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Nina Schnaider Redondo Estado contra mãe

não voltou do trabalho e no outro dia também não. Depois de dois dias ele chegou em casa e a gente conversou sobre o assunto. Ele disse que a gente precisa pensar no que íamos fazer com um filho nosso chegando, aquelas palavras me deram um certo alívio e ao mesmo tempo uma confusão na minha cabeça, eu ficava me perguntando o que é que ele quis dizer com “vamos pensar no que podemos fazer com nosso filho”. Ele sabia que meu maior sonho era ser mãe e estar presente na vida do meu filho.

Os meses foram se passando e nosso filho nasceu, era a criança mais linda que eu já tinha visto na vida, ninguém conseguia tirar o sorriso do meu rosto, eu estava muito feliz e mais feliz ainda porque por incrível que pareça, parecia que o Cândido estava feliz com o nascimento do nosso filho.

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Com o tempo se passando e nosso filho com quatro meses, eu via meu marido muito cansado, ele não era mais aquele homem animado que eu tinha me apaixonado. Naquele dia eu acordei, porém alguma coisa havia acontecido, eu sempre acordava com o som do choro do meu filho e nesse dia não ouvi nada, quando levantei da cama fui ver meu filho como de costume, ele não estava lá, nem ele nem o Cândido.

O que pensei foi que ele deveria ter levado nosso filho para dar uma volta. O dia foi se passando, já era quase de noite quando Cândido chegou em casa ele não estava com nosso filho, foi nessa hora que eu comecei a entrar em desespero. Ele me acalmou e disse o que ele tinha feito. Ele falou que não aguentava mais pensar que tinha que cuidar de uma criança, ele falou que eu sabia que ele nunca quis ter filhos, e que só aguentou esses nove meses porque pensava que poderia mudar de ideia, mas não mudou. Ele deu meu filho, a criança a qual eu segurei por nove meses, para um orfanato. Quando ele disse isso eu só paralisei e fiquei sem reação nenhuma, depois que eu realmente parei para pensar, que o homem na qual eu amava tirou meu filho de mim. Eu só conseguia pensar no que seria do futuro do meu filho, só conseguia pensar que ele se sentiria abandonado pelos próprios pais.

Depois desse dia eu não conseguia olhar na cara dele. Peguei minhas coisas e fui embora, sem nem pensar duas vezes de tanta raiva e tristeza que eu estava sentindo. Fui morar com minha tia e nunca mais queria nem ouvir falar em Cândido Neves, onde no começo era o homem da minha vida e no final era o homem que tirou um pedaço de mim.

Nina Schnaider Redondo

Estado contra mãe

— Arminda! - bradou uma voz masculina atrás de mim.

Quando me virei, dei de cara com um homem branco, tirando uma corda da algibeira, a poucos passos de distância. Comecei a correr instintivamente, mas senti-o agarrar meu braço com força e atar meus pulsos.

Era isso o que eu mais temia. Um de meus principais pesadelos estava se

tornando realidade. Não conseguia processar o que estava acontecendo. Foi tudo muito rápido. Desespero correu pelas minhas veias e me paralisou. Alguém estava gritando. Talvez fosse eu. Tudo parecia lento e acelerado demais, fiquei tonta e comecei a suar demasiadamente e minhas pernas pareciam prestes a ceder.

Quando consegui recobrar parte de meus sentidos, parei de berrar. Ninguém iria me ajudar. Então comecei a implorar para o homem que estava me arrastando pelas ruas que me soltasse, pelo amor de Deus! Não poderia voltar para aquela casa. Não aguentaria.

— Estou grávida, meu senhor! — Ouvi uma angústia cristalina em minha súplica. — Se Vossa Senhoria tem algum filho, peço-lhe por amor dele que me solte; eu serei sua escrava, vou servi-lo pelo tempo que quiser. Me solte, meu senhor moço!

— Siga! o moço gritou.

Eu me contorci.

— Me solte!

— Não quero demoras; siga!

Eu roguei, voltei a berrar, esperneei, tentei lutar e me soltar… nada adiantou. Ele apenas apertou o passo e deixou o aperto da corda ainda mais firme. Continuei bradando e relutando; era tudo o que eu podia fazer.

Enquanto estava sendo arrastada pelos becos e ruas, as pessoas em volta assistiam. Os que estavam nas lojas olhavam curiosos através das vitrines, os que passavam lançavam-me um olhar de indiferença ou nojo. Ninguém viria me acudir.

Eu faria qualquer coisa para não voltar para o lugar de onde fugi, para que meu filho não tivesse de aturar o que aturei, para que ele vivesse.

— Meu senhor é muito mau, senhor moço! Ele vai me castigar com a vara e o açoite! Por favor!

Eu estava começando a tremer e reconhecer as vielas, vias e calçadas das redondezas da horrível casa onde passei quase toda a minha vida. Diversas e aterrorizantes lembranças também vinham se aproximando a cada passo, e eu não conseguiria...

— Você é que tem culpa. — A fala do homem quebrou meus pensamentos. — Quem lhe manda fazer filhos e fugir depois?

Eu queria esgoelar várias verdades para meu capturador, mas, no momento, sabendo que iriam apenas irritá-lo, não disse nada.

Alcançamos a esquina da residência do homem que tantas vezes me machucou e eu entrei em completo desespero; enganchei meus pés numa parede e tentei recuar com o máximo de força que me restava, mas o homem, que era muito forte e estava decidido a me entregar a qualquer custo, me arrancou do ponto onde empaquei.

Já estava arquejando, praticamente sem conseguir me sustentar de pé, quando fui empurrada pelos últimos metros até a porta da frente do casario. Meus joelhos, apesar de todo o meu esforço, se enrolaram. A única alternativa que me restava era voltar a implorar, mas seria inútil. A porta já estava sendo