

se estivesse morta. Ela sabe.

mais.

A menina lhe oferece um pouco d’água, e ele recusa.

Ela não chorou. Em meio ao silêncio, ela recolheu

Não consegue engolir, sente muita dor.

algumas roupas jogadas, enfiou numa bolsa, pegou um pedaço de pão e vestiu o casaco de Pedro que ela

A esposa se deita ao lado de Pedro e segura sua mão,

usava como travesseiro durante a noite. Dora beijou a

o menino ainda soluçando aproxima a mão de Dora

testa de Pedro Bala e saiu do trapiche, para sempre.

no rosto e suspira.

A menina andava com pressa e chega na estação

— O que você quer ser quando crescer? - pergunta

de trem da cidade. Aguardou o dia surgir sentada no

Dora.

banco da estação, sem conseguir pensar na morte de

Espantado com a pergunta, ele diz:

Pedro.

— Não sei, não vou crescer- e chora ainda mais[.]

Dora se passava facilmente por um garoto, devido às

Dora não se mostrou triste, não se mostrou preocu-

roupas largas e o cabelo bagunçado. Conseguiu pagar

pada com a temida morte de Pedro, o que o chamou

uma passagem com uns trocados que conseguira.

atenção.

Sentou no fundo do vagão, e não deixou espaço para

— Quero ser médica- disse ela — quero ajudar os

a tristeza, já que esta, a mataria também. Rumo à

outros.

uma nova vida.

Pedro com um olhar curioso, não disse nada. Ficam os dois olhando para o teto do trapiche,

72


Maria Eduarda Santos Costa

fui paciente o suficiente para aprender bem, assim só me restando garras para sofás e relevos comuns para cadeiras. No final acabei desistindo e decidi só voltar a trabalhar quando me casasse com Clara, o que não demorou muito para acontecer.

Um pai sem mãe

O nosso casamento foi a mais bela festa, os amigos

Em minha pobre vida, sentia carência de várias coisas, a minha pior e mais horrenda foi a minha carência por estabilidade, eu não conseguia ter um emprego fixo. Tudo começou comigo querendo aprender tipografia, desisti quando percebi logo cedo que eu precisava de algum tempo para compor bem, e que ainda não ganharia o bastante. O comércio me chamou a atenção logo depois, era uma carreira boa e com algum esforço consegui entrar de caixeiro para um armarinho. Porém com a obrigação de atender e servir a todos feria o meu orgulho, o que me fez desistir depois de cinco ou talvez seis semanas. Fiel de cartório, carteiro e outros empregos, todos deixados por mim depois de muito pouco tempo.

de Clara, acredito que menos por amizade que por

Então eu conheci a Clara e quando me vi apaixonado

perguntou Clara

por ela fiquei ainda mais determinado, ou desespe-

— Nascem, e acham sempre alguma coisa certa que

inveja, tentaram fazê-la desistir do casamento admitindo que a nossa relação seria uma bagunça, Clara e eu apenas ignoramos. Depois do casamento tudo se seguiu bem, eu e Clara, junto com sua Tia Mônica, estávamos felizes, nós nos entendemos e rimos sem esforço algum, nós poderíamos não ter muito do que comer, mas pelo menos estávamos felizes e mais, queríamos um filho. Um dia nossos sonhos se realizaram, estávamos esperando um bebê e enquanto eu e Clara riamos de felicidade com a notícia Tia Mônica ficou desorientada. Depois que soubemos da notícia eu e minha esposa estávamos trabalhando duro para conseguir dinheiro para o nosso filho, principalmente Clara que além de costuras para vender também costurava para o nosso filho. Tia Mônica mesmo que de má vontade nos ajudava, mas ainda conseguia tirar tempo para falar mal do meu ofício. — Vocês verão a triste vida, suspirava ela — Mas as outras crianças não nascem também?

rado, para procurar um emprego, acabei resolvendo

comer, ainda que pouco…

trabalhar no mesmo ofício de meu primo, quem

— Certa como?

estava vivendo de favor. Ser entalhador não parecia

— Certa, um emprego, um ofício, uma ocupação, mas

ser muito difícil, ainda mais quando já tinha aprendido

em que é que o pai dessa infeliz criatura que aí vem,

certas coisas, mas tudo se arruinou quando eu não

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gasta o tempo?

pela primeira vez eu fiquei preso em um emprego.

Sabendo dessa conversa, tentei confrontá-la e expli-

Quando Clara já estava do oitavo para o nono mês

car-lhe que nunca ficou um dia sem comer, enquanto

de gravidez, que tudo ficou ainda pior a ponto de Tia

ela continuava refutando meus argumentos.

Mônica ter uma idéia terrível, levar o bebe para à Roda do enjeitados. Eu não pude acreditar em suas palavras,

— Que quer então que eu faça, além do que faço?

não existia coisa mais dura do que pensar em tirar a

— Alguma coisa mais certa. Veja o marceneiro da

criança de dois jovens pais que queriam uma criança,

esquina, o homem do armarinho, o tipógrafo que casou

para beijá-la, guardá-la, vê-la rir, crescer, engordar,

sábado, todos têm um emprego certo… Não fique

pular. Não tinha coisa mais dura.

zangado; não digo que você seja vadio, mas a ocupação

Tudo piorou depois que o dono da casa, com três

que escolheu, é vaga. Você passa semanas sem vintém

meses de aluguel atrasado, bateu em nossa porta nos

— Sim, mas lá vem uma noite que compensa tudo, até

apenas cinco dias para pagar tudo que devemos. Sai

de sobra. Deus não me abandona, e preto fugido sabe

logo de casa para tentar pelo menos uma pequena

que comigo não brinca; quase nenhum resiste, muitos

quantia de dinheiro mas sem sorte, ao fim dos quatro

entregam-se logo.

dias fomos expulsos.

Assim como ofício de entalhador de vários outros,

Depois de expulsos nós só não fomos morar na rua

sendo eles melhores ou piores, eu desisti de todos eles

por causa de Tia Mônica, que conseguiu deixar nós três

até achar um que finalmente me chamou a atenção.

morando de favor na casa de uma velha rica, infeliz-

Pegar escravos fugidos me trouxe um encanto novo.

mente isso não durou muito tempo e logo tivemos

Eu não precisava ficar horas sentado fazendo sempre

que viver em favor de outras pessoas. No meio dessas

a mesma coisa. Esse ofício só exigia força, olho vivo,

mudanças meu filho nasceu e ao mesmo tempo em

paciência, coragem e um pedaço de corda. Eu lia os

que fiquei feliz também fiquei triste, já que Tia Mônica

anúncios, copiava os no meu bloco de notas e já saia os

ainda não havia mudado de ideia e depois de muito

procurando, o que não levava muito tempo. Era preciso

falar me fez concordar em dar o meu filho para a Roda

muita força, assim como muita habilidade. Mais de

na noite seguinte.

uma vez, a uma esquina, via passar um escravo como

Na noite daquele mesmo dia ainda olhei as minha

os outros, e descobria logo que estava fugindo, quem

notas de escravos, onde o fugitivo de mais valor era

era, o nome, o dono, a casa e a gratificação.

uma mulata aparentemente grávida, no começo pensei

Um dia os lucros começaram a escassear. Os escravos

em abandonar o caso mas depois que olhei melhor a

fugidos já não vinham como antes. Havia mãos novas

quantia que ganharia já me animei e na manhã do dia

e hábeis que faziam o trabalho melhor que eu. Minhas

seguinte me pus a procurá la.

dívidas começaram a subir, a vida ficou mais dura e

Sem sorte, voltei para casa desolado, quando cheguei

difícil.

ainda tentei convencer Tia Mônica a não fazer isso mas

Eu sinceramente não aguentava mais o meu ofício e

já era tarde demais, pedi que pelo menos me deixasse

queria trocar o mais rápido possível, mas eu não con-

segurar meu filho uma última vez, que foi prontamente

seguia achar um negócio que se aprendesse depressa,

concedido, peguei meu filho no colo e saí de casa

74


Maria Luísa Barbosa Nunes

andando sem rumo. Enquanto chegava ao final da rua resolvi entrar em um dos seus becos, quando cheguei ao seu final e resolvi virar avistei o vulto de uma mulher e quando

Mães sem filhos

olhei melhor vi que era a mulata fugida. Quando percebi quem era comecei a segui-la sorrateiramente e

Na minha juventude era esperado que

enquanto a seguia avistei uma farmácia onde entrei rapidamente e dei meu filho para o farmacêutico pe-

eu me casasse, tivesse filhos e cuidasse

dindo que cuidasse dele e não dando chance para ele

das tarefas domésticas, isso tudo não

responder sai novamente em busca da mulata.

era tão ruim, talvez eu até desejasse me

Capturá-la não foi tão difícil, acredito que por ser uma

casar, porém com alguém especial, que

gestante, ela tentou se soltar da corda onde a amarrei

me fizesse sentir saudades. Ao mesmo

mas sem sucesso e quando percebeu que a sua força não ajudaria começou a pedir para que eu a soltasse,

tempo nunca quis ser acorrentada a um

o que claramente não fiz. Visto que meu filho recém

casamento com homens muito mais

nascido ainda estava naquela farmácia à minha espera.

velhos do que eu e sem amor.

Assim que cheguei na casa de seu dono a mulata caiu

Sou órfã e fui criada pela minha tia Mônica, sendo

no chão enquanto seu patrão me dava o dinheiro.

assim criada sem afeto, mas sempre me esforcei para

Quando fui pago, a mulata que ainda estava no chão

ser educada aos seus olhos. Conforme cresci percebi

começou a ter um aborto.

que minha tia chamava atenção de diversos homens,

Eu acabei vendo todo o aborto acontecer e ver aquele

se tornando amante de muitos. Mesmo alguém

feto entrar sem vida neste mundo. Quando tudo

sendo considerada um pouco rebelde, sempre me

acabou eu sinceramente nem me importei com toda a

corrigia, desejava fortemente o meu casamento e que

situação e fui correndo buscar o meu filho na farmácia. Assim que cheguei há farmácia peguei o meu filho e fui

eu cumprisse deveres sendo uma mulher.

correndo de volta pra casa, quando cheguei contei tudo

Estou com vinte e dois anos e tive diversos pre-

para Clara e Tia Mônica o que tinha acontecido e mos-

tendentes para namoro, mas não amei nenhum,

trei os cem mil-réis que ganhei com a mulata. Beijava o

os homens somente se importavam com a minha

rosto do meu filho com lágrimas verdadeiras em meus

beleza, ou me viam como sua empregada. Apesar de

olhos, eu abençoava a fuga e não me importava com o

aceitar alguns namoros, não desejava me casar com

aborto.

qualquer um deles, e eles também não queriam se

— Nem todas as crianças vingam, disse batendo em

casar comigo.

meu coração.

Um dia encontrei um homem chamado Cândido Neves, nos tornamos próximos e apesar de ele não ter nada de especial e nem um emprego vantajoso,

75


tinha a impressão de que ele me via como sua namo-

a nossa situação. Com isso minha tia me aconselhou

rada e como alguém importante para ele. Minha tia

a deixar meu filho na Roda de Enjeitados. Em parte eu

Mônica provavelmente preferiria que eu me relacionas-

concordava com ela, pois não podia dar uma boa vida

se com homens mais bem-sucedidos, mas considerou

para ele, mas a notícia de ter um filho trouxe muita

Cândido aceitável e logo me casei com Candinho.

felicidade para mim e meu marido e não conseguimos simplesmente abandoná-lo. De qualquer forma, somen-

Tudo que Cândido Neves fazia era apenas sua obriga-

te Cândido e minha tia podiam decidir o destino do meu

ção como marido, mas acredito que todos os homens

filho, minhas falas nunca importaram naquela casa.

deveriam amar, cuidar de suas esposas e as verem como iguais. Eu procurava ter espaço nas decisões de

Com o ventre crescendo, a cada dia pensava sobre

família, tentava dar conselhos a meu marido e mostrar

o nascimento da minha criança, Candinho esperava

minha importância. Já ele era alguém perdido, percebi

ansiosamente para ter um filho e eu havia aceitado

que me amava, mas nunca tentou melhorar nosso

engravidar. Como pude ignorar minha tia? Sei que

relacionamento e suas finanças.

precisávamos deixá-lo no orfanato.

A cada dia tinha mais dúvidas sobre meu amor por ele,

O dia do parto chegou, além de passar pela dor física, o

tentava me distrair pensando que me casei por amor,

pensamento de abandoná-lo me atormentava. Nasceu

mas na verdade somente casei pelo mínimo de roman-

um menino lindo que se vivesse conosco, não duraria,

ce que me despertava e pela ideia de ser amada.

por isso não dei carinho e meu filho não conheceria o amor maternal, assim como eu.

Neves tentava vários empregos diferentes, mas nunca conseguia um trabalho fixo. Até que começou a tra-

Passados alguns dias, fomos despejados da casa,

balhar como caçador de escravos, em que caçava os

Cândido teve que entregar nosso filho a Roda, e de-

escravos fugitivos e devolvia para seus donos. Após

morou para voltar. Após isso ele chegou em casa com

um tempo, esse trabalho ficou comum e não foi mais

muito dinheiro e o nosso filho nos braços. Envolvi-me

necessário realizá-lo, como os impostos aumentavam

de alegria e meu parceiro disse que havia conseguido

dia a dia, não conseguimos mais nos sustentar como

devolver uma escrava ao dono por uma ótima quantia

antes. Com isso, comecei a me arrepender de nosso

de dinheiro e com isso conseguiu ficar com nosso filho.

casamento e, ao mesmo que Cândido desejava filhos,

Duvidei de como conseguiu fazer aquilo em tão pouco

não conseguia melhorar nossa condição financeira, eu

tempo e pedi uma explicação, ele me contou que já

sendo mulher não podia trabalhar e ainda minha tia me

havia visto a escrava encontrada, disse que ela estava

pressionava para não ter nenhum um filho.

grávida, mas, mesmo com pena, conseguiu entregá-la para o dono e a mulher foi obrigada a abortar.

