Isabel Bersou Ruão
cheiro de meu filho, o calor de meu filho. Senti uma
Parto
Ele amamentou-se sem nem abrir os olhos deixando
Quando a primeira contração veio,
era… desconfortável, doeu um pouco no começo, mas
imediatamente senti medo, iria apenas
era incrivelmente gostoso. Porém, a cada mamada
mãozinha tocar a maçã do meu rosto, coloquei minha mão sobre a dele, querendo nunca soltar.
uma de suas mãos apoiada em meu seio. Amamentar
pari-lo para logo deixá-lo. Tentei ignorar
que meu filho dava, eu me sentia cada vez mais fria.
uma felicidade que crescia em mim por
Vi meu filho recém-nascido ser tirado de meus braços, colocado nos do pai, que o levaria para longe,
acreditar que teria um filho para ama-
sem nada a garantir que vingaria. Cândido abriu a
mentar, cuidar, ver crescer.
porta e o vento gélido os acolheu, vi os pequenos
Por mais que minhas razões fossem boas, não podia
olhos de meu garotinho tremerem com o súbito frio,
impedir o parto. Lembro de Tia Mônica chegar e me
minha única vontade era pegá-lo em meu colo nova-
ver encurvada, me apoiando em uma cadeira enquan-
mente e deixar que se esquentasse no calor junto ao
to eu segurava minha barriga durante uma contração
meu seio. Cândido não olhou para mim quando saiu.
dolorosa. Ela me ajudou a chegar até a cama, pegou
Senti meus braços pesarem como se estivessem
lençóis, subiu minha camisola, passou um pano com
sem vida ao meu lado. O lençol sujo de sangue ainda
água fria em minha testa. Encorajava-me a empurrar
estava na cama, emaranhado em minhas pernas.
e parecia não se incomodar com meus gritos de dor.
Estas, por sua vez, estavam nuas, com minha cami-
Mas eu não queria parir, deixar meu filho sair de meu
sola erguida até o quadril. Meus seios cheios de leite
ventre, onde estava seguro ao alcance de meu abraço.
tocavam o tecido fino da roupa, sem a chance de
Quando ele finalmente nasceu comecei a chorar e a
poderem se acostumar com a boca de uma criança.
rir, não acreditava que agora havia vindo ao mundo
Meus cabelos molhados de suor grudavam em meu
o bebê de quem eu era mãe. Mas, então, Tia Mônica
pescoço. Nada disso me incomodava, apenas o fato
pegou uma tesoura e cortou o cordão umbilical. Me
de meus braços estarem vazios sem meu bebê para
bateu um súbito desespero, parei de chorar e rir, nada
dar sentido à cena.
mais me ligava àquela criança.
Não tinha lhe dado um nome.
Tia Mônica levou-o até mim para que eu o ama-
Inesperadamente, senti meus olhos secos.
mentasse. Peguei meu filho com os dois braços e o aconcheguei junto de meu peito. Fechei os olhos ao beijar sua delicada cabeça e inspirei seu cheiro. O
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