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Erilaine Perez
Aparência X Essência
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Erilaine Perez
Moda. Palavra que tem definido as ações das pessoas em muitos sentidos e não mais apenas em se tratando do que vestir e calçar. É algo que já vem desde a Revolução Industrial, eu sei, e até parece chover no molhado escrever sobre isso. Todavia, tenho observado o ditar da moda crescer em outros campos da vida e, criticamente, quando se fala em aparência física feminina. Ora, as mulheres lutamos historicamente pela independência econômica e pelo direito de controlar a natalidade para que não fôssemos mais vistas e entendidas apenas como meras reprodutoras e donas de casa. Gabamo-nos por termos alcançado igualdade de condições (ainda não ideais) com os homens em postos de trabalho e em outros direitos tantos. Afirmamo-nos como cidadãs dignas de respeito e nos definimos como “fortes” e “empoderadas”. É verdade!
Nós conseguimos e, seria hipocrisia dizer que tudo permanece igual ao passado. Não obstante, um movimento contraditório a esse dito “empoderamento” se alarga entre o público feminino, e toda essa “força” conquistada por nossas antepassadas cai por terra no momento em que as mulheres mostram – por palavras, gestos e ações – que não estão com essa bola toda, se o assunto é encarar com naturalidade o processo natural de “envelhecer”. Sim! As mulheres foram tomadas por uma “onda de rebanho” e passaram a desejar ser jovens para sempre! Será que exagero? Penso que “as manequins dessa nova onda” comprovam os absurdos que têm sido impostos aos corpos e rostos
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femininos em nome da conservação de um padrão execrável de “beleza” – verdadeira mutilação – padrão esse que revela o quanto as mulheres ainda estão “cativas” da aceitação masculina sobre o que deva ser um corpo, um rosto, uma idade considerada “atrativa” para o “desfrute” deles.
Harmonização facial, seios empinados, glúteos proeminentes, lábios que apontam em bicos para o céu, sobrancelhas modelo circunflexo, maçãs do rosto protuberantes, cílios aos tufos: tudo em exibição nas redes, disfarçado de “felicidade”... E lá escorrem pelo ralo das clínicas de estética todas as particularidades daquela mulher que lutou tanto pelo direito de ser o que é, para tornar-se um protótipo, uma a mais dentre uma série de caras, peitos e bundas todas iguais.
Quisera eu ter nascido em tempos outros. Em momento oportuno para a valorização de um “eu” que se destaca pelo pensamento, pela sensibilidade e até mesmo pela sabedoria que os anos concedem a um corpo que pode já não ser mais aquele que atrai pela juventude, mas pelo brilho do bom senso, pela discrição da atitude, pela dignidade do conteúdo que dá a forma ao melhor de nós: a essência.
Professora de Literatura e Língua Portuguesa, especialista em Teoria da Literatura e Produção Textual, pós-graduanda em Literatura e Cultura e escritora