Meses se passaram e chegou o momento tão esperado por Candinho, engravidei. Apesar da minha

Acredito que Cândido não teve pena da mulher, assim

felicidade de mãe, eu sabia que não estávamos com

como me disse, mas a questão era que teve que

boas condições financeiras para criar um filho, estáva-

escolher entre resgatar nosso filho e não capturar

mos morando de aluguel, o que complicou ainda mais

a escrava grávida. Meu esposo não se importava

76


com as mulheres e era indiferente aos escravos,

de escape. Sei que perdi meus pais cedo demais, não

até porque era assim, os perseguindo que ganhava

tenho quase nenhuma memória sobre eles, minha

dinheiro.

mãe infelizmente faleceu alguns dias após meu parto por uma gripe forte, e meu pai a seguiu um tempo

A maioria dos homens são como ele, sei que não

depois, vivi sempre com minha tia, minha única fa-

deveria me importar com a escrava sobre a qual

mília, e nunca pude aproveitar muito. Não sou rica, e

Cândido comentou, mas eu também sofri nas mãos

preciso trabalhar para não sermos expulsas de casa,

dos homens, vivi sem meus pais e fui criada para pro-

era bem cansativo. Enquanto passava pelas ruas fui

criar. Penso que a escrava foi criada como um objeto,

vendo em vários postes cartazes que diziam estar

consigo imaginar a dor de uma mãe sem o seu filho e

procurando escravos desaparecidos, lembro de já ter

o pior é que o culpado foi meu próprio marido.

ouvido falar em um homem que os seguia até achar e devolver aos donos, como meras propriedades. Parei de frente a um dos cartazes que chamou minha

Maria Luiza de Toledo Calil

atenção, nele estava escrito que um grande homem, que possuía várias terras e poder, perdeu um escravo

Eu contra eu mesma

muito importante para o trabalho. A descrição do

Acordei mais uma vez cansada, como

esquerda, e com os dois dentes debaixo faltando”,

escravo era: “procura - se um negro, manco da perna uma coisa meio repudiosa, mas sabia que esse

acontecia quando passava noites intei-

trabalho de encontrar escravos fugidos davam um

ras costurando roupas para os outros.

certo dinheiro aos homens com a mesma situação

Minha tia já estava acordada, ela costu-

que a minha. Lembro bem de já ter ouvido falar de

rava como eu, mas em uma carga menor

um tal de Cândido alguma coisa, ele caçava e devolvia

pela sua idade. Logo que saí da cama fui

os escravos aos seus donos, nunca o vi, mas tenho curiosidade.

comer o que me estava disponível. Sai

Comecei a ir mais rápido, pois precisava pegar os

de casa procurando um serviço, ou seja,

serviços e me arrumar para o baile que iria acontecer

fui bater de porta em porta perguntando

dentro de algumas horas. O baile é meio que uma

se alguém precisava de uma costureira.

tradição dessa região, algum morador disponibiliza a casa e todos vão para festejar, pelo que sei os únicos

Como de costume, enquanto passeava pelo meu

que o frequentam são pessoas que moram nessa

bairro fui sendo cortejada, alguns homens eu já

região, também não sei quem está organizando, fui

conhecia mas parecia que sempre surgiam mais,

convidada por um dos meus admiradores, não me

parecia até uma rotina. Fui andando e pensando em

agrada ir à festa acompanhada, mas não perderia por

qual rumo minha vida tinha levado, sobre como meus

nada. Já tinha um traje em mente, provavelmente

dias eram sempre os mesmos, e sem nenhum meio

77


usarei aquele vestido que eu mesma remendei,

onde todos estavam dançando. Músicos tocavam

lembro de ver uma senhora indo jogar fora um vesti-

uma linda melodia calma, que pela minha experiência

do todo rasgado e na mesma hora a grite - Não faça

normalmente é uma dança com um parceiro, me

isso com esse lindo vestido! - tadinha levou um belo

senti desanimada na hora, não tinha ninguém, e a

susto, mas a parei pois achei o tecido muito lindo,

pessoa que iria me acompanhar me esqueceu. Dei

era de um tipo de florado com mangas, eu peguei o

uma breve passada de olhos no local onde estava, e

vestido para mim e o concertei, nunca cheguei a usar

foi quando, encostado em uma parede, com uma cara

ele, essa vai ser uma ótima oportunidade.

não muito feliz, avistei um lindo homem, não sei o que aconteceu comigo, mas pela primeira vez um homem

Passei por muitas casas para ver se alguém precisava

me cativou, nunca me senti presa a ninguém, mas ele

do meu atendimento, e no final consegui pegar dois,

parecia diferente.

sendo eles um paletó de um homem de idade, e algumas meias de uma mulher jovem. Fui logo apressada

Fui me aproximando aos poucos, ele tinha um certo

ir me arrumar, sem antes óbvio finalizar a costura das

ar misterioso, percebi que ele olhava para mim com

meias, o paletó iria deixar para amanhã de manhã,

os mesmo brilhos eu o olhava, quando cheguei ao seu

coloquei o vestido em meu corpo e me senti linda,

lado pude ouvir sua pergunta:

não me senti cansada ou com sono, senti que possuía

— O que uma moça tão bela está nesta festa, e

muita energia, e que iria gastá la a noite inteira.

aparentemente desacompanhada?

Bem quando estava saindo encontrei minha tia

— Bom, minha doce companhia me deu um bolo,

— Lembre dos combinados, Clara, nada de trazer

então estou sozinha aqui, quer fazer uma companhia

nenhum homem aqui para casa e nem pense em

para mim? - dei meu típico sorriso no final.

chegar muito tarde, meia noite já está ótimo, vou

— Seria uma prazer, qual seu nome, querida?

estar te esperando — dei meu belo sorriso e a

— Fico muito feliz em te conhecer, prazer me chamo

abracei.

Clara, e o senhor?

Muito obrigada, tia, vou me divertir demais nesta

— Cândido, Cândido Neves - quando ele terminou

festa, não se preocupe, seguirei todas as regras, te

de falar o nome fiquei em choque, era aquele mesmo

amo.

homem que caçava escravos, sinto que até minha

Saí toda empolgada, tinha combinado com minha

boca abriu.

companhia de o encontrar na esquina da minha casa

— Nossa, que surpresa, já ouvi falar de você.

às oito e meio, fiquei esperando e esperando, quando

— Espero que tenham sido só coisas boas - ele me

o relógio bateu nove horas já tinha decidido que iria

esticou o braço para eu cruzar os meus no dele.

para a festa sozinha. A festa já tinha começado há um

Ele me levou até a pista de dança, para minha sorte

tempo, então quando cheguei já estava bem agitada,

as músicas lentas continuavam.

quase não conseguia me mover no meio da multidão.

Dançamos a noite inteira, foi perfeito, nunca me senti

Peguei um copo de água e fui diretamente para o local

tão bem com alguém, logo quando terminamos de

78


dançar o informei que precisava ir para casa, ele disse

Ele sabia que eu era órfã e que meus pais haviam

que acompanharia. Nós fomos de mãos dadas em

morrido quando eu era bem pequena e desde da

um grande silêncio, mas não aquele silêncio esquisito

morte de meus pais eu sempre morei com minha tia.

com um clima estranho, mas um silêncio bom, como

Acho que como eu havia perdido meus pais muito

se nós nos conhecêssemos há muito tempo.

nova desde de menor eu sempre sonhei em ter filhos, e sempre estar ao lado deles, algo que infelizmente

Ele me deixou em frente de casa, e eu estava com

não aconteceu comigo. Cândido nunca pareceu

um largo sorriso no rosto, senti uma enorme conexão

animado com essa ideia até porque a história de vida

com o rapaz que me acompanhava, eu certamente

dele era outra. Ele nunca teve boa relação com seus

tinha a vontade de o conhecer mais. Quando fui

pais nem com seus irmãos, então não via porque ter

entrar em casa ele me puxou e me deu um belo beijo

um filho. Por mais que fosse meu sonho, eu tentei

romântico, uma coisa bem clichê, mas eu amei, eu

deixar essa ideia de lado para não gerar brigas, mas

poderia falar para todos que eu realmente encontrei

eu sempre soube o que queria.

algum homem que prestava.

Depois de um tempo juntos eu comecei a me sentir estranha, me sentia enjoada, e eu estava fora de mim mesma, meu humor havia mudado e eu não sabia o que era. Foi quando pensei na possibilidade de estar

Mariana Krausz

grávida. Dois meses depois percebi que eu estava certa, e por um momento fiquei a pessoa mais feliz do mundo. Depois caiu minha ficha que eu tinha que

Pai contra mãe

contar para o Cândido e que ele certamente não ia gostar da ideia.

Quando conheci Cândido Neves, um

Eu demorei um tempo pensando em como iria contar

homem que trabalhava em pegar

a ele, pensava em tudo, no que eu poderia falar, em

escravos fugitivos, que não tinha um

qual seria sua reação, em possíveis brigas que iriam

emprego fixo e pelo seu trabalho não

acontecer, e isso me apavorava, eu não queria que

ganhava bem, foi como se depois de

nossa relação mudasse por causa de um sonho meu

alguns relacionamentos que não deram

e que por mais que ele tentasse disfarçar eu sabia

certo eu tivesse encontrado um homem

que não era o que ele queria.

que realmente eu viaum futuro. Com

Quando já era quase perceptível ver que eu estava grávida(,) eu fui contar a ele depois que ele voltasse

ele as coisas pareciam dar certo, eu me

do trabalho, quando ele chegou eu contei que estava

sentia à vontade ao seu lado. E depois de

grávida, não consegui identificar sua reação, ele ficou

muitos homens, ele parecia ser a pessoa

parado e não disse uma palavra. No dia seguinte, ele

certa. 79


não voltou do trabalho e no outro dia também não.

filho, a criança a qual eu segurei por nove meses, para

Depois de dois dias ele chegou em casa e a gente

um orfanato. Quando ele disse isso eu só paralisei e

conversou sobre o assunto. Ele disse que a gente pre-

fiquei sem reação nenhuma, depois que eu realmente

cisa pensar no que íamos fazer com um filho nosso

parei para pensar, que o homem na qual eu amava

chegando, aquelas palavras me deram um certo alívio

tirou meu filho de mim. Eu só conseguia pensar no

e ao mesmo tempo uma confusão na minha cabeça,

que seria do futuro do meu filho, só conseguia pensar

eu ficava me perguntando o que é que ele quis dizer

que ele se sentiria abandonado pelos próprios pais.

com “vamos pensar no que podemos fazer com

Depois desse dia eu não conseguia olhar na cara dele.

nosso filho”. Ele sabia que meu maior sonho era ser

Peguei minhas coisas e fui embora, sem nem pensar

mãe e estar presente na vida do meu filho.

duas vezes de tanta raiva e tristeza que eu estava

Os meses foram se passando e nosso filho nasceu,

sentindo. Fui morar com minha tia e nunca mais

era a criança mais linda que eu já tinha visto na vida,

queria nem ouvir falar em Cândido Neves, onde no

ninguém conseguia tirar o sorriso do meu rosto, eu

começo era o homem da minha vida e no final era o

estava muito feliz e mais feliz ainda porque por incrí-

homem que tirou um pedaço de mim.

vel que pareça, parecia que o Cândido estava feliz com o nascimento do nosso filho. Com o tempo se passando e nosso filho com quatro

Nina Schnaider Redondo

meses, eu via meu marido muito cansado, ele não era mais aquele homem animado que eu tinha me apaixonado. Naquele dia eu acordei, porém alguma coisa havia acontecido, eu sempre acordava com o som do

Estado contra mãe

choro do meu filho e nesse dia não ouvi nada, quando levantei da cama fui ver meu filho como de costume,

— Arminda! - bradou uma voz masculina

ele não estava lá, nem ele nem o Cândido.

atrás de mim.

O que pensei foi que ele deveria ter levado nosso filho para dar uma volta. O dia foi se passando, já era

Quando me virei, dei de cara com um

quase de noite quando Cândido chegou em casa ele

homem branco, tirando uma corda da

não estava com nosso filho, foi nessa hora que eu co-

algibeira, a poucos passos de distância.

mecei a entrar em desespero. Ele me acalmou e disse

Comecei a correr instintivamente, mas

o que ele tinha feito. Ele falou que não aguentava

senti-o agarrar meu braço com força e

mais pensar que tinha que cuidar de uma criança, ele falou que eu sabia que ele nunca quis ter filhos, e que

atar meus pulsos.

só aguentou esses nove meses porque pensava que

Era isso o que eu mais temia. Um de

poderia mudar de ideia, mas não mudou. Ele deu meu

meus principais pesadelos estava se 80


tornando realidade. Não conseguia

lojas olhavam curiosos através das vitrines, os que passavam lançavam-me um olhar de indiferença ou

processar o que estava acontecendo.

nojo. Ninguém viria me acudir.

Foi tudo muito rápido. Desespero correu

Eu faria qualquer coisa para não voltar para o lugar de

pelas minhas veias e me paralisou.

onde fugi, para que meu filho não tivesse de aturar o

Alguém estava gritando. Talvez fosse eu.

que aturei, para que ele vivesse.

Tudo parecia lento e acelerado demais,

— Meu senhor é muito mau, senhor moço! Ele vai me

fiquei tonta e comecei a suar dema-

castigar com a vara e o açoite! Por favor!

siadamente e minhas pernas pareciam

Eu estava começando a tremer e reconhecer as

prestes a ceder.

vielas, vias e calçadas das redondezas da horrível

Quando consegui recobrar parte de meus senti-

casa onde passei quase toda a minha vida. Diversas e

dos, parei de berrar. Ninguém iria me ajudar. Então

aterrorizantes lembranças também vinham se aproxi-

comecei a implorar para o homem que estava me

mando a cada passo, e eu não conseguiria...

arrastando pelas ruas que me soltasse, pelo amor

— Você é que tem culpa. — A fala do homem que-

de Deus! Não poderia voltar para aquela casa. Não

brou meus pensamentos. — Quem lhe manda fazer

aguentaria.

filhos e fugir depois?

— Estou grávida, meu senhor! — Ouvi uma angústia

Eu queria esgoelar várias verdades para meu captu-

cristalina em minha súplica. — Se Vossa Senhoria

rador, mas, no momento, sabendo que iriam apenas

tem algum filho, peço-lhe por amor dele que me

irritá-lo, não disse nada.

solte; eu serei sua escrava, vou servi-lo pelo tempo

Alcançamos a esquina da residência do homem que

que quiser. Me solte, meu senhor moço!

tantas vezes me machucou e eu entrei em completo

— Siga! o moço gritou.

desespero; enganchei meus pés numa parede e tentei

Eu me contorci.

recuar com o máximo de força que me restava, mas

— Me solte!

o homem, que era muito forte e estava decidido a me entregar a qualquer custo, me arrancou do ponto

— Não quero demoras; siga!

onde empaquei.

Eu roguei, voltei a berrar, esperneei, tentei lutar e me

Já estava arquejando, praticamente sem conseguir

soltar… nada adiantou. Ele apenas apertou o passo e

me sustentar de pé, quando fui empurrada pelos

deixou o aperto da corda ainda mais firme. Continuei

últimos metros até a porta da frente do casario. Meus

bradando e relutando; era tudo o que eu podia fazer.

joelhos, apesar de todo o meu esforço, se enrola-

Enquanto estava sendo arrastada pelos becos e ruas,

ram. A única alternativa que me restava era voltar

as pessoas em volta assistiam. Os que estavam nas

a implorar, mas seria inútil. A porta já estava sendo

81


Rafael Coutinho Talocchi

destrancada, e reconheci a silhueta que surgiu no batente. — Aqui está a fujona — disse o homem que me puxou pelo que pareceu uma eternidade de volta para

Mãe contra o pai

esse lugar.

