Sofia Colasanto Gonzales
encomendas tínhamos. Então, resolvi puxar o assunto que estava encucada a tarde inteira: — Titia, você acha que irei me casar?
Clara
— Claro que sim minha filha, uma moça tão linda quanto você há de achar pretendes logo. Por que a
Era uma sexta à tarde. Estava apoiada
pergunta?
no parapeito da janela de minha casa
— Não sei, sinto que estou a tempo demais desa-
e observava os homens que passavam
companhada. Daqui a pouco, já estarei velha e nem
pela rua. Alguns acenavam para mim
filhos vou conseguir ter.
com um sorriso de canto, mas não pa-
— Que bobagem minha filha! Você ainda tem pouca
ravam para falar comigo. Quando o Sol
idade, há de encontrar alguém de boa família que
começou a baixar, me recolhi para dentro
deseje você.
da casa, pois tinha que acabar de coser o
— Espero que sim.
vestido que usaria na noite seguinte.
Fui para meu quarto e vesti minha camisola. Me deitei
Enquanto costurava, vários pensamentos me vinham
na cama e esperei o sono vir. De repente, comecei a
à cabeça. Eu tinha 22 anos e ainda não havia arran-
me ver lavando roupas em um riacho que nunca tinha
jado um homem para me casar. Mesmo que rapazes
visto antes. Na minha frente havia um belo campo
me olhassem com certo desejo, nenhum deles
onde duas crianças brincavam alegremente. Depois
permanecia por muito tempo. Tinha medo de acabar
de lavar as peças, eu os levava comigo para uma
como minha tia Mônica, que não casara e nem tivera
casa simples. Chegando lá, havia um belo homem,
filhos e tinha que sustentar-se. O que queria era um
de barba castanha, camisa xadrez e botas sentado
lindo esposo e dois filhos, porém já estava ficando
na mesa da cozinha. Eu o beijava e as crianças o
velha e não via ninguém que me despertasse o fogo
abraçavam. Depois, eu preparava a comida e todos
da paixão. Além disso, não vinha de uma linhagem
nós almoçávamos. O homem ia dormir em um dos
muito nobre, o que dificultava que moços me esco-
cômodos e as crianças brincavam na sala. Quando,
lhessem. Em meio a tantas ideias, acabei furando
inesperadamente, eu via uma chama que já tinha
minha mão com a agulha. Fiz um curativo rápido e fui
dominado a cozinha se alastrar por onde meus filhos
comer.
estavam. Rapidamente, os coloquei pra fora da casa através da janela e fui chamar meu suposto marido.
No jantar havia arroz, feijão e miúdos de frango. Eu
Porém, ele não acordava e algo em mim dizia que
comi com minha tia e conversamos um pouco sobre
não podia sair sem ele. Eu tentava de tudo, mas nada
o baile de amanhã, o preço dos tecidos e quantas
adiantava. O fogo se alastrava cada vez mais e a
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