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Cisnara Pires Amaral
Reflexões sobre um produto em ascensão: o plástico
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Cisnara Pires Amaral
Existem mulheres que escrevem romances, contos ou poesias. Há as que se importam com as questões ambientais e que compreendem a importância de um chamamento em relação a fauna, flora e os desequilíbrios que estamos enfrentando. Esse texto faz referência a preocupação excessiva com o plástico, produto que está em ascensão desde que se instalou a Pandemia do Covid-19, dessa forma esse texto convida a refletir sobre a relação do plástico e as consequências para o meio ambiente, estabelecendo a relação entre a ação antrópica, a responsabilidade compartilhada e os desequilíbrios ambientais. Para iniciar essa reflexão poderemos nos embasar em muitos autores que relatam o descaso com o meio ambiente, como Santos e colaboradores (2020) que relatam que o meio ambiente tem dado respostas indesejadas para aqueles desavisados e destruidores da natureza; para os atentos, tais respostas são efeitos de causas bem conhecidas. Dessa forma, como poderemos auxiliar a manutenção da homeostase do meio? Como poderíamos iniciar uma campanha em relação ao plástico, visto que se torna essencial para evitar a proliferação de um vírus mortal? Se levarmos em consideração a ótica da Pandemia, ficaremos de braços cruzados esperando que esse material, muitas vezes jogado
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na rua, se torne um fardo sem precedentes. Porém ainda podemos fazer nossa parte, contribuindo com o descarte correto ou exigindo mudanças em relação a leis que proíbam o canudinho de plástico em estabelecimentos comerciais.
Mas o que seria um canudinho de plástico em relação a todos os outros produtos utilizados? Sim, um simples canudinho seria um bom começa e depois quem sabe a proibição de copos de plástico ou a substituição dos saquinhos plásticos por papel para colocar os talheres. E quem não lembra da foto nas redes sociais que viralizou com alguns pesquisadores removendo um canudinho da narina de uma tartaruga?
Pois bem, a tartaruga não tem nada a ver comigo e muitos menos essa conversa chata sobre canudinhos ou plástico. Tem sim, tem a ver com o futuro de nossos filhos, com a biodiversidade, com o equilíbrio no ecossistema, sendo assim uma Cidade Educadora deve contribuir para a conscientização de seus munícipes, e educação se faz a partir de chamamentos, engajamentos ou reflexões.
E para que essas ações se tornem realidade, poderemos contar com a promulgação de Leis Municipais, Estaduais ou Federais. Em relação à Lei Federal, está em tramitação o Projeto de Lei (PL) 10.355/ 2018 que discute a fabricação, comercialização de canudos descartáveis em todo o território nacional; além de discutir a utilização desse produto em plástico.
E essa discussão se faz a passos lentos, pois enfrentamos o descaso em relação a essa PL, a demora em discutir tal Lei, a falta de vontade política ou a falta de discussões na mídia ou redes sociais sobre as consequências de sua utilização deixam a população à mer-
65 cê dos malefícios que o produto pode causar na cadeia alimentar. Além do que, em outros países, esse processo já iniciou no ano 2000. Então, por que não devemos discutir esse processo? Será que as pessoas têm conhecimento e consciência sobre os malefícios desses produtos para o meio ambiente?
Essa questão estava sendo discutida em muitas cidades, e em 2019, o site “Cidades Inteligentes” realizou busca atualizada informando as cidades brasileiras que já realizaram ou estão com processos de tramitação em relação ao uso de canudinhos de plástico. Percebe-se que dos 27 Estados Brasileiros, 23 já iniciaram processos de discussão sobre a utilização de canudinhos plásticos e em 52 cidades brasileiras já foi sancionada a Lei de restrição em relação à utilização desse produto. E como essa questão será vista em nossa cidade? O que pensam as pessoas sobre esse feito?
Em minha concepção essa demanda já é significativa, visto que, apesar de não existirem leis federais que incentivem esse processo, os Estados já compreenderam a importância da utilização de medidas mitigatórias em relação ao meio ambiente. Porém, não podemos deixar de notar que existem poucas cidades em cada estado que estão pensando nesse tipo de ação ambiental.
Um estudo elaborado pela ONU em parceria com World Resoucers Institute (WRI) denominado “Limites Legais sobre plásticos e microplásticos de uso único: uma revisão global das leis e regulamentação nacional” argumenta que, a cada ano, 8 milhões de toneladas de plástico acabam nos oceanos, interferindo na vida marinha, pesca e turismo. Destaca a importância da criação de Legislações, pois essas leis podem incluir desde a produção até sua inserção no mercado,
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ocorrendo a proibição, regulamentação quanto ao fornecimento, distribuição, tributação e responsabilidade compartilhada.
O “Atlas do Plástico: fatos e números sobre o mundo dos polímeros sintéticos”, pela Fundação Heinrich Böll deixa claro que, só no Brasil, são mais de 11 milhões de toneladas de plástico, o que coloca o país como 4º maior produtor de lixo plástico no mundo e salienta que a reciclagem é apenas a segunda forma mais eficiente de resolver o problema. A opção melhor e mais simples é não produzir, nem consumir tanto plástico.
Entre 1950 e 2017, foram produzidas cerca de 9,2 bilhões de toneladas de plástico, representando uma média de 400 milhões de toneladas de plástico produzido ao ano, sendo que apenas 9% são recicladas. Os países que mais produzem lixo plástico são: em primeiro lugar, os Estados Unidos, com aproximadamente 70,782 milhões de toneladas ao ano; depois a China, com 54,740; em terceiro lugar a Índia, com 19,311 milhões. O quarto lugar, com 11,3 milhões de toneladas de plástico produzidas ao ano é do Brasil (ATLAS DO PLÁSTICO, 2020).
Esse processo de conscientização é lento e gradual, e as discussões se fazem necessárias para que possamos identificar hábitos e atitudes, pois também somos responsáveis pela utilização do produto. A Pandemia traz à tona a utilização do produto sem precedentes, fica o convite à discussão, pois, certamente, esse será um dos problemas futuros a serem enfrentados pela população.
E nesse momento nosso único objetivo, deverá ser o de restabelecer a homeostasia entre ser humano, meio ambiente e progresso.
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Sair da zona de “conforto” não é tarefa fácil, temos que compreender a responsabilidade compartilhada, efetivar a Educação Ambiental nos diferentes segmentos da sociedade, reverter a cultura de destruição arreigada em nossa história. Mudar as concepções de “exploração” e “conquista”, reverter os valores da raça humana (AMARAL, 2020).
Então fica o convite a essa reflexão, uma cidade educadora deve discutir pontos críticos, propor mudanças e contribuir para a formação de novas atitudes embasadas em conhecimento, construindo histórias relevantes, que nos ajudem a compreender melhor o mundo em que vivemos, desenvolvendo a cultura de participação e da criticidade, porque de falácias sobre Educação Ambiental já estamos cheios, precisamos de ATITUDE!
Mestre em Tecnologia Ambiental, com MBA em Gestão Ambiental, Pós-Graduação em Tecnologia Ambiental e Ensino de Biotecnologia.