Cândido levava meu filho para o que para mim sig-

— É ela mesma. — falou a voz que me atormenta há

nificava a morte. Ele ia andando pelas ruas até onde

tantos anos.

eu não pudesse mais vê-lo, com meu filho no colo.

As coisas passaram a ser um borrão de imagens

Eu tinha consciência que não o veria mais, que ele iria

e sons, e tive a impressão de que os dois homens

embora para sempre e que nunca, jamais conseguiria

imundos continuaram trocando palavras, mas só

esquecê-lo. Como deixei isso acontecer? Me pergun-

consegui enxergar e ouvir com mais nitidez, ainda que

tei. Então comecei a refletir sobre meu passado.

tudo parecesse ocorrer de forma vagarosa demais,

Não me lembrava de meus pais, lembrava apenas

quando caí, de alguma forma, no chão do corredor de

de sempre ter estado com minha tia Mônica. Por

entrada.

mais que não me lembrasse de nada, sabia que nem

Só então percebi que havia uma sensação estranha

sempre havia sido daquela forma. Certa vez em uma

entre minhas pernas, algum líquido escorrendo por

tarde qualquer estava conversando com tia Mônica

elas e uma dor que se assemelhava às que sentia

e o assunto se tornou o foco da conversa, ela me

durante meus incômodos mensais, só que mais

contou sobre meu passado antes de estar com ela.

intensa. Mas, naquele momento, só conseguia prestar

Contou que antes de estar com ela, eu morava com

atenção no dinheiro sendo passado de uma mão à

meus pais que eram de extrema pobreza. Quando

outra e ouvir, ainda que parecesse distante, a voz

nasci, eles não tinham condições de cuidar de mim e

mais repulsiva que conheço me mandando entrar.

por isso a colocaram na roda dos enjeitados, que foi

Estava sendo puxada pela gola de meu vestido

onde a tia Mônica acabou me adotando.

surrado enquanto tentava absorver o que estava

Desde pequena, sempre morei com a tia Mônica.

acontecendo. No esforço que fiz para levantar, o

Quando criança, costumava brincar com as outras

sangue escorreu entre minhas coxas. Sabia o que isso

crianças da região e tinha lembranças de que minha

significava, já tinha visto outras mulheres passarem

infância havia sido muito boa. O tempo passava e eu

por isso.

estava me tornando mais velha e agora começava a

Meu filho não haveria de vingar. Chegou ao mundo

me interessar em ter namorados e encontrar alguém

como uma massa disforme de líquidos e materiais

para me casar. Nunca cheguei a me envolver em

orgânicos. Morto.

algum relacionamento sério. Tive vários namorados, porém nenhum deles se intereressava muito por mim

Assassinado.

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e nem eu me interessava muito por eles também.

puro sofrimento e a demora de Cândido só piorava as

Quando a noite caia me recolhia para as costuras.

coisas.

Passei anos repetindo este ciclo e já estava exausta.

De repente, vi Cândido bem longe ainda retornando

Certa vez, encontrei um homem chamado Cândido

com nosso filho no colo. Não conseguia compreender

Neves que à primeira vista não era diferente dos

tal situação, pois para mim estava claro que nunca

outros, porém após conhecê-lo melhor comecei a me

mais veria meu filho. Fui tomada por uma alegria que

interessar por ele. Outro motivo pelo qual estava com

jamais havia sentido. Não conseguia me acalmar de

mais disposição a me comprometer em um relacio-

tanta ansiedade para ter meu filho de volta.

namento com Cândido era que já estava cansada de

Quando Cândido chegou, perguntei-lhe como ele

ficar sozinha e nunca ter algo sério. Cândido era um

havia feito para não perder nosso filho e ele começou

homem razoavelmente bonito, mas não tinha quase

a me explicar.

nenhum dinheiro. Era muito pobre e trabalhava como caçador de escravos. Era um trabalho que exigia

Ele me contou que no caminho para a roda, encontrou

muito esforço físico e pouco recompensado. Mesmo

uma escrava que havia fugido de seu senhor e estava

assim acabei casando com Cândido.

tentando escapar. Ele não perdendo tempo partiu para a captura e pegou a escrava, contou também

Tia Mônica não gostava muito de Cândido, já que

que a escrava estava grávida e que na captura acabou

quem sempre tinha que bancar as contas da casa era

perdendo seu filho.

ela. O tempo foi passando e eu acabei engravidando. Mantive segredo por muito tempo, porém certo dia a

Com esta notícia, perdi minha alegria e fui tomada por

criança nasceu e não foi mais possível manter segre-

um forte sentimento de culpa, era como se tivesse

do. Com a notícia, minha tia ficou indignada e sabia

trocado meu filho pelo da negra e que por mais que

que era impossível manter mais uma pessoa naquela

a moça fosse apenas uma escrava, ela também era

casa onde ninguém tinha dinheiro. Com isso ela nos

mãe e agora neste exato momento estava sentindo a

expulsou de casa e disse que só poderíamos voltar

mesma dor insuportável e eterna que eu havia senti-

se colocássemos a criança na roda dos enjeitados.

do quando levaram meu filho.

Eu não tinha capacidade de fazer isso, já que para mim seria como matar meu próprio filho já que nunca mais o veria. Mas não teve jeito, Tia Mônica estava certa. Nós não tínhamos condições de criar aquela criança. Então Cândido pegou meu filho e o levou em direção a roda dos enjeitados. Eu não me aguentei de dor e comecei a chorar incessavelmente, pensei que ia morrer de um ataque do coração. Foram horas de

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Rafael Dijigov Cavalcanti

dono da terra. Porém, é uma questão de tempo até que sejamos mortos pela situação de trabalho escravo a que estamos submetidos ou tentamos fugir em um sonho de uma vida melhor.

Duas Escolhas um Final

Minha mãe se chama Maria, uma senhora de 50

Nasci já na lavoura, nasci já presa a um

anos, que nem Deus explica como está viva, pois

senhor que não demonstrava nenhum

diariamente era maltratada além das tentativas incessantes de conseguir sua alforria. Nunca conheci

respeito por mim e tampouco aos meus

meu pai e quando era criança cheguei a perguntar

semelhantes na mesma situação. Enfim,

quem era meu pai, o que aconteceu com ele e

nascer como uma escrava é muito mais

diversas outras perguntas. Porém, minha mãe só

do que não ter a liberdade, ser escravo

respondia que não tinha ideia onde o homem estava,

é não ter nenhuma possibilidade [de]

até que então, quando completei meus 15 anos de vida, ela finalmente me explicou falando:

sonhar e pensar em um futuro mini-

— ”Ele era um homem forte, esbelto e de uma in-

mamente melhor, até nossa fala era

teligência tremenda, entretanto certo dia ele estava

tapada, pela “máscara de flandres”, que

planejando fugir comigo, enquanto eu ainda estava

de acordo com eles era para nossa “edu-

grávida de você, estava tudo pronto. O plano era

cação”. Os mesmos que tiraram nossas

que ele iria primeiro e depois eu o seguiria, alguns

crenças, culturas e vidas, têm a visão de

homens o avistaram, então o pegaram e mataram brutalmente.”

que nós somos o povo a ser “educado”, que ironia.

Então ela concluiu dizendo que não importava o que

Recebi o nome de Arminda, porém desde meus

todas as tentativas mal sucedidas de fuga e suas

acontecesse eu não deveria fugir. Levando em conta

primeiros anos, percebi que, de humano, só tinha o

punições, eu e minha mãe decidimos continuar com

nome mesmo. Via minha mãe, irmãos e outros traba-

nossa vida na lavoura.

lhando diariamente de forma mais de que desumana,

Os anos foram se passando e eu encontrei o João,

além das constantes mortes e torturas para os que

um homem lindo, forte e nos apaixonamos à primeira

“desrespeitassem as regras”, como, por exemplo,

vista. Então começamos a ter um relacionamento

tentar fugir. Já conheci vários que tentaram fugir deste

escondido de todos, porém um dia ele foi assassinado

inferno, porém todos foram caçados por homens que

pelo senhor do engenho, pois ele foi acusado de ter

se chamavam caçadores de escravos e quando pegos

roubado algumas mercadorias. Assim, dias antes

eram duramente castigados e até assassinados pelo

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Rafael Fonzaghi Barros

de sua execução, eu descobri que eu estava grávida, então ele me disse: — Por favor, fuja com nossa criança, ela não merece viver está miséria por uma escolha nossa.

O dinheiro manda

Logo, comecei a pensar no plano, comecei a pensar

Cândido Neves é o meu marido, mas nós

a vida que meu filho iria ter se eu não fugisse, outro escravo na mão desse sistema, outro ser humano a

o chamamos de Candinho. Esse homem

ser explorado, portanto, não pensei duas vezes, em

cedeu à pobreza quando adquiriu o ofício

uma quarta-feira a noite iria fugir e escapar por um

de pegar escravos fugidos, mas tinha

campo. Assim foi, quando chegou a noite eu comecei

um defeito grave, ele não aguentava

minha fuga. Minha mãe me ajudou a saltar um pe-

nenhum emprego ou ofício. Começou

queno portão no fundo da fazenda e então comecei

por querer aprender tipografia, porém

a fugir para um campo. Estava correndo como podia, porém, avistei um homem grande e forte correndo

viu que era preciso algum tempo para

em minha direção e gritando. Tentei escapar, porém,

compor bem, e ainda assim talvez não

fui capturada, tentei o lutar e implorei que não me

ganhasse o bastante, foi o que ele disse

entregasse, me ofereci para ser escrava do homem,

a si mesmo. O comércio chamou-lhe

mas ele me respondeu com a frase

a atenção, era uma carreira boa. Com

— Decides ter filho e ainda tenta fugir, irá sofrer as

algum esforço entrou de caixeiro para

consequências.

um armarinho. A obrigação, porém, de

Então ele me levou de volta para a terra do dono.

atender e servir a todos feria-o na corda

Ainda tentava me debater, arranhar para tentar

do orgulho, e ao cabo de cinco ou seis

alguma fuga, porém nada funcionou. Então fui jogada

semanas estava na rua por sua vontade.

em uma sala e espancada até que eu abortei meu

Fiel de cartório, contínuo de uma repar-

filho. Estava desolada no chão sangrando e abraçando meu bebê que nem chegou a dar um suspiro, e

tição anexa ao Ministério do Império,

junto dele se foi minha vontade de viver.

carteiro e outros empregos foram deixados pouco depois de obtidos. Quando nós nos apaixonamos não tínhamos mais do que dívidas, ele ainda morava com seu primo, entalhador de ofício. Depois de várias tentativas de obter um emprego, ele resolveu adotar o ofício do primo,

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de que aliás já tomou algumas lições. Não lhe custou

desejo de ter um filho. Quando percebi que estava

apanhar outras, mas, querendo aprender depressa,

grávida comecei a medir fraldas, costurar roupinhas

aprendeu mal. Não fazia obras finas nem complica-

junto com minha tia, mesmo ela fazendo com má

das, apenas garras para sofás e relevos comuns para

vontade. A notícia se espalhou rapidamente pela a

cadeiras. Queria ter que trabalhar quando casasse, e o

vizinhança.

nosso casamento não demorou muito.

Minha tia continuava falando da ruim vida que nós

Candinho tinha 30 anos, eu tinha vinte e dois. Eu era

teríamos, falando também que as crianças nascem e

órfã, morava com minha tia chamada Mônica, que

acham sempre alguma coisa certa que comer, ainda

costurava junto comigo. Eu não costurava tanto ao

que pouco. Perguntei o que ela quis dizer com “certa”

ponto de não namorar, mas os namorados apenas

ela disse que certa, um emprego, um ofício, uma ocu-

queriam matar o tempo; não tinham outro empenho.

pação, mas em que é que o pai dessa infeliz criatura

Passavam às tardes, olhavam muito para mim, e eu

que aí vem gasta o tempo.

para eles, até que a noite me fazia recolher para a

Candinho, quando soube da advertência que minha

costura. O que eu notava é que nenhum deles dei-

tia fez a ele, foi ter com a tia, não áspero mas muito

xava-me saudades nem me acendia desejos. Queria

menos manso que de costume, e lhe perguntou se já

casar, naturalmente. Era, como dizia minha tia, um

algum dia deixaria de comer.

pescar de caniço, a ver se o peixe pegava, mas o peixe

Candinho perdera já o ofício de entalhador, como abrir

passava de longe; algum que parasse, era só para

mão de outros muitos, melhores ou piores. Pegar

andar à roda da isca, mirá-la, cheirá-la, deixá-la e ir a

escravos fugidos trouxe-lhe um encanto novo. Não

outras.

obrigava a ficar longas horas sentado. Só exigia força,

O amor traz sobrescritos. Quando vi Cândido Neves,

olho vivo, paciência, coragem e um pedaço de corda.

senti que era este o possível marido, o marido ver-

Ele lia os anúncios, copiava-os, metia-os no bolso

dadeiro e único. O encontro deu-se em um baile, o

e saía às pesquisas. Tinha boa memória. Fixados os

casamento fez-se onze meses depois, e foi a mais

sinais e os costumes de um escravo fugido, gastava

bela festa das relações dos noivos. Minhas “amigas”,

pouco tempo em achá-lo, segurá-lo, amarrá-lo e

menos por amizade que por inveja, tentaram me

levá-lo. A força era muita, a agilidade também. Mais

avisar do passo que ia dar.

de uma vez, a uma esquina, conversando de coisas

Eu e Candinho queríamos um filho, mas minha tia

remotas, via passar um escravo como os outros,

logo que chegamos à casa pobre em que nos abriga-

e descobria logo que ia fugido, quem era, o nome,

mos depois do casamento nos avisou dos possíveis

o dono, a casa deste e a gratificação; interrompia

filhos. Ela me disse que se tivéssemos um filho mor-

a conversa e ia atrás do vicioso. Não o apanhava

reremos de fome. Mas disse a ela que nossa senhora

logo, espreitava lugar azado, e de um salto tinha a

nos dará de comer.

gratificação nas mãos. Nem sempre saía sem sangue, as unhas e os dentes do outro trabalhavam, mas

Mesmo com nossa vida pobre não descartamos o

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geralmente ele os vencia sem o menor arranhão.

senhora velha e rica. Dois dias depois nasceu o meu filho lindo, meu marido ficou muito feliz e triste ao

Um dia os lucros entraram a escassear. Os escravos

mesmo tempo. Tia Mônica insistiu em dar a criança à

fugidos não vinham já, como dantes, meter-se nas

Roda, mas Candinho pediu que não, que esperasse,

mãos de Candinho. Como o negócio crescesse, mais

que ele mesmo a levaria. Nós desejamos um menino

de um desempregado pegou em si e numa corda, foi

e o nosso desejo foi atendido.

aos jornais, copiou anúncios e deitou-se à caçada. No próprio bairro havia mais de um competidor. Quer

Naquela noite, meu marido saiu de casa preocupado

dizer que as nossas dívidas começaram a subir, sem

e só voltou mais tarde sem falar nada. Saiu de manhã

aqueles pagamentos prontos ou quase prontos dos

para ver e indagar pela Rua e Largo da Carioca, Rua

primeiros tempos. A vida tornou-se difícil e dura.

do Parto e da Ajuda, onde ela parecia andar, parecia

Comia-se fiado e mal.

procurar algo, mas não achou.

