4 minute read

Sophia Abe Roveda Cândido Neves

fumaça já tomava conta do cômodo e eu ficava cada vez mais desesperada. Foi aí que acordei, completamente tensa.

Tentava dormir de novo, mas não conseguia. Levantei-me da cama e fui passar o café. O dia seguiu sem grandes mudanças e eu estava cada vez mais ansiosa para o baile. Coloquei o lindo vestido branco que tinha feito e uma sapatilha um pouco velha. Chegando no local, encontrei algumas amigas e fiquei conversando com elas. Em certo momento, fui pegar uma bebida e vi um homem alto, com barba e que estava fazendo todos em sua volta rirem. Me aproximei e vi como contava suas histórias e piadas de maneira tão faceira. Percebi que ele me lançava olhares de desejo e eu os retribuía. Nunca tinha sentido aquilo, uma paixão tão imediata e intensa. Depois de certo tempo, ele me tirou para dançar e foi ali que perguntei seu nome, era Cândido Neves. A partir daquela dança eu sabia que aquele seria o homem com quem me casaria. Sophia Abe Roveda

Advertisement

Cândido Neves

Eu poderia imaginar mil maneiras para ficar com meu filho. Eu e minha mulher poderíamos ficar sem comer para poder dar a ele o que comer, mas aí nós morreríamos de fome e deixariamos nosso filho órfão. Eu poderia começar a roubar e vender os itens furtados para poder comprar comida, mas isso é imoral e se eu fosse pego seria morto, assim deixando minha mulher e meu filho sem comida. Poderíamos pegar dinheiro emprestado e quando as coisas melhorassem pagaríamos aquilo que ficaremos devendo, mas e se as coisas só piorarem?

Eu poderia arranjar mil soluções! Porém nenhuma delas iria dar certo, todas resultariam em fome ou morte. Não há nada que eu possa fazer para manter meu filho comigo. Tia Mônica já falou que eu devo deixá-lo na Roda dos enjeitados o mais breve possível. Se não o menino morreria de fome mas não consigo imaginar isso como uma boa escolha, é impossível gostar da ideia de deixar seu filho único e amado num lugar onde um estranho qualquer pode o pegar e levá-lo para longe ou pior: meu filho acabe ali esquecido pensando que nós não o amamos o suficiente e deixamos-lo lá por não ser digno do amor de uma

mãe, um pai ou de qualquer outro amor.

Como a tia Mônica consegue ser tão insensível? Ela nem teve filhos, como ela pode sugerir que eu abandone o meu? Ela não imagina a dor que é ter uma única opção e essa ser a pior escolha para você! Provavelmente ela não entende a angústia de ter que abrir mão da coisa que mais se ama! Mas no fundo sei que ela está certa e que isso é para o bem do meu filho. Porém é muito difícil deixar de ser egoísta e aceitar que o melhor a se fazer era o pior a se fazer para mim.

Depois de várias brigas e ameaças, chegou a hora de levar meu filho à roda dos enjeitados. Por mais que fosse a nossa única opção, essa foi a escolha mais difícil a se tomar! Pois é melhor um filho vivo do que um filho a sete palmos do chão. Então o melhor a se fazer é deixá-lo num estabelecimento onde ele tivesse comida, bebida e vestimenta ao longo de sua vida.

Quem sabe alguém o acolha e o ame mais do que eu e minha mulher, pensar nisso faz doer o peito mas nem o amor que sinto pelo meu filho será capaz de sustentá-lo.

Quando boto o pé pra fora de casa um sentimento árduo enche meu peito e me arrependo profundamente de estar fazendo isso, mas se não for feito meu arrependimento vai ser maior! Pois nem poderia imaginar a vida que meu filho estaria tendo.

Ando devagar, observando o dia e pensando em mais ideias egoístas para ter meu filho junto a mim e minha mulher. Eu o imagino crescendo e ficando forte e esperto como eu! Correndo e divertindo-se! Depois eu o imagino mais velho trabalhando, com uma mulher, filhos, dinheiro e uma casa farta. ele tenha um futuro próspero e farto, para que ele não tenha que abrir mão da coisa que mais ama.

Entrando no beco e indo em sentido ao Largo da Ajuda, vejo o vulto de uma mulher… é uma escrava fugida!

Entrei em uma farmácia e pedi para que o farmacêutico guardase meu filho por um instante, com uma expressão de confusão no rosto do atendente eu bradei o nome da mulher do anúncio de escravos fugidos. ARMINDA!

Fui atrás dela e a agarrei, ela resistiu.

— Siga!

— Estou grávida, meu senhor! exclamou. Se Vossa Senhoria tem algum filho, peço-lhe por amor dele que me solte; eu serei tua escrava, vou servi-lo pelo tempo que quiser. Me solte, meu senhor moço!

Ela diz isso, mas estou nem aí! Quem mandou engravidar e fugir depois?

— Siga!

— Se solte!

— Não quero demoras; Siga!

Arminda implora, e diz os castigos que o senhor dela seriam fatais a ela e o filho não resistiriam, mas eu não me importo! Só arrasto a escrava fugida.

— Você é que tem culpa. Quem lhe manda fazer filhos e fugir depois?

Após arrastá-la por muito tempo, chegamos na estadia do senhor dela.

Eu a entrego, recebo meu pagamento de 100.000 réis! Por ela ter relutado tanto acabou abortando. Eu assisti a tudo, porém nem todas as crianças vingam.