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Cristiane de Campos Salbego

70 A Colecionadora de Canetas

Cristiane de Campos Salbego

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Éimpressionante como a vida nos reserva algumas surpresas, às vezes agradáveis, outras nem tanto. E essa é a história de uma garota muito especial. Ela tinha uma verdadeira fixação por canetas, de todas as cores, tamanhos e marcas, de sublinhar, stabilos, de escrever, para pintar ou apenas para colecionar mais uma e mais outra e ... Enfim, ia além de uma fixação, pois representava para ela a própria condição de sentir-se viva e participante do universo. De repente, uma pandemia mundial assolou o mundo e a menina se viu acuada, totalmente impedida de expor seus sentimentos mais sinceros e puros graças àquela enorme coleção de canetas, era quase uma centena (e seu desejo oculto era ultrapassar em muito esse próprio recorde). E, pasmem, sua ida a algum lugar era primeiro à papelaria para comprar ou apenas observar mais um modelo novo de esferográfica ou similar. E retomando o resquício pandêmico, a frustração de não poder ter /obter/utilizar seu recurso mais precioso, fez com que perdesse para ela o sentido de muitos propósitos: o de ler, de escrever, de estudar, de fazer amigos, de se desenvolver como ser social, pensante e ativo. A natureza pregou muitas peças na humanidade, mas a última, certamente, foi a mais avassaladora do ponto de vista humano e científico. Não só a colecionadora de canetas se frustrou, como a humanidade colecionadora de supérfluos e outros tantos pormenores se viu diante de um desafio imenso: encarar a morte e a doença e a própria estima.

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A nova forma de encarar a vida agora levou a colecionadora de canetas a reestruturar o que realmente lhe importava, o que significava para si e de que adiantaria a sua extensa e colorida coleção se não fosse a oportunidade de ir à escola, de estudar, de fazer novos amigos. E graças à comunidade científica mundial hoje é possível a vacinação dos jovens e crianças contra a famosa Covid 19, sim, famosa, porque fará e já faz parte da nossa história mundial e com certeza integrará as próximas edições dos livros didáticos e literários internacionalmente reproduzidos.

E o mais importante, a colecionadora cresceu, não só fisicamente, mas psicológica e emotivamente, pois aprendeu a melhor lição: colecionar de verdade é valorizar o que temos e somos e somente a partir disso é possível colecionar e apreender a própria essência humana: somos eternos estudiosos e professores de nós mesmos. Já dizia o notório educador brasileiro e pedagogo, reconhecido mundialmente, Paulo Freire “Quem ensina aprende ao ensinar. E quem aprende ensina ao aprender”.

Por isso, a garota foi além de seus sonhos, conquistando aos poucos o próprio espaço no mundo, além do imaginário e aquém da intencionalidade de apenas ser, porque o que definitivamente a move é a alegria e a esperança de poder conquistar sempre mais, um passo de cada vez e comemorar cada nova vitória alcançada.

Atualmente professora de escola pública em Santo Antônio das Missões, natural de Santiago, graduada em Letras (URI Santiago), especialista em Gestão Escolar Integrada e mestranda em Ensino Científico e Tecnológico URI Santo Ângelo.

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