Eu não tinha sequer tempo de remendar a roupa

Candinho voltou para os cômodos, triste, e encontrou

do meu marido, tanta era a necessidade de coser

Tia Mônica já com meu filho pronto para ser levado à

para fora. Tia Mônica me ajudava, naturalmente.

roda. Não quis comer o que tia Mônica lhe guardara;

Quando ele chegava à tarde, via-se-lhe pela cara

não tinha fome, disse, e era verdade. Cogitou mil

que não trazia vintém. Jantava e saía outra vez, à

modos de ficar com o filho; nenhum prestava. Não

cata de algum fugido. Já lhe sucedia, ainda que raro,

podia esquecer o próprio albergue em que vivia.

enganar-se de pessoa, e pegar em escravo fiel que ia

Quando ele veio me consultar estava resignada.

a serviço de seu senhor; tal era a cegueira da necessi-

Candinho foi obrigado a cumprir a promessa; me

dade. Certa vez capturou um preto livre; desfez-se em

pediu que desse ao filho o resto do leite que ele bebe-

desculpas, mas recebeu grande soma de murros que

ria da mãe. Assim se fez; o pequeno adormeceu, o pai

lhe deram os parentes do homem.

pegou dele, e saiu na direção da Rua dos Barbonos.

Após oito meses, meu filho estava crescendo dentro

Ele não estava nada feliz em ter de levá-lo; o

de mim, minha tia teve a horrível ideia de levar o meu

agasalhava muito, o beijava, cobria seu rosto para

filho para a roda dos enjeitados. Candinho ficou muito

preservá-lo do sereno.

bravo e deu um soco na mesa. Eu tentei acalmá-lo

Quando voltou, estava com a criança nas mãos. Por

dizendo que minha tia não tinha dito aquilo por mal,

uma incrível sorte ele encontrou uma mulata foragida

mas ela continuou falando que aquilo seria o melhor

que lhe rendeu uma grande recompensa, suficiente

para nós e saiu. Minutos depois o dono da casa bateu

para manter nosso filho!

na porta falando que se nós pagarmos o aluguel em cinco dias ele nos colocará para a rua. Assim se passaram os cinco dias e fomos colocados para fora da casa, fomos para os aposentos que minha tia havia arrumado no fundo da casa de uma

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Ricardo Albuquerque

escrava, quando me aproximei de Arminda segurei forte em seu braço e logo amarrei seus punhos com uma corda e imediatamente a mulher me revelou

Pai contra mãe reinventado

que estava grávida e por conta disso ela estava com medo dos castigos físicos que ela iria receber quando

— Nós não estamos tendo mais condi-

ela voltasse para seu dono. Porém minha vontade

ções de pagar as contas, por conta da

de receber a recompensa e conseguir pagar minhas

chegada do nosso filho, Clara! - disse

despesas eram tão grandes que a ignorei. Assim ela

Cândido.

começou a lutar fisicamente pela sua liberdade e eu

— Eu sei, mas tem uma coisa que a gente pode fazer

pensando em minha família tive que usar força bruta

para resolver isso que a minha tia Mônica deu a ideia

para resistir a tentativa de fuga da escrava. Por conta

— disse Clara.

disso eu acabei percebendo que o bebê dela morreu durante a briga, assim eu disse para ela sem nenhum

— O que a gente pode fazer?

peso na consciência.

— O pensamento que ela compartilhou era de levar

— Nem todas as crianças vingam.

ele para a Roda dos Enjeitados.

Após isso fui arrastando a Arminda no chão pelos

Após esta ideia eu fui pensar melhor sobre o assunto,

punhos até o seu dono. Com isso recebi o dinheiro da

até que depois de muita reflexão eu e Clara decidimos

recompensa e retornei para casa com meu filho nos

que iríamos deixar o nosso filho na adoção. Então

braços, como se nada tivesse acontecido.

comecei a arrumar as coisas para levar o nosso bebê até lá. Saí de casa triste e muito cabisbaixo, pois independentemente de tudo eu ainda amava o meu filho. Este foi o caminho mais difícil que eu já fiz na minha vida, porém eu sabia que se eu o entregasse lá a nossa condição iria melhorar muito. Enquanto eu caminhava com o meu filho, de repente eu tive a impressão de ter visto uma escrava foragida que eu procurava faz tempo para entregá-la ao seu dono e ganhar minha recompensa . Com isso eu deixei o meu recém nascido aos cuidados de um farmacêutico ao lado de onde nós estávamos. Apressei o meu passo para conseguir alcançar a

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Ryhan Santos dos Anjos

eu tinha deixado muitos trabalhos melhores e piores,

Cândido Neves

Tinham mãos novas e hábeis. Como o negócio

Eu, Cândido Neves, era uma pessoa

e numa corda, foi aos jornais, copiou anúncios e dei-

pegar escravos me deu encanto, não me obrigava a ficar várias horas sentado. crescesse, mais de um desempregado pegou em si tou-se à caçada. No próprio bairro havia mais de um

que não me rendia à pobreza. Até o

competidor. Quer dizer que as minhas dívidas come-

momento em que tive que aderir ao

çaram a subir, sem aqueles pagamentos prontos ou

ofício de pegar escravos que haviam

quase prontos dos primeiros tempos. A minha vida

fugido. Tenho o defeito de não gostar

tornou-se difícil e dura. Eu comia fiado e mal.

do meu trabalho nem do meu ofício,

Clara não tinha sequer tempo para remendar as

ele não tinha estabilidade. Comecei a

minhas roupas. Tia Mônica ajudava a ela, naturalmente. Quando eu chegava à tarde, dava para ver

procurar outros trabalhos com muito

pela minha cara que não trazia vintém. Jantava e

esforço, virei caixeiro, mas por conta de

saía outra vez, à cata de algum fugido. Já me sucedia,

ter que atender e servir todos feria meu

ainda que raro,me enganava pela cor das pessoas, já

orgulho, em cinco ou seis semanas eu

peguei um escravo fiel que ia a serviço de seu senhor, era tanta minha cegueira da necessidade. Certa vez

já tinha pedido contas e estava na rua.

capturei um preto livre; pedi desculpas, mas recebi

Também tentei emprego como carteiro

grande soma de murros que me deram os parentes

mas abandonei pouco depois de ter

do homem.

conseguido.

– É o que te faltava? perguntou a tia Mônica, ao me

Quando me apaixonei pela Clara, eu só tinha dívidas

ver entrar, e depois de ouvir eu narrar meus equívocos

mesmo, ainda que poucas, graças a um primo que

e suas consequências. E me disse, - Candinho, procu-

morava comigo. Meu primo era entalhador, depois de

re outra vida, outro emprego.

tentar conseguir um emprego eu decidi ter o mesmo

Eu queria efetivamente fazer outra coisa, não pela

emprego dele. Ele tinha me dado algumas dicas e

razão do conselho, mas por simplesmente gostar de

não custava nada tentar pegar outras, mas, como eu

trocar de ofício; seria um modo de mudar de pele ou

quis aprender depressa, aprendi mal por conta disso,

de pessoa. O pior é que não achava um emprego que

não fazia obras finas.

aprendesse depressa.

Eu tinha trinta anos e a Clara vinte e dois, ela era órfã,

Saí rápido, atravessei a rua, até ao ponto em que

morava com a tia. Quando a Clara via que eu era o

pudesse pegar a mulher sem dar alarme. No extre-

possível marido dela. Eu perdi meu emprego, como

mo da rua, quando ela ia descer a de S. José, eu me

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Alfândega, onde residia o senhor. Na esquina a luta

aproximei dela. Era a mesma, era a mulata fujona.

cresceu; ela pôs os pés na parede, recuou com grande

– Arminda! chamei, conforme a nomeava o anúncio.

esforço, inutilmente. O que alcançou foi, apesar de ser

Voltou-se sem cuidar malícia. Foi só quando eu,

a casa próxima, gastar mais tempo em lá chegar do

tendo tirado o pedaço de corda da algibeira, peguei

que deveria. Cheguei, o senhor estava em casa, acudiu

dos braços da escrava, que ela compreendeu e quis

ao chamado e ao rumor.

fugir. Era já impossível. Eu, com as mãos robustas,

– Aqui está a fujona, eu disse

atava-lhe os pulsos e dizia que andasse. A escrava

– É ela mesma.

quis gritar, parece que chegou a soltar alguma voz mais alta que de costume, mas entendeu logo que

– Meu senhor!

ninguém viria libertá-la, ao contrário. Pediu então que

– Anda, entra...

a soltasse pelo amor de Deus.

Arminda caiu no corredor. Ali mesmo o senhor da

– Estou grávida, meu senhor! exclamou. Se Vossa

escrava abriu a carteira e tirou os cem mil-réis e me

Senhoria tem algum filho, peço-lhe por amor dele

deu. Eu guardei as duas notas de cinquenta mil-réis,

que me solte; eu serei tua escrava, vou servi-lo pelo

enquanto o senhor novamente dizia à escrava que

tempo que quiser. Me solte, meu senhor moço!

entrasse. No chão, onde jazia, levada do medo e da

– Siga! eu repeti.

dor, e após algum tempo de luta a escrava abortou.

– Me solte!

O filho de Arminda depois de algum tempo entrou sem vida neste mundo, entre os gemidos da mãe

– Não quero demoras; siga!

e os gestos de desespero do dono. Eu vi todo esse

Houve aqui luta, porque ela se arrastava e ao filho.

espetáculo. Não sabia que horas eram. Quaisquer que

Quem passava ou estava à porta de uma loja,

fossem, foi o que fiz sem querer conhecer as conse-

compreendia o que era e naturalmente não acudia.

quências do desastre.

Ia alegando que o senhor era muito mau, e provavelmente a castigaria com açoites, – coisa que, no

– Nem todas as crianças vingam, bateu-lhe o

estado em que ela estava, seria pior de sentir. Com

coração.

certeza, ele lhe mandaria dar açoites. – Você é que tem culpa. Quem lhe manda fazer filhos e fugir depois? perguntei Não estava em maré de riso, por causa do filho que lá ficara na farmácia, à espera dele. Também é certo que não costumava dizer grandes coisas, fui arrastando a escrava pela Rua dos Ourives, em direção à da

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Sofia Colasanto Gonzales

encomendas tínhamos. Então, resolvi puxar o assunto que estava encucada a tarde inteira: — Titia, você acha que irei me casar?

Clara

— Claro que sim minha filha, uma moça tão linda quanto você há de achar pretendes logo. Por que a

Era uma sexta à tarde. Estava apoiada

pergunta?

no parapeito da janela de minha casa

— Não sei, sinto que estou a tempo demais desa-

e observava os homens que passavam

companhada. Daqui a pouco, já estarei velha e nem

pela rua. Alguns acenavam para mim

filhos vou conseguir ter.

com um sorriso de canto, mas não pa-

— Que bobagem minha filha! Você ainda tem pouca

ravam para falar comigo. Quando o Sol

idade, há de encontrar alguém de boa família que

começou a baixar, me recolhi para dentro

deseje você.

da casa, pois tinha que acabar de coser o

— Espero que sim.

vestido que usaria na noite seguinte.

Fui para meu quarto e vesti minha camisola. Me deitei

Enquanto costurava, vários pensamentos me vinham

na cama e esperei o sono vir. De repente, comecei a

à cabeça. Eu tinha 22 anos e ainda não havia arran-

me ver lavando roupas em um riacho que nunca tinha

jado um homem para me casar. Mesmo que rapazes

visto antes. Na minha frente havia um belo campo

me olhassem com certo desejo, nenhum deles

onde duas crianças brincavam alegremente. Depois

permanecia por muito tempo. Tinha medo de acabar

de lavar as peças, eu os levava comigo para uma

como minha tia Mônica, que não casara e nem tivera

casa simples. Chegando lá, havia um belo homem,

filhos e tinha que sustentar-se. O que queria era um

de barba castanha, camisa xadrez e botas sentado

lindo esposo e dois filhos, porém já estava ficando

na mesa da cozinha. Eu o beijava e as crianças o

velha e não via ninguém que me despertasse o fogo

abraçavam. Depois, eu preparava a comida e todos

da paixão. Além disso, não vinha de uma linhagem

nós almoçávamos. O homem ia dormir em um dos

muito nobre, o que dificultava que moços me esco-

cômodos e as crianças brincavam na sala. Quando,

lhessem. Em meio a tantas ideias, acabei furando

inesperadamente, eu via uma chama que já tinha

minha mão com a agulha. Fiz um curativo rápido e fui

dominado a cozinha se alastrar por onde meus filhos

comer.

estavam. Rapidamente, os coloquei pra fora da casa através da janela e fui chamar meu suposto marido.

No jantar havia arroz, feijão e miúdos de frango. Eu

Porém, ele não acordava e algo em mim dizia que

comi com minha tia e conversamos um pouco sobre

não podia sair sem ele. Eu tentava de tudo, mas nada

o baile de amanhã, o preço dos tecidos e quantas

adiantava. O fogo se alastrava cada vez mais e a

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Sophia Abe Roveda

fumaça já tomava conta do cômodo e eu ficava cada vez mais desesperada. Foi aí que acordei, completamente tensa.

Cândido Neves

Tentava dormir de novo, mas não conseguia. Levantei-me da cama e fui passar o café. O dia

Eu poderia imaginar mil maneiras para

seguiu sem grandes mudanças e eu estava cada vez

ficar com meu filho. Eu e minha mulher

mais ansiosa para o baile. Coloquei o lindo vestido

poderíamos ficar sem comer para

branco que tinha feito e uma sapatilha um pouco velha. Chegando no local, encontrei algumas amigas

poder dar a ele o que comer, mas aí nós

e fiquei conversando com elas. Em certo momento,

morreríamos de fome e deixariamos

fui pegar uma bebida e vi um homem alto, com barba

nosso filho órfão. Eu poderia começar

e que estava fazendo todos em sua volta rirem. Me

a roubar e vender os itens furtados

aproximei e vi como contava suas histórias e piadas

para poder comprar comida, mas isso é

de maneira tão faceira. Percebi que ele me lançava

imoral e se eu fosse pego seria morto,

olhares de desejo e eu os retribuía. Nunca tinha sentido aquilo, uma paixão tão imediata e intensa. Depois

assim deixando minha mulher e meu

de certo tempo, ele me tirou para dançar e foi ali

filho sem comida. Poderíamos pegar

que perguntei seu nome, era Cândido Neves. A partir

dinheiro emprestado e quando as coisas

daquela dança eu sabia que aquele seria o homem

melhorassem pagaríamos aquilo que

com quem me casaria.

ficaremos devendo, mas e se as coisas só piorarem? Eu poderia arranjar mil soluções! Porém nenhuma delas iria dar certo, todas resultariam em fome ou morte. Não há nada que eu possa fazer para manter meu filho comigo. Tia Mônica já falou que eu devo deixá-lo na Roda dos enjeitados o mais breve possível. Se não o menino morreria de fome mas não consigo imaginar isso como uma boa escolha, é impossível gostar da ideia de deixar seu filho único e amado num lugar onde um estranho qualquer pode o pegar e levá-lo para longe ou pior: meu filho acabe ali esquecido pensando que nós não o amamos o suficiente e deixamos-lo lá por não ser digno do amor de uma

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ele tenha um futuro próspero e farto, para que ele não

mãe, um pai ou de qualquer outro amor.

tenha que abrir mão da coisa que mais ama.

