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Temporal Eleandra Bonatto
C
horava. Compulsivamente. O tipo de choro que não espera, não pede licença, apenas vem. Pegou-a de surpresa, como somente esta dor sabe pegar.
Seria coincidência que o barulho das gotas na vidraça abafasse
os seus soluços? Que as gotículas incessantes escondessem seu desamparo dos olhos do mundo? Qual dor machuca esta mulher, tão profunda e tão incontrolável que não a deixa sequer chegar até a solidão do seu quarto? Na enorme sala que se abre às suas costas, cheia de pessoas que não imaginam a sua luta, conversas pipocam, animadamente, e ninguém percebe seus ombros trêmulos e rosto pendido na vidraça. O mundo desaba, o céu chora também, vãs são as tentativas de parar seu pranto. Seus pensamentos tumultuados não oferecem consolo, não há somente uma dor, existe toda uma mescla de emoções transbordando dentro dela. O coração partido, a alma cansada, as vezes em que a vida não foi suave, as perdas e as partidas, tudo dói. Ninguém chega oferecendo conforto, não há paz, ou há. Aquela paz que virá depois do pranto e da chuva, quando a dor for somente uma lembrança de rímel borrado. Mas nesse momento ela queria um abraço, que alguém lhe dissesse, bem baixinho, que tudo vai ficar bem.