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Vanessa Moletta Pazza

Medo que o medo tem daqueles que driblam incertezas

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Vanessa Moletta Pazza

Sou uma serva fiel, uma perseguidora desesperada por faíscas de ideias, meu vício é viver anotando coisas. Nasci com a concentração necessária para desligar-me do mundo e escrever onde der e quando der. Esse é meu dom, distrair do que me parece inútil e focar no fluir do que meu pensamento desejar, não me torturo mais. Queria ter inspirações em uma confortável casa de campo, com o frio que faz aqui no Sul em uma tarde ensolarada de quarta-feira, diante do aquecer depois da geada, de forma planejada, premeditada, pontual. Mas a inspiração vem de onde ela quer vir e a plenitude resume-se em estar atenta para ela, ou distraída o suficiente do racional para ouvi-la. Vez ou outra estou como agora, sou persuadida por textos mentais, letrinhas que pulam como um poup-up e formam frases que me importunam até que sejam escritas. Nesse momento paro tudo para escrever antes que desapareçam, foco nisso enquanto meus colegas de trabalho discutem sobre as estimativas de plantio para essa safra. Ontem fui persuadida enquanto comia uma torrada e amanhã serei quando eu estiver na fila do banco olhando boletos. Já aconteceu na partida de bilhar, no carro e no barulho da cortadeira de grama do vizinho.

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Esse é o controle de não ter controle de nada e não estar no controle dá muito medo.

Medo de permitir fluir, sabendo que é preciso soltar o texto que se move, sem saber pra onde a história vai.

Nesses devaneios, vez ou outra, me pego pensando sobre os medos que tenho. Medo do julgamento, medo das críticas, medo da exposição, medo de aparecer, o medo de ser vulnerável.

Já ouvi dizer que o medo existe para nos proteger, mas meu medo é acreditar que ele está me protegendo de mim, o medo que o meu medo tem de ser eu, de encontrar e viver minha individualidade e verdade.

Será que o medo nada mais é do que um fator condicionante que nos limita e vem acompanhado de uma ideia vendida de algo ou alguém que virá nos salvar?

Certa vez comprei uma ideia perigosa, o medo de ficar sozinha e envelhecer, eu quero envelhecer porque a alternativa seria morrer jovem.

Embora eu não confesse, também tenho medo de morrer, porque gosto muito da oportunidade de estar viva sabendo que existem milhões de almas a espera do que estou desfrutando hoje, para melhorar, servindo um propósito maior, que não é meu, porque aqui sou pequena, sou apenas um instrumento, uma porta-voz da espiritualidade e de toda essa grandiosidade que sabemos e entendemos tão pouco a respeito.

Só sei que, temporariamente, me utilizo de um corpo físico para algo maior que nesse exato momento não me recordo, porque se recordasse perderia totalmente o sentido à evolução.

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Voltando ao medo de envelhecer sozinha e considerando que envelhecer é um desejo que tenho, fazer isso só poderia ser uma escolha e focada nesse medo absurdo entrei em muitos relacionamentos íntimos com seres tão inseguros e amedrontados quanto eu. As frustrações vieram seguidas do medo de viver exatamente isso, os fracassos amorosos.

Ironia ou não, um medo que nem era meu, que me impuseram, fez com que me perdesse de mim mesma e esquecesse a minha essência de ser livre.

Quantas outras mulheres assim como eu, presas e paralisadas pelo medo, seguem vivendo uma morte em vida? Quantas deixam de enviar seus textos, publicar seus escritos, ou fazer algo que desejam por insegurança em driblar incertezas?

O medo que tenho da morte não está apenas embasado em sair dessa experiência, mas em abandonar lá sem ter concluído o que vim fazer, ou sem de fato conseguir compreender o que é viver.

Nascer, crescer e morrer como um invisível, sem acrescentar nada, sem deixar nada nesse lugar – uma de minhas utopias é crer que vou deixar esse mundo um lugar melhor depois que eu passar por ele – eu quero ser fator de soma na vida do maior número de pessoas que eu encontrar, seja através da fala ou da escrita, eu quero aprender com cada um e eu quero que possamos trocar nossas vivências, para que juntas possamos ser gratas porque tudo que fizemos foi por amor.

Espero que essa reflexão tenha tocado gentilmente o teu coração e que assim eu me eternize em ti, porque ninguém passa por nós de forma vã, eu quero ficar no coração de cada um através de positivas

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partilhas, quero ser lembrada como a mulher sonhadora que sou e quem sabe o que escrevo possa te influenciar e outras para que encontrem a sua verdade e imbuídas dos mais elevados sentimentos, espalhem luz, iluminando cada ambiente que frequentam.

Dizem que o medo tem pavor das mulheres corajosas e que coragem não é a ausência do medo, mas nossa capacidade de realizar apesar dele.

Esse texto é um convite para que possamos nos reconciliar com nós mesmas, desafiando a coragem suficiente para seres tu, já que essa vida é curta demais para que algo possa te impedir ou parar.

Qual o tamanho da coragem que tens hoje?

Que o medo de reconhecer tua potência não te impeça de viver uma existência verdadeiramente extraordinária.

Se leste até aqui, parte dos medos mencionados já não existem mais, não estou envelhecendo só, nem morrerei sem somar, porque hoje fui parte de ti através dessas palavras.

Desejo que possamos sonhar e executar na mesma proporção.

Tu és grande!

Meu nome é Vanessa Moletta Pazza, nasci em Santiago-RS no dia 07 de fevereiro de 1994, sou uma perseguidora desesperada por faíscas de ideia, uma serva fiel das palavras, que vez ou outra permite distrair-se para soltar devaneios que se movem. Minha esperança é eternizar momentos de troca através dos cacos que escrevo, fractais de cada dor que capturei pelo caminho.

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