Como a tia Mônica consegue ser tão insensível? Ela nem teve filhos, como ela pode sugerir que eu

Entrando no beco e indo em sentido ao Largo da

abandone o meu? Ela não imagina a dor que é ter

Ajuda, vejo o vulto de uma mulher… é uma escrava

uma única opção e essa ser a pior escolha para você!

fugida!

Provavelmente ela não entende a angústia de ter que

Entrei em uma farmácia e pedi para que o farma-

abrir mão da coisa que mais se ama! Mas no fundo

cêutico guardase meu filho por um instante, com

sei que ela está certa e que isso é para o bem do

uma expressão de confusão no rosto do atendente

meu filho. Porém é muito difícil deixar de ser egoísta

eu bradei o nome da mulher do anúncio de escravos

e aceitar que o melhor a se fazer era o pior a se fazer

fugidos. ARMINDA!

para mim.

Fui atrás dela e a agarrei, ela resistiu.

Depois de várias brigas e ameaças, chegou a hora de

— Siga!

levar meu filho à roda dos enjeitados. Por mais que fosse a nossa única opção, essa foi a escolha mais

— Estou grávida, meu senhor! exclamou. Se Vossa

difícil a se tomar! Pois é melhor um filho vivo do que

Senhoria tem algum filho, peço-lhe por amor dele

um filho a sete palmos do chão. Então o melhor a se

que me solte; eu serei tua escrava, vou servi-lo pelo

fazer é deixá-lo num estabelecimento onde ele tives-

tempo que quiser. Me solte, meu senhor moço!

se comida, bebida e vestimenta ao longo de sua vida.

Ela diz isso, mas estou nem aí! Quem mandou engra-

Quem sabe alguém o acolha e o ame mais do que eu

vidar e fugir depois?

e minha mulher, pensar nisso faz doer o peito mas

— Siga!

nem o amor que sinto pelo meu filho será capaz de

— Se solte!

sustentá-lo.

— Não quero demoras; Siga!

Quando boto o pé pra fora de casa um sentimento árduo enche meu peito e me arrependo profunda-

Arminda implora, e diz os castigos que o senhor dela

mente de estar fazendo isso, mas se não for feito

seriam fatais a ela e o filho não resistiriam, mas eu

meu arrependimento vai ser maior! Pois nem poderia

não me importo! Só arrasto a escrava fugida.

imaginar a vida que meu filho estaria tendo.

— Você é que tem culpa. Quem lhe manda fazer

Ando devagar, observando o dia e pensando em mais

filhos e fugir depois?

ideias egoístas para ter meu filho junto a mim e minha

Após arrastá-la por muito tempo, chegamos na esta-

mulher. Eu o imagino crescendo e ficando forte e

dia do senhor dela.

esperto como eu! Correndo e divertindo-se! Depois eu

Eu a entrego, recebo meu pagamento de 100.000

o imagino mais velho trabalhando, com uma mulher,

réis! Por ela ter relutado tanto acabou abortando. Eu

filhos, dinheiro e uma casa farta.

assisti a tudo, porém nem todas as crianças vingam.

Creio que não verei isso acontecendo, mas espero que

93


Pelo menos agora tenho dinheiro o suficiente para ter

O trabalho era muito pesado, o dia começava com

meu filho comigo!

a colheita de capulhos em sacaria, depois ocorria a

Volto alegre para farmácia e com dinheiro nos bolsos,

separação das sementes nas descaroçadoras onde

pego meu filho no colo e volto depressa para casa.

era retirado o algodão, esse era encaminhado às fiandeiras onde obtém-se a fiação, depois os fios

Quando chego explico o ocorrido para Mônica, ela me

eram distribuídos nas máquinas de tear, e assim era

perdoa e dou graças a Deus pela fuga da escrava! Tia Mônica fala coisas sobre a escrava, mas pouco

obtido o tecido.

me importo, estou com meu filho em meus braços!

Durante as manhãs o senhor andava pelo engenho

Lágrimas me escorrem no rosto, breve mente me

para ter certeza de que todos estavam fazendo seu

lembro do aborto da escrava, mas pouco me importo.

devido trabalho, e se não, haveria consequências. Um

— Nem todas as crianças vingam

dia enquanto colhia capulhos, avistei o senhor passando por perto, e achei estranho pois cada vez mais se aproximava de mim. Fiquei com medo pois achei

Sophia Casolari Landell Balbino

que tinha feito algo de errado, mas ao invés disso ele

A fuga de Arminda

havia ninguém. Sem nenhuma explicação de por que

Desde os meus 14 anos me tornei uma

chão, segurou meu braços com muita força de forma

escrava, existiam pessoas que como

que não pudesse escapar. Ele levantou o meu vestido

havia me chamado para conversar particularmente, o que soou estranho, mas o segui. Depois de uma longa caminhada chegamos ao final da plantação, onde não havia me levado para lá, ele brutamente me jogou no

e desceu suas calças, tentei recusar, tentei escapar,

profissão caçavam escravos fugidos

tentei lutar, mas era tarde demais…

e os entregavam a seus senhores em

Depois desse dia continuei a trabalhar, mas fiquei

troca de dinheiro, nunca tentei fugir pois

traumatizada, havia sido violada! Senti tantas coisas:

sempre tive medo de ser pega, sabia que

raiva, vazio, tristeza, fúria, angústia, medo, rancor,

se algum dia isso acontecesse, coloca-

vergonha, ÓDIO! Queria me livrar de todos esses

riam um ferro ao redor do meu pescoço

sentimentos horríveis, não estava confortável, por isso me perguntava se deveria fugir, mas algo que eu

e iria apanhar. Por isso nunca tive cora-

sabia que deveria fazer era permanecer em silêncio.

gem, apesar de desejar muito a minha

Depois de alguns meses comecei a ficar assustada

liberdade.

pois tinha certeza de que estava grávida e a última

Trabalhava num engenho com a produção de roupas

coisa que desejava era ter uma criança e ter de vê-la

dos escravos, lençóis, sacarias e outros misteres.

crescer no meio de um engenho com péssimas

94


Sophia Martins Galiano

condições. Quando eu estava com quase seis meses de gravidez, o senhor quis conversar comigo, fiquei apavorada mas queria ouvir o que ele tinha a dizer. Disse a mim que podíamos secretamente formar uma

Pai contra mãe - Cândido Neves

família, sem que ninguém soubesse e criaríamos o bebê juntos. Naquele momento estava muito nervo-

De fato eu, Cândido Neves não poderia

sa, nunca iria criar meu filho com um homem nojento que me estuprou! Por causa do nervosismo não disse

estar em pior estado, sem dinheiro

nada, só vi a mão do homem em direção a minha

ou sequer esposa. Mesmo sendo um

barriga. Era esse o sinal, sem pensar duas vezes

homem branco, apesar de meus pri-

saí correndo, ele tentou me seguir mas eu consegui

vilégios existirem, no momento tenho

despistá-lo.

tantos direitos quanto um escravo

Corri o mais rápido que pude até sair do engenho, mas não me dei conta de que havia chegado em um

negro.

centro comercial, onde havia uma grande movimenta-

Até esse momento, me garanto nas recompensas

ção, ou seja, mais chances de ser caçada. Tentei andar

das capturas de escravos fugidos, cheguei a tentar

por lugares menos cheios, mas depois quando virei

empenhar-me na tipografia, contudo mais uma vez

em uma esquina avistei um homem, que olhou para

terminei sem sucesso. Após inúmeras tentativas

mim como se eu fosse uma presa. Tinha certeza de

com outros trabalhos, o que me restou foi o ofício de

que era um caçador de escravizados, por isso comecei

caçador de escravos

a correr, mas ele me alcançou, e agarrou-me muito

O que me resta agora? É deixar que o Senhor guie

forte para que não pudesse escapar. Gritei o mais

meus próximos passos, honestamente, não sei mais

alto que pude, pedi para me libertar pelo fato de estar

nem dizer ao certo o que me virá a acontecer. Afinal,

grávida, estava tão nervosa que até disse que podia

com esse tipo de vida e recursos, é assim que outros

ser sua escrava e que o serviria por quanto tempo

como eu devemos continuar, apenas “vivendo”.

ele quisesse. Cândido não desistiu. Persisti o máximo

Foi naquele extemporâneo evento que decidi com-

que pude, mas ele se irritou e começou a me arrastar

parecer, que me trouxe total descolamento de vida,

em direção ao meu senhor. Sem piedade alguma o

sem nem mesmo saber. E logo avistei a moça mais

homem me entregou a ele, agradeceu e entregou

graciosa daquele recinto, pois bem, me encontrava

cem mil-réis a Cândido Neves. Depois daquele mo-

no sentimento da paixão, aquilo já não era mais uma

mento nem imaginava o que aquele homem faria

discussão.

comigo, apenas sei que nunca estive tão apavorada

É com a maior certeza que digo, nunca havia sentido

em toda minha vida.

tão fortemente aquele carinho por alguém antes, meus batimentos estavam acelerados. Tão profundo,

95


tão intenso...que sensação. Diante dessa situação,

estarem inconformados com minha falta de esta-

posso dizer que inconscientemente o amor me levou

bilidade no emprego, não deixava de sonhar. E para

ao total estado de vulnerabilidade. Mal sabia eu que

minha sorte, Clara também esperava por uma criança.

aquele amor seria correspondido pela bela dama

Explicitamente ninguém poderia nos impedir, apesar

também .

de contrariarem sou agora um homem de família e posso muito bem tomar decisões.

Consequentemente, esse amor recíproco nos leva a um precedente casamento, sem consentimento fa-

Após nove meses, nossa tão esperada e amada

miliar ou apoio de meus colegas. Tanto minha esposa

criança nasceu, preenchendo a casa de alegria e

quanto eu continuávamos com condições precárias,

grande comemoração. Não posso nem acreditar, toda

de pura necessidade financeira, o que levou-nos a

aquela fantasia de um dia poder ser pai tornando-se

morar com a tia de Clara, que a propósito não gostava

real. É fascinante como esse bebê pôde completar

de mim tanto assim.

aquele vazio dentro de mim.

Compreendo a preocupação de tia Mônica, seu medo

No entanto, toda essa felicidade não foi duradoura,

de não podermos sustentar a criança, mas com o

mais do que nunca nos faltava dinheiro, estamos

tempo tudo há de se encaixar em seu lugar. Era tudo

devendo meses de aluguel para o dono da casa em

uma questão de tempo, sem contar que cabia a mim

que moramos. As dificuldades, que já eram muitas,

decidir o que faremos ou não. Confesso que a tia

aumentaram com a pressão do proprietário da casa

Mônica me aborreceu com esse assunto.

que exigia receber em poucos dias o aluguel atrasado de três meses. O que levou a que nesse mesmo final

Após o casório, entendi todo caminho de Clara, e que

de tarde finalizamos nossa mudança para uma casa

ainda menina já se tornara órfã. Vivia com sua tia que

de empréstimo.

a auxiliava nas costuras, e para ajudar muitas vezes era necessário que fosse desfrutada dos homens

Foram após inúmeras tentativas que Mônica co-

vazios que encontrava pelas ruas. Seu verdadeiro

meçou a nos convencer de que o mais prudente a

desejo era poder um dia casar-se, não com aqueles

se fazer era aceitar a ideia de se desfazer de nosso

que ela satisfazia nas noites, mas sim com quem a

filho. Não podíamos mais acatar aquela situação de

amasse de verdade, assim como ela.

qualquer maneira.

Tia Mônica não disfarçava sua insatisfação com a

Toda a situação me levou a tomar medidas extremas,

ideia de morarmos todos em conjunto, o que para

uma decisão mais do que impossível, teria de levar a

mim tem pouca importância, ainda mais depois de

criança à Roda dos enjeitados. Peguei a criança com

tudo que já me aconteceu. O mais inacreditável foi ter

profunda tristeza, e a carreguei em meus braços à

chegado até aqui, junto de Clara com um teto para

caminho da roda.

nos abrigar.

Com a consciência pesada caminho vagarosamente,

Sempre projetei em minha vida uma família com

quase sempre recuando meus passos, sem embargo

esposa e filhos, apesar de muitos ao meu redor

de ser o mais prudente a se fazer. Pensava e pensava

96


em alguma alternativa, porém realmente não havia

quanto eu continuávamos com condições precárias,

mais o que fazer.

de pura necessidade financeira, o que levou-nos a morar com a tia de Clara, que a propósito não gostava

Conforme o caminho, fui parar em um beco muito

de mim tanto assim.

escuro, e logo mais à frente avistei uma pessoa. Não podia acreditar em meus olhos, era ela mesmo,

Compreendo a preocupação de tia Mônica, seu medo

Arminda. Já a procurava há muito tempo, com a

de não podermos sustentar a criança, mas com o

recompensa de sua captura ganhei cem mil réis em

tempo tudo há de se encaixar em seu lugar. Era tudo

meu bolso, o que irá trazer meu filho de volta.

uma questão de tempo, sem contar que cabia a mim decidir o que faremos ou não. Confesso que a tia

Apressadamente, deixei meu filho em uma farmácia

Mônica me aborreceu com esse assunto.

logo ao lado, cujo proprietário havia conhecido na

Após o casório, entendi todo caminho de Clara, e que

véspera, e parte em busca da escrava.

ainda menina já se tornara órfã. Vivia com sua tia que

Logo pego a escrava, que se debatia feito louca su-

a auxiliava nas costuras, e para ajudar muitas vezes

plicando por liberdade. Enquanto a amarrava, gritava

era necessário que fosse desfrutada dos homens

dizendo estar grávida e que receava por castigos físi-

vazios que encontrava pelas ruas. Seu verdadeiro

cos que possivelmente receberia de seu dono. Mas é

desejo era poder um dia casar-se, não com aqueles

lógico que ignorei seus apelos, aquilo não importava

que ela satisfazia nas noites, mas sim com quem a

me de maneira alguma, era minha grande chance de

amasse de verdade, assim como ela.

retornar com meu filho para casa.

