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Darlene Honório Medeiros(Darla Medeiros
74 Hoje eu vou usar batom vermelho
Darlene Honório Medeiros(Darla Medeiros)
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Tire o seu machismo do caminho Que eu quero passar com o meu amor. “Porque não nasceu menino?” Ora, faça o favor...
Hoje eu vou usar batom vermelho. Meu amor é próprio, sim, senhor. E quando eu me olho no espelho, Já não me sinto inferior.
Esse mesmo amor, Que ao mesmo tempo é singular, Às vezes é calor... Fogo em que se queimar.
E quando me olho no espelho, Já não pergunto: “o que eu fiz de errado?”. Hoje eu vou usar batom vermelho, Mesmo que seja pecado.
“Onde foi que eu errei?” Quem você tá pensando que é? Que liberdade eu te dei Para me julgar por ser mulher?
Crucificada pelo tempo, Massacrada pela sociedade, Exilada de meus talentos, Usurpada de minha liberdade...
Culpada por ser o feminino. Condenada por ser feminina. O pai queria um menino. Quando é que essa história termina?
Apedrejada por amar, Por ser solteira, por estar só, Por se entregar... Minha cabeça chega a dar nó.
Por sentir demais... Por não caber na tradição... Por não se encaixar nas convenções morais... Por ser mais o pleno amor e menos o padrão...
Rejeitada desde o nascimento, Quando seu pai sonhava em ter um varão... Alguém me diz, “quando é que chega o momento Em que o preconceito vira redenção?”. 75
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Mas, levantou a bandeira: Preta, branca, colorida... Que amor é amor de toda maneira E nem tudo que dói é ferida.
O preconceito ensina E a lição é pra vida: Que quem nasceu menina É corajosa, forte e aguerrida.
Hoje eu vou usar batom vermelho E que Frida me abençoe... Que eu não seja Narciso diante do espelho, Mas, tenha a inspiração de Simone.
E a mulher é um bicho delicado. É o que diz o ditado Que um homem escreveu. Mas, na verdade, a mulher é bem mais forte E não conta só com a sorte de saber bem o que quer.
Tem tanta gente que compara ela com flor, Mas, mulher também é caule. Ela pode sustentar. A segurança de quem tem tanto amor Mas, tem que ter conhecimento para o seu valor provar.
E se chorar é coisa só de mulher Quero ver quem é que sabe, quero ver quem é que quer... Ser delicado e ao mesmo tempo inteligente, Ser sensível, coerente e ainda ter que viver...
Num mundo grande feito para quem é homem, Onde o doce é sensível e o choro é fraqueza. Do preconceito uma ideia que consome Onde só o que é visível se considera beleza.
Quem quer a flor tem que lidar com espinho Com que ela se defende de tudo que é predador. Delicadeza é presente pra quem sabe Entender que aparência não é tudo, meu senhor.
Saia da roda com a importante lição De entender que uma mulher é cabeça e coração, Inteligência, força e tudo de melhor Jogo de conhecimento é o que mostra o seu valor. 77
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Tire suas paisagens cinzentas do caminho Que eu quero passar com minha dor. Hoje eu vou usar batom vermelho Pra ofuscar teu machismo sem cor, Teu anti-feminismo nada velado Mal disfarçado de rancor... Hoje eu vou usar batom vermelho. Minha liberdade, minha luta, minha história Minhas conquistas e vitórias O meu próprio amor.
Professora de História, capoeira e violão, especialista em musicalização infantil, artesã e apaixonada por livros. Escreve poesias e textos desde a infância, tendo mantido blog com seus textos e de outros autores por alguns anos e publicado alguns textos em antologias.