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Kaylane Fernandes
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Guarde com você
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Kaylane Fernandes
Tabita:
No carro, voltando para o mundo real depois de um verão intenso, fico relembrando tudo o que vivi com ele nesse curto período de tempo. É o que dizem: “amor de verão nunca dura”, me falaram tanto essas palavras nas férias, mas minha cabeça e, principalmente, meu coração, não assimilaram essa informação. Olho para o reflexo no vidro do carro e noto que já não sou mais a mesma, minha pele está dourada e as minhas sardas estão mais evidentes, fazendo um contraste legal com a argola do meu nariz, meu cabelo já não é mais igual ao início do verão, agora parece que carrego as ondas do mar junto aos meus fios escuros, a maresia na minha alma e a dor do meu coração partido em milhares de pedaços.
Acompanho com o olhar a estrada, é um curto período de viagem e, em todo momento, penso no meu único desejo: dizer para ele guardar meu cheiro doce misturado com o sal do mar. As lembranças começam a pipocar na minha mente… meu pé descalço pisando na areia, meu coração martelando a cada passo, e meus cabelos levantando voo na mesma velocidade que o meu pensamento, ele correndo atrás de mim, me abraçando por trás e sorrindo, mostrando para a praia aquele sorriso que é único. A melodia que saia do violão quando ele tocava minhas músicas favoritas foi o melhor som que já escutei, melhor que o barulho das ondas quebrando na beira da praia. Nunca vou me esquecer de como ele se empenhou para tocar Lagum para mim naquela tarde, apesar do seu forte ser Raimundos e Charlie Brown Jr.
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Não nego que ele mexeu comigo em todos os sentidos que existem. Todas as festas que curtimos juntos terminaram em beijos com os pés no mar. Eu não preciso de você, mas eu quero você, então me pego pensando que, assim como sol briga com a chuva, meus sentimentos brigam com a razão. Mas, quem disse que você vai voltar? Ou melhor, quem disse que eu vou voltar?
Theo:
Sinto um vazio no peito. Sinto sua falta. Desde que Tabita voltou para sua casa não consigo fazer nada direito. Não consigo surfar, não consigo tocar violão e muito menos trabalhar, pois tudo me lembra ela. Os convites para ser DJ nas festas diminuíram, visto que a temporada está terminando, então tenho muito tempo livre e minha mente só consegue relembrar todos os momentos que estivemos juntos.
Espero que ela esteja guardando nossa história no seu coração, mas acho difícil, afinal, tudo o que tivemos nesses meses foi intenso e não deixou de ser verdadeiro, mas acabou chegando ao fim de uma forma trágica. Acredito, também, que não era nossa intenção machucar um ao outro, não planejamos isso e aconteceu, da mesma forma que nós não planejamos nos aproximar rapidamente, mas aconteceu. As situações acontecem e não podemos controlar, apenas receber e lidar com as consequências. E a consequência de agora é: não saber se vamos nos ver novamente.
Escritora e estudante de Produção Editorial na UFSM. Com o hábito de planejamento, usa seu período livre para leitura, pois cada virada de página é uma forma de mergulhar em uma nova história.