Tia Mônica não disfarçava sua insatisfação com a

Não podia descartá-la simplesmente, foi então que a

ideia de morarmos todos em conjunto, o que para

tomei e coloquei a criança em meu colo. Visivelmente,

mim tem pouca importância, ainda mais depois de

eu estava transbordando de alegria, toda aquela

tudo que já me aconteceu. O mais inacreditável foi ter

situação agora de forma reversa não poderia estar

chegado até aqui, junto de Clara com um teto para

melhor. Pois bem, vendi a escrava e ganhei meus

nos abrigar.

prometidos cem mil réis. A caminho de casa, sorrindo olhei para meu filho, disse que estava na hora de voltar para sua casa,

Sempre projetei em minha vida uma família com

reencontrar sua tia e sua mãe. E foi sem entender

esposa e filhos, apesar de muitos ao meu redor esta-

sequer uma palavra total estado de vulnerabilidade.

rem inconformados com minha falta de estabilidade

Mal sabia eu que aquele amor seria correspondido

no emprego, não deixava de sonhar. E para minha

pela bela dama também .

sorte, Clara também esperava por uma criança. Explicitamente ninguém poderia nos impedir, apesar

Consequentemente, esse amor recíproco nos leva a

de contrariarem sou agora um homem de família e

um precedente casamento, sem consentimento fa-

posso muito bem tomar decisões.

miliar ou apoio de meus colegas. Tanto minha esposa

Após nove meses, nossa tão esperada e amada

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criança nasceu, preenchendo a casa de alegria e

meu bolso, o que irá trazer meu filho de volta.

grande comemoração. Não posso nem acreditar, toda

Apressadamente, deixei meu filho em uma farmácia

aquela fantasia de um dia poder ser pai tornando-se

logo ao lado, cujo proprietário havia conhecido na

real. É fascinante como esse bebê pôde completar

véspera, e parte em busca da escrava.

aquele vazio dentro de mim.

Logo pego a escrava, que se debatia feito louca su-

No entanto, toda essa felicidade não foi duradoura,

plicando por liberdade. Enquanto a amarrava, gritava

mais do que nunca nos faltava dinheiro, estamos

dizendo estar grávida e que receava por castigos físi-

devendo meses de aluguel para o dono da casa em

cos que possivelmente receberia de seu dono. Mas é

que moramos. As dificuldades, que já eram muitas,

lógico que ignorei seus apelos, aquilo não importava

aumentaram com a pressão do proprietário da casa

me de maneira alguma, era minha grande chance de

que exigia receber em poucos dias o aluguel atrasado

retornar com meu filho para casa.

de três meses. O que levou a que nesse mesmo final

Não podia descartá-la simplesmente, foi então que a

de tarde finalizamos nossa mudança para uma casa

tomei e coloquei a criança em meu colo. Visivelmente,

de empréstimo.

eu estava transbordando de alegria, toda aquela

Foram após inúmeras tentativas que Mônica co-

situação agora de forma reversa não poderia estar

meçou a nos convencer de que o mais prudente a

melhor. Pois bem, vendi a escrava e ganhei meus

se fazer era aceitar a ideia de se desfazer de nosso

prometidos cem mil réis.

filho. Não podíamos mais acatar aquela situação de

A caminho de casa, sorrindo olhei para meu filho,

qualquer maneira.

disse que estava na hora de voltar para sua casa,

Toda a situação me levou a tomar medidas extremas,

reencontrar sua tia e sua mãe. E foi sem entender

uma decisão mais do que impossível, teria de levar a

sequer uma palavra que ele correspondeu com um

criança à Roda dos enjeitados. Peguei a criança com

belo sorriso no rosto...

profunda tristeza, e a carreguei em meus braços à caminho da roda. Com a consciência pesada caminho vagarosamente, quase sempre recuando meus passos, sem embargo de ser o mais prudente a se fazer. Pensava e pensava em alguma alternativa, porém realmente não havia mais o que fazer. Conforme o caminho, fui parar em um beco muito escuro, e logo mais à frente avistei uma pessoa. Não podia acreditar em meus olhos, era ela mesmo, Arminda. Já a procurava há muito tempo, com a recompensa de sua captura ganhei cem mil réis em

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Vicente Detoni Franzini

casa que exigiu o aluguel atrasado de três meses, que

Remetente: Cândido Neves

enjeitados, mas no caminho achei uma negra, no qual

Rio de Janeiro, 14 de Fevereiro de 1887.

para a devolução da escrava, corri até um boticário

não conseguimos pagar. Tive que levar o meu tão amado filho à roda dos o dono tinha uma recompensa enorme, cem mil réis perto onde estava e capturei a foragida.

Olá, João, desculpe-me pela demora

Foi uma batalha fervorosa, a estúpida ainda tentou se

em lhe escrever novamente, desde a

libertar mas não conseguiu, até que o dono chegou e

última correspondência que enviei para

me deu o dinheiro, finalmente poderia ter o meu filho

vossa mercê, passei por dificuldades em

de volta.

assegurar uma profissão, tentei vários

Voltei à casa de Mônica e Clara e expliquei a situação,

ofícios, desde tipógrafo, até entalhador

Mônica agradeceu por eu ter pego a negra e Clara ficou muito feliz de ter o nosso filho de volta. Espero

e comerciante, mas nada conseguia.

que esse dinheiro dure até achar outro negro para

Por fim decidi seguir o ofício de caçador

capturar novamente.

de escravos. Fiquei até conhecido por alguns escravos após um tempo

Atenciosamente,

Foi então que achei o amor de minha vida, Clara, a

Cândido Neves.

amo muito, logo se casamos mesmo com a objeção de Mônica, sua tia e pessoa com qual vivia (e qual iria viver junto de), devido a problemas financeiros, nos casamos, e decidimos ter um filho. A obrigação de todo homem decente é claro, nenhum homem é homem sem ter um filho, então tivemos um, mesmo com a mais forte objeção da Mônica. Como não sou gente de mal, tentei ajudá-la, mas não conseguia contribuir devido a dificuldade de achar escravos fugidos, como havia uma grande competição na área. Todo dia via se tinha um novo escravo fugido e já ficava atento para pegá-lo, mas sem sucesso. Então, após discussões sem fim, eu e Clara fomos convencidos por Mônica a dar o filho, após o dono da

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Juventude é época de mudança. Não se sabe se é adulto ou criança. Tempo de conflito Insegurança de nossos corpos. Aí vem a cobrança, não se tem mais esperança.

ANA CAROLINA BARBOSA NUNES

Jovem, Novo, Juventudeee!. Virtude de experimentar coisas novas. Porém é hora de tomar atitude. (Era para ser a melhor fase de nossas vidas!) Sem planos, vamos ficar insanos! Lutaremos pelos direitos humanos. com o tempo que temos, derrubaremos os tiranos. (Era para ser a melhor fase de nossas vidas!) Precisamos informar Não nos conformar e transformar. Falam que tudo está em nossas mãos. Mas alguém me perguntou, se eu quero ser o futuro da nação? Juno Novais de Oliveira

102


CAIO HENRIQUE PALOMO LEMOS

“Na minha época eu andava 10 quilômetros para ir à escola” “ Na minha época eu não tinha essa facilidade que vocês têm agora não” “Quando eu tava na escola eu tinha que ler a BARSA para descobrir o que eu precisava” A juventude sempre é mais fácil quando é a dos outros.

103


DANILO OLIVEIRA CONCEIÇÃO

Juventude, ela é uma complicação Tendo várias perguntas tipo ser ou não ser Contendo vários problemas e complicações Mas isso é só um lado do que é real No outro lado também é só mimimi Mas os dois são complementos um de cada um É menina ou mulher, um moleque ou homem Tem essa preocupação que aparece de muitos É sol, é verão, é poema, é canção Que confunde meu coração Juventude, tem muitas perguntas em si Que talvez não tenha nem explicação E traz a lembrança do que tempo em que não se tinha tanta preocupação Juventude, tem muitas perguntas em si Que talvez não tenha nem explicação E traz a lembrança do tempo em que não se tinha tanta preocupação (tentativa de fazer uma paródia com o tema de juventude da música “morena” do cantor Vitor Kley)

104


DAVI HENNING GENEROSO FERESIN

A juventude hoje em dia, em comparação com a

Uma coisa é fato, antigamente era outra ve-

geração passada, passa a impressão de ter superado

locidade, as pessoas tinham mais tempo pra

muitos obstáculos e regredido em outros, no sentido

pensar, mais tempo pra entender, pra ouvir, ser

de que em nossa situação atual, a informação nunca

escutado.. não se complicava tanto, hoje em dia

esteve tão presente em nossas vidas, no celular, na

pra você conseguir solucionar algo de errado

tv, nas ruas , nas conversas sobre coisas extrema-

na sua vida e que você gostaria de concertar,

mente fúteis, um bombardeamento de informações

você vai precisar analisar todo o seu dia a dia

que mexe nossa cabeça diariamente e vai moldando

com turbilhões de coisas que de alguma forma,

ela a uma forma de pensar e viver que a juventude

podem te causar mal, e evitar o que te faz mal,

passada não teve.

talvez seja deixar de fazer tudo o que está presente no seu dia, nos seus hábitos, ficou muito

Essa discrepância de realidade que veio com a

difícil romper gatilhos de prazer na era em que

evolução tecnológica e do mundo em geral, trouxe

tudo foi projetado para ser prático e descartável,

uma ansiedade e diversos problemas relaciona-

desde um salgadinho a um celular com 1.001

dos de uma forma nunca antes vista , os jovens

funções.

desenvolvem problemas e tomam soluções para solucioná-los que acabam gerando mais problemas,

Tudo isso me faz pensar que nossa geração tem

numa bola de neve que é tanta coisa, tantas possi-

um déficit de felicidade verdadeira, de verda-

bilidades e tantos conflitos que fica muito fácil entrar

deiros prazeres na vida, já que temos tantos

em uma profunda depressão.

prazeres que não são realmente de verdade fica difícil resgatar aquilo que ninguém pode

Tal depressão que na geração passada talvez os

construir ou te dar ,verdadeiros sentimentos e

jovens entrassem de outra forma, uma forma menos

presença, o que pode ter proporcionado a juven-

frenética e mais sincera de solidão, menos superfi-

tude passada uma leveza maior na vida, no dia a

cial talvez.

dia, na simplicidade, na forma de fazer as coisas e que nós, nunca saberemos como é.

105


o que ainda vai ser o que nunca para pra esperar o que tem uma mente que cabe ao corpo que mistura o tempo com o sonho que ainda não sabe o que vai ser mas não esquece queria ser jovem,

DORA BONTEMPI

não sei se sou o que eu queria ter sido mas não sou jovem, sou o que já não é mais. o que ainda não é o que nunca pode parar o que tem uma mente que não acompanha o corpo que mistura o sonho com a dúvida que ainda não sabe o que vai ser e não para é difícil ser jovem, ainda não sou o que quero ser não sei se sou só serei quando crescer? mas sou jovem, sou obrigado a ser.

106

ELIS NUNES FERREIRA

já não posso mais ser


Mudar, mudar, mudar É assim que nos veem Onde está nosso estar?

Mudar,

Mudar, mudar, mudar

Uma obrigação? Confusa um caos. Identidade, indecisão, indescritível.

Não acaba nos 20

Muito bom? Muito ruim.

Infância à adolescência, adolescentes a adultos Mas também de adultos a velhos, de ano a ano, de vida à morte Alguns querem-nos ser Mas nós só queremos passar Os que não são Dorian Gray Nos veem como uma ameaça Instáveis Indecentes

ENZO THALENBERG DI DOMENICO

Mudar tudo muda

Uma passagem para a desgraça… O desespero, uma bosta; Simplesmente uma merda. A contemplação do tempo para ser, A morte entediante. Uma mudança para a passagem, Uma passagem para a mudança. Com personalidade única, Uma energia caótica. O pessimismo sincero e crítico. Espontaneamente empolgado, alegre Difícil de lidar, recuso sem noção. Com volatilidade, ágil e elétrico.

Ingratos

Venenoso

É tudo que somos? Isso é o que nunca muda

Uma visão sincera a essa voz, Triste, amável, raivosa…

Mudar, mudar, mudar

Tão julgadora, imponente e vulgar.

Nem tudo é uma fase

Bruta de forma histérica.

Onde está nosso estar?

Desigual a qualquer outra. Ass.: Eu lírico

107


FRANCISCO PRIOLLI XAVIER

Será que eu presto para alguma coisa?

Eu sou só um vagabundo. Na verdade, não é isso.

Já pensei em textos, frases, poemas.

É que eu me sinto inseguro.

Letras de música, mas sobre qual tema?

Sinceramente, tô fazendo isso pra quem?

Repeti isso como um ator pratica a cena.

Meu coração diz que minha música pode salvar o

Isso tudo valeu a pena?

mundo.

Sei lá, às vezes faz sentido.

Mas minha mente me diz que não ajuda ninguém.

-O Quê? -Não sei, só pensei em rimar isso com umbigo. — resposta a mim mesmo. Vamos falar sobre música, por que você parou? Se zangou, ou algo ruim se tornou? Alguém te forçou? Não, só não tinha compromisso.

108


Música não serve, mas preciso ir para algum lugar.

Mas é só sobre dinheiro? Tem certeza?

Eu me conheço, e tenho a clara noção de que traba-

Pra que mais serve o trabalho, aliás, por que tra-

lhar, como alguém comum, não é algo que desperta

balhamos? A resposta é simples, para viver em

meu interesse. Na verdade, só me preocupa.

sociedade é necessário que cada indivíduo exerça

E acho que isso tem a ver com a juventude em si, o

uma função, quanto mais importante, mais bem

acesso a toda essa tecnologia, me faz perceber que

remunerado será.

eu quero ganhar dinheiro em cima de mim, e não da

De verdade? Quanto mais importante for a função?

minha mão de obra.

Então você quer dizer que... Pera, você sabe bem disso, é sobre dinheiro sim. Quer dizer, não o dinheiro em si, mas a necessidade e a pressão que o mundo faz em torno de um jovem: -Ah você precisa estudar, pra passar em uma faculdade e arrumar um emprego! Realmente preciso? Acho que sim, né? É isso ou virar um Zé Ninguém! Aliás, eu posso ler Desobediência Civil, queimar meus documentos e ir morar no mato, já li, achei a ideia entediante. Enfim, nada disso faz o menor sentido, foda-se tudo, joga pro alto. Não posso, amanhã tem prova.

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Das longas unhas, dos finos dedos.

