— Siga! repetiu Ele.
emprego fixo, mas é o que conseguiu por enquanto.
Eu estava em pânico chutando e retorcendo enquanto
Estávamos sem casa, sem comida e com um bebê
tempo que quiser. Me solte, meu senhor moço!
para nascer, mas graças a Deus minha tia Mônica
ele me arrastava pela rua até a casa do homem que
arranjou um quarto no porão de uma casa para nós.
me violentou. Eu não entendia por que ninguém fazia
Ela já fez tanto por mim e foi a única pessoa que
nada.
sempre esteve do meu lado, minha única família
— Você é que tem culpa. Quem lhe manda fazer
antes do Candinho e não tenho como retribuir. A tia
filhos e fugir depois? perguntou o moço.
Mônica não gosta muito do Cândido, ela acha que eu mereço alguém melhor, provavelmente um homem
Não consegui responder ele, eu estava lutando para
rico e branco, que não deixe nossa situação financeira
não ser puxada, mas não era possível. A porta do
chegar aonde estou agora.
senhor abriu, não parei de lutar, eu não aguentaria
Uma manhã, comecei a entrar em trabalho de parto,
viver se o futuro do meu filho acabasse sendo o
mas o bebê demoraria para chegar. As contrações
mesmo que o meu. Meu corpo cedeu ao estresse e
pararam por um tempo antes do Candinho sair; ele
houve um aborto, o fruto que eu cultivei entrou sem
tinha voltado muito tarde ontem então não tinha
vida nesse mundo.
falado com ele, então perguntei: — Cândido, preciso de dinheiro para comer antes de parir.
Eva Doberti Suarez
— Me desculpe Clara, ontem não consegui nada. — Candinho respondeu. — Então o que está fazendo? vá agora e não se atreva a voltar com os bolsos vazios — Eu disse
Pai contra mãe reinventado
tentando dar uma má motivação para que ele consiga algo para comer, mas ao mesmo tempo em um tom
Como a maioria das mulheres da minha época, sempre quis ter um filho, cuidá-lo, mas nunca desejei que seja na pobreza que me encontro agora. Meu marido, Cândido Neves é um bom homem, ele fica o dia todo fora de casa atrás de escravos fugitivos, não me orgulho do trabalho que tem, eu preferia que ele trabalhasse em algum
de medo de que ele ficasse bravo e me deixasse. Depois do Cândido sair, a tia Mônica olhou para mim e disse: — Clara, quando Cândido voltar vou falar seriamente com ele, para ele repensar a ideia de ir deixar o bebê na Roda dos enjeitados. Para ser sincera, aquilo me aliviou e me deixou pensando ao mesmo tempo. Se o nosso filho fosse
53