Teu pé Andou An Dou Dou An Dou An Dou

Das onduladas rugas, o cais de teu corpo. Tua perna. Fina, como se implorasse à mãe, o divino leite. Tua perna. Repleta de pelos Mal formados. Repleta de manchas. Cicatrizes Teu tronco Marcado pela seiva. Magricela, suado. Coberto pela leve camisa, já anexada às escamas. Tua aparente costela

FREDERICO LEONI ZUCKER

Faltava-lhe um pedaço-já abandonado. Teu rosto. Longo. Coberto pelo pelo. “Mal feita” Coberta pelo tédio Coberta pelo medonho, que preenche-o de ponta a ponta Coberta por Flandres. És tu! Tu de corpo feio De grito preso De choro baixo Tu, feia. És tu, beleza!

110


Eu. Jovem. Quando foi que isso aconteceu?

GABRIELA BURZA BARBERA

Parece que até ontem eu era criança. Mas ao mesmo tempo, parece que sou assim desde sempre. Mesmo assim, eu ainda não sei ser jovem. Mas o que é ser jovem? É estar sempre estudando? Saindo com os amigos? Sempre me dizem para ser eu mesma. Mas e se eu não sei quem sou? Então eu sou nada? Não. Alguma coisa eu sou. Mas o que? Quer dizer, quem?

GUSTAVO PENTEADO GOBE

Brincar como criança acabou A dificuldade do novo ficou Amigos que nunca vou esquecer Dificuldades na escola que preciso vencer Pessoas e caminhos novos ainda vão surgir E um futuro melhor posso ajudar a construir

111


IOLANDA BLANCO

A juventude, onde penso e sinto de tudo Mas não posso nada Onde tenho que saber quem sou Mesmo sem saber muito bem quem era Saber sobre o futuro Mesmo sem saber muito bem sobre o passado Ser a espontaneidade, a falta de noção, a diversão e a irresponsabilidade E ainda lidar com as inseguranças, medos, dúvidas, violências e rejeições Ter que ajudar em casa, cuidar dos irmãos, aprender a cozinhar, a andar pelas ruas, gerenciar tempo e dinheiro Mas ainda ter tempo de ir a festas, fumar, beber e fazer merda por aí Ser constantemente ser forçado a olhar para o futuro E a enfrentar problemas que preferimos ignorar Mudanças estão constantemente e bruscamente acontecendo O que antes era rotineiro agora é inusitado Relações e pensamentos sempre em modificação A adolescência é onde somos novos demais para sermos adultos Mas velhos demais para voltarmos a ser crianças

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ISABEL BERSOU RUÃO

Me disseram que teria mais liberdade

Seu desejo de espelhação

Que poderia escolher

Não

Mas como, se me direcionam

Meu respeito por você não é admiração

E limitam?

Serei aquele que nunca veio antes Mesmo que tantos outros me sejam

Me moldam para que eu vá ser Mas se esquecem que já sou

Admissões precisam ser feitas

Mudar? Posso

Não sei por onde vou mas não vou por onde você foi

Mas não cabe a você me dizer para o quê

Preciso que segure a minha mão Mas não Não me guie

“Não vá por aí, meu jovem, que não tem chão” Pois então cairei E cairei duro

Talvez minha ideia de liberdade esteja equivocada

Quero que meu corpo se molde pela minha própria sina

Mas entende que não importa?

Não é que não penso que não quer me ajudar

Digo a mim o que sou

Ou que não o respeito

E eu grito mais alto, velho

Apenas quero a liberdade de poder formar os meus próprios calos

Entenda o prazer do desafio Pelo simples fato de desafiar

Não me diga que ando fácil

Porque quero

É duro

Porque posso

Não sou senhor da dor

Meu controle de eu está acima do seu

Mas não pense que não a conheço

Se quiser não ser pelo simples fato de não querer

113


A juventude é como uma música Move-me, do começo ao fim Começa com a melodia Mudo conforme ela continua Quem sou eu na partitura? A música se intensifica Me derruba com força

LARA GREGER TAVARES ROCHA

Meu corpo pesado, se recusa a mover-se

A música continua E parece que todos exceto eu estão empenhados Estou fora do ritmo!? Porque corri tanto? A música fica mais lenta Meia noite, já é outro dia Acordo de manhã A música continua E antes que ela chegue ao fim Dançarei conforme seu som Me sinto alegre Me sinto brava Me sinto triste Tenho medo Mas devo continuar Pois um dia, a última nota vai soar E poderei tocar uma nova música

114


Um turbilhão de sentimentos passando pela minha cabeça, 24 horas por dia, isso é ser jovem?! Eu sei que é difícil passar por tudo que a juventude nos traz e mostra, mas será que é para ser tão difícil assim, como está sendo pra mim, ou todos ou jovens têm esse mesmo sentimento. Será que todos na minha idade entendem o que eu tô sentindo, mesmo eu

LAURA MARTINS BEATRICE

não sabendo ao certo? Tem várias (para não dizer todas) coisas em relação à juventude que me deixam perplexa, mas a maior delas é como pessoas mais velhas não conseguem me entender mesmo já tendo passado por tudo que eu estou passando, por que que elas não sabem que quando eu estou com raiva elas têm que me acalmar, e não “colocar mais lenha na fogueira”? Por que meus pais não entendem que a única coisa que eu quero quando estou chorando é um abraço, eu não quero que eles gritem comigo ou me expliquem o porquê da briga? Porque a minha tristeza e raiva não é entendida? Talvez eu não entenda isso porque eu sou jovem, porque não entendo nada da vida. Pelo menos é isso que eles falam, e como uma jovem não posso retrucar os mais velhos. Enfim, a juventude.

115


LIVIA YANO DANTAS

Ser adolescente é saber que cresceu mas não saber quando. Ser adolescente é saber trigonometria. Ser adolescente é saber que suas decisões afetam as coisas ao ser redor. Ser adolescente é saber o básico sobre a guerra fria. Ser adolescente é saber que adultos não possuem todas as soluções. Ser adolescente é saber fazer prova a caneta. Ser adolescente é saber que os preconceitos não são apenas palavras más. Ser adolescente é saber a teoria da evolução. Ser adolescente é saber que quer fugir mas não saber para onde. Ser adolescente é saber a data de acontecimentos relevantes. Ser adolescente é saber que seu futuro depende de você. Ser a adolescente é saber recitar a canção do exílio. Ser adolescente é saber que sua opinião vale menos. Ser adolescente é saber escrever artigos de opinião. Ser adolescente é saber o que privilégios mudam tudo.

aber que o mundo ainda não está preparado para te receber.

116


LORENZO PAGANI LEGAT

Ô o fundo do poço. Não dá pra piora (piorar). Dói subir, mas... a saída tá (está) lá. Ô o que miséra (miséria). Se é só se esforça. Mas como se esforçar, se não consegue levanta! (levantar). Mas eu tenho esperança. Sei que um dia vou subir. Mas até lá demora, e já quero desisti (desistir). Não consigo descansa (descansar) — Sem sabe (saber) se tu ta (está) bem. O mainha (mãezinha) obrigado, por carregar um peso assim! A esperança nunca que acaba. Mas a paciência sim. E a minha paciência, já está chegando ao fim! O mainha (mãezinha) quero que saibas — Que culpa tua não foi não. A culpa foi minha, por não ter tomado jeito não! To (estou) tentando melhora (melhorar). Mesmo que não consiga não. Porque sei que um dia, eu paro de piora (piorar) tudo que é bom.

117


LUIZA VARANDA DE MATTOS

Quando passamos de criança

Não sou ainda o que serei,

à fase da juventude, em

assim como não sou o que fui.

muitos sentidos, me parece que a adolescência é um novo

Um esboço do futuro,

nascimento.

um novo do passado, um sem-lugar determinado.

Nessa fase da vida, além da

LUCAS WATANABE

insegurança, surgem outras

Um isso quase aquilo,

questões e um turbilhão

um ser ou não ser.

de transformações com o

Um esperar infinito,

nosso corpo. Mas ao mesmo

um andar,

tempo é um processo de

um correr.

amadurecimento mental e físico importante para quando

Um quase eu,

chegarmos à vida adulta.

um esboço mal traçado.

Entender as transformações

Uma penumbra não completamente escura.

do meu corpo que ocorreram rápidas e desordenadamente,

Um talvez sempre talvez.

lidar com as espinhas na frente do espelho e perceber que eu não era mais aquela criancinha que eu era até um tempo atrás.

118


MARIA EDUARDA SANTOS COSTA

Juventude, chega tão rápido

Juventude, pros adultos é difícil de entender

e se vai mais ainda.

para a maioria não fazemos nada da vida,

Para alguns são os melhores anos das suas vidas

nossa escolhas e obrigações são fáceis

enquanto para outros são os piores

e não temos que nos preocupar com nada

Juventude, é o inferno, é a paz,

Enquanto tem a minoria que realmente consegue

é se encaixar, é se rebelar,

ver

é se chamar de adulto e ao mesmo tempo de criança,

o peso das nossa obrigações

é passar por hormônios, é crescer

o quanto nossa vida é agitada

é ter medo de não ser ouvido, é ter medo de não ser aceito e como somos afetados de diversas maneiras é ser jovem. Eu ainda tenho muito o que viver ainda tenho muitos momentos felizes e tristes para

Pra mim é a junção de tudo isso

passar

é uma mistura de emoções

e ainda mais obstáculos para percorrer

em um momento me bota pra cima

mas independente disso eu posso dizer que

no outro me coloca pra baixo

até agora,

e às vezes eu nem sei o que eu estou sentindo

eu gostei da minha juventude.

119


MARIA LUIZA DE TOLEDO CALIL

Eu estava conversando com meu pai, e de presente no meu aniversário de 15 anos eu pedi para fazer uma tatuagem simples, pequena e não muito chamativa, e ele falou que só quando eu tivesse uma maturidade mais avançada e fosse dona das minhas próprias ações ele ia deixar eu fazer. Eu fiquei meio insatisfeita com a resposta e fui perguntar para minha mãe também, e ela me disse quase a mesma coisa que meu pai, que quando eu tivesse com uma maturidade que não ia me levar a fazer coisas no impulso aí sim ela deixaria, falou que até me leva no tatuador. Para mim toda essa conversa que tivemos, principalmente no meio da fase em que estou passando, me descobrindo e conhecendo sobre tudo, foi extremamente necessária, porque a partir dela eu pude refletir muito sobre maturidade. Depois de um tempo eu fiquei pensando, “e se eles tivessem me deixado fazer essa tatuagem? Uma escolha feita durante minha juventude no calor do momento iria intervir em mais coisas no futuro?”, só de pensar me dá um leve arrepio. Com tudo o que eu aprendi sobre a juventude foi que muitas das decisões que eu tomar durante essa fase, têm que ser revisadas pela minha cabeça mais de uma vez, ela pode acabar afetando bastante no futuro, resumindo minhas ações hoje em dia podem refletir bastante em meus atos no futuro, então essa é uma parte da minha vida muito importante, repleta de aprendizados e conhecimentos.

MARIANA FIGUEIREDO KRAUSZ

Quando eu tinha nove anos eu queria pintar meu cabelo de roxo, minha ideia era ficar igual a uma personagem de um desenho animado que eu assistia. Minha mãe não queria deixar, então meu padrinho conversou com ela e disse que ia me dar de aniversário a pintura no cabelo, ele falou para ela que era melhor eu fazer essa mudança com nove anos do que mais para frente com trinta. Eu acho que ele falou isso porque para mim a juventude é uma fase da vida de mudanças, em que você descobre coisas que você gosta ou não, é quando você constrói sua identidade. A minha já foi roxa.

120


MARIANA MAGALHAES TEIXEIRA FURTADO

Identifico o ano passado como um ano sem

as minhas questões. Sei que isso é um imenso

esperanças e sem oportunidade de olhar para

privilégio.

frente. Agora sinto que estou em um lugar de

Me sinto também profundamente incompreendida

reflexões, principalmente sobre a juventude e como

pelos adultos ao meu redor, como se eu não tivesse

eu me relaciono com essa entidade que é manchete

as ferramentas para explicar o que quero dizer.

em todos os lugares. E culpo isso também ao fato

Culpo-os também por não fazerem o esforço de

de que o ano inteiro tivemos projetos virados para

tentar me entender. Talvez uma das razões de eu

essa questão.

não ser compreendida da maneira que eu desejo seja

Não tenho a esperança de mudar o mundo. Sinto

precisamente essa falta de ferramentas no modo de

que já estamos no começo do fim.

falar. Talvez não consiga me expressar direito.

Acho que tenho ferramentas que possibilitam uma

Tenho interesses diversos e vejo isso como

primeira análise mais aprofundada da sociedade

uma vantagem, também não entendo muito

e seus funcionamentos. Ver e realmente entender

quem é fissurado por apenas uma coisa. Como

o quão injusto e profundamente errôneo são os

futebol, quantas pessoas têm sua personalidade

innerworkings da nossa sociedade me deixa com

inteiramente moldada por qual time eles torcem.

uma grande dificuldade de criar ilusões, no sentido

Acho isso um tanto empobrecedor.

de uma fantasia, para conseguir continuar

O fim, acho muito importante perceber que todos

Eu não lembro quem falou isso mas lembro de

nós vamos morrer, isso é óbvio mas realmente

escutar em algum lugar: “A falta de ilusão é a

parar e entender que tudo que eu vivi vai de fato

morte”.

ser esquecido e que a existência individual é

Tenho muita sorte de ter pessoas que eu julgo

insignificante me traz um grande alívio, quero ser

serem intelectuais para que eu possa despejar

esquecido, quero dar espaço a coisas novas.

121


A juventude pode levar-nos a cometer muitos erros, por inocência ou inexperiência, geralmente. Às vezes nos traímos demais, e deixamos de explorar o grande potencial que temos, grande dentro de nós, que faz parecer que somos capazes de revolucionar o mundo! o atrito do afeto sumiu fugiu escapuliu e eu fiquei

E isto é verdade, nós realmente podemos.

PEDRO AYOUB

NINA SCHNAIDER REDONDO

outras vezes sentimos uma energia tão

mas na juventude ainda nos falta tanta sabedoria para lidar com esse potencial. Daí todas as coisas ditas impossíveis podem tornar-se promessas fáceis, e aquelas coisas fáceis podem parecer impossíveis.

gelada

algumas frustrações e decepções podem

estática

gerar-se a partir disto, mas isso não é de

parada

todo ruim.

uma estátua

A [vida, juventude] é uma boa escola.

de gesso

Sempre chega o tempo em que você con-

e marfim

segue dominar tuas capacidades e dar a exata medida das coisas, e você verá que

presa

mesmo os teus maiores erros e frustrações

no oco

se tornaram para ti um excelente tesouro

do fundo

no caminho de tua evolução e realização

de mim

pessoal .

122


RAFAEL COUTINHO TALOCCHI

A juventude é uma etapa muito importante da vida,

visão comumente representada em filmes e séries

que possui diversas questões e visões diferentes

já que nunca são mostrados os problemas da ju-

tanto dos próprios jovens como de pessoas já adul-

ventude é apenas a parte da diversão, ignorando as

tas. Mas um grande problema é a forma como esta

diversas mudanças que ocorrem na vida dos jovens

juventude é vista por pessoas mais velhas e que

nesta etapa da vida.

nem sempre é a realidade.

No geral existem muitos pontos de vista da socie-

Muitas vezes pessoas mais velhas podem ver a ju-

dade em relação às juventudes, porém o que mais

ventude como uma etapa da vida em que todos são

predomina é o de que os jovens estão sempre cau-

extremamente irresponsáveis e não têm nenhuma

sando problemas e confusões e que não são capazes

capacidade de pensar o que é certo ou errado sozi-

de fazer nada sem a ajuda de pessoas mais velhas.

nhos. Este ponto de vista também impõe diversos

Concluindo é possível dizer que não exista uma

estereótipos a estas juventudes e que se não forem

forma correta de analisar as juventudes, pois estas

cumpridos, o indivíduo será visto como alguém sem futuro e completamente sem solução.

são muito diversas e específicas, sendo impossível

Outro problema relacionado a este modelo de visão

se fossem todas iguais. Além disso generalizar a

da juventude é que para estas pessoas mais velhas

juventude como se todos fossem “vagabundos” e

um jovem que se divirta e não consiga ir muito

não tivessem nenhuma responsabilidade também

bem na escola é uma pessoa ruim e muitas vezes é

é um equívoco já que cada indivíduo é diferente e

atribuída certa culpa a estas pessoas por estarem

mesmo que o jovem queira fazer algumas coisas que

aproveitando a vida.

aos olhos de pessoas já adultas pareça um absurdo é

encaixá-las em um único modo de julgá-las como

sempre importante lembrar que um dia estas pes-

Outra visão é também a de que a juventude no geral

soas também já foram jovens e que faziam coisas

esteja sempre em festas, fazendo coisas erradas e

similares eram julgadas por mais velhos.

causando problemas para a sociedade. Esta é uma

123


RAFAEL DJIGOV CAVALCANTI

“O homem nasceu livre e por toda a parte vive

ser recheada de sonhos e objetivos. Desse modo,

acorrentado”. Uma frase de Jean-Jaques Rosseau,

a professora Luana Tolentino nos mostra que: “A

que ilustra, a juventude como um todo, porém a

pobreza não pode nos tirar o direito de sonhar”, e ela

quantidade de correntes e sua dureza, variam de

conclui dizendo que o quão mais precária é sua con-

acordo com sua etnia, localização e classe. Nesse

dição, menor é sua perspectiva de uma vida melhor

prisma, destacam-se dois aspectos importantes:

e mais curto o seu leque de sonhos e possibilidades.

como a capacidade de se livrar dessas correntes está

Consoante a isso, confirmando o fato de que mesmo

intrinsecamente ligada à sua condição econômica

dentro de nossos mais profundos pensamentos e

e da forma que elas, como uma navalha, cortam os

desejos nossas correntes nos acompanham. Assim,

sonhos dos menos afortunados.

certas vezes, até mesmo, acabando com a única esperança que lhe restam.

Em primeira análise, evidencia-se que na juventude, principalmente, tentamos nos libertar de todas

Desprende-se, portanto, a adoção de medidas que

essas correntes, entretanto sua condição econômica

venham ampliar a possibilidade do sentimento de

é um fator essencial para este feito. Sob essa ótica,

verdadeira liberdade, para todos os jovens, indepen-

o Pnad e a Unicef tem dados de cerca de 1,7 milhões

dente de sua classe social. Dessa maneira, cabe aos

de crianças e adolescentes de 5 a 17 anos estavam

governos locais e a nós como sociedade, fazer com

em situação de trabalho infantil em 2019, mostran-

que todos os jovens voltem a sonhar, por meio do

do que enquanto uns têm a corrente, da obrigação

aumento de oportunidades e incentivo dos interes-

de estudar, os mais pobres em sua juventude já

ses da juventude, a fim de que o futuro do mundo

trabalham exaustivamente. Dessa forma, conclui-se

seja o mais livre e sonhador possível. Somente

que a juventude e sua liberdade, bem como suas

assim, poderemos nos livrar das correntes de nossa

decisões são para uns, uma escolha e para outros o

sociedade e alcançaremos um futuro mais verdadei-

único caminho que lhe foi dado

ro em todos os aspectos possíveis.

Além disso, é notório que a juventude é e deve

124


RAFAEL FONZAGHI BARROS

RYHAN SANTOS DOS ANJOS

A juventude é como um sonho frágil Que na estrada da vida e apenas um pedágio Para uma vida sem muitos sonhos

Antigamente as juventudes eram muito diferentes,

Mas com vários pensamentos medonhos

os jovens faziam coisas diferentes, tinham problemas diferentes e soluções diferentes. Muitos pais e avós falam como a juventude deles

A juventude é uma mistura

foi mais difícil e que nós, jovens de hoje, não temos

Com O problema dos outros sempre parece menor

porque reclamar, porém muitas vezes eles não

muito conhecimento sobre várias culturas

compreendem os nosso problemas assim como nós

A juventude aprende sobre várias caras

não compreendemos os problemas que eles tinham,

Mas tem que decorar a fórmula de bhaskara

na realidade não existe mais facil ou mais difícil cada uma tem suas dificuldades e suas vantagens, nós por exemplo nos tempos de hoje temos muito

A juventude é uma fortificação das amizades

menos liberdade de sair e brincar na rua por conta do crescimento e da urbanização das cidades, por

Mas na vida adulta tem muita diversidade

outro lado nossos pais e avós não tinham acessibili-

Os jovens são os menos compreendidos

dade à internet, meios de comunicação e tecnologias

Pois não são crianças mas devem se comportar

que facilitassem o dia a dia.

como adultos

Ou seja, não tem um tempo melhor ou pior para ser jovem, sempre terá seus problemas e suas vantagens, mas sempre tentamos diminuir os problemas dos outros. O problema dos outros sempre parece menor que o seu já que não é você quem o sente.

125


Eu perco o tempo vendo o tempo passar Eu amo o silêncio mas não posso parar, Pois a vida escorre e o tempo corre e eu não posso parar.

SOFIA ABE ROVEDA

Mas como vou cantar-dançar a vida sendo que eu não tenho tempo? Dizem: “Você é jovem! Pare de reclamar! Quero ver quando chegar à minha idade” Mas mãe, dói! Esse viver machuca, me faz espinhos e me rasga a pele. A voz na calada da noite quer cantar, mas só sabe chorar. Eu não aguento mais! Esse mundo que me pressiona e me bota numa caixa de sapato. Mas agora vou voar! Mãe, vou partir, ser livre! Sem drogas, sem bebidas Eu lhe prometo! E eu volto, me liberte dessa caixa E me deixe respirar! Eu voo mas eu volto! Livre, sentada na mesa entre os bons amigos, vejo o tempo finalmente do meu lado.

126


Tendência instintiva do corpo de manter o equilíbrio. Tudo grita dentro do peito O nó na garganta tem voz; aquela que nunca sai A cabeça é um emaranhado de pensamentos que aparecem no volume máximo

SOFIA COLASANTO GONZALES

É impossível ficar em um lugar barulhento assim. Busco a paz Ou a ilusão desta Como haveria de ter algo realmente pacífico num cenário de caos? Impossível Então crio lacunas de ilusão ao longo dos dias imaginando que, ali, vive o silêncio E desfruto desse nada até sentir que o caminho do meio está começando a chegar Olho paisagens bonitas enquanto minha mente é um borrão e, de alguma forma mágica, as coisas se acalmam Mesmo que seja só um lapso, Um momento minúsculo, em meio à imensidão de segundos. Por um instante, esqueço que tudo está tão confuso E levo para minha confusão diária a lembrança dessa sensação Como um incentivo Até mesmo uma esperança Tudo está louco, mas ainda sinto E isso é muito.

127


SOPHIA CASOLARI LANDELL BALBINO

De repente da felicidade fez-se a tristeza Escura como um poço sem fim E dos abraços apertados fez-se um lauto vazio E das tardes ensolaradas fez-se um breu De repente do ânimo fez-se a melancolia Que desfez a última esperança E da euforia fez-se a angústia E da comemoração fez-se a amargura De repente, não mais que de repente Fez-se frustrante o que era animador E doloroso o que se fez acolhedor Fez-se do branco, o escuro Fez-se da vida algo sem sentido e propósito De repente, não mais que de repente.

128


THEO ROCABADO ZAPELLA ANDRADE

minha história é o que tenho para dar não tenho muito a oferecer mas ao mesmo tempo tenho tudo carrego junto a mim memórias que compõem uma canção inacabada escrita com o que vi, renovada a cada segundo minha história é o que sou não sou ninguém mas ao mesmo tempo sou o mundo meus afetos, meus laços, minha vida, meus passos meu jeito risonho e coração profundo minha história é de onde vim não vim de lugar nenhum mas ao mesmo tempo vim de muitos nasci em volta do amor mas ainda sim o procuro faço raízes aonde vou e não sei do futuro chego aqui de mãos vazias apenas com a minha voz e o mar de palavras submersas em mim

129


Equipe do Colégio Oswald Professor de Português e Projeto Escrita: Evandro Rodrigues Professores: História: Diego Lucena Ciências: Danilo Safi Educação Artística: Bruno / Roger / Eric Jan / Arthur / João Paulo Nascimento Matemática: Rita Belinelo Inglês: Juliana Cernea, Luciana Palmieri e Adriana de Rezende Geografia: Bruno Picchi Ed. Física: João Simão / Julia Santos e Letícia Doretto / Eduardo Longhi Projeto Intervenção: Marina Faria / Tarso Monitora de Língua Portuguesa: Gabrielle Sá Vital dos Santos Assessora de Língua Portuguesa: Vivian Cristina Gusmão Coordenação: Laura Meloni Nassar Assistente de Coordenação: Rosana Barbosa Nunes Direção: Andrea Andreucci Ramos Maria

Revista Digital do 9o ano - 2021 Nó Na Palavra Criação e diagramação: Editoração – Central OEP Coordenação: Thiene Ferreira Editoração: Efigênia Maria Pereira da Silva

130


Articles inside

Theo Rocabado Zapella Andrade História

1min
pages 129-130

Sophia Casolari Landell Balbino Soneto da decadência

1min
page 128

Sophia Abe Roveda Ver o tempo

1min
page 126

Sofia Colasanto Gonzales O caos de dentro

1min
page 127

Rafael Coutinho Talocchi Juventudes

1min
page 123

Maria Eduarda Santos Costa Eu juventude

1min
page 119

Lorenzo Pagani Legat Fundo do poço

1min
page 117

Rafael Djigov Cavalcanti Liberdade na juventude para quem?

1min
page 124

Laura Martins Beatrice Sozinha

1min
page 115

Isabel Bersou Ruão Não sou o seu jovem

1min
page 113

Davi Henning Generoso Feresin Juventude

1min
page 105

Francisco Priolli Xavier Pensamentos de Chico: um cérebro bipolarizado

1min
pages 108-109

Danilo Oliveira Conceição Juventude, ela é uma complicação

1min
page 104

Sophia Martins e Galiano Pai contra mãe - Cândido Neves

11min
pages 95-101

Sophia Casolari Landell Balbino A fuga de Arminda

2min
page 94

Sophia Abe Roveda Cândido Neves

4min
pages 92-93

Sofia Colasanto Gonzales Clara

2min
page 91

Ryhan Santos dos Anjos Cândido Neves

4min
pages 89-90

Ricardo Chrispim C. de Albuquerque Pai contra mãe reinventado

1min
page 88

Rafael Barros O dinheiro manda

7min
pages 85-87

Rafael Coutinho Talocchi Mãe contra o pai

4min
pages 82-83

Mariana Krausz Pai contra mãe

2min
page 79

Nina Schnaider Redondo Estado contra mãe

4min
pages 80-81

Rafael Djigov Cavalcanti Duas e scolhas um final

2min
page 84

Maria Luiza de Toledo Calil Eu contra eu mesma

5min
pages 77-78

Maria Luísa Barbosa Nunes Mães sem filhos

5min
pages 75-76

Maria Eduarda Santos Costa Um pai sem mãe

5min
pages 73-74

Luana Rayol O passado da mãe

4min
pages 68-69

Luiza Varanda de Mattos Dora, Dora

4min
pages 71-72

Lucas Watanabe A. P. Litvin Pai contra mãe

2min
page 70

Lívia Dantas Enjeitado?

5min
pages 66-67

Laura Martins Beatrice Ele contra mim

2min
page 65

Lara Greger Tavares Rocha Capitães da areia outro fim

2min
page 64

João Vitor Dente A mãe sem filho

2min
page 63

Isabel Bersou Ruão Parto

2min
page 62

Iolanda Magalhães Blanco Pai contra mãe

2min
page 61

Gustavo Penteado Gobe Pai contra mãe

4min
pages 59-60

Gabriela Burza Barbera Sem pai nem mãe

4min
pages 57-58

Francisco Priolli Xavier A busca

4min
pages 55-56

Eva Doberti Suarez Pai contra mãe reinventado

5min
pages 53-54

Elis Nunes Ferreira Pai contra mãe

2min
page 52

Danilo de Oliveira Conceição Felicidade x Trabalho

4min
pages 48-49

Vicente Detoni Franzini Escola para quê?

4min
pages 41-45

Ana Carolina Barbosa Nunes Mãe contra pai

5min
pages 46-47

Sophia Martins e Galiano Evasão Escolar

2min
page 39

Theo Rocabado Zapella Andrade Escola pra quê(m)?

2min
page 40

Sophia Casolari Landell Balbino Escola para quê?

2min
page 38

Sophia Abe Roveda Os “nem nem”

2min
page 37

Ryhan Santos dos Anjos Escola para quê?

2min
page 36

Pedro Martins Ayoub Fernandes Escola para quê?

2min
page 32

Rafael Djigov Cavalcanti Educação: a grande arma

2min
page 34

Ricardo Chrispim C. de Albuquerque Escola para quê?

2min
page 35

Luiza Varanda de Mattos Evasão e motivação escolar

2min
page 29

Maria Luísa Barbosa Nunes Desigualdade educacional brasileira

2min
page 30

Lívia Dantas Educação em uma sociedade mal educada

5min
pages 26-27

Dora Bontempi Evasão Escolar é um Problema Social

2min
page 15

Laura Martins Beatrice Escola para quê?

2min
page 25

Isabel Bersou Ruão Para além da educação

5min
pages 20-21

Antonio de Castro Prandini “Escola para quê?” e os jovens que não estudam nem trabalham

2min
page 11

Iolanda Magalhães Blanco Escola para quê?

2min
page 19

Caíque Prall Sitchin Escola para quê?

2min
page 13

Danilo de Oliveira Conceição Escola para além dos estudos

2min
page 14

Elis Nunes Ferreira Escola para quê?

2min
page 16
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